31 de outubro de 2018

O GLOBO (30) ENTREVISTA O PRESIDENTE DA CÂMARA, DEPUTADO RODRIGO MAIA!

O Globo: O senhor estará na base do governo Bolsonaro a partir do ano que vem?

Rodrigo Maia: Votei no Bolsonaro pela agenda econômica dele. Tenho muita convergência com os caminhos que estão sendo propostos pelo Paulo Guedes. Se essa for a agenda do governo no Parlamento, terá sempre o meu apoio.

OG: O que dá para votar este ano?

RM: Depende de como vai ser a articulação do novo governo no Parlamento. A cabeça nesse corpo precisa ser do novo, não do que está saindo.

OG: A flexibilização do Estatuto do Desarmamento é uma agenda do próximo governo…

RM: Há consenso para ampliar as restrições (ao porte de armas) e tirar da Polícia Federal o poder discricionário de liberar ou não a licença, depois de atingidos os pré-requisitos. O que tem de polêmico nesse debate é o porte rural. Hoje, no campo, o fazendeiro pode ter a posse de arma na sua propriedade. Mas ele não pode andar em nenhum ambiente no entorno porque não tem o porte. Isso restringe muito a proteção pessoal do produtor rural em relação até à entrada de animais. Só tem que ter cuidado para não virar uma milícia armada. Mas não é uma agenda para a semana que vem, não tem data marcada.

OG: O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) disse que a proposta de reforma da Previdência do futuro governo é distinta da do governo Temer. Há clima para votar o tema ainda este ano?

RM: Eu não conheço a proposta do Onyx. Temos duas questões a serem resolvidas: o estoque, que são as pessoas que já estão no sistema, e os novos. Um governo eleito como esse tem sempre força para aprovar suas matérias.

OG: A partir de janeiro ou agora?

RM: Eu não sei como o governo vai atuar. A partir do ano que vem, com certeza terá força para aprovar as reformas que propôs na eleição.

OG: Onyx irá para a Casa Civil, mas é da cota pessoal do Bolsonaro. O DEM vai participar do governo?

RM: Quem tem que avaliar isso é o presidente eleito com o presidente do partido (ACM Neto). Repito: a minha opinião é que a agenda que o Bolsonaro propôs através do Paulo Guedes é 100% convergente com aquilo que a gente pensa. Isso temos que apoiar de qualquer jeito.

OG: Afinal, o senhor vai disputar a Presidência da Câmara de novo?

RM: Não decidi ainda. Ninguém é candidato a presidente da Câmara apenas pela sua vontade. É preciso construir as condições. Agora, se perguntar se gosto de ser presidente da Câmara, se é uma posição que te dá prestígio e poder? Sim.

OG: Bolsonaro já disse que não fará indicações políticas para o seu ministério. Acha que ele conseguirá governabilidade dessa forma?

RM: Existe um mito sobre a necessidade de se dar cargos. A preocupação do deputado, legítima, é muito maior com para suas bases quer que, naquele município onde ele foi o mais votado, o governo coloque dinheiro em saúde e educação.

OG: Na eleição que rejeitou a velha política não passou um recado de que práticas antigas terão que ser revistas?

RM: É claro que tem um recado, uma parte da política já se reinventou. O Jair Bolsonaro, por exemplo, se reinventou. Tem sete mandatos e se elegeu como a mudança na política. Parabéns para ele, enxergou na frente dos outros.

OG: O senhor apoiou Geraldo Alckmin (PSDB), que teve um péssimo desempenho nas urnas. No que que ele errou?

RM: O resultado da eleição mostrou que havia um esgotamento do ciclo de 30 anos da redemocratização. A punição maior, indicavam as pesquisas, era ao PT e ao PSDB. O PT sobrevivia principalmente no Nordeste pela liderança do Lula. O resultado da eleição provou que os partidos que estavam no entorno do PSDB também estavam contaminados pela velha política. O problema do Geraldo (Alckmin) foi muito mais de fim de ciclo do que dele.

OG: O Ciro (Gomes) era um nome melhor para o Centrão apoiar?

RM: Para ganhara eleição, está na cara que era. Mas o partido majoritariamente não queria o Ciro. Eu entendia que ele isolava o PT e a gente passava ater condição deter uma candidatura mais ao centro. Dois seriam fortíssimos e que desistiram eram Luciano Huck e Joaquim Barbosa. Como eles não se colocaram, o Jair conseguiu representar esse sentimento de mudança, que ele já vinha trazendo desde a eleição de 2014.

OG: O que o DEM vai fazer agora?

RM: A relação da política com a sociedade mudou. Todo mundo achava que se você não desse um abraço no eleitor, ele não votava em você. Que a estrutura de TV te fazia conhecido. Não estou dizendo que a TV perdeu a força. Acho, por exemplo, que o episódio de 6 de setembro (facada) deu ao Bolsonaro um nível de exposição na mídia que compensou o pouco tempo de TV. Agora, o WhatsApp ganhou uma importância que não vi ninguém, fora o grupo do Bolsonaro, atento.

OG: Reconhece então que foi pego de surpresa nessas eleições?

RM: Eu sei o que aconteceu, agora, os instrumentos, como ele (Bolsonaro) fez, ele não construiu da noite para o dia. Todos terão que construir. Eles descobriram quais aplicativos e de que forma seriam melhor usados. O aperto de mão é importante, mas hoje o eleitor se sente próximo a você através do celular, o que a gente não imaginava que tivesse tanta confiança.

OG: Na eleição do Rio, Eduardo Paes errou?

RM: Ele fez tudo certo. Tinha era uma onda pró-Bolsonaro que, pelo movimento que o Flávio (Bolsonaro) fez, ficou vinculada ao juiz. E teve o indeferimento da candidatura do Garotinho, que foi decisivo para o Wilson (Witzel). O juiz cresceu mais no voto evangélico. A queda do Garotinho abriu um espaço.

30 de outubro de 2018

ONDE A ARGENTINA ESTAVA E ONDE ESTÁ HOJE! “O HOMEM PEDRA” – CAPÍTULO “O PAÍS DE JÚLIO ROCA”!

(Gustavo Maia Gomes – Revista Inteligência n. 82- setembro 2018) 1. Que país era a Argentina, entre meados do século XIX e a primeira década do século XX? Especialmente, como se comparava ao Brasil? Desde logo, em população, no ano de 1870, nossos vizinhos (1,8 milhão) eram muito menos numerosos do que nós (9,8 milhões); 40 anos depois, a diferença percentual tinha diminuído, mas ainda era muito grande (Maddison).

2. A principal semelhança da Argentina com o Brasil não consistia em terem sido ambas as economias “especializadas” na exportação de produtos primários (carnes, lã, trigo e milho, no caso da Argentina; açúcar, algodão, café e borracha, no caso do Brasil), mesmo porque especializadas elas nunca foram. Com efeito, em torno de 1850, as exportações respondiam por apenas 20% do PIB (Produto Interno Bruto) da Argentina (10%, do Brasil.) E apesar de que, em 1913, no auge do chamado modelo exportador, a participação das exportações nos PIBs de cada país tivesse se elevado a 30%, mesmo assim, ainda, dois terços do que era produzido se destinavam ao consumo interno. (Bulmer-Thomas)

3. A característica comum mais importante entre as economias da Argentina e do Brasil, nessa época, foi a de que a expansão da demanda internacional representou a principal fonte de crescimento disponível aos dois países. Nisso, os vizinhos se deram melhor do que nós. Conseguiram uma taxa maior de crescimento das exportações (6,1% ao ano, em 1850-1912; contra 3,7% do Brasil) e evitaram a excessiva concentração em um único produto.

4. Como consequência desse duplo êxito, a Argentina experimentou taxas de crescimento do PIB muito maiores que as do Brasil. Partindo, em 1870, de um produto interno bruto que pouco ultrapassava um terço do PIB brasileiro, a economia argentina, em 1900, já era do mesmo tamanho que a brasileira. E, em 1910, passou a ser 50% maior, mesmo sendo o Brasil muito mais populoso e territorialmente extenso. (Bulmer-Thomas)

5. O produto por habitante do país vizinho foi maior que o brasileiro durante todo o tempo em que Julio Roca andou pelo mundo e foi ficando ainda maior, com o passar do tempo, até alcançar níveis surpreendentes. Em 1910, por exemplo, a Argentina tinha um PIB per capita ($3.822) maior do que os da Dinamarca ($3.705), França ($2.965), Alemanha ($3.348) e Itália ($2.332). E não fazia feio diante dos Estados Unidos ($4.964) e do Reino Unido ($4.611) (Maddison).

6. Esse crescimento, e o que ele significava em realizações materiais, impactou positivamente a psicologia dos portenhos, em especial, porque as riquezas convergiam para Buenos Aires. Falando por meio de Félix Luna a respeito do país que entregava aos argentinos ao final de seu primeiro mandato presidencial (1880-86), assim se expressou Julio Roca:

7. Um otimismo irresistível, um frenético entusiasmo contagiava a todos. Aos argentinos, que viam a súbita transformação de nossa modesta República em uma nação rica e opulenta, e também aos estrangeiros, que embarcaram na aventura fascinante do progresso, da riqueza e da transformação mágica de suas vidas. (Luna, pág. 223, edição de bolso). Mudavam os hábitos, alterava-se a arquitetura, instalavam-se bordéis dirigidos por madames francesas. Numa velocidade espantosamente rápida, a Argentina se europeizava.

8. As formas crioulas simples e sóbrias em que todos nós havíamos sido criados foram deixadas para trás, e hábitos europeus foram adotados, que impuseram maneiras de receber e comer, de se vestir e se divertir, de falar e escrever. (Luna, pág. 223) Não apenas realizações econômicas ou mudanças de costumes: a era Roca foi, também, de grandes transformações demográficas devidas, sobretudo, ao afluxo de imigrantes europeus. Seis milhões deles, entre 1870 e 1914, principalmente, espanhóis e italianos, dos quais metade permaneceu no país. Em seu devido tempo, essa gente iria alterar não apenas a demografia, mas também a dinâmica política da Argentina.

29 de outubro de 2018

OS DESTAQUES DOS COMPROMISSOS DE BOLSONARO!

1. Respeito à Constituição Brasileira, à democracia e à liberdade.

2. Respeito ao direito de propriedade.

3. Compromisso de eliminar o déficit fiscal primário.

4. Política externa priorizando os acordos com os países desenvolvidos e destacando os acordos bilaterais.

5. Fortalecer a Federação, realizando as ações e políticas através dos Estados e Municípios.

6. Garantir o direito de ir e vir em todos os lugares, ou seja, priorizar a segurança pública.

7. Que o Brasil voltará a crescer a partir de uma política fiscal responsável.

8. Respeitar os direitos dos povos indígenas.

9. Formar um governo homogêneo com ministros que tenham os mesmos compromissos.

10. Que construiu a garantia de governabilidade conversando nos últimos anos com todas as lideranças políticas convergentes.

11. Que a sua vitória tem também um caráter ideológico pela vitória das ideias liberais e não de esquerda.

Obs.: 1. O discurso do presidente Bolsonaro, apontando para as teses econômicas liberais, deverá ter forte repercussão nos mercados – no câmbio, na bolsa, e nos investimentos.

2. Faltou citar a reforma da previdência.

3. Ele se comprometeu nesta semana se reunir com os presidentes do STF, STJ, Senado e Câmara de Deputados e organizar sua equipe em Brasília.

4. Faltou incluir no discurso o combate à corrupção, que foi uma base de sua campanha.

26 de outubro de 2018

PRIVACIDADE E COMUNICAÇÃO EM MASSA!

(Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, doutor em filosofia – Folha de S.Paulo, 23) 1. WhatsApp ficará marcado por seu papel na provável eleição de 2018. O uso do WhatsApp foi um dos temas centrais das eleições. Se sua relevância política já tinha se evidenciado no referendo para a paz na Colômbia em 2016 e nas eleições presidenciais no México, em julho deste ano, foi nas eleições brasileiras que ganhou centralidade.

2. Independente de quão decisiva foi a sua contribuição, o WhatsApp ficará marcado por seu papel na provável eleição de 2018.assim como o Facebook ficou marcado por seu papel na eleição de Donald Trump. Como o WhatsApp permite a constituição de redes privadas criptografadas, ele se mostrou uma ferramenta muito adequada para campanhas de desinformação, na qual grupos políticos disparam mensagens maliciosas para difusão em massa sob um véu de sigilo.

3. Isso é possível porque as fortes proteções de privacidade do WhatsApp, criadas para proteger a comunicação interpessoal, estão sendo utilizadas para a difusão em massa. Dessa maneira, é possível difundir mentiras e distorções para milhões de usuários sem que a comunicação possa ser notada por terceiros e, portanto, sem que haja o contraditório e sem que seja possível identificar os autores.

4. É preciso separar conceitualmente uma ferramenta de mensagens como o WhatsApp de plataformas de mídias sociais como o Facebook. As mídias sociais se caracterizam por oferecer ao usuário uma conta na qual pode produzir conteúdo e compartilhá-lo com uma rede de contatos. Em contrapartida, o usuário pode ler tudo aquilo que foi publicado pelos contatos que selecionou. Ela tem assim o que o sociólogo Manuel Castells definiu como um formato de comunicação “um-muitos-muitos-um”.

5. Segundo Castells, as ferramentas de comunicação interpessoal, como os aplicativos de mensagem, tem uma outra forma, “um-um”. Na forma, não são muito diferentes de um telefone. O WhatsApp, que é originalmente uma ferramenta de comunicação interpessoal, oferece também funções de comunicação de massa, os grupos de conversação.

6. É justamente essa dimensão de comunicação de massa que está sendo explorada pelas campanhas políticas maliciosas. Elas estão se aproveitando dos dispositivos de privacidade para promover campanhas de desinformação secretas, estimulando reencaminhamentos sucessivos de mensagens sujas entre grupos de conversação interligados.

7. A privacidade forte implementada pelo WhatsApp deve ser louvada e foi implementada como reação às denúncias de Edward Snowden, quando se descobriu que o governo dos Estados Unidos monitorava conversas de usuários.  Quando aplicado à difusão em massa, porém, aquilo que era virtude se converte em vício.

25 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2014 CONTRARIAM PROJEÇÕES DE PROTESTOS 2013! APONTAM UMA POLÍTICA MAIS CONSERVADORA! SERVE PARA 2018 TAMBÉM!

Ex-Blog de 16/10/2014.

1. Os protestos, passeatas, manifestações, quebra-quebra, black blocs…, ocorridos em 2013, desde junho, projetaram cenários convergentes nas eleições de 2014. As projeções indicavam que as ruas estariam aquecidas com protestos, que a proporção de abstenção, votos brancos e nulos cresceria.

2. Imaginava-se que as portas do Congresso seriam abertas para os candidatos com o perfil dos protestos e que seriam alavancados pelas redes sociais. E que as redes sociais estariam mais ativas do que nunca, agitando temas e perfis da antipolítica engajada, como o MV5, na Itália.

3. Mas nada disso aconteceu. As ruas estavam frias e continuam ainda mais frias neste segundo turno sem candidatos a deputados. E as eleições exaltaram, com grande quantidade de votos, parlamentares conservadores ou de antipolítica recreativa.

4. As 3 “capitais” brasileiras, Rio, SP e Brasília, foram exemplos. Eleitos, liderando as votações, Bolsonaro e Romário no Rio, Russomano e Tiririca em SP, e o coronel (r) Fraga em Brasília. No caderno ALIÁS, do Estado de SP (12), o DIAP afirma que esse é o Congresso mais conservador desde 1964. Nessa mesma matéria, o sociólogo Wagner Romão, da Unicamp, diz que “podemos esperar para os próximos quatro anos um legislativo mais refratário a mudanças na ampliação dos direitos humanos, na questão da homofobia ou do aborto, a favor de modificações quanto à maioridade penal”.

5. Romão afirma que esta é uma tendência que já havia ocorrido no Congresso, resultante das eleições de 2010 e acentuado agora em 2014.

6. Paradoxalmente, na eleição presidencial de 2010 venceu o PT. Paradoxalmente? Ou os “estímulos” mensaleiros e petroleiros para “pacificar” parlamentares produziram candidatos financeiramente mais competitivos? Os excessos publicitários e de mídia em relação à opção sexual e comissão da verdade construíram o polo conservador oposto? Provavelmente ambos.

7. E a crise econômica? Quem sabe os ares e sabores europeus ajudem a explicar que a resposta à crise econômica atual no imaginário popular não passa pela esquerda?

8. Esses aparentes paradoxos –executivo/legislativo- precisam ser analisados com calma pelos pesquisadores. Incluindo o segundo turno e as eleições para governadores Brasil afora, poderemos apontar outro subproduto do ciclo lulo-dilma-petista: o caminho político conservador, em direção à direita.

24 de outubro de 2018

CESAR MAIA: ENTREVISTA AO ESTADO DE S.PAULO SOBRE AS ELEIÇÕES 2018!

1. Estado de SP: Como o senhor explica a derrota de sua candidatura ao Senado? O senhor esteve à frente nas pesquisas de intenção de voto praticamente durante toda a campanha… Alguns analistas dizem que o apoio de Bolsonaro a Arolde de Oliveira teria sido a principal razão desta derrota. Várias outras lideranças tradicionais da política brasileira também acabaram sendo derrotadas. Como o senhor analisa esse quadro?

Cesar Maia: A regionalização do voto no Rio é assim há muitas décadas. Perdi na Baixada e São Gonçalo. Nas pesquisas anteriores Lindbergh vencia aí e a diferença era pela margem de erro. Arolde venceu aí e por uma diferença global inferior a 1%. Em cada Estado há uma explicação. Aqui no Rio para o Senado a impulsão presidencial não explica a diferença entre segundo e terceiro. A evangélica sim para aquelas regiões.

2. ESP: O apoio da família Bolsonaro nos últimos dias da campanha também foi considerado crucial para o crescimento vertiginoso do candidato Wilson Witzel – que surpreendeu todo mundo, inclusive os institutos de pesquisa — e acabou chegando em primeiro lugar, à frente do candidato do DEM, Eduardo Paes, que, até a véspera das eleições, aparecia dez pontos à frente do segundo colocado (que nem era Witzel!). O senhor atribui essa vitória ao apoio de Bolsonaro?

CM: Os sinais que ele se aproximaria e poderia ultrapassar Paes eram nítidos nos últimos dias ou até um pouco antes. As pesquisas medem opinião pública. Na Inglaterra nos anos 30 se diferenciava sentimento popular de opinião pública. Sentimento Popular é uma reação mais ou menos difusa das pessoas aos fatos. Na Universidade de Sussex (Mass Observation – MO), Madge e Harrison desenvolveram este sistema e em 1938 para a política e para a guerra. Churchill tomou suas primeiras decisões assim. Veja o filme O destino de uma nação que disputou o último Oscar.

ESP: Já na terça-feira, em campanha, Eduardo Paes se declarou neutro em relação à corrida presidencial para, em seguida, tecer vários elogios a Jair Bolsonaro. Disputar os eleitores de Bolsonaro é a estratégia para virar o jogo e conseguir uma vitória?

CM: Só conhecendo as pesquisas nas quais ele se baseou.

4. ESP: Qual o peso real dos evangélicos nessa disputa eleitoral?

CM: As Igrejas evangélicas tiveram pela primeira vez um peso maior que a católica nessas eleições no Rio. Seu ativismo e adaptação às regras do TRE, as diferenciou é muito. O vice de Witzel é vereador católico militante, mas isso nunca foi usado, pelos fatos e cenários.

5. ESP: Como o senhor avalia o impacto das Fake News na vitória de Bolsonaro? Muitos especialistas em comunicação dizem que as redes de WhatsApp da família e a disseminação de notícias falsas em progressão geométrica teriam sido cruciais para a vitória. Mais do que nenhum outro candidato, ele (que tinha pouquíssimo tempo na TV) dominou a nova mídia, usando-a a seu favor.

CM: Não creio. Essa é uma visão ingênua das redes sociais. Escrevi na terça feira que os analistas estavam se esquecendo da Lava Jato na mesma dinâmica da operação Mãos Limpas e com o mesmo impacto no parlamento. A tentativa de assassinato alterou a exposição dele na mídia que ficou muito maior que o tempo de TV eleitoral que ele não tinha, mudou o quadro das pesquisas. A vitimização sempre foi um significativo fator na decisão de voto.

6. ESP: Como o DEM se posiciona na disputa presidencial? E o senhor, pessoalmente?

CM: O DEM abriu para seus militantes e diretórios essa decisão. Aguardo a posição de nosso candidato a governador.

7. ESP: O senhor considera que a eleição de Bolsonaro pode ser um risco real à democracia?

CM: De forma alguma. Isso é uma besteira enorme ou completo desconhecimento das instituições pós constituinte já testadas em vários momentos.

8. ESP: Em análise publicada em seu blog, o senhor compara o que está acontecendo no Brasil hoje ao que ocorreu na Itália alguns anos atrás, durante a operação Mãos Limpas, e a subsequente eleição de Berlusconi. Qual a relação entre tais operações contra a corrupção e o surgimento de lideranças da extrema-direita?

CM: A relação não é ideológica. O impacto percebido nas ruas pelo “sentimento popular” atingiu todos o espectro político. Mas favoreceu mais aos que estavam incólumes a fatos contaminadores.

9. ESP: No caso da Itália, no entanto, o regime é parlamentarista. Como fica essa situação no caso do Brasil, que é presidencialista, diante de uma possível eleição de Bolsonaro?

CM: Na operação Mãos Limpas no parlamentarismo mudaram os personagens e a nominata dos partidos, mas a estabilidade parlamentar se manteve mesmo que oscilando as maiorias. Num presidencialismo vertical como o nosso o efeito da Operação Lava Jato se não for entendido pelos vencedores atribuindo-se causas, pode gerar um impasse legislativo. Isso vai depender -se for o caso- do entendimento do presidente.

10. ESP: O senhor acredita ser possível a criação de uma grande frente democrática ligada à candidatura de Fernando Haddad? Com Fernando Henrique, Ciro Gomes, Henrique Meirelles, entre outros? O senhor participaria? Quais seriam as chances de essa aliança ser bem sucedida?

CM: Não acredito. A pulverização político-parlamentar nessa eleição mostra que -digamos- os blocos serão reconstruídos no parlamento e não na campanha presidencial. As “mensagens” das campanhas é que serão fundamentais. Por exemplo. No Rio todos pensavam que o tema era a segurança pública e desemprego, e não foi.

23 de outubro de 2018

SETORES DA ESQUERDA NÃO ENTENDEM A DINÂMICA DAS REDES SOCIAIS E ACUSAM MANIFESTAÇÕES DE FASCISTAS!

Ex-Blog de 21/10/2013.

1. Em artigo (Primavera Brasileira ou Outono Democrático?) na revista “Inteligência” (terceiro trimestre-2013), o importante cientista político e professor do IESP/UERJ, Fabiano Santos, sublinha a ideia que vem circulando pelas esquerdas, que as manifestações de rua no Rio estariam perigosamente influenciadas por um fascismo militante. Ele diz:

2. “Mas se a ativação do tema da corrupção não foi surpreendente, os ensaios de aproximação das ruas com o fascismo, sim, acabaram assustando bastante… Boa parte dos manifestantes principalmente aqueles vinculados a partidos políticos, em geral de orientação esquerdista, sofreram duro revés… No dia 20 de junho, militantes de partidos políticos e sindicatos tentaram participar de manifestações. Tiveram suas bandeiras e cartazes destruídos… Percebido o problema pelo núcleo inicial de manifestantes, tratar-se-ia agora de uma questão de “disputar o significado das ruas”. A palavra de ordem dos entusiastas das manifestações tornou-se então não permitir que os fascistas dominassem a cena, não permitir que a direita política prevalecesse na tradução do sentimento difuso de insatisfação e inconformismo e canalização da nova energia societal brasileira. A equação fascista, antes apenas recôndita nas mentes de segmentos da elite, leitores de diários cariocas e paulistas, agora é clara e despudoradamente verbalizada em nossa ‘common parlance’.

3. Não se trata apenas da reflexão de um intelectual de porte, mas do que líderes de partidos de esquerda –com ou sem poder- vêm repetindo nos últimos dias. Independente de numa massa difusa se ter de tudo, além de fascistas, anarquistas, punchistas e insurreicionista utópicos de esquerda, a questão não está nesses grupos, certamente marginais, e maximizados agora por estas verbalizações desde setores da esquerda.

4. O ponto está neles terem sido formados em estruturas organizacionais –políticas e sociais- hierarquizadas, onde os líderes são vocalizadores e interlocutores. Quando entram as redes sociais, horizontais e desierarquizadas, a formação deles entra em pânico: como explicar isso? Massa sem líderes? Não há interlocutores? Os manuais leninistas onde se formaram não contém essa hipótese. Nem poderia no final do século 19 e início do 20 onde os únicos meios de comunicação eram a presença física, o papel e o grafite.

5. O que precisam entender é que está mudando o conceito de democracia direta, da associativa, sindicalista, para outra –em redes individualizadoras, onde os interlocutores são… todos. Como estamos no início desse processo, e não se pode ainda projetar de que forma a democracia direta das redes vai se cristalizar, melhor seria que mergulhassem nas pesquisas que hoje se desenvolvem, desde a leitura de Manuel Castels, até os modelos simulados de formação de opinião pública em Columbia ou nos Provedores.

6. Em vez de uma reação psicótica ao risco de “meu mundo caiu”, melhor seria ajudar a construir esse outro mundo de participação popular, dando a ele uma nova organicidade.

22 de outubro de 2018

“A MORTE DA LIVRARIA”!

Nota: Em 2007, como prefeito, tombei o prédio do Cine Vitória. Agora, como vereador, apresentei Projeto de Lei tombando o uso do prédio apenas para fins culturais.

(Ruy Castro, jornalista e escritor – Folha de S.Paulo, 21) A megafilial carioca da Livraria Cultura fechou as portas. Ficava na Cinelândia e ocupava o prédio do antigo Cinema Vitória, uma das maravilhas do art déco no Rio, inaugurado em 1942 com “O Grande Ditador”, de Chaplin. Assisti a grandes filmes no Vitória. Nos anos 80, com a decadência dos cinemas de rua, o proprietário dedicou-se a degradá-lo, reduzindo-o a filmes pornô, até finalmente fechá-lo. Sua transformação na Cultura em 2012, mantidos muitos traços originais do prédio, era a esperança de sua conservação.

As livrarias sempre foram pontos de encontro entre os escritores e seus leitores, para benefício de ambos. No Rio, a primeira foi a do editor e tipógrafo Paula Brito, na hoje praça Tiradentes, pouso em 1860 de Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antonio de Almeida e Machado de Assis. Sucedeu-a, rumo a 1900, o longo reinado da Garnier, na rua do Ouvidor, também com Machado, mas já na companhia da turma de Coelho Netto e Olavo Bilac.

Veio então a Leite Ribeiro, no largo da Carioca, com suas vitrines iluminadas e onde Théo-Filho e Gilka Machado davam as ordens em 1922. Nos anos 30 e 40, a José Olympio, também na Ouvidor, era o território de Zé Lins do Rego e Graciliano Ramos. Em seguida, a querida São José, na rua idem, onde Drummond batia o ponto todos os dias. E a Leonardo da Vinci, reduto em 1968 dos cientistas sociais, dos estruturalistas e dos leitores do Cahiers du Cinéma.

De 1990 para cá, diversas livrarias foram palco de encontros: a Timbre, até hoje no Shopping da Gávea; sua pranteada vizinha, a Bookmakers; a Dantes, no Leblon, também morta; e as várias Travessas, cada vez mais acolhedoras e, graças, firmes.

A crise e outros problemas não deram tempo à Cultura para criar aquele ambiente mágico em que autores e leitores se espelham —estes, sonhando escrever, e, aqueles, ansiando pelo dia em que poderão se dedicar simplesmente a ler.

19 de outubro de 2018

O CAOS NO TRANSPORTE URBANO!

(Luiz Antonio Cosenza, Presidente do CREA-RJ e Miguel Bahury, Conselheiro do CREA-RJ, Ex-Secretário Municipal de Transportes, ex-Presidente do Metrô e da CET-RIO –  JB, 18) O sistema de transportes no Rio de Janeiro atingiu o caos. A mobilidade urbana está à beira do colapso. A falta de planejamento, a desorganização tarifária, a ausência de controle e de fiscalização deixam os usuários entregues à própria sorte. Veículos com idade média superior a quatro anos circulam em condições precárias, muitos com chassis inadequados e com degraus altos, dificultando o acesso. Frequentes interrupções de linhas de ônibus, empresas de ônibus fechando as portas, desempregando mais de dois mil rodoviários, BRTs depredados por atos de vandalismo, plano de ampliação do BRS paralisado, vans liberadas, evasões frequentes e diminuição da oferta do transporte regular estão causando enormes prejuízos à população.

A leniência do Poder Público no município do Rio e no governo estadual, o impasse entre a Prefeitura e as empresas do setor, a suspensão do processo de racionalização das linhas, a falta de integração e a demora na climatização total da frota contribuem ainda mais para agravar esse quadro danoso, e a população, que já sofre com a crise do desemprego e da segurança, não vislumbra perspectiva de melhora.

Além de tudo, a Prefeitura, nas linhas municipais, e o governo estadual, nas linhas intermunicipais, não têm nenhum controle sobre o sistema tarifário, que é totalmente controlado pela Fetranspor, responsável pela administração do RioCard e pela emissão, comercialização e distribuição do vale- transporte.

Deve-se estabelecer um plano de reorganização tarifária. As planilhas tarifárias devem ser transparentes e refletir o custo real do transporte, contemplando, além do Custo/Km, a relação Passageiros/Km, linha por linha, objetivando um conhecimento global do problema tarifário, com vistas ao estabelecimento real do Custo/Passageiro.

O controle e gerenciamento pela Prefeitura e pelo governo estadual do sistema tarifário possibilitariam o domínio total do número de passageiros transportados e do total arrecadado, hoje inexistente, e maior racionalização dos valores das tarifas. Há que se chegar a um preço justo que não penalize a população, mas que, por outro lado, possibilite aos empresários cobrir seus custos e manter a margem legal de lucros para evitar a degradação do sistema, como ocorre hoje.

É imperativo que o Poder Público exerça sua primazia na condução da mobilidade urbana, no controle tarifário e na proteção sagrada dos direitos dos usuários, evitando-se o estado de anomia existente.

A dependência dos ônibus atingiu o paroxismo. Em consequência desse sistema equivocado, que contraria a política de transporte urbano adotada pelas principais cidades do mundo, os deslocamentos de toda a nossa região metropolitana passaram a ser completamente dominados por ônibus, que têm capacidade de transportar apenas 12 mil pass./hora, em detrimento dos transportes de massa, trem e metrô, que têm capacidade de absorver 40 a 60 mil pass./hora, com custos de manutenção substancialmente menores e que possibilitam um deslocamento mais rápido, seguro, confortável e sem poluição.

Na Região Metropolitana do Rio ocorrem 22,1 milhões viagens/dia, das quais 11 milhões por transporte coletivo, 4,4 milhões por transporte individual e 6,7 milhões de viagens/dia a pé, conforme o Plano Diretor de Transportes da Região Metropolitana.

Das 11 milhões de viagens/dia por transporte coletivo, os ônibus, que deveriam ser transporte complementar, respondem por 77% delas e, pasmem, o metrô e os trens, juntos, por apenas 11%, transportando, respectivamente, apenas 700 mil pass./dia e 560 mil pass./dia, enquanto as barcas transportam apenas 1%. Enquanto isso, à guisa de ilustração, os Metrôs de SP, Seul e Cidade do México, que iniciaram a construção na mesma época do Rio, já transportam, respectivamente, 4,6 milhões, 8 milhões e 3,9 milhões de pass./dia.

Essa herança perversa há que ser corrigida, priorizando-se o transporte de massa, tem e metrô, e restabelecendo-se a autoridade pública na gestão do transporte de passageiros.

18 de outubro de 2018

A SITUAÇÃO DA SAÚDE NA PREFEITURA DO RIO!

(Vereador Paulo Pinheiro – DO, 17/10) 1. Estamos  começando mais uma edição da discussão sobre o orçamento. A Comissão de Finanças, Orçamento e Fiscalização Financeira da Casa começará a discutir o orçamento, a proposta de lei orçamentária para 2019 em audiências públicas. Começará com uma audiência pública importante.

2. Vai-se discutir com a Casa Civil, vai-se discutir a questão da previdência municipal, o Previ-Rio, a Comlurb, uma série de questões importantes. Na terça-feira que vem, dia 23, teremos a Audiência Pública da Saúde, o que está causando um grande mal-estar. Quem não participou da reunião, semana passada, não participou de uma das reuniões com maior mal-estar de que já participei na minha vida, aqui, na Câmara. O chefe da casa civil tentou dominar a reunião, falar antes dos secretários – estavam presentes o Secretário de Fazenda e a Secretária de Saúde.

3. O assunto eram os cortes no Orçamento da Saúde.  Nós vimos o que a Secretária de Saúde deixou muito claro, através dos técnicos da saúde, profissionais corretíssimos. Quando eu perguntei a um desses profissionais: “Você, colega, profissional de qualidade, tem condição de defender a proposta de enxugamento da atenção primária no Orçamento da Saúde, baseado não em necessidade da população, mas baseado em tamanho de arrecadação?”, ele disse uma frase lapidar: “Nós recebemos uma encomenda. Vamos ter que entregar a encomenda que recebemos”.

4. A encomenda, é cortar um pedaço do pé da saúde.  Então, é importante que a gente possa discutir isso, porque o Secretário Chefe da Casa Civil, já entendeu que vai ter dificuldade de passar essa proposta para a opinião pública.  Portanto, ele está armando a seguinte confusão: existem dois cortes. Existe um corte, que é o que eles estão fazendo para o orçamento do ano que vem. O corte do Orçamento da Saúde para o ano que vem é 5,4%. O Orçamento da Saúde deste ano, 2018, é 6,0%. Por que 6,0%? Porque a Câmara colocou R$ 700 milhões em emendas, fazendo com que o orçamento fosse para sua necessidade.

5. Quando eles dizem que só podem gastar R$ 5 bilhões na saúde, eles estão errados, pois vão ficar devendo R$ 800 milhões. E os senhores têm que entender a situação. Com essa confusão da eleição, estão se esquecendo  do sofrimento que está havendo na área da saúde. Eu vou só ler uma lista para vocês sobre pagamentos de profissionais de saúde ligados a organizações sociais.

6. A cidade é dividida em áreas de planejamento. A coordenação da AP-1, que é São Cristóvão e Centro, os profissionais que são contratados por OS trabalham em Clínicas da Família, UPAs, hospitais terceirizados etc. Nessa área, todos receberam 32% do salário. Entendam bem: a Prefeitura, através das OSs que ele contratou, na AP-1 da cidade, na área do Centro, só pagou 32%  do salário das pessoas, que continuam trabalhando. Na AP-2.1, que é a Zona Sul, o pagamento foi integral para quem recebe até R$ 2.700. A partir daí, ninguém recebeu mais nada; quem ganha mais de R$ 2.700,00, zero de salário. Na área da Tijuca, privilegiada, pagamento integral.

7. Na área 3.1 bairros da Leopoldina, Ilha do Governador, pagamento integral para quem recebe até R$ 4.000,00; quem ganha acima disso recebeu 36% do seu salário. Área do Grande Méier, 3.2 nenhum pagamento, todo mundo trabalhando de graça. Área 3.3 Madureira, Irajá, Pavuna e adjacências, pagamento integral até R$ 4.000,00; quem ganha acima disso recebeu só 32%. Barra da Tijuca, pagamento integral. Área de Bangu, 5.1  todos receberam 62% do salário. Área 5.2 Campo Grande, todos receberam 5% do salário. Funcionários das OSs que trabalham na zona de Campo Grande e adjacências, 5% de salário.  Na área de Santa Cruz, zero de pagamento, ninguém recebeu nada.

8. Para os senhores terem ideia de qual é a situação hoje. Tudo isso é dinheiro que eles não pagaram. E o mais grave é a informação que deram ontem na reunião com os profissionais de saúde, presentes a Secretária e os Subsecretários, de que não há dinheiro para pagar. Que a regularização desses pagamentos só ocorrerá em fevereiro do ano que vem! Então todos vão se preparar para comer o “pão que o diabo amassou” até fevereiro, porque não tem dinheiro, segundo eles.

9. Esse é o quadro geral. E o que significa isso? Significa, por exemplo, que, nas UPAs, a comida, o atraso com os fornecedores de algumas OSs é de quatro meses, com os remédios, e insumos básicos. Como eles estão fazendo? A alimentação para o sujeito poder continuar ir trabalhar e receber algum alimento foi reduzida para feijão, arroz e macarrão. Não tem proteína – frango, peixe ou carne, zero. O dinheiro não dá segundo eles. Só dá para fazer um feijãozinho, uma sopa de macarrão à noite, para ficar mais ou menos cheinho e poder aguentar o plantão.

10. Esse é o quadro da saúde que nós temos nesse exato momento sob os argumentos de que a Prefeitura do Rio só tem até R$ 5 bilhões para gastar com saúde. Mais do que isso não tem. Caso precise de mais, só falando com o bispo. Esse quadro é o que nós temos hoje. Isto tem repercussões diretas no atendimento. Evidente que daquelas centenas de pessoas que encontramos nos corredores dos hospitais, boa parte morre. Nós nem conseguimos ver que morreram por falta de atendimento, por má qualidade no atendimento, por má qualidade dos serviços.

11. Eu não estou falando nem da administração direta. Estou falando do discurso que nós ouvimos, que dizia que, para poder expandir a rede de saúde, tinha que terceirizar. Que era a melhor maneira de se tratar, do profissional não faltar, era terceirizando, entregando a terceiros, tentando fazer com que a saúde do Município do Rio ficasse parecida com a saúde privada. Seria alguma privatização. Portanto, senhores, para encerrar, nós temos a oportunidade, aqui na Casa, de conversar, cobrar, arguir o governo desse genocídio que ele está dominando, comandando, na Cidade do Rio de Janeiro.

12. Eu não tenho dúvidas que nós, nunca, em momento algum, atravessamos uma situação tão constrangedora. Nem na época da falência da Prefeitura, em 1989, nós tivemos um problema tão grave quanto temos agora. E isto tem responsável com o nome e sobrenome.

17 de setembro de 2018

FUTUROLOGIA NA CAMPANHA!

Simulações de 2º turno não têm correlação com resultado das eleições!

(Lucas de Abreu Maia – Revista Piauí) A máxima dinamarquesa, erroneamente atribuída ao físico Niels Bohr, declara: “É difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro.” Ainda assim, serão elas as protagonistas das últimas três semanas de campanha presidencial até o 1º turno das eleições.

O sucesso de duas candidaturas depende de que o eleitor acredite em futurologia. Geraldo Alckmin tenta argumentar que o voto nele será a única forma de derrotar o PT. Ciro Gomes, por sua vez, quer convencer a esquerda de que só ele pode impor uma derrota retumbante a Jair Bolsonaro. Como evidência, ambos apresentam as pesquisas de intenção de voto. Tanto no Datafolha quanto no Ibope, Ciro tem ampla vantagem ante ao ex-capitão do Exército. Bolsonaro e o candidato petista, Fernando Haddad, estão em empate técnico.

Acontece que pesquisas eleitorais não passam de previsão. Se qualquer previsão é falha, as simulações de 2º turno, então, são um fiasco. É que, no Brasil, não há correlação entre elas e o resultado final do pleito. A essa altura em 2014 Dilma Rousseff perderia para Marina Silva, de acordo com os levantamentos antecipados de 2º turno. Em 2006, Geraldo Alckmin conseguiu a façanha de receber menos votos no 2º que no 1º turno – fenômeno que pesquisa nenhuma conseguiria prever.

Há três motivos para o descasamento entre o que o eleitor diz que fará no 2º turno, antes mesmo de que tenha votado no 1º, e o que ele de fato faz na ida final às urnas. A primeira explicação tem a ver com uma mudança no cenário político; a segunda é uma questão metodológica e a terceira é lógica, mesmo.

Em primeiro lugar, o fato político: a campanha de 2º turno é qualitativamente diferente da que é feita no 1º. Na fase final da eleição, ambas as campanhas têm o mesmo tempo de tevê, os debates acontecem apenas entre dois candidatos (diferentemente da balbúrdia dos debates de 1º turno) e os discursos tendem a mover-se para o centro, a fim de conquistar os votos dos candidatos que ficaram de fora da segunda etapa do pleito. Ninguém consegue dizer, antecipadamente, como essas três variáveis impactam o eleitor.

Para entendermos a explicação metodológica, é preciso primeiro entendermos como funcionam as pesquisas de intenção de voto. O eleitor é parado de repente na rua e questionado sobre suas preferências eleitorais – coisa sobre a qual a maioria da população, diferentemente de mim e você, quase não pensa. Já é difícil o bastante ter de decidir em quem votará no 1º turno, mas o entrevistador ainda pede ao pobre eleitor que crie uma contigência hipotética e escolha um candidato para cada um dos vários possíveis cenários de 2º turno. Naturalmente, as estimativas hão de ser falhas.

Por fim, a lógica: o sociólogo Maurice Duverger desvendou, nas décadas de 50 e 60, os incentivos que afetam o voto em cada sistema eleitoral. A matemática por trás do argumento foi desenvolvida pelo cientista político Gary Cox, mas a lógica pode ser entendida só com palavras. No 1º turno, a tendência do eleitor é escolher seu candidato favorito, independentemente de quem seja. No 2º, o voto acaba indo para o pleiteante menos ruim. A não ser que os dois candidatos sejam absolutamente iguais (o que, claro, é impossível), sempre haverá um menos ruim. Acontece que, no 1º turno, quando ainda voltamos a atenção para o nosso candidato favorito, temos dificuldade de ver com clareza quem escolheríamos num cenário em que o predileto esteja ausente.

Numa eleição tão complexa quanto a de 2018, as simulações valem ainda menos que o usual. Embora pareça certo que Bolsonaro estará no 2º turno, tudo indica que não terá condições de participar de debates. Mas, como será sua presença no horário eleitoral? Supondo que Haddad siga mesmo para a fase seguinte da disputa, tentará – e, se tentar, conseguirá – mover-se para o centro do espectro político? Vai convencer eleitores de Ciro e de Marina Silva a votarem nele? O PSDB terá coragem de declarar apoio ao PT num 2º turno contra Bolsonaro?

Sem respostas claras a essas perguntas, qualquer aposta é temerária. É difícil prever, sobretudo o futuro. Por isso mesmo, o eleitor não deve preocupar-se com futurologia na hora de decidir o voto.

17 de outubro de 2018

SEGUNDO TURNO 2018! O QUE OCORREU NO PRIMEIRO TURNO E POR QUÊ! 

1. Já com 10 dias corridos do segundo turno e com 5 dias de programas eleitorais, centenas de inserções e milhares de posts nas redes sociais, a equação, ou o X da questão, continua a mesma.

2. Com 4 anos da Lava-Jato ocupando todos os espaços, com prisões de líderes empresariais e políticos, com vídeos e gravações de enorme destaque, era evidente que a questão comportamental, e da confiança, dos desvios e roubos, seria o X da questão.

3. A campanha presidencial e de governadores teria que ter este tema sobre-focado. Os programas de governo -educação, saúde, transportes, obras e até segurança- seriam periféricos nas decisões de voto.

4. Serviriam para legitimar as candidaturas afirmando que se tratava de candidatos a governar. Mas deveriam ocupar um tempo apenas suficiente.

5. Quando, no final, alguns candidatos surgiram aparentemente de repente e se destacaram para o segundo turno, isso foi divulgado como surpresa, puxada presidencial ou mobilização das redes sociais.

6. Os Institutos de pesquisa foram apresentados como culpados por seus “erros”. Será?

7. Durante a campanha os eleitores foram conhecendo os candidatos e trocando informações a respeito. Respondiam as pesquisas em função do conhecimento que tinham dos candidatos.

8. Mas foram eliminando entre as hipóteses e alternativas de voto aqueles que não tinham confiança ética. Os candidatos, digamos, mais atentos entraram com o tema ético, Lava-Jato, desvios e roubos, condenações e ligações…

9. As pesquisas deram os sinais a partir da última semana. As curvas passaram a ter alguma inflexão. Os eleitores foram eliminando os nomes que tinham desconfiança. Abriram-se vácuos.

10. Como num terremoto, estes vácuos eram os pontos de abertura de crateras que se ampliaram fortemente na hora do barulho. As pessoas correram para longe das crateras. E buscaram o que achavam ser os pontos seguros de fuga.

11. Os nomes de maior desgaste foram abandonados e os de pouco desgaste -conhecidos – foram abraçados na busca de “salvação”.

12. Não houve surpresa, nem erro dos Institutos. Os Institutos que incluíram a questão ética (roubos, desvios, ligações, etc.) nas pesquisas já tinham os indicadores. A mídia cobria, como quase sempre, como corrida de cavalos: quem está na frente, etc.

13. Os cruzamentos só eram destacados para os favoritos. E chegou a hora da decisão, do terremoto. E os caminho alternativos -independente do conhecimento completo deles- estavam traçados. Seria só correr para eles.

14. No segundo turno -havia e há- tempo para se ajustar as estratégias. A cristalização do tema na eleição presidencial foi muito, muito maior. PT/Lula/Haddad foi colado aos desvios. Que era e é o tema. Bolsonaro colado à truculência, que não era e não é o tema.

15. As pesquisas residenciais, ou quase, não podiam pegar a velocidade de multiplicação da opinião das ruas. As pesquisas nas ruas sim. Ou como se estudou na Inglaterra na universidade de Essex no final dos anos 30. O “sentimento popular” se antecipou à formação da Opinião Pública. Vejam o filme “Destino de uma Nação”, quando Churchill vai às ruas ouvir, e em função disso decidir.

16 de outubro de 2018

A BELIGERÂNCIA DE EVO MORALES NA DERROTA EM HAIA PARA O CHILE!

(O Globo, 13) Único caminho que resta ao presidente boliviano é cumprir sentença da Corte

Evo Morales, presidente da Bolívia, parece ter perdido o rumo depois de ser derrotado pelo Chile na Corte Internacional de Justiça. No início do mês, em sentença definitiva, a Corte de Haia negou a reivindicação do governo da Bolívia para obrigar o Chile a negociar uma “saída soberana” ao Oceano Pacífico. Inconformado, Morales passou a atacar o tribunal, considerando-o “parcial” e “contraditório”. Até aí, é esperneio de perdedor. O problema é que o presidente da Bolívia foi muito além. Passou a qualificar o Chile, publicamente, como “invasor”. O tom de beligerância é absolutamente impróprio, absurdo, porque é característico daquilo que causa ou está numa guerra. “Não é possível que a Corte beneficie os invasores”, disse, referindo-se a uma tomada de território “para saquear seus recursos naturais”.

Morales é um ex-líder sindical dos plantadores de coca festejado por forças políticas da esquerda sulamericana desde o seu alinhamento político e financeiro à Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na década passada. Folclórico, é capaz de discursar sobre a natureza dos terremotos como “consequência de políticas neoliberais” .

Está no terceiro mandato e em plena campanha pelo quarto período consecutivo no poder, na eleição do ano que vem. Transformou a saída para o mar em bandeira políticoeleitoral, evocando a disputa de mais de um século com o Chile. No final do século XIX, a Bolívia tinha uma fronteira oriental que se estendia ao Pacífico, com 400 quilômetros de costa. Entre 1879 e 1884, os bolivianos, unidos aos peruanos, guerrearam contra os chilenos. A derrota militar custou à Bolívia a perda do acesso ao mar, selada em 1904 num acordo que redefiniu a fronteira boliviano-chilena. A Bolívia pediu a intervenção da Corte de Haia, em 2013. Argumentou que o Chile teria violado “a obrigação de negociar” um acordo sobre a “saída soberana” para o Pacífico. O Chile retrucou com a “legitimidade e vigência” do acordo de 1904, não admitindo qualquer compromisso de cessão territorial. Ressaltou que, se a tese boliviana fosse acolhida, nenhum tratado internacional estaria assegurado.

A sentença do tribunal internacional a favor do Chile deixou Morales sem o seu principal trunfo para a quarta eleição consecutiva.

Ele tem todo o direito de espernear pela causa perdida. Porém, sob nenhuma circunstância, deve-se aceitar que, numa alucinação de candidato, o presidente da Bolívia acene com beligerância ao país vizinho. Cumprir a sentença de Haia é o único caminho que lhe resta.

15 de outubro de 2018

MARQUETEIROS DEVERIAM LER COM MUITA ATENÇÃO, NESTE SEGUNDO TURNO!

(Trechos do artigo de Luiz Fernando Carvalho na Ilustríssima – Folha de S.Paulo, 14)

Aprendi com Van Gogh a associar palavra e imagem, diz cineasta Luiz Fernando Carvalho

1. “Cartas a Theo” é um livro mágico. Fonte primária e fundamental para a compreensão e o estudo da obra de Vincent van Gogh. Relato que trança reflexões estéticas com paisagens existenciais da vida do pintor.

2. Categoria inominável de gênero narrativo, substância primordial que me orientou na tentativa de criar um filme a partir do oratório barroco de Raduan Nassar. Nasce do encontro com as “Cartas a Theo” a busca por não desassociar o cinema da literatura, as palavras das imagens.

3. Estava perdido durante a preparação do filme, quando, em um dia qualquer, me reencontrei com as cartas de Van Gogh. Unidade perfeita entre palavra e imagem, processo e imaginação. E me lancei ali, avistando palavras, os olhos devorando o universo visual do pintor —ou seria em ordem inversa? Pouco importa. Não saberia mais dizer, falar.

4. Nas “Cartas”, vertigem entre questões pictóricas e sua busca incansável por uma mediação impossível com o real: uma representação à altura dos sentidos do pintor, revelando nessa empreitada uma conexão estreita entre arte visual e literatura. “Livros, realidade e arte são todos a mesma coisa para mim”, escreveu Van Gogh em carta de 1883.

5. “Cartas a Theo” me apresentara o abandono de uma ideia preconcebida de que uma imagem se faz de si própria, segundo a qual ela já é uma linguagem, possível de pertencer a um contexto de imagens —imagens como as outras, mas suficientemente e de tal modo escolhidas e dispostas que, através delas, passe algo de inefável.

6. A lição das “Cartas” parece-me, ao contrário, que as imagens não são, desde sua origem, feitas de algo inefável. Elas são feitas de algo tátil, de algo que deve e pode ser construído: a imaginação!

7. “Desta vez, é simplesmente o meu quarto, apenas a cor deve fazer tudo, e dar, pela sua simplificação, um estilo maior às coisas, ser sugestiva aqui do repouso ou do sono em geral. Numa palavra, a contemplação do quadro deve repousar a cabeça, ou melhor, a imaginação.” Assim descreveu Van Gogh ao irmão Theo, imaginando a pintura de seu quarto em Arles.

11 de outubro de 2018

REFLEXÕES E CURIOSIDADES NAS ELEIÇÕES DE 2018 NO RIO DE JANEIRO!

1. Analistas que afirmaram que a ascensão do candidato do PSC se deu ideologicamente, ou seja, pela impulsão dos de maior renda, se enganaram. O georreferenciamento do voto mostra que foi o contrário. O voto dele foi maior na Baixada Fluminense, em São Gonçalo e na Zona Oeste do Rio.

2. No primeiro turno –seja no debate, seja nos programas eleitorais e inserções– a questão sub-regional não foi tema. Agora no segundo turno deverá ser.

3. A saída de Garotinho do processo eleitoral abriu um caminho para que o voto dos de menor renda e evangélicos migrasse para quem no primeiro turno não conflitou com ele no debate e nos programas e inserções. As análises que projetaram de forma diferente -como migração para Romário- se enganaram.

4. Se o foco básico do candidato do PSC a governador fossem os evangélicos, ele teria montado na convenção uma chapa com um vice da Igreja Católica?

5. Os que imaginaram que os temas da campanha seriam segurança pública e desemprego, erraram. Por exemplo, o candidato do PSD focou segurança pública e não sensibilizou o eleitor. O que mobilizou até aqui o eleitor não foi a segurança pública ou o desemprego, mas uma ideia difusa de comportamento e renovação, de certa forma, referenciada pela Lava-Jato.

6. Com isso, o voto mais ideológico não foi impulsionado. As votações dos deputados Marcelo Freixo e Chico Alencar, bem aquém do projetado, são exemplos.

7. Em nível nacional e do Rio de Janeiro, dois fatos mobilizaram os eleitores, ao contrário das previsões de analistas. As manifestações “ele não”, combinadas com a facada covarde, terminaram vitimizando o candidato do PSL e construíram uma inflexão favorável na curva de voto. Basta fazer o gráfico das intenções de voto de antes e depois.

8. A forte inclinação da curva de voto nos últimos dias, na verdade, era um processo que vinha de antes e cuja velocidade dependeu da descoberta que o eleitor foi fazendo no final. A pré-decisão já estava tomada.

9. O resultado eleitoral no Rio de Janeiro, em 2018, não sinalizou nomes para prefeito da capital em 2020. As performances do presidente e do governador eleitos a partir de 2019 e o terceiro ano de Crivella é que formarão o grid de largada. As decisões difusas que impulsionaram o voto a partir da Lava-Jato não terão o mesmo peso.

10. A expectativa criada pela eleição presidencial, se não confirmada pela performance de governo depois do clássico período de carência -herança recebida e variantes- pode alterar o quadro eleitoral atual de forma mais acentuada do que se possa supor. E, se isso ocorrer, aí sim, impulsionará o Não Voto.

10 de outubro de 2018

OPERAÇÃO MÃOS LIMPAS, LAVA-JATO E AS ELEIÇÕES DE 2018 NO BRASIL!

1. As buscas de explicações e razões pela inversão eleitoral, como aconteceu no primeiro turno das eleições em 2018 no Brasil, são, em geral, simplificações que facilitam entender a equação causa e efeito.

2. Em geral, esses fenômenos simplificadores têm razões muito mais amplas. Essas razões constroem um quadro e um cenário que criam as condições para a impulsão e multiplicação quase sempre personalizadas pelos analistas, pela mídia e agora pelas redes sociais.

3. Uma análise mais cuidadosa e mais rigorosa precisa ir em direção as causas gerais, ou seja, como o cenário e o quadro eleitoral de 2018 foi construído. Os atores -conscientes ou não- são receptores desta situação e, a partir daí, capitalizadores e impulsionadores.

4. A Operação Mãos Limpas, na Itália (1992/1996), liderada pelo Procurador Di Pietro (ler “Operação Mãos Limpas” de Barraceto, Travaglio e Gomez – Ed. Saraiva, com introdução e conclusão do Juiz Sergio Moro), terminou por desconstruir o comando político do sistema parlamentar italiano, desintegrando os dois principais partidos – a Democracia Cristã e o Socialista. Surgiram, pelo menos na forma, novos partidos e novas lideranças políticas e parlamentares.

5. A Operação Lava-Jato, iniciada em 2014, com sua metodologia inspirada na Operação Mãos Limpas, teve o primeiro teste de suas consequências políticas e parlamentares no Brasil, agora em 2018. Da mesma forma, aqui, o comando político-parlamentar foi desconstruído na eleição geral de 2018.

6. Olhar apenas para os votos e a liderança do vencedor é tomar o efeito pela causa. Assim como na Operação Mãos Limpas, o impacto na opinião pública da Operação Lava-Jato e através dela a desconstrução do comando político-parlamentar abriu espaços para as mudanças ocorridas, seja pela expressão carismática de seu líder, como pelo surgimento de um partido que veio de quase nada para formar bancadas majoritárias em nível nacional e estaduais.

7. Mas há uma diferença na dinâmica e no desdobramento de uma e outra. Na Itália, o Parlamentarismo ao mesmo tempo realiza as inversões partidárias nominalmente e constrói novos governos formais, substituindo os líderes dos partidos desintegrados por novos líderes. Novos nomes, sem necessariamente alterar o conteúdo. Berlusconi é um exemplo. E alguns anos mais tarde, o Movimento 5 Estrelas – que galopa a antipolítica e galga a maioria simples na Câmara de Deputados.

8. A Operação Lava-Jato se desdobra no Brasil também 4 anos depois, mas num sistema Presidencialista vertical. Se a votação do primeiro turno se repetir no segundo, que impacto terá no governo e no parlamento brasileiro? Será mantido um presidencialismo de coalizão no conteúdo, com ajustes nos personagens de primeiro escalão? Ocorrerá impasses entre executivo e legislativo uns meses depois da posse, após o banho de legitimidade das urnas?

9. Será adotado por emenda constitucional um parlamentarismo à brasileira, o que ajudaria muito a estabilidade?

10. Há que acompanhar com olhos de ver e ouvidos de escutar. E proceder a avaliações sistemáticas e permanentes até que se possa desenhar as primeiras conclusões. E bastarão poucos meses para estas primeiras conclusões. Repetir de forma açodada a explicação pela fórmula latino-americana do populismo autoritário é, pelo menos neste início, precipitação. Aguardemos com um pouco de paciência.

09 de outubro de 2018

NOTAS PÓS-ELEITORAIS!

1. Lava Jato no Brasil produziu o mesmo strike parlamentar que Mãos Limpas na Itália.

2. Abstenção + Brancos + Nulos em 2018 foi similar aos anos anteriores. Não veio o aumento que se esperava.

3. Bancadas Federais. PT 56 , PSL 52, PP 37, PSD 34, MDB 34, PR 33, PSB 32, PRB 30, DEM 29, PSDB 29, PDT 28, etc.

4. Número de Partidos na Câmara Federal: são 25. Agora 30.

5. Senado fragmentado: 21 senadores. MDB 12, PSDB 8, DEM 7, PSD 6, PT 6, PSL 4, etc.

6. Composição ALERJ: PSL 13, DEM 6, MDB 5, PSOL 5, PDT 3, PT 3, PRB 3, PSD 3, SD 3, etc.

7. Rede, PTC, PMN, PRP, PV, Avante, PSTU, PCB, PRTB, DC, PCO, PPL, Patriota, PROS E PMB não atingiram a cláusula de barreira. Ficam sem fundo partidário e tempo de TV.

08 de outubro de 2018

‘A CLASSE MÉDIA FOI AFASTADA DA POLÍTICA. NOS AFASTARAM’.

(Estado de SP, 07) Antropólogo acredita que houve um processo de perda de contato com as instituições e os agentes públicos

O antropólogo Roberto DaMatta acredita que parte dos brasileiros foi afastada da política pela falta de contato com o universo político e é justamente essa desconexão uma das causadoras da polarização vivida pelo País. Para DaMatta, os dois líderes nas pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), não são os melhores candidatos para o momento atual. “É votar numa eleição para a frente com duas possibilidades de retorno ao passado”, disse.

Para ele, o novo presidente vai precisar redefinir posições tradicionais, como a influência do Estado na vida do cidadão, e a relação do governo com o mercado.

Autor de livros como O que faz o Brasil, Brasil e Carnaval, Malandros e Heróis, o antropólogo afirmou que uma nova Constituinte seria bem-vinda e a eleição não acaba após os brasileiros irem às urnas. “A responsabilidade é muito maior depois”. Ele acredita que o País passou a ser uma República sem dispensar os vícios da Monarquia. “Estamos acostumados a sempre ter alguém para responsabilizar pelos nos erros.” Após as eleições, DaMatta espera uma pacificação nacional.

Como chegamos ao atual cenário político e social, com um País praticamente dividido?

Houve um processo de perda de contato com as instituições e os políticos. A classe média foi afastada da política. Não é questão de não querer, mas os políticos nos afastaram. Somos uma sociedade que transitou para uma República sem compreender o que é uma República. Reproduzimos na administração pública o sistema monárquico, mas a democracia é um regime que tem contabilidade e as pessoas são cobradas pelo que fazem. No Brasil, temos o lado pessoal que canibaliza o que deveria funcionar na base do mérito, sem raiva, favores e preconceitos. Não podemos deixar de ter numa sociedade moderna a regra da lei. E isso exige uma visão de mundo mais sofisticada do que a visão vigente por aqui. A sociedade não se emancipou de sua mentalidade escravocrata, de ter sempre alguém que faça algo por você, de responsabilizar alguém pelos erros que cometeu. Em todas as situações e setores da vida.

Como isso se reflete na política atual?

A estrela do nosso cenário político é o Lula e ele está preso. A candidatura Haddad atrai porque é uma maneira de pessoas que são petistas ou simpáticas ao Lula usarem isso como uma espécie de revanche. Além disso, o Haddad introduz em um partido carismático elementos racionais e tecnológicos, um discurso tranquilo. Já o Bolsonaro representa um possível retorno ao regime militar. Ele não tem papas na língua, não tem muita sofisticação, e é justamente esse avesso que atrai, essa liberdade. É um candidato que diz hoje uma coisa e amanhã “desdiz” aquilo. Como, à essa altura do campeonato, um candidato a presidente faz isso? E tem ainda a facada, um tipo de atentado que nunca aconteceu antes no Brasil, agora em um momento com meios de difusão extraordinariamente poderosos.

O que esses candidatos significam?

No fundo, Fernando Haddad e Jair Bolsonaro são dois retornos. É votar numa eleição para a frente com duas possibilidades de retorno ao passado. Gostamos de celebridades, precisamos de heróis intocáveis, de pessoas que fazem sempre tudo dar certo. Mas só com boas intenções não se faz um governo. No Brasil, acho que temos uma certa alergia ao igualitarismo. Para perceber isso, basta ver como se reage em situações em que somos obrigados a sermos igualitários: “Você sabe com quem está falando?”, dizemos. Essa é a chave da campanha de Fernando Haddad: o Lula livre. É como se ele não pudesse ser preso, como o Getúlio Vargas, que também não podia.

04 de outubro de 2018

GABRIEL TARDE!

Artigo de Cesar Maia de 15/101/2010.

GABRIEL TARDE (1843-1904), sociólogo francês, pai da microssociologia (e da micropolítica), viu suas ideias serem atropeladas pelas escolas estruturalistas, como as de Marx, Durkheim, Weber etc., que prevaleceram no século 20. Sua obra capital foi “Les Lois de l’Imitation” (1890), texto fundamental para entender a lógica da internet 110 anos depois.

Em “Leis da Imitação”, Tarde analisa o processo de formação de opinião a partir das relações entre os indivíduos. Nos termos de hoje: os meios de comunicação, sistemas de publicidade, vocalizadores etc… distribuem informações, que são filtradas pelos indivíduos. Para assumi-las como opinião sua, o indivíduo as testa com alguém em cuja opinião confia.

Na medida em que haja coincidência, ele afirma a informação como opinião e a repassa. Esse processo ocorre em pontos infinitos, que vão formando fluxos de opinamento. Alguns são linhas tênues, que desfalecem. Outros fluxos se ampliam e vão avançando com diversas intensidades viróticas.

Para Tarde, há três tipos de indivíduos: os “loucos”, que iniciam fluxos de opinamento; os “tímidos” ou “sonâmbulos”, que são repassadores de fluxos, ou imitadores, na expressão de Tarde; os “tolos”, ou “descrentes”, que pouco repassam os fluxos recebidos.

Para Tarde, a imitação difunde-se em ondas concêntricas. Por esse processo se formam as instituições e a opinião pública. Se um grupo social afirma ideias, outros podem repassá-las por “imitação”. Olhando para os meios de comunicação de hoje, que são os mais importantes distribuidores de informação, estes obedecem à lógica da audiência, pois esta define suas rentabilidade e competitividade.

Estrito senso, os meios de comunicação não formam opinião, mas reforçam opinião formada. Mas, como estão inseridos socialmente, por sensibilidade, estudos ou pesquisas, dão conta de fluxos de opinamento em formação sustentada.

Quando propagam esses fluxos, aceleram enormemente a velocidade de transformação deles em opinião pública. Fluxos que constituiriam opinião pública em, por exemplo, dois anos, podem ser acelerados pela TV e formar opinião em duas horas, como ocorre algumas vezes.

A lógica da internet e de suas redes é essa, agregada à diversidade informacional de hoje. “Louco” é quem cria um fluxo e vê sua repetição às centenas e aos milhares nas redes, no YouTube…

“Tímidos” são os mais importantes para os iniciadores e estimuladores de fluxos (políticos entre estes).

São os “tímidos” que garantirão aos fluxos os múltiplos acessos e a aceleração na formação de opinião -e o voto. Um processo muito mais complexo e difícil que na TV dos anos 70/80.

03 de outubro de 2018

COLUNA DE O DIA ENTREVISTA CESAR MAIA! 29/09/2018!

A Coluna Informe do Dia, entrevista o vereador Cesar Maia, candidato do DEM ao Senado.

O DIAHá um ano, o senhor disse, em entrevista à Coluna, que não se candidataria ao Senado. Afirmou que, se fosse para ficar no Poder Legislativo, permaneceria vereador. O que o fez mudar de ideia?

Cesar Maia: Uma decisão que teve como base a necessidade de formar uma equipe com os quadros mais experientes para enfrentar a crise múltipla do Rio.

OD: Na mesma entrevista, o senhor avaliou a administração de Eduardo Paes (DEM) na Prefeitura do Rio. Disse que ele “quis surfar na onda dos grandes eventos, e a onda o derrubou.” Agora, vocês estão dividindo palanque. Não teme que possam surgir novas ondas durante eventual gestão no governo do estado? Considera Paes o melhor candidato?

CM: Isso só reforça a ideia de contarmos com os quadros mais experientes e testados.

OD: Mas quando o senhor disse que “a onda derrubou” Eduardo Paes, deu a entender que a administração dele na prefeitura não passou no teste…

CM: Essa foi uma experiência importante para todos os níveis de governo ao imaginarem que um grande evento era suficiente para o desenvolvimento sustentável.

OD: Entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que lideram as pesquisas, quem seria melhor presidente, na sua opinião. E com qual deles acredita que o seu filho Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara dos Deputados, teria melhor relação?

CM: Os resultados de hoje das pesquisas mostram que é um quadro em afunilamento e portanto um segundo turno em aberto.

OD: Mas entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad?

CM: Só vou me debruçar no segundo após o término do primeiro.

OD: Por que o senhor quer trocar a Câmara Municipal pelo Senado?

CM: A função precípua do senador é representar seu estado. Com a experiência de ex-secretário de Fazenda, deputado constituinte, deputado federal, prefeito do Rio por três vezes e vereador, seria natural propor meu nome ao Senado.

OD: Quais as pautas que o senhor pretende levantar em Brasília?

CM: Nos primeiros três meses, o estudo dos orçamentos aprovados da União e do Estado do Rio. Quero ajudar o acordo de continuidade das atuais ações de Segurança Pública sob a liderança do governador Eduardo Paes. Lutar por recursos para a recuperação da rede hospitalar, para a rede universitária, para obras estruturais como a ligação ferroviária do Porto do Açu à malha ferroviária do leste.