30 de abril de 2018

FUKUYAMA E O NACIONALISMO POPULISTA ATUAL!

(Uirá Machado – Ilustríssima – Folha de S.Paulo, 22) 1. Os dias de certeza de Francis Fukuyama há muito ficaram para trás. No final da década de 1980 e nos anos 90, o autor do célebre ensaio “O fim da história?” (1989) parecia convencido de que a democracia liberal representava o ápice da evolução ideológica da humanidade e se universalizaria como forma de governo. Passadas quase três décadas do artigo de 18 páginas na revista “The National Interest” (o interesse nacional), Fukuyama está preocupado. Ainda acredita na sobrevivência da democracia, mas considera que a ascensão de líderes populistas nacionalistas —Jair Bolsonaro (PSL) entre eles— constitui sério risco para o sistema político e econômicoque se difundiu no Ocidente.

2. Não lhe faltam motivos para isso, como fica claro em texto escrito para o Instituto de Pesquisa Credit Suisse e distribuído no Fórum Econômico Mundial de Davos deste ano. O professor de ciência política da prestigiosa Universidade Stanford registra que o número de países democráticos saltou de 35, em 1970, para quase 120 nos anos 2000. A partir de então, a onda começou a refluir. Do ponto de vista qualitativo, a situação piora. Fukuyama afirma que não se trata só de observar que o apoio à globalização tem sido substituído em muitos lugares por uma ênfase na soberania nacional. O problema é maior porque essa nova tendência ganha força dentro do próprio mundo democrático.

3. Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Holanda, Hungria e Polônia, cada um a seu modo, são exemplos de países ocidentais nos quais a agenda do nacionalismo populista ganha espaço crescente.  Com a engenhosidade típica de seus livros —sempre best-sellers mundiais—, Fukuyama lembra que a democracia liberal está construída sobre três pilares: um Estado que concentra poder e o utiliza pelo bem dos cidadãos; a igualdade de todos perante a lei; e mecanismos de controle do poder, como eleições livres.

4. Em seguida, chama a atenção para um aspecto grave: líderes populistas nacionalistas usam esse terceiro pilar para chegar ao poder e, a partir de dentro, corroer os outros dois. Ou seja, a legitimidade do processo democrático transforma-se em arma contra a própria democracia. “A única maneira de derrotá-los [os populistas nacionalistas] é criando uma mobilização para vencê-los nas urnas”, afirma Fukuyama em entrevista à Folha, por email.

5. É fácil falar, difícil fazer. O professor de Stanford sabe que políticos populistas se saem bem na comunicação com os eleitores. Nas redes sociais, tiram proveito da difusão de notícias falsas e da manipulação digital. Há esperança de que a informação verdadeira venha a prevalecer? “A defesa tradicional da liberdade de expressão depende da percepção de que, num livre mercado de ideias, as melhores vão vencer. Com os algoritmos das redes sociais, isso não é verdade”, diz. “Precisamos de mais curadoria na internet. Precisamos do retorno de editores e outros guardiães da informação, e as plataformas digitais precisam assumir sua responsabilidade.”

6. A manipulação, entretanto, é apenas parte da história. A depender do país, pode ser majoritária a parcela da sociedade disposta a apostar num candidato populista. Seu apoio “não vem dos pobres, mas de pessoas de classe média que perderam status devido à globalização, ou de grupos étnicos e raciais que deixaram de se sentir culturalmente dominantes”, diz o cientista político. A dimensão cultural é especialmente relevante. Para Fukuyama, mesmo quando o discurso anti-imigrantes expressa uma disputa por emprego, a motivação não é apenas econômica.

7. “Hegel era um observador melhor do que Marx. Ele viu que a luta por reconhecimento move a história, e não a luta por recursos. Reconhecimento é a grande questão nessa insurreição populista.”

8. Americanos e europeus conhecem bem esse cenário. Quando o governo acolhe imigrantes ou refugiados, ainda que lhes oferecendo estruturas precárias de assistência, fatias das populações locais reclamam do uso de impostos para benefício de estrangeiros e protestam contra o aumento da competição no mercado de trabalho —sobretudo quando há incentivos aos desfavorecidos. Mais que isso, interpretam a hospitalidade como falta de reconhecimento a grupos que sempre foram a base da identidade nacional. Isto é, os forasteiros estariam recebendo tratamento melhor do que os responsáveis por manter o país de pé.

9. Isso não significa que outros fatores devam ser desconsiderados. Desemprego e concentração de renda de fato têm aumentado, e a resposta dos governos chega quase sempre tarde demais para a população. A análise de Fukuyama é precisa para o contexto americano (Donald Trump) e britânico (Brexit), mas vale também para outros países da Europa e mesmo para o Brasil.

10. Embora não exista por aqui uma crise migratória, sempre houve problemas econômicos e um Estado ineficiente. Além disso, os mais pobres, ao melhorar de vida, passaram a cobrar mais dos governos e a recear a perda de suas conquistas. Ao mesmo tempo, grupos mais endinheirados, percebendo o movimento de ascensão social das classes baixas, sentiram que talvez deixassem de ser culturalmente dominantes.

27 de abril de 2018

“A ESQUERDA É O TITANIC DE 2018 – JÁ BATEU NO ICEBERG E AFUNDA EM MEIO AO RIDÍCULO”!

(Clovis Rossi – Folha de S.Paulo, 26) 1. Que a esquerda está em crise em boa parte do mundo não chega a ser uma grande novidade. Novidade é que significativa parcela do mais importante partido da esquerda brasileira, o PT, esteja contribuindo para esse cenário geral de crise com uma forte pitada de ridículo. Se a única ideia que os petistas podem oferecer é essa estupidez de acrescentar “Lula” ao nome, é melhor chamar o Tiririca para substituir a Gleisi Hoffmann na presidência do partido. Palhaçada por palhaçada, fiquemos com quem é mais autêntico.

2. Idiotice à parte, passemos a uma crítica fulminante à esquerda vinda de um acadêmico, Wanderley Guilherme dos Santos, de impecáveis credenciais esquerdistas e um propagandista entusiasmado do governo Lula. “Esse é um mundo no qual a esquerda do século 20 não tem mais lugar. Por isso toda esquerda no mundo hoje é obsoleta, conservadora e reacionária. Ela se organizou em termos de pensamento e ação no século 19 para concorrer com o liberalismo em termos de imaginário futuro de organização social.

3. O liberalismo oferecia o progresso, a esquerda oferecia a revolução pela ruptura. A queda do muro de Berlim destruiu esse projeto alternativo. A esquerda desde então tem estado na defensiva e não é à toa que sua palavra de ordem seja resistência”, escreveu esse cientista social para o último número de 2017 da trimestral revista Inteligência.

4. Sou obrigado a concordar com ele, até porque já escrevi inúmeras vezes que a esquerda —não só a brasileira— não conseguiu ainda sair dos escombros do muro de Berlim, mesmo passados quase 30 anos da queda. Foi também o fim do comunismo e é intrigante que mesmo a esquerda que não comungava com o comunismo soviético tenha se ressentido.

5. Se a obsolescência da esquerda tivesse provocado apenas a ascensão de uma direita civilizada, não haveria grandes problemas. Veja-se o Chile: a esquerdista Michelle Bachelet dá lugar ao direitista Sebastián Piñera, que, quatro anos depois, devolve a cadeira a Bachelet para que ela a entregue, após outros quatro anos, a Piñera. E o Chile vai em frente, tropeçando às vezes, mas sem uma crise tremenda como a que devorou o Brasil e ainda se faz sentir.

6. O problema é que o vácuo deixado pela esquerda foi preenchido pela extrema-direita, como escreve Dani Rodrik, um heterodoxo professor de economia política internacional na Escola de Governo John F. Kennedy, da mitológica Harvard: “Tivessem os partidos políticos, particularmente os de centro-esquerda, perseguido uma agenda mais ousada, talvez o crescimento de movimentos de direita, nativistas [nacionalistas], pudesse ter sido evitado”.

7. O raciocínio parece correto, mas o problema é que nem a direita (civilizada) nem a esquerda puseram de pé até agora uma agenda capaz de contrapor-se “às queixas que autocratas populistas exploraram com sucesso —desigualdade e ansiedade econômica, a percepção de declínio do status social e o abismo entre as elites e os cidadãos comuns”, para citar de novo Rodrik.

8. A esquerda brasileira acha mesmo que pôr “Lula” no nome é uma agenda suficiente?

26 de abril de 2018

REUNIÃO DA UNIÃO DE PARTIDOS LATINO AMERICANOS (UPLA) – 23-24/ DE ABRIL 2018, EM BRASÍLIA!

1. NICARÁGUA 
Rebelião popular contra Reforma da Previdência. A grande participação de jovens indica que a mobilização foi além da reforma da previdência. Repressão matou 30 manifestantes. Governo Ortega recuou da reforma e há sinais de desestabilização.

2. BRASIL 
Deputado José Carlos Aleluia apresentou o Instituto Guimarães (IG), que tem realizado pesquisas para o DEM. IG apresentou a metodologia que utiliza e elementos do cenário eleitoral e enfatizou os espaços abertos para um candidato à presidência com perfil conciliador, fora da polarização Bolsonaro x PT. Aleluia enfatizou a imprevisibilidade das eleições deste ano. Apresentou a situação paradoxal da economia brasileira estar indo bem com as reformas e a impopularidade do presidente Temer. 

3. ALFREDO KELLER. Consultor. 
3.1 Esquerda na América Latina vem destruindo o processo eleitoral democrático. O esquema dito bolivariano funciona como uma máfia no poder. Atenção ao México que pode eleger o populista de esquerda Lopez Obrador. A situação geoeconômica-politica, fronteira EUA-México, dependência econômica, pode inibir aventuras. De certa forma, a corrupção fez parte da competição Chávez x Lula por hegemonia na América Latina. Em certos momentos esta disputa se fez clara, como na reunião de Lula com países árabes que Chávez não foi convidado. Popularidade de Chávez, mesmo falecido, se mantém em 50%. Populismo hoje na América Latina tem legitimação cultural-religiosa. A política deles é de cultuar crenças. Uribe é o único líder no campo de centro-direita que confronta o chavismo. Piñera foi brando no primeiro governo e promete uma nítida diferenciação agora.  

3.2. UPLA precisa ter uma visão geopolítica. As eleições são apenas um dos vetores de enfrentamento do populismo na América Latina. A deslegitimização e a aplicação rigorosa da lei, sem receio, são outras. América Central, Equador, Argentina, Brasil, Peru, além da Venezuela, mostram isso.

3.3 Atenção aos elementos estruturais que permitiram a ascensão do chavismo, do populismo: 1) problemas estruturais; 2) Assistencialismo que explora ressentimentos sociais; 3) Débeis sistemas educativos. Educação informal passou a ser tão ou mais forte que a formal (escolas…); 4) Explorar alergia pública à iniciativa privada; 5) Estruturas políticas só eleitorais e parlamentares; 6) Debate político de espetáculo potencializado pelas redes sociais; 7) Vulnerabilidade à corrupção e a impunidade. 

3.4. Causas Conjunturais. 1) Surgimento de lideranças carismáticas, inclusive construídas em laboratório. Sala situacional de Havana é um exemplo; 2) Relatos sobre a pobreza; 3) Para eles só se consegue ascender por relações com o governo; 4) Uso hábil dos símbolos e da pós-verdade, e linguagem para as diferenças. Direita foi atraída por essa simbologia; 5) Uso Interno do medo; 6) Muito dinheiro da corrupção; 7) Ausência por muito tempo de uma frente democrática internacional; 8) Descolamento entre a questão popular e o sistema. 

3.5. ERROS. No campo particular não se consegue competir. Ilusão com a nova esquerda. Ilusão que integração da América Latina não gera riscos. Falta de líderes alternativos. Discurso passivo: Esperemos que isso vai passar. Desalinhamentos entre prioridades e comunicação (segurança jurídica, etc.?). Pesquisas mostram na Bolívia e Venezuela insatisfação com a democracia. O que o sistema oferece e o que as pessoas demandam. Perdas de valores e rejeição à política.

3.6. CHAVISMO definitivamente derrotado? Não, por enquanto a situação é transitória. Há que reestruturar. A democracia deve ser rentável aos pobres. Reforçar sistema educacional. Manter viva a imagem demagógica do socialismo bolivariano. Reconstruir partidos políticos. Renovar lideranças. Esquerda quer se apropriar da luta contra a corrupção. Frente internacional de defesa da democracia. Brainstorm para conformarmos um novo relato. Esquerda tem uma intelectualidade dedicada a se repensar. 

Obs1. Diferença entre proteção social e promoção social. 
Obs.2. Na Espanha, Ciudadanos cresce mais que Podemos e se aproxima do PP. Renovação do PP é inevitável.  
Obs.3. Os políticos não morrem. 
Obs.4. Agenda da Sociedade Civil por cima da do Estado. 
Obs.5. Guatemala sendo auditada pela ONG internacional CICI, referendada pelo Congresso. Grave.

4. NOVOS DESAFIOS PARA AMÉRICA LATINA

Desafios.

4.1. Reconstrução da institucionalidade democrática e da republica. Desmonte do populismo. Populismo não é republicano. Não há separação dos poderes. Retomar o Estado de Direito. Retomar as liberdades de expressão e iniciativa. Revisão do presidencialismo e da reeleição. Reeleição estanca os países. Direitos humanos para a esquerda é superoferta ilusória contra a pobreza. É uma bandeira que serve para qualquer coisa. Problema que se tem com estes relatos. Criaram mitos. Há que se criar um novo relato. Afetada a mobilidade interna dos partidos. Crescimento da delinquência.

4.2. Luta contra a corrupção. Vários presidentes acusados e condenados. Não é só Odebrecht. Veja FIFA, etc. Corrupção é um tema internacional que coloca em risco a própria soberania dos países. Na Guatemala, a organização internacional CICI, aprovada pelo Congresso, funciona como auditoria das instituições. Honduras, seguindo no mesmo caminho. Grave. Afeta a soberania das instituições.

4.3. Financiamento dos partidos políticos e das eleições. Financiamento legítimo e transparência.

4.4. Grupos evangélicos funcionando como partidos. Têm mais influência que Igreja Católica nos setores populares. Representam mais que 20% dos eleitores. Apoiam populista Lopez Obrador para presidente do México.

4.5. Redes Sociais são também uma nova forma de arranjo político. Há que regular.

4.6. Motivação à participação política. 1/3 das pessoas não participam: base da antipolítica. Abstenção maior que 30%.

25 de abril de 2018

FAKE NEWS: ANTES, AGORA…, E REDES SOCIAIS! 

1. Espalhar mentiras e boatos denegrindo pessoas ou instituições é prática mais velha que a “Sé de Braga”, como repetia e repete um ditado popular. Marat, um agitador da revolução francesa, com seu panfleto Amigo do Povo, espalhava mentiras, boatos e até verdades. E agitava as ruas. 

2. Em Paris do século 18, as fofocas da corte -mentiras e verdades- eram espalhadas por panfletos que circulavam com grande sucesso. A polícia do rei tinha até agentes secretos para identificar e prender os autores. 

3. Antes de Gutenberg, e com altas taxas de analfabetismo, os boatos -mentiras e verdades- eram espalhados oralmente. Assim foi na idade média e antiga. A disputa pelo poder desde sempre, foi acompanhada pelos boatos -mentiras e verdades. Com os aviões, a partir da Primeira Guerra Mundial, os panfletos eram lançados dos aviões com mentiras e verdades. 

4. A revolução iraniana dos aiatolás levou milhões às ruas através de fitas Cassetes. A Arte da Guerra, de Sun Tzu – 500 A.C., ensinava -e ensina- que a comunicação motivando os seus e deprimindo os outros é fundamental. Na eleição brasileira de 2010, milhões de panfletos e e-mails espalhados pelo PT et caterva, divulgavam uma lista de deputados que teria apresentado uma lei para acabar com o 13 salário. Uma mentira deslavada, pois o 13 salário é cláusula pétrea da Constituição. Dezenas de deputados perderam o mandato por isso. 

5. Evidentemente que os meios de comunicação, hoje e desde sempre, nunca ficaram imunes às fake news. Balzac, em seu clássico As Ilusões Perdidas (1836-1843), em função de fake news da época, denuncia o jornalismo, apresentando-o como a mais perversa forma de prostituição intelectual.

6. Então qual a novidade das Fake News e de toda polêmica gerada nos últimos anos, e especialmente com a eleição de Trump? A cada momento histórico, a multiplicação dos boatos -verdades e mentiras- eram multiplicadas em função da tecnologia disponível. O que inclui a capacidade de comunicação oral.

7. O frei Girolamo SAVONAROLA, no final do século 15, “incendiou” Florença, submeteu os Medicis e atordoou o Papa, com seus pregões. O populismo -incluindo o fascismo e o nazismo- sempre recorreu à retórica, a pregação demagógica e mentirosa. 

8. O que ocorre hoje com a internet e as redes sociais é a gigantesca capacidade de multiplicação eletrônica das fake news. Essa é a novidade. Fazendo uma analogia bélica, antes se usava espadas, pistolas, rifles, fuzis, metralhadoras, canhões, mísseis, bombas, etc. As redes sociais são como a bomba atômica, seu impacto atinge milhões de pessoas. A dura reação às armas químicas tem o mesmo sentido.  

9. O uso das redes sociais para propagar mentiras -as fake news- com uma capacidade mínima de filtragem pelos atingidos, e pelo caráter individual da multiplicação delas, traz como novidade não a propagação de mentiras, mas a enorme multiplicação delas com uma capacidade -ainda- mínima de identificação e reação. Essa é a novidade. 

10. Marat acabou na banheira assassinado (ver no Museu de Bruxelas o quadro de Louis David), Savonarola acabou na fogueira, paradoxalmente da mesma forma que os objetos e textos que denunciava, na Fogueira das Vaidades. Mas certamente estes são métodos que não se usam mais, desde a Inquisição. Espera-se. 

Entrevista de Cesar Maia ao jornal O Globo

Em janeiro deste ano o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), descartou a possibilidade de o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes se filiar ao DEM, afirmando que o partido era “muito pequeno” para ele e Cesar Maia. Três meses depois, contrariando essa constatação, Paes trocou o PMDB pelo DEM, com o objetivo de disputar o governo do estado. Cesar, que atualmente é vereador, diz que a reviravolta foi possível só porque ele resolveu sair de cena. O pai de Rodrigo Maia afirma que não se opôs à volta de seu ex-afilhado e atual desafeto a seu berço político, mas também não participou das negociações conduzidas pelo filho. E anuncia que não concorrerá a nenhum cargo nestas eleições. Ele era cotado para disputar o governo ou o Senado.

— Eu transferi o poder de decisão para o partido e não há necessidade nenhuma de reconciliação. Eu não tenho rancor de ninguém, o tempo passa e a gente vai levando — disse Cesar, que recebeu O GLOBO, na tarde da última quinta-feira, no gabinete da liderança do DEM na Câmara Municipal

Ele reagiu com indignação, no entanto, ao ser questionado sobre a possibilidade de ser vice em uma chapa encabeçada por Paes:

— É o cachorro que abana o rabo ou o rabo que abana o cachorro? Não tem sentido isso. Fui prefeito três vezes e deputado federal duas vezes. Como podem pensar que eu vou pegar carona em uma candidatura?

Procurado pelo GLOBO para falar sobre sua filiação ao DEM e a relação com Cesar Maia, Paes não respondeu.

Paes começou na política na Juventude Cesar Maia e participou da primeira campanha de seu mentor para a Prefeitura do Rio, em 1992. Após a vitória, foi nomeado subprefeito da Barra e Jacarepaguá. Os dois começaram a se distanciar dez anos depois, quando Paes deixou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, na segunda gestão de Cesar, para disputar novo mandato de deputado federal. E trocou o PFL pelo PSDB. Mas o rompimento definitivo veio em 2008, quando Paes se elegeu prefeito fazendo duras críticas à administração Cesar Maia.

— Na campanha de 2008 era natural que ele me criticasse, eu estava desgastado. Mas a partir daí… Ele nasceu do meu útero, veio na minha cadeirinha de balanço, o que eu esperava era que, passada a eleição, ele, vitorioso, tivesse a nobreza de esquecer o derrotado. O derrotado não é para ser atacado depois da eleição, mas houve continuidade até 2016. A Cidade da Música, por exemplo, não precisava ir para a primeira página do GLOBO. Faz auditoria, mas não precisa vocalizar — diz Cesar.

Em 2012, Paes se reelegeu derrotando Rodrigo Maia, que chegou a chamá-lo de “ingrato”. Paes respondeu que eleição não era “terapia de grupo”. A reaproximação com Rodrigo — de quem Paes é padrinho de uma das filhas — começou em 2014, quando o DEM fez parte do “Aezão”, movimento para eleger o senador Aécio Neves (PSDB-MG) presidente da República, e Luiz Fernando Pezão (PMDB) governador do Rio.

Cesar, por sua vez, permaneceu crítico à administração de Paes, a quem já chamou de “Dudu Milícia”, e lançou um livreto intitulado “Ao povo carioca — Prefeitura do Rio 2009-2012: Um desastre estratégico e de gestão”.

Em 2016, apesar de ter disputado a reeleição para a Câmara Municipal na mesma coligação do candidato do PMDB à Prefeitura, Pedro Paulo, afilhado de Paes, Cesar não fez campanha para ele.

— O Pedro Paulo criticava a minha administração. Eu votei no (Marcelo) Freixo (PSOL) no primeiro e no segundo turno. Minhas netas queriam votar no Freixo e diziam: “Meu pai (Rodrigo Maia) quer que eu vote no Pedro Paulo” — disse Cesar, em cuja casa moram duas filhas de Rodrigo, uma de 21 e outra de 23 anos.

Cesar disse que aceitaria gravar uma mensagem de apoio para eventual candidatura de Paes. No momento, o ex-peemedebista está inelegível por decisão do Tribunal Regional Eleitoral. Ainda cabe recurso ao Tribunal Superior Eleitoral:

— Eduardo agora é do partido, então me cabe cumprir o que o partido determinar. Se eu chegar em um lugar e o partido colocar uma câmera de televisão, colocar um texto no teleprompter (dispositivo para ler um texto na TV), eu vou ler. Ponto final.

Apesar disso, Cesar diz não poder afirmar se Paes seria um bom governador:

— Não posso falar, não sei o que ele está pensando do estado. Tem que esperar para ver o que ele vai propor.

Questionado se Paes foi um bom prefeito, responde que isso não tem importância na campanha para governador:

— Eu já vi muitos bons prefeitos serem péssimos governadores. O Pezão foi um excelente prefeito de Piraí e estamos vendo o que está acontecendo.

No último dia 9, após participar de evento na Associação Comercial do Rio, Rodrigo Maia foi questionado se, desta vez, o pai faria campanha ou repetiria o comportamento de 2016.

— Vamos construir para que desta vez tenha uma integração maior — disse o presidente da Câmara.

Cesar diz que não conversou com Paes durantes as negociações para filiação ao DEM nem depois. Segundo ele, os dois dialogaram “pouquíssimas” vezes depois do rompimento. Uma delas foi na campanha de 2014, quando Pezão e o presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, teriam pedido para Cesar procurar Paes. O então prefeito, que na época era do PMDB, estava apoiando Carlos Lupi (PDT) para o Senado, quando o candidato da chapa peemedebista era Cesar. O encontro ocorreu na Gávea Pequena, residência oficial do prefeito do Rio. Outra ocasião foi em dezembro de 2016, quando Rodrigo levou Paes à casa de Cesar. Segundo o anfitrião, Paes disse que tinha tomado a decisão de disputar para governador em 2018 e queria ouvir sua opinião.

Paes deixou o PMDB na tentativa de se desvencilhar do desgaste do partido no estado, que está com suas principais lideranças presas, como o ex-governador Sérgio Cabral. Os peemedebistas também arcam com a falência do estado, administrado por eles nos últimos 15 anos.

Esta é a quinta mudança de partido de Paes, que já passou pelo PV, PFL, PTB, PSDB e PMDB. Antes de fechar com o DEM, o ex-prefeito considerou voltar para o PSDB e estava em negociações avançadas com o PP. Seu aliado preferencial, porém, era Rodrigo Maia, que testa seu nome para disputar a Presidência da República. Como presidente da Câmara, ele conseguiu aumentar a bancada federal de 21 para 44 deputados.

— O DEM virou um partido grande, não pode ver em cada deputado, cada vereador, o que o incomoda — disse Cesar, ao comentar a filiação de Paes.

24 de abril de 2018

ENTREVISTA DE CESAR MAIA SOBRE AS ELEIÇÕES NO RIO!

(Fernanda Krakovics – Globo, 22) 1. Em janeiro deste ano o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), descartou a possibilidade de o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes se filiar ao DEM, afirmando que o partido era “muito pequeno” para ele e Cesar Maia. Três meses depois, contrariando essa constatação, Paes trocou o PMDB pelo DEM, com o objetivo de disputar o governo do estado. Cesar, que atualmente é vereador, diz que a reviravolta foi possível só porque ele resolveu sair de cena. O pai de Rodrigo Maia afirma que não se opôs à volta de seu ex-afilhado e atual desafeto a seu berço político, mas também não participou das negociações conduzidas pelo filho. E anuncia que não concorrerá a nenhum cargo nestas eleições. Ele era cotado para disputar o governo ou o Senado.

2. — Eu transferi o poder de decisão para o partido e não há necessidade nenhuma de reconciliação. Eu não tenho rancor de ninguém, o tempo passa e a gente vai levando — disse Cesar, que recebeu O GLOBO, na tarde da última quinta-feira, no gabinete da liderança do DEM na Câmara Municipal

3. Ele reagiu com indignação, no entanto, ao ser questionado sobre a possibilidade de ser vice em uma chapa encabeçada por Paes: — É o cachorro que abana o rabo ou o rabo que abana o cachorro? Não tem sentido isso. Fui prefeito três vezes e deputado federal duas vezes. Como podem pensar que eu vou pegar carona em uma candidatura?

4. Procurado pelo GLOBO para falar sobre sua filiação ao DEM e a relação com Cesar Maia, Paes não respondeu.

5. Paes começou na política na Juventude Cesar Maia e participou da primeira campanha de seu mentor para a Prefeitura do Rio, em 1992. Após a vitória, foi nomeado subprefeito da Barra e Jacarepaguá. Os dois começaram a se distanciar dez anos depois, quando Paes deixou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, na segunda gestão de Cesar, para disputar novo mandato de deputado federal. E trocou o PFL pelo PSDB. Mas o rompimento definitivo veio em 2008, quando Paes se elegeu prefeito fazendo duras críticas à administração Cesar Maia.

6. — Na campanha de 2008 era natural que ele me criticasse, eu estava desgastado. Mas a partir daí… Ele nasceu do meu útero, veio na minha cadeirinha de balanço, o que eu esperava era que, passada a eleição, ele, vitorioso, tivesse a nobreza de esquecer o derrotado. O derrotado não é para ser atacado depois da eleição, mas houve continuidade até 2016. A Cidade da Música, por exemplo, não precisava ir para a primeira página do GLOBO. Faz auditoria, mas não precisa vocalizar — diz Cesar.

7. Em 2012, Paes se reelegeu derrotando Rodrigo Maia, que chegou a chamá-lo de “ingrato”. Paes respondeu que eleição não era “terapia de grupo”. A reaproximação com Rodrigo — de quem Paes é padrinho de uma das filhas — começou em 2014, quando o DEM fez parte do “Aezão”, movimento para eleger o senador Aécio Neves (PSDB-MG) presidente da República, e Luiz Fernando Pezão (PMDB) governador do Rio.

8. Cesar, por sua vez, permaneceu crítico à administração de Paes, a quem já chamou de “Dudu Milícia”, e lançou um livreto intitulado “Ao povo carioca — Prefeitura do Rio 2009-2012: Um desastre estratégico e de gestão”.

9. Em 2016, apesar de ter disputado a reeleição para a Câmara Municipal na mesma coligação do candidato do PMDB à Prefeitura, Pedro Paulo, afilhado de Paes, Cesar não fez campanha para ele. — O Pedro Paulo criticava a minha administração. Eu votei no (Marcelo) Freixo (PSOL) no primeiro e no segundo turno. Minhas netas queriam votar no Freixo e diziam: “Meu pai (Rodrigo Maia) quer que eu vote no Pedro Paulo” — disse Cesar, em cuja casa moram duas filhas de Rodrigo, uma de 21 e outra de 23 anos.

10. Cesar disse que aceitaria gravar uma mensagem de apoio para eventual candidatura de Paes. No momento, o ex-peemedebista está inelegível por decisão do Tribunal Regional Eleitoral. Ainda cabe recurso ao Tribunal Superior Eleitoral: — Eduardo agora é do partido, então me cabe cumprir o que o partido determinar. Se eu chegar em um lugar e o partido colocar uma câmera de televisão, colocar um texto no teleprompter (dispositivo para ler um texto na TV), eu vou ler. Ponto final.

11. Apesar disso, Cesar diz não poder afirmar se Paes seria um bom governador: — Não posso falar, não sei o que ele está pensando do estado. Tem que esperar para ver o que ele vai propor. Questionado se Paes foi um bom prefeito, responde que isso não tem importância na campanha para governador: — Eu já vi muitos bons prefeitos serem péssimos governadores. O Pezão foi um excelente prefeito de Piraí e estamos vendo o que está acontecendo.

12. No último dia 9, após participar de evento na Associação Comercial do Rio, Rodrigo Maia foi questionado se, desta vez, o pai faria campanha ou repetiria o comportamento de 2016. — Vamos construir para que desta vez tenha uma integração maior — disse o presidente da Câmara.

13. Cesar diz que não conversou com Paes durantes as negociações para filiação ao DEM nem depois. Segundo ele, os dois dialogaram “pouquíssimas” vezes depois do rompimento. Uma delas foi na campanha de 2014, quando Pezão e o presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, teriam pedido para Cesar procurar Paes. O então prefeito, que na época era do PMDB, estava apoiando Carlos Lupi (PDT) para o Senado, quando o candidato da chapa peemedebista era Cesar. O encontro ocorreu na Gávea Pequena, residência oficial do prefeito do Rio. Outra ocasião foi em dezembro de 2016, quando Rodrigo levou Paes à casa de Cesar. Segundo o anfitrião, Paes disse que tinha tomado a decisão de disputar para governador em 2018 e queria ouvir sua opinião.

14. Paes deixou o PMDB na tentativa de se desvencilhar do desgaste do partido no estado, que está com suas principais lideranças presas, como o ex-governador Sérgio Cabral. Os peemedebistas também arcam com a falência do estado, administrado por eles nos últimos 15 anos.

15. Esta é a quinta mudança de partido de Paes, que já passou pelo PV, PFL, PTB, PSDB e PMDB. Antes de fechar com o DEM, o ex-prefeito considerou voltar para o PSDB e estava em negociações avançadas com o PP. Seu aliado preferencial, porém, era Rodrigo Maia, que testa seu nome para disputar a Presidência da República. Como presidente da Câmara, ele conseguiu aumentar a bancada federal de 21 para 44 deputados.

16. — O DEM virou um partido grande, não pode ver em cada deputado, cada vereador, o que o incomoda — disse Cesar, ao comentar a filiação de Paes.

20 de abril de 2018

BAIXADA FLUMINENSE: 22% DA POPULAÇÃO DO RJ E 34% DAS MORTES VIOLENTAS!

(Folha de S.Paulo, 19) 1. Quando a intervenção começou, os militares disseram que os objetivos eram reduzir os índices de criminalidade e reestruturar as polícias. A Baixada, com 22% da população do Estado, concentrou 34% das mortes violentas em 2017.  Foi pedido ao Comando Militar do Leste uma relação das operações que beneficiaram a Baixada nos dois primeiros meses da intervenção, mas não houve resposta.

2. A intervenção tem feito inspeções em unidades das forças de segurança, como no Bope e em delegacias da Polícia Civil. Essas operações também não chegaram a nenhuma unidade na Baixada. Ao Ministério Público Federal, que instaurou um inquérito civil no fim de março para apurar as ações federais na região, o gabinete informou que houve uma operação de Garantia de Lei e Ordem no segundo semestre do ano passado, além de patrulhas. Segundo o procurador Julio José Araujo Junior, responsável por esse caso, as respostas do gabinete militar têm sido insuficientes. “O cenário é ruim. Mandamos ofícios, reiteramos depois. Um deles foi respondido, de maneira muito genérica, e os outros não foram respondidos. O primeiro aspecto que a gente já constata é a falta de transparência.”

3. O Rio de Janeiro está sob intervenção federal na segurança pública desde fevereiro e tem sido comum ver tropas patrulharem a orla das praias de Ipanema e do Leblon, na zona sul da cidade. Mas na Baixada, que tem quase o dobro da taxa de mortes violentas da capital (62 casos para cada 100 mil habitantes), Raylane nunca viu militares. “Não mudou nada”, diz ela, em relação à medida do presidente Michel Temer.

4. A Baixada é formada por 13 municípios, na região metropolitana do Rio, que somam 3,7 milhões de pessoas, em cidades como Belford Roxo, Nova Iguaçu e Duque de Caxias. Essas sofrem com assaltos frequentes, disputa de controle de território por facções criminosas e opressão de milícias. A região ainda não entrou no foco da intervenção federal. Houve 22 operações conjuntas entre as forças de segurança desde 16 de fevereiro, segundo o Gabinete da Intervenção Federal, mas não houve ações significativas na Baixada —somente patrulhas esporádicas em locais como a Dutra, rodovia que liga RJ a SP e corta essa área.

5. Nesta semana, 7.000 alunos ficaram sem aula em escolas de Belford Roxo devido a confrontos entre grupos criminosos. Segundo a Secretaria de Educação, a entrega de produtos da merenda não tem sido feita porque os caminhoneiros têm medo de circulara prefeitura já reivindicou medidas urgentes ao secretário estadual da Segurança Pública, general Richard Nunes. Ao longo da última década, a violência no estado se difundiu para a Baixada e o interior, mostra estudo da Fundação Getulio Vargas. Essas áreas concentravam 48% dos homicídios dolosos em 2006 e houve um salto para 65% dos casos em 2016. No período, a proporção dos assassinatos na capital baixou de 39% para 26%.

6. Uma das explicações apontadas por especialistas é a instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que teriam afugentado criminosos de morros da capital para outras áreas estado adentro. Essas políticas de segurança historicamente priorizaram a capital. Das 38 UPPs existentes, só uma fica na Baixada. Segundo o Ministério Público Federal, há relatos de que esse movimento estaria se repetindo: com as tropas na capital, criminosos estariam se refugiando na Baixada.

7. A região tem um histórico de grupos de extermínio, moradores que se uniam para eliminar bandidos que aterrorizavam as comunidades. Formavam os núcleos policiais e ex-policiais, mantidos por comerciantes incomodados com os assaltos. Esses grupos começaram a aparecer nos anos 1950, viveram o auge nos anos 1970 e entraram em declínio na década de 1990 em diante. Segundo a Procuradoria, eles já não são mais tão fortes na região.

8. Esse declínio abriu espaço para as milícias, que hoje são fortes em Duque de Caxias, por exemplo, e começam a ganhar território em Seropédica, Itaguaí e Nova Iguaçu. Soma-se a isso o tráfico de drogas, que não tinha tanta força até os anos 2000 —a clientela é pobre, e as bocas de fumo, com exceções nas cidades maiores, eram pequenas. Segundo especialistas, as facções se fortaleceram e hoje têm armamento equivalente ao visto na capital. Os três principais grupos criminosos do estado estão na região, e as disputas por território, tão frequentes na capital, hoje também acontecem por lá.

9. “Eles saem na porrada e aí começa o tiroteio. Matam inocente. Não só matam bandido, matam todo mundo”, afirma Fábio Salvadoretti, delegado-assistente da delegacia de homicídios da região. Dados da plataforma Fogo Cruzado, da Anistia Internacional, que mapeia de forma colaborativa a violência armada no Grande Rio, mostram que Belford Roxo foi o município que mais sofreu aumento de tiroteios nos primeiros 100 dias de 2018, ante o mesmo período de 2017.

10. Acontece por ali uma disputa de bandidos por controle de área entre os bairros Castelar e Morro da Palmeira. O motorista da Uber Hamilton da Silva, 51, evita circular mesmo durante o dia por determinados locais, como o centro de Belford Roxo. Ele teve o carro roubado duas vezes em um mês, e na Semana Santa perdeu o celular. Hoje, sempre liga para casa quando está chegando, para que a mulher abra o portão antes. “A Baixada não está na vitrine, né?”, resume.

19 de abril de 2018

PESQUISAS! 

A)  COMENTÁRIO DE FÁBIO G. SOBRE A NOTA DE FRANCISCO GUIMARÃES – GPP, DE 17/04!

Muito interessante as considerações do Francisco sobre as pesquisas eleitorais no Ex-Blog. Para reflexão deixo alguns pontos:

1. “4. Uma pena que as pesquisas publicadas sejam tão pobres de informação.” Verdade, tem razão, porém me preocupa mais institutos venderem pesquisas sem metodologia sólida, como exemplo ele fala de exclusão de públicos formadores de opinião e ou “endógenos” ao processo político e com isso, com certeza, influi numa amostra probabilística. Outro problema aqui é “quem não sabe o que procura não entende o que encontra”, ou seja, os institutos querem vender e muitos clientes como partidos e candidatos não sabem com profundidade metodologia e com isso não discutem exatamente o que querem da pesquisa, acabam comprando “pacotes” prontos ou semi prontos que pouco acrescentam quando se busca avaliar dados, principalmente cruzados.

2. Em especial para 2018 e principalmente 2020 os Institutos deveriam buscar entender como será o processo de abstenção, se a tendência de crescimento se manterá, além da descrença da população, desânimo etc. e tal temos a questão da biometria, municípios, em especial os mais pobres, poderão ter a partir de 2020 abstenções recordes em função da obrigatoriedade biométrica, muitos são os fatores, como dificuldade de agendar biometria, filas, desmotivação do eleitor e destaco % de idosos ativos que sempre foram votar poder “dever cívico” mais não são mais obrigados por lei, grande parte deles não vão fazer a biometria por N fatores já enumerados e vão aumentar ainda mais o % de abstenção.

3. No caso do RJ vale segmentar os votos e abstenções das cidades de Rio das Ostras e Queimados (estão neste processo de cadastramento biométrico) e avaliar comparativamente suas votações e abstenções com outras cidades de mesmo porte que não estão ainda em processo de obrigatoriedade biométrica, quem conseguir entender bem esse processo poderá ter uma vantagem no planejamento e organização das campanhas municipais de 2020.

B) E MARINA? FRANCISCO GUIMARÃES – GPP!

Vejo a manchete no jornal que o crescimento da Marina se deu entre os mais pobres e menos escolarizados.

Muito provavelmente entre os evangélicos = pobres e menos escolarizados.

Será que é intenção de voto real ou o candidato que conhecem?

Neste segmento que ela cresceu, os eleitores conhecem quem da lista apresentada?

Desconfio que não é intenção de voto e sim conhecimento (marcou quem conhece).

18 de abril de 2018

“TECNOLOGIA E BIGDATA” 

Seminário da Fundação Konrad Adenauer – Santa Marta, Colômbia, 9-12/04/2018. Relatório de Jefferson Figueiredo, Presidente da JDEM-RIO.

1. Santa Marta é a cidade mais antiga da Colômbia, tendo sido fundada em 1525. É também o local onde Simón Bolivar passou seus últimos dias, na Quinta de São Pedro Alejandrino. – O governo local tem um programa de formação dos jovens como guias turísticos. A partir dos 14 anos, no contra turno escolar, recebem a formação e alimentação. A parte prática do curso é cumprida como guias para visitantes da Quinta de São Pedro Alejandrino. Lá eles podem receber gorjetas dos visitantes para complementar a renda.

2. Dra. Kristin Wesemann – Diretora Fundação Konrad Adenauer do Uruguai. – A América Latina tem distâncias inimagináveis e somente podemos mudar a realidade política seguindo juntos. – Estes diplomados servem para criar networking e intercâmbio de boas práticas. Em 10, 15 anos todos vão estar em postos de comando onde isto será importante.

3. Dra. Victoria Elena Gonzalez (Universidad del Externado Colombia) – “Ciberódio como origem das campanhas de desqualificação”.  – Ódio é uma tendência humana de repudiar o contrário e é tão antigo quanto a humanidade e se estende a todas as culturas. O aumento das redes de comunicação amplificou este ciclo. – A maioria dos discursos são direcionados a grupos em geral. Se atacam os apoiadores do político para desqualificá-lo. – A democracia reduziu por muito tempo a participação popular ao voto. Quando as redes sociais dão voz a essas pessoas, o ódio acumulado contra essa restrição junto ao anonimato pôs para fora todo este discurso de ódio.  – Os discursos de ódio podem ser efetivos, mas também são perigosos pelo efeito boomerang, vide Zapatero x Rajoy -2004

4. Dr. Daniel Quintero Calle (Ex-Viceministro de tecnologias de informação e comunicação da Colômbia) – “Objetivos e oportunidades da economia digital” – A informação hoje é o ativo mais importante para um país. 2,5 quadrilhões de livros de informação são criados diariamente digitalmente, mas só 0,5 % dessa informação está sendo processada. – As 4 maiores empresas do mundo são de informação digital. – Em 2030 teremos 15 coisas conectadas a internet, por pessoa, em média. – O custo de armazenamento baixou mil vezes entre 2010 e 2016. Isso facilitou a criação mais rápida de informação. – Às vezes os políticos funcionam como um bêbado procurando uma moeda de baixo de uma lâmpada. Mas não porque perdeu essa moeda, mas sim porquê só olha para esta lâmpada e não vê que existem outras lâmpadas e moedas na rua. – A educação não se transformou rápido o suficiente para transformar a sociedade em uma sociedade da informação. Hoje na Colômbia temos um computador ou tablet para cada dois jovens.

5. Adriana Vicentini (Venezuela / Inteligência de Dados) – “Manejo de dados em campanhas políticas”.  – O mundo é heterogêneo e complexo. Não existe um receptor de mensagem, o que existem são diferentes pessoas com diferentes agendas e objetivos. Como não podemos fazer uma campanha para cada pessoa, temos que separar a campanha por diferentes grupos de pessoas. – A mensagem que sai do político não mudou. O que mudou foram as ferramentas e as métricas para análise destes dados. – Cada vez que o político tem um evento, tem que ter alguém que possa fazer um cadastro destas pessoas. Telefone, email e uma ou duas perguntas. – Uma boa base de dados está divisível e adaptável a toda a equipe de campanha. – O mais difícil de uma base de dados é a sua limpeza. A equipe de Obama passou 3 anos atualizando e organizando a base de dados conseguida em 2008. Em 2011 a equipe entregou a base de dados com todos os possíveis eleitores e quais temas que atraíam estas pessoas. – Conhecer os eleitores economiza dinheiro. Você define onde, como e com que frequência contatar e gastar mais ou menos dinheiro. – A campanha política tem 3 tarefas: arrumar gente para votar em você, convencer a quem não vota em você e convencer os demais a não votarem.

6. Andreas Buhl MDL (Deputado Alemão pelo distrito de Turingia / CDU) – “Correspondente de assuntos sobre turismo”. – A agressividade que surgiu na Alemanha nas últimas eleições eu nunca tinha visto. Nas redes sociais, nas ruas. Hoje no parlamento estudamos a questão da influência estrangeira na disseminação desse ódio via redes. – Muitas vezes íamos a locais onde não deixavam a Chanceler falar. Em determinados locais iam integrantes da oposição apenas com o intuito de falar mal dela.- Para chegarmos a uma coalizão tivemos que fazer concessões na saúde e no ministério da fazenda. – Temos que ajudar todos os que estão em guerra, sofrendo perseguição. Em 2015 tivemos 1 milhão de imigrantes. Isso gerou as consequências de ódio que vemos nas pessoas durante a eleição. – Quando tivemos que governar sozinhos, todos os outros partidos se juntaram para fazer oposição, quando virou um governo de coalizão, essas críticas diminuíram. Olhando para trás, quando tivemos a total maioria, nem sempre tomamos as melhores decisões.

7. Christoph Zippel MDL (Deputado Alemão pelo distrito de Turingia / CDU) – “Correspondente sobre assuntos de saúde”. – Por 80 anos não tinha se ouvido ataques organizados contra minorias e grupos étnicos na Alemanha. Pensávamos que nunca mais isso iria acontecer. Mas agora temos um partido que incentiva estes valores. Hoje nas pesquisas este partido bate 13%.  – Com o tempo a CDU foi mais para o centro, deixou mais espaço para a direita e o partido social democrata foi mais para a esquerda. Isso deu abertura para este partido surgir. – A diferença entre a reeleição definida na América Latina e Alemanha, é que na Alemanha existem instituições de controle que fazem com que isso não seja maléfico ou que esta perpetuação cause problemas ao Estado. – Solidariedade é boa, mas tem seus limites. Uma nação rica tem por obrigação ajudar as pessoas. Mas quando vem pessoas que vem não por guerra, mas por uma melhor qualidade de vida, é preciso encontrar outra saída.- Se vierem milhares de imigrantes todos os anos, o sistema europeu e alemão vai se desestabilizar. É preciso encontrar uma forma de ajudar sem que eles precisem vir necessariamente. Por isso a Chanceler fala em seus discursos sobre ajudar a estes países a melhorarem a vida dos seus cidadãos.

17 de abril de 2018

PESQUISAS ELEITORAIS: REJEIÇÃO! VOTO ESPONTÂNEO, VOTO EFETIVO!

(Francisco Guimarães – Instituto GPP, 16) Algumas coisas que os Institutos e imprensa repetem, repetem e repetem e nunca pararam para refletir. Porque sempre fizeram e continuam fazendo.

1. Rejeição
Vendo a pesquisa Datafolha de governador de SP e o destaque para a rejeição aos candidatos. Entra ano e sai ano, continuamos assistindo a esta pergunta em todas as pesquisas e o tempo precioso que se perde, principalmente no Jornal Nacional. Bonner, de uns tempos para cá, apresenta a “evolução” da rejeição.

1.1. O que mede a rejeição?

Por que não vota no tal candidato?
– Porque não conhece;
– Não sabe direito o que fez;
– Não conhece suas propostas;
– Não conhece o trabalho dele; e por aí vai.

1.2. Mas o que mede?
NADA!

1.3. Um candidato com 30% de rejeição, sendo que 30% de imagem negativa e 70% de positiva contra um candidato com 15% de rejeição, sendo que este tem 15% de imagem negativa, 15% de imagem positiva e 70% de desconhecimento. Em qual apostaria? O que dá voto é a imagem positiva. A intenção de voto dos principais concorrentes migra para 60% da sua imagem positiva. Através de duas perguntas: conhecimento e imagem, além de termos a rejeição real dos candidatos que é a imagem negativa (conhece e possui imagem negativa), permite identificar potenciais eleitorais dos candidatos. Se entre quem conhece bem o candidato, ele não sai do lugar, esquece este candidato! Candidatos com pouco conhecimento e uma boa relação de imagem positiva com negativa, tem bom potencial de crescimento.

2. Voto espontâneo
Mesma coisa o voto espontâneo, o que mede? Mede intenção de voto ou o nome que está na cabeça do cidadão na hora da pesquisa?

2.1. Se queremos medir o voto consolidado, o patamar de cada candidato, o que devemos fazer com o eleitor que citou algum candidato na espontânea? Devemos estimular ele com a lista de candidatos ou marcar direto a opção dele (se estiver na lista, é claro!)?

2.2. Se é para determinar o pontapé inicial de cada candidato, este eleitor não deveria ser estimulado. Se ele é estimulado e muda o voto: “Não sabia que fulano é candidato, votaria nele”. Acontece e muito isso. Então, neste caso, o voto espontâneo inicial no candidato mediu o que? Qualquer coisa, menos intenção de voto, voto cristalizado, consolidado ou quer que seja.

2.3. IMPORTANTE: O eleitor muitas vezes fica constrangido de mudar o voto (espontâneo) quando estimulado. E tem casos em que o eleitor olha desconfiado para entrevistador, tipo: “será que errei?” “Já falei o nome do candidato e ele está me perguntando de novo?”

2.4. Se a pergunta mais importante da pesquisa é a intenção de voto estimulada (para mim é), não tem sentido realizar a espontânea, uma pergunta anterior que influencia seu resultado.

2.5. Se quer saber o patamar de cada candidato, o voto consolidado, basta fazer a seguinte pergunta após a estimulada: “No dia da eleição, votará com certeza neste candidato ou até lá poderá mudar o voto?”

3. Filtro
Repetindo pesquisas de mercado, em que algumas cabem determinado filtro, a maioria dos Institutos elimina um monte de eleitores da sua amostra. Por qual motivo? Sempre perguntei isso e ninguém responde de forma convincente, mas a resposta é a mesma acima: Estão repetindo o que quase todos fazem. E continuam repetindo sem nenhum questionamento.

3.1. Então vemos filtros enormes:

– Trabalha com jornalismo – deleta
– É filiado a algum partido político – deleta
– Trabalha em Instituto de pesquisa, agência de publicidade ou similar ou tem parente que trabalha – deleta
– E mais um monte de perguntas que encerram a pesquisa caso a resposta seja sim

3.2. O voto dessas pessoas não conta? Probabilisticamente, seriam abordados para responder na proporção existente. Por qual motivo deletar? Essa amostra desenhada por eles é representativa do universo pesquisado ou parte dele?

4. Uma pena que as pesquisas publicadas sejam tão pobres de informação.

16 de abril de 2018

ANTIPOLÍTICA E A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL BRASILEIRA EM 2018!

1. Um voo amplo sobre as eleições de vários países, nos últimos anos, incluindo, claro, 2017 e 2018, mostra um crescimento sustentado da antipolítica, seja com os candidatos vitoriosos, seja com o crescimento de candidatos e novas forças, seja pela sinalização das pesquisas.

2. A antipolítica eleitoral e pré-eleitoral afirma a “morte” dos partidos políticos tradicionais e a necessidade da ascensão de nomes e movimentos, cuja principal bandeira é a rejeição aos partidos e aos políticos.

3. Como em geral as legislações eleitorais não autorizam candidatos avulsos, a antipolítica se apresenta fantasiada com a sigla de partidos políticos. Mesmo os partidos tradicionais -em muitos países- preferiram retirar de seu nome a palavra partido e passaram a se denominar por palavras-bandeiras.

4. É assim no Brasil com Rede, Patriotas, Podemos, Democratas, etc., e em outros países como a Espanha com Cidadãos e Podemos, que perfilam nas pesquisas ao lado dos tradicionais PP e PSOE. Exclua-se disso aqueles que tradicionalmente e há muitas décadas adotaram denominações com a expressão como União…

5. Agora, em 2018, pesquisas pré-eleitorais no Brasil -e especialmente a do Instituto Datafolha, pois foi realizada após as janelas de março e o troca-troca de partidos e a inclusão de personalidades no campo eleitoral- mostram claramente a força de saída da antipolítica.

6. Pelo menos, na América Latina, o amplo processo de corrupção envolvendo políticos e suas relações reforçou a percepção dos eleitores que há a necessidade de varrer do tabuleiro político os partidos tradicionais e que há que se dar prioridade aos que estão no campo da antipolítica.

7. Há que se sublinhar que a antipolítica e o populismo são primos irmãos e que se afirmam quase da mesma maneira, incluindo a tradicional rejeição às elites em defesa dos pobres. Isso traz incorporada a mensagem que os partidos e políticos formam as elites e que há que rejeitá-los.

8. A pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no domingo, 15 de abril, mostra claramente esse quadro e a força da antipolítica. Ou seja, a força das pré-candidaturas que se afirmam pela rejeição aos partidos e aos políticos. O populismo antipolítico de Lula tem o destaque de sempre. Mas quando outros nomes do PT que não podem ser incluídos na antipolítica são apresentados, estes, não chegam a 2%.

9. Com o impedimento legal de Lula, a pesquisa Datafolha oferece alternativas.

10. Os dois primeiros nomes que se destacam e lideram as intenções de voto fazem parte do campo da antipolítica (rejeição a partidos, a políticos e até a política) independentemente de suas ideias. São eles Bolsonaro e Marina. E próximo a eles o ex-ministro do STF que capitaneou o julgamento do mensalão, Joaquim Barbosa. Bolsonaro perde um pouco de fôlego na medida em que outros nomes da antipolítica são oferecidos.

11. Ciro Gomes faz parte deste bloco na pesquisa, e aparentemente como nome partidário. Mas, seu passeio por vários partidos em sua trajetória política mostra coisa diferente. Não é exatamente o partido que o caracteriza. Mas seu populismo retórico e virulento, que aproxima sua comunicação da de Bolsonaro. E assim é percebido pelos eleitores.

12. É dessa forma que está formado o grid de largada para outubro de 2018. E esse será o desafio maior dos candidatos orgânicos, construir discursos e mensagens que os separem do facilitário oportunista da antipolítica.

13 de abril de 2018

EUA E SÍRIA!

(Ex-Emb. RF) 1. No dia em que as forças de Bashar al-Assad retomaram o controle de Douma, o último enclave ocupado pela oposição nos arredores da capital síria, especulava-se sobre a forma que iria assumir a retaliação anunciada por Donald Trump em resposta ao ataque com armas químicas do passado fim de semana, que causou 60 mortos e cerca de mil feridos, precisamente na cidade agora recuperada pelo regime de Damasco.

2. Numa tentativa de evitar um ataque americano às suas forças, o regime sírio convidou inspetores da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPCW, na sigla em inglês) a visitarem Douma e determinar a natureza das substâncias envolvidas.

3. Num primeiro comentário ao ataque, a OPCW referiu a possibilidade, com base nas informações prestadas pelos grupos rebeldes, de ter sido usada uma mistura de gás sarin e cloro. O representante da Rússia nas Nações Unidas, Vassily Nebenzia, anunciou a intenção de apresentar uma resolução no Conselho de Segurança da organização a propor o envio de uma missão da OPWC à Síria. O que estava a ser considerado pelos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha uma manobra dilatória de Moscou para evitar a punição do regime Assad – que poderia estar por horas, ontem ao final do dia. Por seu lado, a OPWC confirmou ter tomado a iniciativa de pedir autorização ao governo sírio para efetuar o deslocamento. Nebenzia advertiu os EUA para “graves repercussões”, caso fossem desencadeadas operações retaliatórias na Síria.

4. Durante a tarde Trump falara com Theresa May, que antes deste contato estivera ao telefone com Emmanuel Macron, tendo os três dirigentes acordado que os responsáveis pelo ataque de Douma “têm de ser sofrer as consequências” da sua ação”, indicou um porta-voz de Downing Street após os contatos.

5. Fontes oficiais em Washington, exprimindo-se sob anonimato, explicaram à Reuters que diferentes opções militares estavam em discussão, com os EUA a procurarem uma articulação com os aliados internacionais. Não foram dados detalhes, mas sugeria-se que a finalidade da retaliação seria desencorajar, de uma vez por todas, o regime sírio de usar armas químicas.

6. Os alvos mais prováveis seriam os centros de comando e controle que terão dirigido os ataques e unidades de apoio, considerava um especialista em segurança internacional, Benjamin Haddad, do Hudson Institute, num texto ontem publicado online na Foreign Policy. Outro alvo poderia ser a base de Dumayr, de onde teriam partido os helicópteros envolvidos no ataque. A 6 de abril de 2017, em resposta a ataque semelhante, em Khan Shaykhum, os EUA dispararam 59 mísseis sobre a base de Shayrat, na província de Homs.

7. Aquelas hipóteses foram, de algum modo, confirmadas ao final do dia por Emmanuel Macron que disse, a haver ataques, estes terão como alvo instalações de armas químicas. Por outro lado, a representante dos EUA na ONU, Nikki Haley, numa reunião do Conselho de Segurança na noite de segunda-feira, recordou que há pouco mais de um ano mostrara fotografias de ataque semelhante ocorrido a 4 de abril de 2017 em Khan Shaykhun, na província de Idlib e apontou para “as mãos cheias de sangue da Federação Russa” no conflito sírio. Moscou vetou 11 resoluções a condenarem o regime de Assad, lembrou Haley, que disse ainda ser indispensável estabelecer-se “um mecanismo imparcial para investigar os ataques”. Em 2013, a Rússia e os EUA assinaram um acordo em que o primeiro país se tornava garante de que o regime de Assad entregaria para destruição todas as armas e agentes químicos suscetíveis de uso letal. Na época foi estimado que possuiria mil toneladas de armas químicas. Em agosto daquele ano, o regime de Damasco efetuara um ataque químico em Ghouta oriental, que causou mais de 1700 mortos, segundo fontes da oposição. A região que voltou agora a controlar.

8. Outro sinal da iminência de uma possível punição militar do regime de Assad foi dada pela notícia do cancelamento da viagem de Trump ao Peru, onde deveria participar sexta-feira na Cimeira das Américas, deslocando-se em seguida à Colômbia. Trump será substituído pelo vice-presidente Mike Pence.

9. Um terceiro sinal veio do ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel al-Jubeir, que falava em Paris no quadro da visita que o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman concluiu ontem na França, e antes de Macron proferir a declaração acima citada. “Não vou especular sobre o que pode ou não pode suceder. O que posso dizer é que estão sendo avaliadas as opções disponíveis nesta questão”, disse o ministro saudita, que sublinhou estar Riad em total sintonia com Washington, Paris e Londres, antecipando o cenário de uma presença saudita nas operações a realizar.

10. Embora seja perceptível que os principais poderes envolvidos no conflito procuram, de alguma forma, não abrirem caminho a uma escalada de tensões de consequências imprevisíveis, os sinais de tensão continuam a multiplicar-se. Ontem, soube-se que, no fim de semana, um avião de combate russo sobrevoou a baixa altitude a fragata francesa Aquitaine, em patrulha no Mediterrâneo ao lardo do Líbano, numa violação das regras internacionais. A notícia, inicialmente divulgada pela edição online da revista Le Point, referia ainda que o aparelho voava com armamento completo.

11. Este caso confirma que a guerra na Síria é, de forma crescente, um conflito em que as grandes potências estão envolvidas e os poderes regionais estão a enfrentar-se de forma aberta. Caso de Israel e do Irã, o principal apoio do regime de Assad no terreno.

12. À medida que a guerra prossegue e a consolidação do poder de Assad depende, de forma clara, da presença das forças de Teerã e de seus aliados, como o Hezbollah libanês, Israel vê, com crescente preocupação, o reforço da presença militar iraniana na Síria, país com o qual tem fronteira comum. Assim, a determinação em impedir que isto suceda.

13. A consolidação da presença militar iraniana, mais as forças do Hezbollah (com o qual Israel já travou uma guerra em 2006, que terminou num relativo impasse) e os combatentes xiitas de várias partes do mundo, cria uma nova e potencial ameaça para as forças armadas israelitas. O que Israel já mostrou que não toleraria enquanto o Irã garantiu que o ataque à base de Tiyas “não ficará sem resposta”.

12 de abril de 2018

MINISTRA ROSA WEBER DEU MAIS PESO À ESTABILIDADE, O QUE PODE PRODUZIR MAIS EFEITOS QUE A PRISÃO DE LULA!

(Vinicius Mota – Folha de S.Paulo, 09) 1. O evento de efeitos mais duradouros destes dias tumultuados pode não ter sido a prisão do ex-presidente Lula, mas sim o voto da ministra Rosa Weber no julgamento de 4 de abril, no Supremo. O teor da manifestação da juíza foi coerente com seu modo de portar-se. Não dá entrevistas nem antecipa opiniões, não patrocina lobbies nem se mete em assuntos que conotem conflito de interesse. Não desafia a jurisprudência.

2. Uma corte suprema não deveria ser fator de insegurança, com mudanças bruscas de rumo. Os mapas que norteiam os juízos não se alteram só porque a maioria passou a pensar diversamente.

3. É preciso algo mais, como vários anos de acúmulo de precedentes no sentido contrário ou um choque da realidade fática, para alterar a jurisprudência do STF. Eis os pressupostos do voto da ministra Weber. Reflexos dos insultos subterrâneos à magistrada, plenos de machismo, vieram à tona tão logo a direção de seu voto ficou clara. Tal lógica condenaria o Judiciário ao imobilismo eterno, argumentam seus críticos mais civilizados.

4. Decerto ela fez opção entre dois valores jurídicos —a necessidade de evoluir e a de assegurar previsibilidade à expectativa dos agentes sociais. Preza mais o segundo, o que não significa anulação nem estrangulamento do primeiro.

5. O cumprimento de pena após a segunda instância tende a tornar-se regra sujeita a conjunto não desprezível de exceções. Prisões mal fundamentadas, alta probabilidade de sucesso nos recursos e falhas processuais graves têm justificado conceder liberdade ou relaxar o regime de detenção.

6. Se as instâncias inferiores se lambuzarem de punitivismo, os casos de revisão vão crescer ao longo dos próximos anos e isso poderá justificar mudança na jurisprudência. Esse é o voto da ministra Rosa, que não é Luxemburgo, mas cujo conservadorismo é quase revolucionário no Brasil.

11 de abril de 2018

RIO: TRÁFICO E MILÍCIAS, A DIFERENÇA DE SUAS DINÂMICAS E DE SEUS “NEGÓCIOS”!

1. A ação e o crescimento das milícias e do tráfico de drogas no varejo, no Rio, tem uma diferença básica.

2. A base das milícias, especialmente nos últimos anos, é a extorsão; seja direta, seja indireta, neste caso, com “a venda de produtos e serviços” como gás, TV, transporte…, compulsoriamente.

3. Nesse amplo sentido, os que pagam, o fazem sem demandar os bens e serviços às milícias “fornecedoras”. Seu pagamento e consumo às milícias é compulsório e imposto.

4. O tráfico de drogas no varejo, nas comunidades do Rio, diferentemente, vende seus produtos (cocaína, maconha…) por demanda dos consumidores. Onde atuam não há a obrigação de os moradores se viciarem e consumir as drogas.

5. De certa forma, mesmo no ciclo inicial das milícias, antes de sua expansão por toda a cidade, especialmente Zona Oeste e mais recentemente pela Baixada Fluminense, a ostensiva proibição de venda de drogas e expulsão dos traficantes e de quem tivesse relação com estes nas comunidades que controlavam mostrava com clareza a diferença “de mercado” entre ambas.

6. No início, por pânico dos moradores aos traficantes, os pagamentos dos moradores e comerciantes era realizado sem rejeição. Progressivamente se transformou em extorsão aberta, como ocorre atualmente.

7. É uma dinâmica de relação com os “consumidores” muito diferente do tráfico de drogas. Igualam-se eles -milícias e tráfico no varejo- para garantir a “prestação de seus serviços”, um regime de imposição de seu comando pela violência e submissão dos moradores.

8. Num caso (milícias), os moradores são “consumidores” compulsórios. No outro caso (tráfico de drogas), aos moradores é imposto um regime de obediência de forma a não atrapalhar o negócio do tráfico de drogas.

9. Em ambos, com o uso de armas pesadas para garantir o controle de suas áreas e a corrupção para sua proteção, inclusive em relação aos órgãos de fiscalização e policiamento.

10. Pela diferença de suas características e dinâmicas, a relação com a política não é a mesma. As milícias têm força eleitoral porque sua base de imposição são todos os moradores. No caso do tráfico de drogas no varejo, os moradores são “expectadores”. Por mais que prestem algum auxílio na compra de remédios ou em ajudas, estas não se referem ao conjunto da comunidade, mas apenas a alguns casos, de forma a suavizar suas imagens.

11. Com isso, no Rio, são raros os casos de políticos eleitos diretamente pelo tráfico de drogas no varejo e vários eleitos pelas milícias.

12. Por isso tudo, milícias e tráfico disputam militarmente territórios. Os fatos muito recentes de aproximação entre algumas milícias e o tráfico, como se noticiou, não tende a se estender pelas radicais diferenças entre uns e outros em seus “negócios”.

13. Mesmo no México, onde há essa convergência, a prevalência e comando é do tráfico e as milícias são terceirizadas, em geral como sicários. E não misturam os negócios nem as organizações nem o mercado.

10 de abril de 2018

DA CARTA AOS BRASILEIROS AO DISCURSO NO SINDICATO DOS METALÚRGICOS!

1. O marqueteiro vitorioso em 2002 insistiu com Lula e o PT que, para ganhar as eleições, deveriam suavizar o discurso. Daí saiu a Carta aos Brasileiros, uma espécie de compromisso (formal) democrático de respeito às instituições e às leis. E assim foi. Veio a vitória eleitoral. A continuidade da política econômica do governo anterior servia para demonstrar -ao distinto público- que o compromisso da Carta aos Brasileiros era para valer.

2. Mas, em pouco tempo, a reação interna cresceu. O ministro José Dirceu, numa reunião na sede do PT com dirigentes e militantes, justificou as medidas. Uma câmera oculta de uma emissora de TV divulgou o discurso que não poderia ser aberto. Nele, José Dirceu afirmou às companheiras e aos companheiros que tivessem paciência. Que a “correlação de forças” não permitia avançar muito naquele momento.

3. E, por isso, a política econômica cumpriria os “compromissos” com as instituições, as leis e a democracia. Mas a política externa retrataria a verdadeira política do partido. Ao lado do ministro de relações exteriores, na função de assessor especial do presidente, foi nomeado Marco Aurélio Garcia, um co-ministro de relações exteriores. E assim foi integrando o governo de Lula aos de Chávez, de Castro, de Ortega, de Correa, de Morales, do Irã e até da Líbia…

4. Enquanto a economia seguia seu rumo empurrada por um ciclo internacional favorável, as críticas à política externa ficavam meio desapercebidas, quase circunscritas aos especialistas.

5. No nível interno, o governo Lula-Dirceu entendeu que havia a necessidade de comprar parlamentares de forma a que se pudesse “legislar” por decreto e ocupar a máquina livremente. No início do segundo ano de governo isso ficou claro e foi sendo aberto, progressivamente, pela mídia e por vazamentos. O núcleo era o gabinete do poderoso ministro José Dirceu. Os vazamentos cresceram e já no primeiro semestre de 2005, com uma bombástica entrevista do deputado Jeferson à Folha de S.Paulo, ficou tudo às claras.

6. Foi aberta uma CPI e o ministro José Dirceu cassado por conta das denúncias. A CPI deu origem a um processo que ficou conhecido como Mensalão. As provas eram contundentes, com dinheiro sendo entregue na boca de caixa bancário, através de um crime que se imaginava perfeito, via agência de publicidade.

7. Blindado o gabinete presidencial, as denúncias e provas desintegraram presidentes e executivas de vários partidos, a começar pelo PT. Mas a locomotiva estatal seguia seu rumo. Foram distribuídos amplos subsídios aos movimentos sociais, aos sindicatos, a artistas e a intelectuais…, da casa. E, assim, a base aliada -interna e externa- se tornou gigantesca e plástica.

8. Era necessário garantir a reeleição e depois novas reeleições. Quando o IBOPE mostrou o crescimento do prefeito do Rio no início de 2005, na época recém reeleito, que já ocupava a segunda posição com folga, foi montada uma fraude através de uma intervenção inconstitucional na saúde pública municipal. Apesar de o STF ter derrubado em seguida essa intervenção, o resultado político havia sido alcançado.

9. Mas era necessário formar uma chapa imbatível com os dois maiores partidos ocupando a presidência e a vice-presidência. E assim foi em 2008. Com a máquina estatal ocupada partidariamente, com uma amplíssima maioria parlamentar submissa, o poder estava garantido e concentrado.

10. A crise financeira de 2008 começou a desmontar o uso da política econômica como disfarce e uma abertura crescente para o populismo econômico passar. A assunção de Dilma em 2011 já se deu num quadro que apontava para o desmonte econômico. A economia patinava e a inflação crescia. Começaram as pedaladas de forma a dar lastro ao populismo econômico.

11. Tudo foi ficando claro e a caixa preta foi sendo aberta até o impedimento da presidenta. Simultaneamente, no início do segundo mandato de Dilma, investigações realizadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal mostraram o “mar de lama” sobre o qual se sustentava esse esquema, o que acabou envolvendo o próprio presidente.

12. É uma série que começa em 2003. A ilusão de um novo comportamento de Lula e do PT se desmanchou progressivamente. Foram 15 anos até a condenação de Lula, que já havia abatido -em voo- José Dirceu em 2005.

13. Isso tudo mostra que o desmonte deste esquema impediu o Brasil de entrar num sendeiro chavista, o que seria muito mais grave do que o triplex, que é apenas a ponta do iceberg. O discurso de 7 de abril na porta do Sindicato dos Metalúrgicos, com todos os malabarismos populistas, abriu o jogo na agressão às instituições e à liberdade de expressão. E deixou para trás a Carta aos Brasileiros e o respeito à democracia e às leis.

09 de abril de 2018

LULA: SEUS PROBLEMAS E SEUS DISCURSOS! E LA CASA DE PAPEL! 

1. A “informalidade” que acompanhou líderes sindicais nas suas relações com grandes empresas sempre foi uma rotina. As montadoras não cansaram de detalhar. Uma das idas de lideranças sindicais (entre elas Lula) a Alemanha foi, na época, divulgada com detalhes nos bares e boates, incluindo shows de strip-tease.

2. Essa informalidade e intimidade explicam o que ocorreu com Lula. Pode ser até que ele não entendesse isso como desvio de conduta ou ilegalidade. As explicações que Lula dá ao caso do triplex explica bem e com detalhes essa relação “informal” e íntima que alguns procuradores chamaram de promíscua. Mas ele não entende assim.

3. Seu discurso no carro de som, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, traz informações que vão além do conteúdo. Por exemplo, ter falado para baixo, para os militantes e não direto para a TV, que era do próprio sindicato.

4. Ou seja, não se dirigia ao público que assistia ao vivo na TV ou depois nos sites. Dessa forma, Lula voltava a seu nicho e abandonava a condição de líder popular e mantinha-se apenas na condição de origem como líder sindical.

5. Isso não era a narrativa de sua história, mas a narrativa de sua realidade atual, numa espécie de giro político de 360 graus, voltando a ser o que foi.

6. A agressividade com que se dirigiu ao Ministério Público, ao Poder Judiciário e aos meios de comunicação e, claro, às elites, certamente não correspondia a um candidato a presidente. Não teve nem o cuidado de restringir com “alguns” ou algo assim. Ao contrário, generalizou as agressões.

7. Por isso, as associações representativas de procuradores e juízes e da mídia reagiram, porque todas se sentiram agredidos. Era um discurso de candidato a deputado e não de candidato majoritário.

8. A figura de retórica, dizendo que todos os militantes e lideranças sindicais ou políticas deveriam se sentir todos e cada um como Lula, incorporando-o, é bem explicativa.

9. Seria o caso de todos serem iguais a Lula, usando sua máscara. E o Sindicato dos Metalúrgicos seria a Casa de Papel (NetFlix), todos de máscaras de Lula e cercados pela Polícia Federal. E, depois da prisão, todos os militantes.

10. Esse discurso de transferência de personalidade às massas é característica do populismo dos anos 20 e 30 na Europa, incluindo as cores e os gestos. O conteúdo demagógico de seu discurso de que as elites, procuradores e juízes e mídia o perseguiam porque ele representava os pobres sequer produziu emoção. As imagens da TV do Sindicato retrataram isso.

11. Os anos de militância pós sindical, de militância política e de experiência internacional deveriam ter dado a Lula uma maturidade que não teve enquanto “enfrentou” a polícia em La Casa da Papel.

12. Não é sem razão que Lula repetia à exaustão que sua relação com Bush foi muito melhor e prazerosa que sua relação com Obama.

06 de abril de 2018

“EM 2016 E 2017, FORAM APREENDIDAS MAIS DE 20 TONELADAS DE COCAÍNA NO PORTO DE SANTOS!” 

(Matias Spektor – Folha de S.Paulo, 05) 1. Se o grupo de Michel Temer está envolvido em crimes de corrupção no porto de Santos, apenas as investigações dirão. O que sabemos é que, nos últimos dois anos, Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público começaram a expor as táticas das redes criminosas que atuam em Santos, assim como sua relação com o mundo político.

2. Em 2016 e 2017, foram apreendidas mais de 20 toneladas de cocaína no porto. Descobriu-se que as máfias da droga que ali operam possuem conexões com redes criminosas em Bélgica, Espanha, Inglaterra, Itália e Rússia. Como o Brasil é conivente com o malfeito, vai galgando posições no ranking de escoamento de droga sul-americana para a Europa. Os investigadores descobriram que funcionários do próprio porto de Santos envolvidos no esquema permitiam a entrada de veículos abarrotados de cocaína na calada da noite. Para embarcar a mercadoria, eles desligavam as luzes no trajeto ou viravam a direção das câmeras de segurança. Era esse grupo de funcionários que rompia os lacres de contêineres nos quais é embarcado o produto.

3. Em meio aos trabalhos de investigação, as autoridades também expuseram a máfia dos contêineres, associação criminosa que vendia placas de carro para acessar o porto e que, na tentativa de manter seu monopólio intacto, ameaçava ou usava violência contra empresários do setor de transportes.  Quiçá mais relevante, descobriu-se que alguns dos chefes dessa quadrilha eram ligados a sindicatos do setor, os quais, por sua vez, contribuíam ativamente para campanhas eleitorais.

4. As investigações em Santos vêm avançando, atraindo a atenção do governo dos Estados Unidos e das Nações Unidas por causa dos efeitos globais do problema. Mas o desafio é gigantesco e inclui outros grandes portos brasileiros, sobretudo em estados como Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

5. A situação é grave a ponto de deixar autoridades com medo de represálias. Funcionários públicos que trabalham nos portos e que não participam do esquema são alvo de pressão dos grupos que operam para atender aos interesses de traficantes, sonegadores e dos parceiros dessa gente em Brasília.

6. Não é difícil compreender que há uma relação entre a grande corrupção —por exemplo, o pagamento de propina em Brasília pela renovação de concessões de terminais portuários e outros tipos de “boquinha”— e o ambiente de criminalidade local, no qual florescem o narcotráfico e as máfias que tomaram conta dos grandes portos e cidades.

7. A descoberta de como funciona o nexo entre corrupção política e redes de narcotráfico em Santos está no início. Nos próximos meses, ficarão mais claros os seus mecanismos.

05 de abril de 2018

ELEIÇÕES NO EGITO RATIFICAM REGIME VERTICAL!

1. O presidente do Egito, Abdel-Fatah al Sisi, foi reconduzido ao cargo com 97% dos votos válidos, numa eleição em que o seu único oponente era um seu confesso apoiante. Os resultados foram anunciados esta segunda-feira e marcam uma esmagadora vitória do homem que tem sido acusado de apertar o garrote à oposição, transformando a dissidência política num crime.

2. Porém, é também o único visto pela maioria da população como capaz de impor a estabilidade que desapareceu do país desde os protestos que derrubaram Hosni Mubarak, em 2011.

3. Apesar de a participação ter sido relativamente baixa (41,5%), al Sisi teve mais votos do que nas últimas eleições, realizadas em 2014. Moussa Moustafa Moussa, o candidato que já tinha prometido lealdade ao general al Sisi, conseguiu apenas 3% (cerca de 656 mil votos), ou seja, ficou em terceiro lugar porque os votos nulos fixaram-se nos 7,27% (1,7 milhões).

4. Alguns cidadãos queixaram-se de terem sido coagidos a votar mas preferiram inutilizar o boletim do que votar numa eleição que consideram parcial e sem reais alternativas.

5. A revista “Economist” dá conta de vários em casos em que eleitores, descontentes com ambas as opções, terão riscado os nomes de al Sisi e Moussa e escolhido Mohamed Salah, um futebolista egípcio que joga no Liverpool.

6. Nas eleições de 2014, que decorreram entre 26 e 28 de maio, Al-Sisi, 63 anos, obteve 96,91% dos votos contra Hamdeen Sabahi, que também concorreu a estas eleições. Na altura, a taxa de participação ficou perto dos 48%, segundo os números oficiais. Também nessa altura a oposição se referiu à consulta como uma “farsa”.

7. Desta vez, a oposição espera que o segundo mandato de al Sisi acabe por se revelar um pouco mais aberto a novas alternativas, apesar de isso parecer mais um sonho do que uma exigência tangível. Todos os seis candidatos que não faziam parte do grupo de homens leais a al Sisi foram impedidos de figurar nos boletins e, mesmo dentro do próprio aparelho de Estado egípcio, o descontentamento foi claro durante o tempo de campanha.

8. “Não creio que al Sisi queira algum tipo de política real a acontecer no Egito. Ele odeia política. Ele odeia opiniões”, disse ao diário britânico “The Guardian” Hamdeen Sabahi, que tentou, com outros membros da oposição, instaurar um boicote às eleições. Ato contínuo, o procurador público colocou-o sob investigação, acusado de tentar derrubar o regime. Um outro oposicionista, Abdel Moneim Fotouh, está agora na lista de terroristas também por se ter envolvido em ações classificadas como um ataque ao regime.

9. O que é mais atípico é que esta perseguição também se estendeu ao exército, território pró-al Sisi, e mais precisamente a Sami Anan, antigo segundo no comando do Conselho Superior das Forças Armadas que foi detido depois de demonstrar a sua intenção de concorrer à presidência.

10. O problema que agora se começa a desenhar é a intenção, já demonstrada pelos apoiantes de al Sisi, em estender os mandatos presidenciais. Aumentar os anos dos mandatos ou suprimir qualquer limite pressupõe uma consulta popular para modificar a Constituição. Já aconteceu na Turquia, onde o enorme apoio ao presidente Erdogan se repetiu no apoio às mudanças constitucionais que ele propôs.

04 de abril de 2018

MINISTRA CARMEN LÚCIA, 02/04 – COMANDANTE VILLAS BOAS, 03/04! 

MINISTRA CARMEN LÚCIA

A democracia brasileira é fruto da luta de muitos. E fora da democracia não há respeito ao direito nem esperança de justiça e ética.

Vivemos tempos de intolerância e de intransigência contra pessoas e instituições.

Por isso mesmo, este é um tempo em que se há de pedir serenidade.

Serenidade para que as diferenças ideológicas não sejam fonte de desordem social.
Serenidade para se romper com o quadro de violência. Violência não é justiça. Violência é vingança e incivilidade.

Serenidade há de se pedir para que as pessoas possam expor suas ideias e posições, de forma legítima e pacífica.

Somos um povo, formamos uma nação. O fortalecimento da democracia brasileira depende da coesão cívica para a convivência tranquila de todos. Há que serem respeitadas opiniões diferentes.

Problemas resolvem-se com racionalidade, competência, equilíbrio e respeito aos direitos. Superam-se dificuldades fortalecendo-se os valores morais, sociais e jurídicos.

Problemas resolvem-se garantindo-se a observância da Constituição, papel fundamental e conferido ao Poder Judiciário, que o vem cumprindo com rigor.

Gerações de brasileiros ajudaram a construir uma sociedade, que se pretende livre, justa e solidária. Nela não podem persistir agravos e insultos contra pessoas e instituições pela só circunstância de se terem ideias e práticas próprias. Diferenças ideológicas não podem ser inimizades sociais. A liberdade democrática há de ser exercida sempre com respeito ao outro.

A efetividade dos direitos conquistados pelos cidadãos brasileiros exige garantia de liberdade para exposição de ideias e posições plurais, algumas mesmo contrárias. Repito: há que se respeitar opiniões diferentes. O sentimento de brasilidade deve sobrepor-se a ressentimentos ou interesses que não sejam aqueles do bem comum a todos os brasileiros.

A República brasileira é construção dos seus cidadãos.

A pátria merece respeito. O Brasil é cada cidadão a ser honrado em seus direitos, garantindo-se a integridade das instituições, responsável por assegurá-los.

COMANDANTE GENERAL VILLAS BOAS

Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.

Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?

03 de abril de 2018

“AS JANELAS” SÓ AUMENTARAM AS INCERTEZAS!

1. A possibilidade de troca de partidos para os deputados estaduais e federais só aumentou as incertezas em relação às eleições de 2018.

2. Nenhum partido chegará a 11% das cadeiras na Câmara de Deputados. Mesmo que a pulverização não alcance os 28 partidos com presença no parlamento, o menor número de partidos com representação na Câmara de Deputados produzirá uma pulverização concentrada.

3. Explique-se. Nenhum partido alcançando 11% dos deputados e o número de partidos com presença parlamentar sendo reduzido dos 28 atuais para 20, ou menos, teremos uma pulverização concentrada ou concentração pulverizada.

4. Com isso, a tarefa do próximo presidente de formar uma base de sustentação será mais difícil, pelo peso relativo dos pequenos e médios partidos. Comparando com os parlamentos europeus, todos os partidos daqui serão pequenos ou médios.

5. O “não voto”, somando abstenção + votos brancos + votos nulos, estará na casa dos 40%. Isso aumenta a imprevisibilidade eleitoral, ou seja, o risco de deputados perderem o mandato.

6. A impossibilidade de doações empresariais, o menor período eleitoral, as restrições à propaganda, os riscos gerados por uma mais intensa fiscalização eleitoral e os constrangimentos ao populismo eletrônicos nas redes sociais ampliará ainda mais a imprevisibilidade.

7. Rigorosamente nenhum partido pode afirmar que elegerá 5 governadores, como na situação atual. E, somando-se a isso, igualmente a imprevisibilidade na eleição presidencial, a tarefa dos próximos presidentes dos poderes executivo e judiciário será começar a construir uma governança política no dia seguinte à eleição.

8. As pesquisas que devem ser publicadas para valer a partir de maio devem incluir novos elementos de convicção do eleitor, tanto de presença como de opções eleitorais. A oscilação do eleitor aumentará.

9. Mundo afora, as pesquisas do último mês de campanha têm apontado prognósticos com significativa diferença em relação aos resultados finais. Ou seja, os analistas, a imprensa, os candidatos e os eleitores devem usar com muito cuidado e prudência as pesquisas eleitorais.