30 de maio de 2018

QUATRO QUESTÕES BÁSICAS SOBRE A GREVE DOS CAMINHONEIROS!

(Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha de S.Paulo – UOL, 28) 1.  A matriz de transportes dependente de caminhões não favoreceu a crise. Em qualquer lugar do mundo, o caminhão é o elo mais frequente entre o varejista, que abastece os consumidores, e o seu fornecedor. A gasolina não chega aos postos de trem nem de navio. A batata, o tomate e a carne não viajam de “alimentoduto” até os supermercados. Precisam em geral de veículos de carga que trafegam pelas estradas e pelas ruas. Na França, paraíso ferroviário, greves de caminhoneiros sufocam o abastecimento de combustível e produzem as mesmas imagens de filas nos postos que vimos aqui. Também não é uma locomotiva que vai buscar o leite nas fazendas ou entregar os insumos para a criação dos frangos nas granjas. São basicamente caminhões em qualquer parte do planeta. A matriz de transportes brasileira é excessivamente dependente de caminhões nos grandes troncos de escoamento e nas grandes distâncias. Isso cobra um preço em termos de eficiência econômica, mas não torna o consumidor brasileiro mais vulnerável a paralisações. Na verdade, se essas operações fossem mais concentradas em ferrovias e hidrovias, seria muito mais fácil meia dúzia de sindicatos pararem o Brasil. Trens e navios são poucos e trafegam por poucas vias. Coordenar centenas de milhares de caminhoneiros pelas vias capilarizadas deste país continental é bem mais difícil.

2. Floresce no Brasil uma espécie de anarquismo de direita. Há pouca coordenação nessa revolta, que se alimenta do clamor difuso e mal fundamentado pelo restabelecimento de um ideal de ordem e hierarquia. Mas essa restauração só viria pela destruição violenta e súbita de todos os que estão aí, exercendo postos de poder. Não se engane, leitor moderado de centro-esquerda ou centro-direita, este é um movimento da direita autêntica, talvez o maior da história do Brasil urbano e democrático. A leitura apressada do quadro pode levar a atitudes equivocadas como a dos petroleiros, que anunciam uma greve supondo-a favorável ao petismo. Estão apenas colocando azeitona na empada dos brucutus. Os anarquistas anticapitalistas do passado cultivavam a ideia de que uma greve geral revolucionária, com adesão absoluta, derrubaria o sistema num só golpe. Eis que o seu negativo de direita, no Brasil mal instruído do século 21, aparece aboletado na cabine de um caminhão.

3. Este presidencialismo e a irresponsabilidade dos poderosos têm-nos custado muito. Governos fracos, estabelece uma regra universal, são presas doces para grupos que saqueiam as rendas da maioria desorganizada. No contexto brasileiro desde junho de 2013, o presidencialismo, ao dificultar a reciclagem nas urnas de lideranças tornadas inertes, tem exposto carcaças de mandatários aos predadores por tempo demasiado. Não é razão suficiente para trocar o regime pelo parlamentarismo, por exemplo. Uma transição desse tipo acarretaria mudanças tectônicas talvez contraproducentes. Mas é preciso debater mecanismos que facilitem a resolução democrática de impasses, incluindo na equação o voto popular. As raízes fiscais da instabilidade política são profundas e estão se fortalecendo. Precisamos nos preparar para no mínimo mais uma década de fortes emoções. A despeito disso, ajudaria se as autoridades evitassem o cinismo e cumprissem o seu papel. Em junho do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral fechou os olhos diante de toneladas de provas de abuso do poder econômico nas eleições de 2014. Manteve o cadáver de Temer no Planalto, a alimentar as hienas.

4. Ainda longe do cataclismo, a sociedade tem capacidade quase infinita de se adaptar às restrições enquanto combate os chantagistas. A partir de 5 de setembro de 1940 e por praticamente 76 noites consecutivas, Londres foi maciçamente bombardeada pela Força Aérea alemã. Foi a consequência da opção do premiê Winston Churchill por combater Hitler, em vez de tentar selar um armistício com o ditador. Os londrinos se adaptaram à rotina dos massacres aéreos não como ato de resignação diante de um destino cruel e inevitável. Aceitaram pagar esse custo altíssimo em nome da luta contra a tirania e a opressão. Deu certo, e a virtude demonstrada pelos britânicos não seria menor em caso de derrota. O exemplo extremo, muito distante do nosso aqui, serve para nos lembrar de duas coisas: é imensa a capacidade de adaptação das sociedades em situação de cerco; privar-se de bens e serviços habituais pode mobilizar a população contra aqueles que a estão fazendo sofrer. Caminhoneiros e empresários de transporte adotaram a via dos piratas e dos saqueadores do passado. Sitiam cidades e estrangulam o fornecimento de bens essenciais. Provocam sofrimento em dezenas de milhões de pessoas para arrancar delas mesmas, pela via do resgate bilionário chancelado pelo governo, a solução para seus problemas. Se você gosta disso, se simpatiza com os meios empregados pelos bucaneiros sobre rodas, então está flertando com a tirania. Bate palmas para a lógica do torturador. Você não gosta da democracia. Se você, como eu, detesta truculência e chantagem, então talvez devesse exigir de seus representantes que resistam às investidas do protofascismo. É uma luta vã, em larga medida. Não temos Churchill. Nossas tristes lideranças, os chefes do Planalto, da Câmara e do Senado, já entregaram tudo para os alemães. E os alemães, como todos os tiranetes sádicos, ainda não ficaram satisfeitos.

29 de maio de 2018

“ELEIÇÕES DE 2018: UM PROCESSO QUASE CONSTITUINTE”!

(Luiz Werneck Viana, Sociólogo – PUC-RJ – Estado de S. Paulo, 27) 1. O processo eleitoral que já vivemos pode ser considerado como um momento quase constituinte, na medida em que deve impor pelo voto uma radical mudança nas relações entre o Estado e a sociedade civil. O movimento de junho de 2013 da juventude anunciou com tintas fortes a profundidade da crise dessa relação, enquanto a devassa nos negócios entre agentes públicos e empresas privadas procedida pela chamada Operação Lava Jato fez o resto, jogando ao chão o que ainda restava dela. Decerto que o momento de uma campanha eleitoral não seria o mais oportuno, pelas paixões que ela suscita, mas, por ora, só contamos com ele.

2. A seleção das candidaturas e suas alianças devem, portanto, considerar a excepcionalidade deste processo eleitoral. No caso, não se pode deixar de considerar, nesta hora de falta de rumos confiáveis para o nosso futuro, em meio às ruínas em que sobrevivemos, o manifesto Por um polo democrático e reformista, lançado a público por iniciativa de dois parlamentares, o deputado Marcus Pestana e o senador Cristovam Buarque, já subscrito por Fernando Henrique Cardoso, uma extraordinária personagem das que nos sobraram de tempos menos sombrios do que os que agora vivemos, que parece ter saído das páginas dos textos políticos de um Max Weber, pela coragem sóbria, sempre fiel às suas convicções de fundo, defendidas com responsabilidade, que nos afiança os caminhos preconizados nesse bem-vindo manifesto, a rigor, um programa de ação de um novo governo.

3. Nesse manifesto-programa se conclamam “todas as forças democráticas e reformistas em torno de um projeto nacional que, a um só tempo, dê conta de inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento social e econômico, a partir dos avanços alcançados nos últimos anos, e afaste um horizonte nebuloso de confrontação entre populismos radicais, autoritários e anacrônicos”. O texto continua para afirmar que para o sucesso dessa iniciativa se devem agregar, de forma plural, liberais, democratas, social-democratas, democratas cristãos, socialistas democráticos, numa frente que se empenhe, nesta hora decisiva para a construção do futuro, na realização de um programa de desenvolvimento com mudança social que abra as portas para o moderno no Brasil, pondo fim aos processos de modernização autoritária que levaram o País a um lugar sem saída.

4. O tempo é curto para que essa iniciativa possa encontrar seu ponto de maturação. É preciso invocar a sabedoria dos nossos maiores, que no passado, do Império à República, como no caso recente da transição do regime militar para o democrático, sempre pela via da negociação souberam encontrar soluções para os nossos impasses políticos e institucionais. Seus adversários são conhecidos e ambos desejam vias de ruptura: à direita, os que desejam uma saída neoliberal clássica – desejo mal escondido de poderosa rede de comunicação; à esquerda, os que visam a uma retomada das vias bolivarianas.

5. O papel do centro político como estratégico na nossa formação não pode ser ignorado, e para só falar do período republicano, a exemplo de Vargas, que em 1945 fundou o PSD com lideranças tradicionais a fim de respaldar sua obra social reformadora, reeditado em grande estilo por Ulysses Guimarães e Tancredo Neves para abrir caminho à democratização. O manifesto, que ora circula em busca de adesões, segue as pegadas de momentos criativos e fecundos da política brasileira, que nos seus estonteantes ziguezagues nunca perdeu de vista seus compromissos com a obra da civilização singular que fazemos aqui.

6. Como palavras finais, deve-se mencionar que tal movimento, ao menos in pectore, admita que sua vitória trará consigo um momento de concórdia, reeditando a época do movimento da anistia, que envolva a sociedade, o Congresso e, principalmente, o sistema de Justiça, que pacifique de verdade esta praça de guerra que desgraçadamente nos tornamos. o Manifesto conclama as forças democráticas e reformistas à união, com vista à eleição.

28 de maio de 2018

GREVE DOS CAMINHONEIROS E ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS: QUEM GANHA E QUEM PERDE?

1. A reação dos pré-candidatos a presidente da República à greve dos caminhoneiros foi um festival de oportunismos. Flavio Rocha, dono da Riachuelo, postou sua opinião totalmente favorável à greve. Ainda mais à direita que ele, Bolsonaro fez a mesma coisa em suas postagens.

2. Mas, no extremo oposto, a esquerda fez o mesmo, com postagens de líderes do PSOL e PT. Em geral, os candidatos a governador dos Estados preferiram manterem-se omissos, a maioria reclamando que não querem participar da “vaquinha” promovida pelo governo federal com seus tributos. Mas há uma estranha e paradoxal exceção: Pezão, que encaminhou projeto de lei reduzindo o ICMS do óleo diesel de 16% para 12%, uma redução significativa de 25%.

3. Em geral, foi tudo como se a greve dos caminhoneiros e suas consequências gerassem um consenso ideológico. As imagens da greve, com milhares de caminhões parados nas beiras das estradas ou as obstruindo, teve uma cobertura geral da mídia, em tempo integral, e em tempo real.

4. Isso apavorou os candidatos que, há menos de 3 meses das convenções, resolveram tirar uma casquinha eleitoral da greve. Nos jornais, as suas declarações tiveram pouco espaço. A TV entrevistou as autoridades e os atores da greve- patrocinadores e vítimas, mas não os candidatos.

5. Mas, nas redes sociais, os pré-candidatos deitaram e rolaram. Pré-candidatos e seus porta-vozes, em todos os níveis políticos, postaram seus vídeos, suas declarações e seus memes. Todos na mesma direção. Num extremo, Bolsonaro. Em outro extremo, o PSOL e o PT, passando pelo empresário Flavio Rocha – proto-liberal. Flávio Rocha fez sua estreia no oportunismo político-eleitoral, mostrando o quanto é igual aos demais e à média política brasileira.

6. Mas quem perde e quem ganha -política e eleitoralmente- num ano crítico e estratégico como 2018? De nada adiantam as postagens, as entrevistas e os discursos? O fundamental é o perfil e a imagem acumulados, de cada um dos pré-candidatos.

7. Lula manteve-se silente, talvez por orientação de seus advogados. O PT não tem outro porta-voz e nem consenso para nada, hoje – exceção ao repetitivo “fora Temer”. Continuou fora do jogo. Alckmin tem uma imagem suave, que nada tem a ver com a violência da greve. Da mesma forma, Marina, que no limite fala da questão ambiental e do impacto do transporte rodoviário. Álvaro Dias não construiu uma imagem, um perfil na pré-campanha fora do Paraná.

8. Dessa forma, restam Bolsonaro e Ciro Gomes, com perfis mais explosivos e histriônicos, harmonizando com os caminhoneiros. Ambos -potencialmente-poderiam capitalizar eleitoralmente a greve dos caminhoneiros.

9. O governo federal e Temer ganharam mais um desgaste com uma crítica generalizada de que não se anteciparam e se atrasaram nas ações mais incisivas. E ainda receberam as críticas dos economistas liberais contrariados com os subsídios aprovados pela repercussão fiscal das medidas.

10. Cabe um exercício de silogismo, projetando o futuro da greve. Independente de suas consequências e do prazo, a greve vai terminar, até por exaustão. E que imagens estarão associadas ao fim da greve? Com certeza apenas as imagens generalizada: o Exército, seus soldados, seus veículos e tanques nas ruas.

11. As pesquisas todas mostram a confiança popular-institucional nas Forças Armadas, só ficando atrás da “Igreja”. A percepção será que a greve terminou graças às FFAA.

12. E quem é o político e pré-candidato com imagem associada às FFAA e reforçada pelas afirmações verticais de autoridade? Obviamente, Bolsonaro, que sempre galopou em sua condição de ex-oficial do Exército e defensor do regime autoritário. E quem corre maior risco com isso? Ciro Gomes, que por desenvolver um perfil primo-irmão de valentia, na medida em que o eleitor deduzir que o mais confiável nas crises é Bolsonaro, tenderá a transferir suas intenções de voto de Ciro para ele.

13. Paradoxalmente, se beneficia o extremo oposto, com perfil de suavidade: Marina e Alckmin, que poderão passar a ser favoritos para um segundo turno com a perda de competitividade de Ciro Gomes.

14. Agora há que acompanhar.

25 de maio de 2018

PACTO DE GOVERNO ENTRE O M5S E A LIGA, NA ITÁLIA!

1. O Movimento Cinco Estrelas (M5S), um partido antissistema, e a Liga (nacionalista) concluíram hoje um programa de governo conjunto que inclui a expulsão massiva na Itália de imigrantes e um “imposto único”, anunciou o líder do M5S, Luigi di Maio.

2. Num vídeo divulgado através da sua conta de Facebook, Di Maio convidou os militantes do partido a votar o pacto de governo através da Internet até às 20:00 .

3. O texto do pacto tem 57 páginas e 23 pontos de programa de Governo, embora deixe em aberto a decisão sobre quem será o presidente do Governo.

4. Ambos os partidos, que defenderam na campanha eleitoral o reforço dos controles fronteiriços para travar a imigração ilegal, propõem a expulsão de meio milhão de imigrantes ilegais e a construção de centros para os acolher quando chegarem ao país e onde ficarão enquanto estiverem irregulares.

5. O programa comum inclui também a alteração do sistema de pensões para facilitar o acesso à reforma e à renovação de gerações, através de um sistema, designado ‘quota 100’, que permitirá a reforma quando a soma dos anos de idade e de descontos some 100, se bem que por enquanto não há uma idade mínima para a aposentadoria.

6. De acordo com o El País, o pacto entre os dois partidos inclui a descida de impostos, a introdução de um rendimento básico de cidadania de 780 euros mensais e subsídios para creches apenas destinados a famílias italianas.

7. O líder do M5S, Luigi di Maio, disse estar “muito feliz” com a definição do pacto de Governo, depois de “70 dias” de trabalho “intensos”.

24 de maio de 2018

RECRUDESCE A COCAÍNA NA COLÔMBIA: CULTIVO AUMENTOU 52%, PRODUÇÃO DE COCAÍNA AUMENTOU 34% E  PREÇO DO KG DE FOLHA DE COCA 43%!

(RF) 1. O procurador-geral da Colômbia, Fernando Carrillo, afirmou que o país está “inundado em coca” e que é preciso repensar as políticas para acabar com os cultivos ilegais. Carrillo disse aos jornalistas que o país vive “inundado em coca, especialmente nas áreas fronteiriças”, o que obriga a pensar num novo método, diferente da substituição voluntária, para pôr fim aos cultivos ilegais.

2. Em maio do ano passado, o Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, lançou um plano de substituição das plantações de coca, componente base da cocaína, para aplicar o acordo de paz assinado com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e terminar meio século de conflito armado.

3. Para Fernando Carrillo, o plano que oferece uma solução para os cultivadores de coca, de modo a que a substituam por produtos legais, não se tem mostrado eficiente. “Se de agora em diante, e como se tem verificado, a estratégia não funcionar, há que pensar noutras soluções”, disse.

4. O procurador-geral sublinhou que nas regiões onde o cultivo de coca aumentou, “há também uma crescente presença do crime organizado, grupos armados e cartéis internacionais”. “Onde há cartéis, crime organizado, pouca presença do Estado, a corrupção domina”, acrescentou.

5. O antecessor de Carrillo na Procuradoria Geral da República Alejandro Ordóñez já havia alertado, em 2015, que a Colômbia estava “a nadar em coca”.  O cultivo de coca na Colômbia aumentou 52% em 2016, tendo a área de plantação passado dos 96 mil para os 146 mil hectares, de acordo com um estudo, divulgado em julho passado, pela Agência das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC).

6. Em relação à produção de cocaína, o mesmo estudo calculou um aumento de 34%, de 646 toneladas em 2015, para 866 toneladas em 2016.  A ONU também sublinhou que o preço por quilo de folhas de coca aumentou 43% relativamente às estimativas de 2013, “o ano em que a tendência começou a ser de aumento da área plantada”.

23 de maio de 2018

“APATIA DO ELEITOR”! 

(Editorial Estado de S.Paulo, 21) 1.  Há na política nacional um clima de apatia e desencanto. Em menos de cinco meses haverá eleições e o cidadão mostra-se reticente com suas preferências. “Os eleitores estão sem perspectiva de melhora”, diz Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope Inteligência. “Não conseguem ver como sair desse lugar em que estamos, não conseguem enxergar uma luz no fim do túnel.”

2. O fenômeno da apatia com a política tem traços paradoxais. Nos últimos dois anos, o brasileiro experimentou uma melhora da situação econômica e social do País, que foi em boa medida resultado da mudança do governo federal. O impeachment de Dilma Rousseff serviu de ocasião para retificar os rumos da política econômica, com efeitos diretos sobre a inflação, o emprego, os juros, o consumo. Ainda há muito a fazer, mas a situação do País hoje é incomparavelmente melhor do que há dois anos. Há evidências empíricas, portanto, de que o modo como o País é governado tem consequências práticas sobre a população. Em tese, tal constatação deveria ser mais que suficiente para que o eleitor reconhecesse a importância da política e, portanto, das próximas eleições, para o seu futuro imediato. Do resultado das urnas dependerá a continuidade da reconstrução do País.

3. A percepção sobre a importância das eleições é, no entanto, ainda muito frágil. Na prática, a ideia de que as eleições periódicas são fundamentais para o País convive, sem maiores conflitos, com um profundo alheamento da política. Em geral, não se nega o valor do voto, mas ele é visto como incapaz de mudar o País. Segundo esse raciocínio, o melhor seria não criar expectativas com as eleições. Ou seja, o cidadão não parece disposto a utilizar o voto como um poderoso instrumento de mudança.

4. Entre as causas da apatia, que conduz a graves distorções na representação, ressaltam o populismo praticado pelo PT ao longo das últimas décadas e a demagogia que se tornou método de quase todos os partidos. De certa forma, o eleitor tem razão para estar frustrado. Foi-lhe dito que não era preciso cuidar do equilíbrio fiscal, foi-lhe prometida a diminuição dos juros por simples ato de vontade da presidente da República, foi-lhe afirmado que o déficit da Previdência não era motivo para preocupação, assim como tantas outras barbaridades. O lulopetismo prometeu ao brasileiro um futuro espetacular sem necessidade de esforço. A única condição para que o paraíso fosse definitivamente instalado na terra era manter o PT no poder.        

5. Como bem se sabe, não foi isso o que ocorreu. As lideranças petistas trouxeram de volta a inflação, o desemprego, o aumento dos juros. Em suma, o PT deu motivo para que a população desconfiasse do governo – qualquer governo – e descresse do País.   Para piorar, a crise econômica veio acompanhada de grandes escândalos de corrupção. Sob o discurso da preocupação social, tão repetido pelos petistas, havia uma enorme podridão moral, capaz de gerar casos como o do mensalão e o do petrolão. Os recursos públicos desviados ganharam proporções inéditas.

6. Diante desse quadro, houve quem tenha vislumbrado a oportunidade para difundir a ideia de que todo o sistema político estaria podre. Com adeptos no Judiciário e no Ministério Público, essa causa disseminou ainda mais desconfiança em relação à política. Se, como afirmam, tudo está irremediavelmente podre, qualquer medida que venha da política estaria viciada pela raiz. Essa atitude é profundamente antidemocrática, pois o trabalho de reconstrução do País caberia apenas a alguns poucos iluminados, que não receberam nenhum voto para isso.

7. O eleitor precisa resgatar o seu protagonismo, ressaltando toda a importância do voto para o futuro do País. Isso não significa que a simples ocorrência de eleições seja garantia inexorável de um futuro promissor. Significa que o voto é o instrumento democrático e legítimo para a mudança dos hábitos administrativos e dos costumes políticos que têm levado o País ao fundo do poço. Somente a consciência dos nefastos efeitos de escolhas irresponsáveis nas eleições pode levar o eleitor a uma conduta mais madura diante das urnas. Não se constrói um País sem a ativa participação política e o trabalho de seu povo.

22 de maio de 2018

ELEIÇÕES: OPORTUNISMO E PRAGMATISMO CRESCEM MUNDO AFORA!

1. Nesta semana, na Itália, o MV5 -antissistema-, que obteve uma vitória  por maioria simples, e a Liga Norte, que no bloco majoritário da direita foi a mais votada, fecharam um acordo para formar maioria parlamentar e assumir o governo italiano.

2. Mas, para isso, deixaram de lado seus conflitos ideológicos e abriram mão de suas principais bandeiras que os levaram à vitória, como a rejeição ao Euro e a União Europeia.

3. Até se entende que durante o processo eleitoral os candidatos ou partidos flexibilizem seus programas, de forma a construir maioria que os leve a vitória e a governabilidade. O ponto que caracteriza oportunismo e pragmatismo é quando uma vez eleitos alterem seus compromissos de campanha de forma a construir uma maioria artificial para assumir o governo.

4. Em Portugal foi assim. A centro-direita do primeiro ministro Passos Coelho venceu com maioria simples. A centro esquerda do Partido Socialista ficou sem maioria parlamentar. Mas atraiu a esquerda radical, que fez sua campanha contra o Euro e contra a União Europeia. Mas, para constituir o governo, firmou um compromisso que negava as bandeiras da campanha. Dessa forma, o PS constituiu uma maioria parlamentar oportunista/pragmática e assumiu o governo.

5. Na Alemanha, os dois partidos de centro-direita, que historicamente formavam uma maioria parlamentar, não puderam refazer a aliança na eleição passada porque o FDP -liberal- não ultrapassou a cláusula de barreira. Mas, na última eleição, o FDP cresceu e formou bancada de deputados.

6. Surpreendentemente, não aceitou formar maioria parlamentar com o CDU, alegando que essa aliança o prejudicava eleitoralmente. Com isso, a primeira-ministra Merkel teria que convocar novas eleições ou repetir um governo híbrido como o anterior. E foi isso o que ocorreu. O PSOE, temendo uma nova eleição, preferiu decidir se mantinha a coligação híbrida anterior, embora na campanha tenha negado isso taxativamente. Convocou uma assembleia que decidiu manter a coligação. Só que agora com exigências muito maiores na composição do governo. Merkel achou melhor aceitar para não correr riscos de redução de sua bancada.

7. O governo espanhol do PP, de certa forma, foi salvo pelo radicalismo anti-euro do Podemos e pela crise na Catalunha. O Podemos não abriu mão de suas bandeiras anti-União Europeia e o PSOE não formou maioria que queria o PSOE. Coube, paradoxalmente, ao Podemos -digamos- por coerência, evitar que o PSOE constituísse uma maioria parlamentar oportunista e pragmaticamente. Na Catalunha a vitória dos independentistas reforçou a necessidade de se dar estabilidade ao governo do PP.

8. Mas as pesquisas já acusam que o bipartidarismo espanhol está acabando e é provável que o Ciudadanos -liberal- venha a ultrapassar o PP na próxima eleição. Sendo assim, teríamos um quadripartidarismo, tornando ainda mais complexa a formação de um governo nas próximas eleições, abrindo espaços para o pragmatismo e o oportunismo.

9. Aqui no Brasil, a pulverização parlamentar, onde nenhum partido alcança 15% das cadeiras, impulsiona o pragmatismo e o oportunismo na formação dos governos.

10. Curiosamente, uma consciência crescente do eleitorado em relação a questão econômica levou a candidatos ajustarem suas posições. De certa forma, foi um avanço, pois ocorreu durante a campanha e não após. Foi o caso de Lula em 2002 e agora de Bolsonaro.

11. Numa eleição imprevisível, onde blocos de opinião e corporações podem ser decisivos, já se notam os ajustes de posição de candidatos para aumentar as suas competitividades.

12. Bem, ocorrendo em campanha sem dar um golpe após a eleição como os exemplos citados, e informando ao eleitor suas novas posições, é um processo mais orgânico do que mudar de posição depois, para governar.

21 de maio de 2018

CENTRO – NOTA DO EX-BLOG EM 03 DE NOVEMBRO DE 2017: O QUE É O CENTRO NA POLÍTICA? CUIDADO COM O PÂNTANO!

1. Lenin, na sua Carta n. 5, nas Cartas de Longe, em 8 de abril de 1917, ainda no exílio na Suíça, criticava Kautsky, “principal teórico da Segunda Internacional e o mais proeminente representante do “CENTRO”, do “PÂNTANO”, tendência que agora é observada em todos os países, oscilando entre ‘direita e esquerda’…

2. A Democracia Cristã do Chile, no final dos anos 60, explicava que o seu CENTRO não era o meio caminho entre esquerda e direita, mas uma terceira instância que ficava num outro plano poligonal. E ao aproximar-se do modelo iugoslavo de autogestão, procurou demonstrar isso.

3. Na Europa do pós-guerra, os partidos deixaram de usar expressão CENTRO em seus nomes próprios. Talvez a Guerra Fria explique. Mais recentemente, o CDU, da Alemanha, e o PP, da Espanha, passaram a usar a expressão CENTRO como cenário de suas reuniões políticas, mostrando que se afastaram da direita. Na Espanha e na Alemanha há razões de sobra para isso na radicalização político-partidária.

4. Recentemente, o prefeito de São Paulo, numa entrevista, afirmava que para derrotar Lula e Bolsonaro era necessária uma FRENTE de CENTRO. Com isso, esse seu conceito se aproximava da crítica de Lenin a Kautsky, que tratou o CENTRO como sinônimo de PÂNTANO.

5. Nos debates constituintes 1987-1988, a força das teses dos constituintes em torno da esquerda assustou os constituintes em torno da direita e o presidente Sarney. Com isso, foi formado um bloco que, para ajudar a agregar votos, foi chamado de CENTRO. A imprensa adotou o apelido que a oposição passou a chamá-los: CENTRÃO. Até hoje CENTRÃO passou a ser um termo pejorativo que explicaria a agregação inorgânica de parlamentares.

6. O Democratas, que discute hoje um documento em direção a uma Convenção que incorpore deputados de outros partidos, busca caracterizar esta incorporação com outra denominação partidária. Naturalmente, foram levantadas adjetivações em torno da expressão CENTRO. Mas tiveram o cuidado de explicar que a expressão CENTRO se refere às relações de agregação do partido com os eleitores e a sociedade. Em grande medida, repete o conceito da Democracia Cristã chilena dos anos 60. Sendo assim, não se trataria de um meio caminho entre a direita e a esquerda, mas uma terceira instância poligonal.

7. O fato é que na percepção dos eleitores, o que de fato adjetiva uma denominação partidária é a sua prática. Aproveitando que estamos na semana dos 100 anos da revolução russa, repitamos uma conhecida frase de Lenin: A prática é o critério da verdade.

8. Desde as eleições de 2002, no Brasil, que todos os partidos -a começar pelo PT- afirmaram e demonstraram suas aproximações ao “CENTRO”. E o que se viu e o que se vê é todos -ou praticamente todos- mergulhados no PÂNTANO, o mesmo da critica de Lenin a Kautsky.

18 de maio de 2018

PARA ONDE ESTÁ INDO A POLÍTICA? 

(Fernando Rodrigues – Drive, 2) 1. “A maré vem das margens”. É o que opina a edição da newsletter de Gaudêncio Torquato, consultor político de Temer.

2. Diz o texto: “As perspectivas não são muito boas para o centro político (…) Com a dispersão dos candidatos centrais, as margens ganham força.

3. Bolsonaro vê seu nome ganhando cada vez mais visibilidade (…), mesmo com Lula na prisão e inviabilidade de sua candidatura, os candidatos do lado esquerdo do arco ideológico adquirem musculatura.

4. Ciro Gomes e Marina entram no rol de probabilidades”.

5. A última esperança. Nesse quadro, a torcida governista é pela boia salvadora do mercado: à medida em que se aprofundem os riscos externos e internos para a economia, o establishment reunirá forças pela manutenção da política econômica do governo atual.

6. O extremo pode se mover. É um erro grosseiro acreditar que o “quanto pior, melhor” force uma solução pró-governo. Durante as problemas econômicos do 2º governo de Fernando Henrique Cardoso, o eleitorado também se insinuou por uma saída no extremo do espectro político. FHC e seu candidato, José Serra, acreditaram que as urnas buscariam o conforto da política econômica que produziu o Plano Real.

7. Mas o adversário se moveu. Lula resolveu amenizar seu perfil extremista. Acenou ao mercado com a chamada “Carta ao brasileiros”, em 6 de junho de 2002.

8. Acabou elegendo-se e montando uma gestão bem mais ao centro do que o petismo esperava. Nada garante que Bolsonaro, Ciro e o PT não façam agora um movimento parecido.

17 de maio de 2018

ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A PESQUISA CNT-MDA! A ALEGRIA DOS ESPECULADORES, DOS ANALISTAS E DA MÍDIA!

1. Havia uma expectativa que a pesquisa de maio, comparada com a de março, traria alguns sinais que pudessem projetar o futuro eleitoral, mesmo que próximo. Afinal, março foi o mês limite de troca de legendas e confirmação de candidaturas. Mas, maio, comparado com março de 2018, mostra uma espécie de imobilidade da opinião pública.

2. Uma das razões é que o desgaste é geral. Desgaste dos políticos, desgaste dos governos nos três níveis (federal, estadual e municipal), desgaste dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário). Isso, num quadro de alto desemprego e expectativa econômica.

3. Nenhum movimento ocorreu em relação a percepção das funções do governo. A percepção negativa se mantém em todas elas. Talvez com uma exceção: Segurança Pública teve uma abertura negativa maior. Os fatos por todo o país e a cobertura dos mesmos pela mídia ajudam a explicar.

4. Nenhum candidato a presidente atingiu 20%. Todos estão estacionados nos seus patamares. E os de cima, levemente decrescentes. Isso deve entusiasmar os de baixo. E traz um sinal que ainda há espaço para o surgimento de um nome fora dos destacados nas pesquisas.

5. Nesse sentido, a surpresa foi os outsiders mais conhecidos terem saído fora do jogo prematuramente. Com os espaços partidários ocupados, quase não há alternativa para novos outsiders, com 3 meses do início da campanha.

6. Quando a mídia explica o refluxo dos outsiders por pressões familiares, esquece de lembrar que essas pressões vieram do enorme risco de desgaste antecipado por notas e fotos, com acusados, doleiros e patrimônio no exterior. Os outsiders não estão blindados.

7. A intenção de voto com uma pequena lista de 4 candidatos -método utilizado para se avaliar potencial de voto útil ou troca de candidatos, nada acrescentou.

8. Na hipótese de segundo turno com os dois nomes, em várias hipóteses, o aumento da soma deles foi insignificante. Com isso, os eleitores que não marcam nenhum deles -em geral- supera os 50%.

9. As pesquisas insistem em incluir o nome de Lula. Como ele é incluído na primeira lista apresentada, isso confunde o eleitor entrevistado. Melhor seria colocar a hipótese Lula como última pergunta, no final da pesquisa, para não contaminar as anteriores.

10. A pergunta sobre rejeição aos candidatos mostra que todos eles estão acima dos 50%. Ou seja, que o eleitor não votaria de jeito nenhum.

11. Num quadro desses, o ideal seria que as pesquisas perguntassem no início se o eleitor pretende votar, pretende não votar ou, se for à urna, marcará branco ou nulo. Essa pergunta deveria ser feita de forma isolada, sem estar apenas como hipótese aos candidatos numa mesma pergunta de intenções de voto.

12. Se há alguma dedução com esta e outras pesquisas é a enorme taxa de imprevisibilidade nestas eleições, para a “alegria” dos analistas (amadores ou profissionais), da mídia e dos especuladores no mercado financeiro e cambial.

16 de maio de 2018

PESQUISA CNT/ MDA MAIO 2018! 

1. A avaliação dos governadores é também fortemente negativa: 19,5% de ótimo+bom e 40,9% de ruim+péssimo. Da mesma forma em relação aos prefeitos, embora mais suave: ótimo+bom 26,4% e 37% ruim+péssimo.

2. Expectativa em relação às seguintes situações: + vai melhorar / – vai piorar / = vai ficar igual.

Emprego: + 22% / – 31,5% / = 45,4%
Renda: + 20,6% / – 16,5% / = 50,3%
Saúde: + 18,5% / – 35,6% / = 42,9%
Educação: + 21% / – 28,8% / = 48,6%
Segurança Pública: + 17,9% / – 41,9% / = 37,2%

O resultado (saldo) mais negativo ocorre na Segurança Pública, com menos – 24%. O menos negativo ocorre em relação à renda, mais + 4,1%.

3. Voto espontâneo: Bolsonaro 12,4%. Demais 1,7% ou menos. Nada mudou desde março.

4. Estimulada: Bolsonaro 18,3%. Perdeu 2 pontos desde março. Marina 11,2%  – idem. Ciro 9%, Alckmin 5,3%. Perdeu 3 pontos desde março. Álvaro Dias 3%. Haddad 2,3%, etc.

5. Pesquisa com 4 nomes: Bolsonaro 19,7%, Marina 15,1%, Ciro 11,1%, Haddad 3,8%. Nenhum 42,2%. Potencial de transferência por voto útil muito baixo. Isso não produzirá estímulos para antecipar a retirada de pré-candidaturas.

6. Segundo turno: Bolsonaro 28,2% x Ciro 24,2% / Bolsonaro 27,8% x Alckmin 20,2% / Bolsonaro 27,2% x Marina 27,2% / Ciro 20,9% x Marina 20,4% / Marina 26,% x Alckmin 18,9%.

7. Não Votaria nesse de jeito nenhum: Ciro Gomes 46,4% / Haddad 46,1% / Alckmin 55,9% / Bolsonaro 52,8% / Marina 56,5% / Rodrigo Maia 55,6%.

Em todos os casos o potencial negativo é maior que o potencial positivo (vou votar + posso votar).

8. Características mais importantes para um futuro presidente. 3 opções: Honestidade 65,6% / Ter novas propostas 47,7% / Trajetória de vida 26,8% / Ser NOVO no meio político 12,1%.

9. Avaliação da Justiça no Brasil: ótimo+bom 8,8% / ruim+péssimo 55,7% / Confiança no Poder Judiciário: Muito confiável 6,4% / Pouco confiável 52,8% / Nada confiável 36,5%. / Justiça trata todos de igual maneira 6,1%, Não 90,3%

10. Corrupção: diminuiu  30,7% / Está igual 44,3% / Aumentou 17,3%.

11. Instituição que você mais confia. Um opção apenas. Igreja 40,1%, Forças Armadas 16,2%, Justiça 8,6%, Imprensa 5%, Polícia 4%. Etc.

15 de maio de 2018

A PRÉ-CAMPANHA E O VOTO ÚTIL! 

1. O Paraná Pesquisa lista 13 candidatos a presidente. Podemos dividir em 3 grupos. No primeiro, com a saída de Joaquim Barbosa, Bolsonaro lidera com mais de 20 pontos.

2. Há que se aguardar a repercussão da divulgação do documento em que ex-presidentes do regime militar coonestam execuções de quem qualificam como notáveis subversivos. A sistemática defesa por Bolsonaro do regime militar deverá ter repercussões em suas intenções de voto, apimentando um tema que será usado contra ele.

3. Num segundo bloco estão Marina e Ciro Gomes entre 13% e 11%. No terceiro bloco estão todos os demais, entre 4% e 1%. A pré-campanha, até fins de junho, indicará quais candidatos mudarão de patamar de votos, para cima ou para abaixo. E, assim, quem fica e quem sai.

4. Por enquanto, os eleitores marcam suas intenções de voto em função da memória. Isso está longe do que se poderia chamar de pré-decisão de voto.

5. Com a pré-campanha avançando, o corpo a corpo e as reuniões dos candidatos, as coberturas das mídias e das redes sociais, as pesquisas, passam a mensurar a pré-decisão de voto mais que intenções soltas de votos.

6. Nesse período, os candidatos, ao se diferenciarem ou afirmarem que representam melhor o eleitor que outro candidato convergente, começarão a construir o que os analistas chamam de voto-útil.

7. Ou seja, num quadro aberto e personalista como no Brasil, agrupam candidatos de uma mesma família em que os eleitores poderiam votar. É nesse momento que se inicia o processo do voto-útil.

8. Ou seja: mesmo o eleitor preferindo esse ou aquele e achando que outro candidato de sua família tem mais chance, passa a optar por esse. A busca do voto útil é um processo delicado, para não gerar hostilidade entre candidatos de uma mesma família, prejudicando a ambos.

9. Marina e Ciro, que estão no segundo grupo, são tão diferentes em ideias e perfis que tendem a esquecerem-se entre si e olharem para cima e para baixo. Para cima contando com uma derrapagem de Bolsonaro, como pode ter sido agora com a infeliz analogia dos excessos da repressão de primeiro escalão com “tapinhas no bumbum dos bebês.”

10. Essas derrapagens tendem a ocorrer em função da certeza de voto, ou seja, que o patamar atual tenderá a se manter, pois é firme, no caso de Bolsonaro.

11. Alckmin, Álvaro Dias e candidato de Temer farão uma pré-campanha de expectativas. O DEM, SD, PRB, PTB…, estarão analisando se um nome só de todos ultrapassará o patamar de Alckmin e Álvaro Dias. Enquanto isso, mesclarão pré-campanha com voto útil, tentando ver se alguém se destaca.

12. Finalmente, o PT, sem candidato, manterá o nome de Lula até o limite, quando informará finalmente quem será seu candidato contando com o efeito-poste, ou seja, qualquer um que Lula apoie pelas redes sociais cresceria por efeito-imitação. Hipótese pelo menos arriscada.

13. Dessa forma, entramos no bimestre maio-junho, que transformará a intenção de voto em pré-decisão e daí construirão os seus votos úteis.

14 de maio de 2018

ESTADÃO (13) ENTREVISTA PRESIDENTE DA CÂMARA DE DEPUTADOS RODRIGO MAIA!

ESP: O MDB já admitiu que pode não ter candidato à Presidência. O senhor acha que a demora do presidente Michel Temer em anunciar sua decisão prejudica?
RM: Acho que não porque os objetivos são distintos. É legítimo que o MDB tenha uma candidatura própria, que olha para o passado, seja com o presidente Michel ou com o ex-ministro Meirelles. Alguns outros partidos, como o DEM, estão querendo construir um projeto que olhe para o futuro.

ESP: O sr. não teme que essa fragmentação das candidaturas de centro leve à derrota nas urnas?
RM: A esquerda está dividida também. E por quê? Porque é o fim de um ciclo. A sociedade ainda não enxergou ninguém para comandar um novo ciclo. Mas uma aliança não necessariamente gera sinergia. Em política, nem sempre um mais um é igual a dois. Às vezes, o eleitor de um não aceita o do outro e acaba que, além de não ganhar um lado, você perde o seu.

ESP: Na quarta-feira, o sr. teve uma conversa com Geraldo Alckmin. Há possibilidade de acordo, de resgatar a aliança histórica entre o DEM e o PSDB?
RM: Neste momento, não. Eu sempre conversei com o governador Geraldo Alckmin. É um político com o qual tenho ótima relação. Temos projetos distintos, mas isso não vai nos levar a um conflito. Vamos continuar dialogando e aquele que chegar no segundo turno apoia o outro. Essa aliança (PSDB e DEM) vem sendo muito desgastada nos últimos anos. Em 2010, a composição foi difícil e em 2014 deixaram o DEM fora da chapa majoritária. Tudo isso mostra que o ciclo está terminando. A maioria do partido entende que o PSDB sempre priorizou seus projetos, e não o coletivo. Não é o meu caso, que cheguei à presidência da Câmara com o apoio do PSDB.

ESP: Fala-se do ex-ministro Meirelles (MDB) para vice de Alckmin. O DEM não ficaria isolado?
RM: Isolado? Isso é invenção. É legítimo que Michel possa construir com Fernando Henrique uma aliança. Eles têm uma relação histórica e são da mesma geração. Agora, não é dessa aliança que queremos participar. O ciclo de 30 anos pode acabar nessa eleição. Há um esgotamento. Está na cara que a sociedade não aceita mais as práticas, os métodos e a forma de se fazer política atual. Ou a gente vai construir essa solução ou ela será dada por um extremismo que não é bom.

ESP: A Lava Jato atingiu quase todos os partidos, inclusive o DEM. Denúncias de corrupção vão dominar a campanha?
RM: A gente precisa discutir não apenas a punição, mas também as condições para ter um Estado no qual os sistemas de controle sejam mais rígidos e não permitam mais o que vimos nas estatais.

ESP: Se vier uma terceira denúncia contra o presidente Temer, como o sr. vai se posicionar?
RM: Não vou tratar de terceira denúncia porque eu não tenho informação, não quero ter e acho que atrapalha. Gera mais instabilidade. É uma decisão da Procuradoria-Geral da República. Se vier, vamos pautar porque é nosso papel constitucional.

ESP: O sr. tem conversado com PP, PR, PRB, Podemos, para articular um bloco alternativo. Mas parte dessas siglas começou a flertar com Ciro Gomes (PDT). O DEM pode apoiá-lo?
RM: Não acredito em apoio a Ciro. Vamos levar minha candidatura até o final.

ESP: A saída de Joaquim Barbosa da disputa favorece quem? O PSB está dividido entre Ciro, Alckmin, PT e neutralidade…
RM: Ninguém está conseguindo liderar campo nenhum nessa eleição. É por isso que não unifica.

ESP: O sr. diz que ninguém está se destacando, mas Jair Bolsonaro (PSL) continua forte…
RM: Bolsonaro é mais à direita. Nos valores, ele é extrema-direita; na economia, é centro-esquerda porque é nacionalista, vota uma agenda de intervenção na economia.

ESP: Mas é que o sr. ainda está com 1% das intenções de voto. O sr. não pode desistir em nome de…
RM: Em nome de quê? De uma derrota?

ESP: Em nome de um candidato que pareça mais…
RM: Mas qual é o candidato? Se você me disser quem parece mais, eu respondo. O problema é que não tem. Há quem tenha alguma intenção de voto por ter sido governador, mas limitado a uma rejeição maior por ser mais conhecido. Com a crise, ninguém está olhando eleição.

ESP: E quem será o vice na sua chapa? Todo mundo já fala em vice…
RM: Por que vou tratar disso agora? Vocês são muito ansiosos. Quem está falando de vice agora não está falando a verdade.

ESP: Problemas na economia atrapalham a campanha dos aliados?
RM: Não sei. O problema é que você tem uma narrativa de um “ponto 10”, onde está o presidente Lula. A presidente Dilma entregou o governo com “ponto menos 8”, de recessão profunda. A economia, hoje, está no “ponto 2”. Só que, com o desgaste do presidente Temer, essa época (de Dilma) saiu da memória do eleitor. Com toda a dificuldade, o PT ainda tem um ativo muito forte, que é o Lula. Sem ele, pode voltar a ser o partido com maior restrição.

ESP: Carregar o presidente Temer na campanha é um fardo?
RM: A questão não é carregá-lo. Ele disse que ia fazer uma transição. Temos de construir uma candidatura que possa trabalhar pela conciliação do Brasil. Desse projeto todos podem participar, inclusive a esquerda. O próximo presidente, independentemente do campo que represente, precisará ter a capacidade de, no dia seguinte à vitória, sentar e pactuar uma agenda mínima, de recuperação da economia e das condições para reduzir as desigualdades.

ESP: Qual seria essa agenda?
RM: A reforma da Previdência é fundamental e também a reforma do Estado, que ficou muito caro. Além disso, são necessárias leis que garantam segurança jurídica para que o Brasil volte a ter investimento privado.

ESP: É melhor suspender a intervenção na segurança do Rio para que se consiga votar propostas de emenda à Constituição?
RM: Sou contra suspender a intervenção. Ela é necessária, mas foi feita sem planejamento. O mais importante é criar um modelo de integração entre as forças de segurança para enfrentar o crime organizado.

11 de maio de 2018

RISCO DE CONTÁGIO EM ANO ELEITORAL!

(Matias Spector, FGV-Doutor em Oxford – Folha de S.Paulo, 10) 1.Corretoras e fundos de investimento brasileiros correram no início desta semana para assegurar a seus clientes que o risco de contágio internacional devido à crise na Argentina é mínimo. Diferentemente de lá, o Brasil estaria preparado para resistir a choques externos.

2. Tal avaliação está equivocada porque ignora a dinâmica do contágio durante ciclos eleitorais em economias emergentes. O caso brasileiro tem todos os componentes necessários para um aumento sustentado do risco político até o fim de outubro.

3. A lógica é a seguinte. Grandes investidores internacionais tratam o Brasil como parte de um grande bloco de economias emergentes. Quando há aumento expressivo da taxa de juros americana, queda brusca no valor de commodities ou medo generalizado de instabilidade, o comportamento é de manada. Nos próximos meses, a lira turca e o peso mexicano podem afetar o real, assim como as estripulias de Trump no Irã.

4. Além disso, investidores estrangeiros reconhecem ter conhecimento limitado sobre o Brasil. Por isso, na hora de tomar decisões, observam de perto o comportamento dos investidores nacionais. Estes, por sua vez, enfrentam um ambiente político de alta incerteza. A imprevisibilidade na Faria Lima acende o alerta em Wall Street, Frankfurt e Londres.

5. Para lidar com o problema, os candidatos à Presidência mandam sinais ao mercado financeiro o tempo inteiro. Eles sabem que suas palavras afetam o clima econômico e, por tabela, as expectativas do eleitorado.

6. Assim, a campanha de Alckmin deu largada ao processo de sinalização com Persio Arida. Bolsonaro fez o mesmo, indicando Paulo Guedes. Devido ao histórico do candidato em questões econômicas, seu desafio na sinalização é bem maior: além de claro, ele tem de ser crível.

7. Ciro também começou a sinalizar, mas no sentido oposto. Sua estratégia de campanha é questionar as reformas de Temer e prometer outra saída. Em nome dele, já sinalizam Nelson Marconi e Mangabeira Unger. Diante da pergunta se Ciro seria domesticável para o mercado, a resposta deste último é certeira: “Jamais, a meu ver, será”. Marina ainda não emite sinais ao mercado, mas logo o fará.

8. Ocorre que, numa eleição como a brasileira, o vaivém das alianças dura todo o período eleitoral. Mercado e eleitorado não têm convicção plena de que os candidatos conseguirão impor suas preferências às coalizões em disputa até a formação do ministério, uma vez encerrada a contagem das urnas.

9. Na prática, essas características de nosso sistema criam oportunidades numerosas para dinâmicas de contágio que nenhuma autoridade nacional consegue controlar.  É melhor rejeitar as avaliações complacentes de quem vive de vender estabilidade.

10 de maio de 2018

REINO UNIDO – ELEIÇÕES LOCAIS 2018 – 04/05/2018!

1. Foram eleitos 150 conselhos locais parlamentaristas e 6 áreas com autoridade eleita diretamente.

2. Londres é dividida em diversas localidades. O Prefeito de Londres é uma espécie de Governador de toda a Região Metropolitana, eleito de 4 em 4 anos. Última eleição foi em 2016.

3. Resultados: Voto popular:

Trabalhista 35% (+8%)
Conservador 35% (-3%)
Liberal Democrata 16%(-2%)

4.  Distritos com Maioria

Trabalhista 74 (+0)
Conservador 46 (-2)
Liberal Democrata 9 (+4)

5. As análises afirmam que os resultados foram um alívio para os Conservadores, que não perderam espaço quanto analistas e pesquisas esperavam. Os Trabalhistas geraram expectativas mais altas, que não foram atingidas.

6. As localidades não realizam eleições todas ao mesmo tempo. Foram 156 localidades de um total de 353. Foram 44% delas.

09 de maio de 2018

E SE JOAQUIM BARBOSA FOSSE CANDIDATO A PRESIDENTE?

(Angela Alonso, Professora de sociologia da USP e preside o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – Ilustríssima – Folha de S.Paulo, 06) 1. Reprovado pelo politicamente correto, Monteiro Lobato passou com louvor em futurologia. A eleição de Obama ressuscitou seu romance de 1926, com o qual o criador e algoz de Nastácia visara arrebatar os Estados Unidos. “O Choque das Raças ou o Presidente Negro” imagina tecnologia prima da internet, práticas eugênicas, partido feminista e a organização política dos negros. Narra a triangulação dos americanos nas eleições de 2228, quando a divisão dos brancos, entre o Partido Feminino e o Masculino, redunda na vitória do líder da Associação Negra.

2. O enredo volta à cabeça quando um negro se apresenta com viabilidade à cadeira presidencial no aniversário de 130 anos da abolição da escravidão no Brasil. Vingando ou não, a candidatura de Joaquim Barbosa já agitou a fábrica política. À direita, celebra-se o “candidato-novidade”, moda de Miami a Paris. O mercado vem testando produtos nessa linha, de apresentador de TV a militar, passando por empresário. O lançamento do juiz nasce da boa aceitação da tendência da temporada, os magistrados na política. Barbosa chegou aos píncaros num campo, pode emplacar no outro.

3. Para vendedores desse sonho, a cor do presidente, que assombrava Lobato, não vem (ao menos ainda) ao caso. Importa sua embalagem. Chegaria às urnas envolto na toga de super-herói anticorrupção; campeão da moralidade pública capaz de salvar a política dos políticos.  Já aos que marcham do outro lado da cerca, o juiz perturba. Sem declarar em que time joga, acendeu luz vermelha para corredores individuais, daí os ensaios de uma equipe Ciro-Haddad. Barbosa assusta ao avançar sobre a simbologia da esquerda.

4. Numa frente, disputa a representação dos estratos inferiores por um seu igual. Lula se valeu da identidade de retirante, capaz de entender e exprimir anseios dos pobres. Com sua origem social baixa e ascensão pela educação —o diploma superior que o ex-presidente jamais adquiriu—, Barbosa tem capital para fazer dessa picada uma avenida. O outro emblema poderoso é sua negritude. O juiz pode avançar onde Marina Silva titubeou e se lançar a representante da maioria étnica.

5. Está quieto no quesito, mas seu estilo lobo solitário ameaça a exclusividade de movimento negro e aliados brandirem a ação afirmativa. É o que se presume de sua reação à ativista da Negritude Socialista que tentava selfie conjunta. Negou a carona. Sua exasperação marca uma distância em relação aos que já empreendem política em torno da pauta racial. Mas também ilustra como se pode ser exímio juiz e péssimo político.

6. Lula domina a arte de lidar com pessoas, da rodinha à multidão. Ausculta a pulsação coletiva antes de agir. Barbosa é técnico de gabinete, conhece mais dosimetria que empatia. Pode cair no precipício em cujas beiradas trafega Ciro Gomes e morrer pela boca. Pesando isso, o juiz, como o animador de TV, pode avaliar que é tarde para novo ofício. Mas a mera cogitação de candidato negro à Presidência impacta o imaginário nacional. Em papéis discrepantes de Nastácia e tio Barnabé, artistas vêm oferecendo modelos alternativos de comportamento para crianças negras. Mas a cultura brasileira sempre foi permeável, a hora do vamos ver é a do mando. E um presidente negro era até agora possibilidade fora do horizonte.

7. É que a desigualdade racial transcende o imaginário. Um marco de sua história aniversaria este maio. Lei curta e seca aboliu a escravidão. Depois a elite imperial distribuiu títulos de nobreza a ex-senhores, sem garantir direitos ou emprego a ex-escravos. Desde então, essa desigualdade se reproduz e estrutura as relações cotidianas e as estatísticas sociodemográficas. Os negros são maioria em empregos de menor qualificação e salário, em prisões e favelas. E raríssimos em cargos de poder e dinheiro. Um presidente negro, apesar de capa e martelo, não esmagará essa Medusa, de muitas cabeças e o dobro de olhos envenenados. Mas pode bagunçar a República do Sítio do Pica Pau Amarelo se puser a questão na mesa, com a legitimidade que pele e biografia lhe conferem.

8. Combinando bandeira da direita —anticorrupção, que o PT já não pode empunhar— e símbolos da esquerda —defensor de pobres e oprimidos—, Barbosa chega forte ao páreo. Resta saber se país racista suportaria presidente negro. No livro de Lobato, um negro chega à Casa Branca, mas jamais toma posse, ao passo que o Brasil de 2228 se dividiu em dois países: uma “república tropical”, com suas “convulsões”, e a “grande República do Paraná”.

08 de maio de 2018

ELEIÇÕES NO LÍBANO: HEZBOLLAH E XIITAS AVANÇAM MUITO! 

(Ex-Emb. RF) 1. O Hezbollah e seus aliados políticos conquistaram pouco mais da metade dos assentos nas eleições parlamentares do Líbano, segundo resultados extraoficiais, fortalecendo um movimento de base xiita apoiado pelo Irã que se opõe intensamente a Israel e destacando a influência regional crescente de Teerã. Se confirmados, os resultados preliminares citados por políticos e pela mídia também podem aumentar os riscos enfrentados pelo Líbano, que depende de ajuda militar dos Estados Unidos e espera obter bilhões de dólares de auxílio internacional e empréstimos para reanimar sua economia estagnada.

2. Classificado pelos EUA como um grupo terrorista, o Hezbollah, que tem braços político e militar, ganhou força desde que entrou na guerra da Síria em apoio ao presidente sírio, Bashar al-Assad, em 2012. Sua posição forte no Líbano reflete a ascendência do Irã, também de maioria xiita, em territórios que se estendem do Iraque e da Síria a Beirute. O Hezbollah foi criado no início dos anos 1980, com apoio iraniano, e teve papel vital para o fim da ocupação israelense do Sul do Líbano, que durou de 1982 a 2000.

3. ‘A presença parlamentar nossa e de nossos aliados garante a proteção da resistência’  — afirmou em discurso na TV o líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, referindo-se àquele período.

4. Contagem extraoficial da primeira votação parlamentar em nove anos indicou grandes perdas para o primeiro-ministro Saad al-Hariri, que tem apoio do Ocidente. Ele anunciou que seu partido, o Movimento Futuro, perdeu um terço de suas vagas no Parlamento: 21 assentos, ante 33 na legislatura anterior. Ainda assim, ele deve emergir como o líder muçulmano sunita com o maior bloco no Parlamento de 128 cadeiras, o que o tornará o favorito para formar o próximo governo. O premier libanês precisa ser um sunita em respeito ao sistema de partilha de poder sectário do país. O novo governo, como o que se encerra, deve incluir todos os grandes partidos, e já se acredita que as conversas para decidir os ocupantes do gabinete exigirão tempo.

5. O Líbano tem recebido muita ajuda estrangeira para lidar com a acolhida de um milhão de refugiados que fugiram do conflito na vizinha Síria, o equivalente a um quarto de sua população.

6. A eleição foi realizada de acordo com uma nova lei complexa, que reformulou a distribuição do eleitorado e alterou o sistema eleitoral adotando um critério de proporcionalidade, ao invés do esquema “o vencedor leva tudo”. O ministro do Interior disse que os resultados oficiais serão declarados nesta terça-feira.

7. As Forças Libanesas, um partido cristão ferrenhamente anti-Hezbollah, parecem ter emergido também vencedoras, já que passarão de 8 para 15 parlamentares, segundo indicações iniciais.

8. O Hezbollah, assim como grupos e indivíduos aliados, obteve ao menos 67 assentos, de acordo com um cálculo da Reuters baseado em resultados preliminares de quase todas as vagas obtidos de políticos e campanhas e noticiados pela mídia libanesa. Os aliados do Hezbollah incluem os xiitas do Movimento Amal, liderado pelo porta-voz do Parlamento, Nabih Berri e os cristão da Frente Patriótica Nacional (FPN) criada pelo presidente Michel Aoun, parceiro do Hezbollah desde 2006 que diz que as armas do grupo são necessárias para defender o Líbano.

9. Os muçulmanos sunitas, com apoio do Hezbollah, tiveram bons resultados em Beirute, Trípoli e Sidon, bastiões do Movimento Futuro, de Hariri, indicaram os resultados. O jornal pró-Hezbolah “al-Akhbar” publicou em sua capa que a eleição foi um “tapa” em Hariri.

10. O Líbano deveria ter realizado uma eleição parlamentar em 2013, mas seus legisladores votaram para estender o próprio mandato diante de um impasse para concordar com uma nova lei de eleição parlamentar.

11. Uma aliança anti-Hezbollah conduzida por Hariri e apoiada pela Arábia Saudita, chamada de “Março 14”, ganhou a maioria parlamentar em 2009. O grupo se desintegrou e a Arábia Saudita desviou atenção e recursos para confrontar o Irã em outras partes da região, sobretudo no Irã.

12. Samir Geagea, líder das Forças Libanesas, disseram que os resultados mostram que há “apoio popular” que sustenta a Março 14 e que dá “força e impulso para consertar o caminho bem mais do que éramos capazes no passado”. Ele é um dos principais opositores cristãos no Líbano, e conduziu seu grupo político nos anos da guerra civil como adversário de Aoun.

07 de maio de 2018

A CRISE ARGENTINA: HÁ RISCOS DE CONTAMINAÇÃO NO BRASIL? ECONÔMICA, NÃO! POLÍTICA, PODE SER!

1.  Ontem os contatos que este Ex-Blog fez com importantes economistas e com autoridades econômicas do governo brasileiro, produziram um significativo alívio. Menos pelo consenso que os riscos de contaminação da crise do dólar e da crise financeira argentina não tendem a atingir o Brasil, e muito mais pelas razões.

2. Todos eles/as afirmaram que há alguns pontos que garantem essa blindagem do Brasil e o diferenciam dos problemas argentinos. Em primeiro lugar, as reservas internacionais do Brasil superam os 380 bilhões de dólares. As contas externas brasileiras são apenas levemente deficitárias em 1% do PIB, contra 5% da Argentina. O forte saldo da balança comercial brasileira se tornou sustentável.

3. O déficit fiscal primário da Argentina e do Brasil são porcentualmente semelhantes, mas a adoção pelo Brasil, por lei, de um teto, produziu uma segurança muito maior. Semana passada, a Argentina definiu um déficit primário menor que 3% do PIB. Mas, por enquanto, é uma meta, ou um desejo.

4. A inflação argentina, na casa dos 20% ao ano, com metas ou desejos decrescentes, ainda não produziram confiança. A inflação brasileira se tornou sustentável na faixa dos 3. “No ano, o peso argentino foi a moeda que mais se desvalorizou em relação ao dólar, considerando uma cesta de 31 principais divisas do mundo. A queda é de 15,2%”.

5. O real aparece em quinto, com depreciação de 6,2%. A desvalorização do real ocorreu de forma progressiva, sem choque, como ocorre com o peso argentino. Em função disso, o banco central argentino elevou a taxa básica de juros para 40,  a maior do mundo.

6. Mas o fator político continua no Brasil. Outra vez, o fator político é o que preocupa. Na Argentina, a avaliação do governo do presidente Macri vem caindo desde fins de 2017, de certa maneira antecipando a crise econômico-financeira. No Brasil, há uma paradoxal relação entre a confiança na economia e a desconfiança na política. Alguns dados do último mês devem gerar atenção, com pequenas reversões de alguns indicadores econômicos, como o crescimento da indústria.

7. Provavelmente, a crise argentina chegará às eleições presidenciais brasileiras. A esquerda -por oportunismo- levantará dúvidas sobre a dinâmica econômica brasileira, comparando com a política econômica de Macri e seus paralelismos com a política econômica brasileira e a semelhanca entre os dois discursos liberais.

8. Se a crise argentina não contaminou e não deve contaminar a economia brasileira, o mesmo não se pode garantir em relação à política, especialmente num ano eleitoral. Sendo assim, há que se estender a blindagem para a esfera política, rejeitando liminarmente a relação de uma com outra e evitando que o velho discurso do medo venha a afetar as decisões dos eleitores.

04 de maio de 2018

LA DERROTA DEL SOCIALISMO DEL SIGLO XXI – QUE APRENDIMOS DE ESTA EXPERIÊNCIA!

Palestra de Alfredo Keller Consultor. Reunião da UPLA Union de Partidos Latino-Americanos em 23-24 abril de 2018.

1.  Por qué ha fracasado?

Colapso económico venezolano deja de financiar.

Lava Jato / Petrobrás / Odebrecht dejan de financiar. Desaparecen Fidel y Chávez (pierden estrategia y liderazgo).

Se evidencia el fracaso de las ofertas populistas.

Reestructuración política de la oposición democrática.

Liderazgos comprometidos con la recuperación democrática.

Aislamiento internacional reciente pero creciente.

Descalabro moral de Cristina K, de Maduro, de Correa y de Lula.

2. Causas estructurales

Pobreza y profunda desigualdad social.

Cultura populista y demagógica del asistencialismo. Resentimientos. Alergia pública al emprendimiento privado.

Débiles sistemas educativos.

Estructuras políticas elitistas orientadas sólo a elecciones.

Debate político orientado a las emociones y al espectáculo.

Obstáculos a la renovación generacional de los liderazgos. Corrupción, impunidad y débil disciplina institucional.

3.  Causas coyunturales

Surgimiento de liderazgos populistas carismáticos.

Un relato formidable sobre las causas de la pobreza. Otro relato formidable sobre el logro del bienestar.

La neo lengua y el uso de los simbolismos y la postverdad.

Uso extensivo del miedo como estrategia para la sumisión. Mucho dinero y muchos negocios.

Ausencia de un frente democrático internacional.
Fuerte desalineación entre la agenda popular y el Sistema

4.  Vision internacional sobre el Socialismo del Siglo XXI

“Lo tienen por bien merecido” (corrupción y desigualdad social)

El interés particular no se alinea con los problemas del conjunto

La nueva izquierda es menos hostil de lo esperado (Lula, Ortega, et al)

La ilusión de integración de A.L. es inviable: no representa riesgo

La nueva izquierda fracasará y el ciclo modernizador regresará

En A.L. hay escasos liderazgos e institucionalidad fuerte alternativa

No desesperar. Esperar. Mantener mensaje tradicional. Reconstruir institucionalidad democrática desde cero

5.  La pregunta que queda es si el Socialismo del Siglo XXI ha sido definitivamente derrotado o si las causas estructurales que lo llevaron al poder en más de medio Continente siguen vigentes y a la espera de nuevas coyunturas. Si sólo se trata de una retirada transitoria, la otra pregunta es sobre qué debemos hacer para evitar su resurgimiento.

6. Qué cosas podemos/debemos hacer

Hacer rentable la democracia a los sectores socialmente más vulnerables. Repensar y reforzar los sistemas educativos (formal e informal).

Mantener viva la imagen desastrosa de la experiencia del Socialismo del S. XXI

Reinstitucionalizar a nuestros partidos políticos.

Combatir de frente la corrupción y la impunidad.

Articular un amplio frente internacional efectivo y eficiente en defensa y promoción de la democracia.

Construir y uniformar un nuevo relato basado en la libertad.

03 de maio de 2018

CANDIDATOS DE CENTRO! ADVERSÁRIOS DE PROXIMIDADE! E O TIGRE! 

1. Todos os dias o noticiário político da pré-campanha eleitoral de 2018 destaca que candidatos ditos de Centro atuam de forma a que uns ou outros possam se somar às candidaturas de uns e outros.

2. Mas na medida em que nenhum deles se destaca nas pesquisas e desponta como favorito entre eles, não há nenhuma razão para que os demais se somem em torno desse ou daquele. Afinal, por que ele e não eu?

3. Nenhum dos candidatos que são considerados ou se consideram de Centro têm 8% ou menos. A diferença para os que estão no piso nas pesquisas é de uns 6%. Ou numa soma algébrica: se o de cima cair 3 pontos e o de baixo subir 3 pontos, eles estarão empatados.

4. Se sabe que quanto menor a % de intenções de voto, maior a margem de erro das pesquisas. Quem tem 2 pode ter 5. Bem, assim como quem tem 8 pode ter 5. Destacado para valer ainda se tem Bolsonaro com uns 20%. Claro que ele não pensa em abrir mão para ninguém.

5. E como a percepção de muitos é que se trata de um candidato de extrema direita, os ditos candidatos de Centro não pensam -de nenhuma forma- em se somar a ele.

6. O que cabe a todos -pelo menos até correr o mês de junho- é intensificar a pré-campanha, incluindo, aqui, abrir espaços na mídia, intensificar o uso das redes sociais e -claro- colocar o “pé na estrada” e buscar no contato direto com o eleitor um multiplicador crescente de opinião.

7. Nesse último sentido, uma leitura de Gabriel Tarde, “As Leis da Imitação”, ajudariam muito. Pena que, escrito em francês, não está traduzido para o português.

8. De nada adianta um candidato -dito de Centro- querer convencer os demais -os analistas- ou os chamados formadores de opinião, que ele é mais competitivo. Ou querer demonstrar isso nos cruzamentos nas pesquisas de opinião.

9. Isso é conversa para junho, quando pesquisas sucessivas e semanais de opinião eleitoral mostrarem que afirma-se uma tendência ascendente e sustentável, elevando essa ou aquela candidatura.

10. Até lá há que ter paciência. E lembrar sempre a conhecida história do tigre. Dois amigos conversavam quando viram apontar à distância um tigre que corria na direção deles. Um deles disse: Vamos correr. E o outro replicou: Para quê? O tigre corre muito mais que nós. E o primeiro arrematou: Não quero correr mais que o tigre, mas mais que você, e deixá-lo com o tigre.

11. É o que dizem os candidatos numa pré-campanha: Não quero passar o favorito, mas passar os da turma de trás e ir para o segundo turno. É o que todos os -ditos- candidatos de Centro pensam hoje.

12. Pelo menos será assim até abrir o mês de junho, tanto eles quanto seus potenciais partidos parceiros.