31 de janeiro de 2019

A GIGANTESCA ‘CATEDRAL’ SUBTERRÂNEA QUE PROTEGE TÓQUIO DE INUNDAÇÕES!

(Diego Arguedas Ortiz – BBC Future, 25/01/2019) Cecilia Tortajada se lembra de descer uma longa escadaria até se deparar com uma das maravilhas da engenharia do Japão, um enorme tanque de água que faz parte do sistema de defesa de Tóquio contra inundações.

Quando finalmente chegou ao fundo do reservatório, se viu entre dezenas de pilastras de 500 toneladas que sustentam o teto. Na cisterna que mais parece um templo, ela conta que se sentiu “insignificante”.

“Você se vê apenas como uma pequena parte diante desse sistema gigantesco”, recorda Tortajada, especialista em gerenciamento de água da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, em Cingapura.

Se o Japão é um destino de peregrinação para especialistas em desastres e gestão de risco, como ela, este é um de seus principais templos.

A chamada “catedral”, escondida a 22 metros de profundidade, faz parte do Canal Subterrâneo de Escoamento da Área Metropolitana, um sistema de 6,3 quilômetros de túneis e câmaras cilíndricas imponentes que protegem o norte de Tóquio de inundações.

Nas últimas décadas, a capital japonesa aperfeiçoou a arte de lidar com tempestades, tufões e enchentes em rios de águas turbulentas, o que fez com que seu intrincado sistema de defesa contra inundações se transformasse numa maravilha global. Mas o futuro parece incerto diante das mudanças climáticas e da alteração nos padrões de chuva.

A luta de Tóquio contra enchentes remonta à sua história. A cidade está localizada em uma planície cortada por cinco sistemas fluviais turbulentos e dezenas de rios individuais que aumentam naturalmente de volume a cada ano.

A urbanização intensa, a rápida industrialização e extração de água imprudente, que levaram algumas regiões a afundar, acentuaram a vulnerabilidade da cidade.

“Eu não sei quem decidiu construir Tóquio naquele lugar”, brinca Tortajada, que trabalha na área de gestão hídrica há mais de duas décadas.

Mesmo que o Japão tenha lidado com enchentes durante séculos, o sistema anti-inundação atual de Tóquio começou realmente a ganhar forma no pós-guerra.

O tufão Kathleen atingiu a capital japonesa em 1947, destruindo cerca de 31 mil casas e matando 1,1 mil pessoas; uma década depois, o tufão Kanogawa (também conhecido como Ida) devastou a cidade com 400mm de chuva em uma semana. Ruas, casas e empresas foram inundadas.

Em meio às consequências catastróficas, o governo japonês intensificou os investimentos nesta área.

“Mesmo nos anos 1950 e 1960, quando os japoneses estavam se recuperando da guerra, o governo estava investindo de 6% a 7% do orçamento nacional em desastres naturais e redução de riscos”, explica Miki Inaoka, especialista em desastres da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA, na sigla em inglês).

Os planejadores urbanos precisam estar atentos aos diferentes tipos de inundação em Tóquio. Se chover forte na nascente de um rio, talvez ele transborde e alague comunidades mais abaixo. Um temporal pode desafiar o sistema de drenagem da região. A maré alta ou um tsunami podem ameaçar o litoral. E se um terremoto destruir uma represa ou um dique?

Após décadas de planejamento para os cenários acima e obras ininterruptas, Tóquio possui hoje dezenas de barragens, reservatórios e diques. Se cortarmos a superfície da capital japonesa, como fazemos com um bolo de aniversário, você vai encontrar um labirinto subterrâneo de túneis junto a linhas de metrô e gasodutos que cruzam a cidade.

Avaliado em US$ 2 bilhões, o Canal Subterrâneo de Escoamento da Área Metropolitana, com sua “catedral”, é um dos feitos de engenharia mais impressionantes da capital. Concluído em 2006 após 13 anos de obras, é a maior instalação para controle de fluxo de água do mundo, resultado das ações contínuas para modernização de Tóquio.

“O Japão é um país que acredita no aprendizado”, diz Tortajada, que visitou o canal em 2017.

“Isso torna a cidade um caso muito interessante para estudo.”

O canal drena a água de rios de pequeno e médio porte no norte de Tóquio e bombeia para o Rio Edo, que aguenta o volume com mais facilidade.

Quando um desses rios transborda, a água vai para um dos cinco tanques cilíndricos de 70 metros de altura espalhados ao longo do canal.

Cada reservatório é grande o suficiente para abrigar um ônibus espacial ou até mesmo a Estátua da Liberdade. Eles estão interligados por meio de uma rede de 6,3 quilômetros de túneis subterrâneos.

À medida que a água se aproxima do Rio Edo, a “catedral” que Tortajada visitou reduz seu fluxo, para que o sistema possa bombeá-la para o rio.

Um exercício mental pode explicar a força do Canal Subterrâneo de Escoamento. Imagine uma piscina padrão de 25 metros, cheia até a borda, conectada às bombas de 13 mil cavalos de potência que liberam a água do canal. Se as bombas forem acionadas, seriam necessários apenas dois ou três segundos para esvaziar a piscina, já que elas são capazes de bombear 200 toneladas de água por segundo.

“É como um cenário de ficção científica”, diz Inaoka, da JICA, cujo trabalho envolve a colaboração de especialistas de países em desenvolvimento para compartilhar os conhecimentos do Japão.

Ela reconhece, no entanto, que as alterações nos padrões das chuvas vão desafiar a infraestrutura de Tóquio. A mudança climática torna muito difícil planejar com antecedência, diz ela.

Com base nos registros históricos de chuvas, as autoridades de planejamento urbano projetaram os sistemas de defesa de Tóquio para resistir a até 50 milímetros de chuva por hora, especialmente em áreas onde há concentração de moradores e propriedades. Mas o que era considerado normal há 50 anos, não é mais.

30 de janeiro de 2019

REUNIÃO DA REDE LATINO-AMERICANA DE JOVENS PELA DEMOCRACIA EM SANTIAGO E VALPARAÍSO NO CHILE!

(Bruno Kazuhiro, presidente J-DEM) 1. Rede Latino-Americana de Jovens pela Democracia no Chile.  Essa Rede surgiu há pouco tempo e atualmente tem patrocínio de algumas instituições, entre elas a Fundação Adenauer.

2. Convite de Jatzel, do PRSC dominicano e é Secretário Geral desta Rede.

3.  Foram dois dias, um saindo de Santiago para bate-volta em Valparaíso e outro em Santiago mesmo.

4.  No segundo dia tivemos em visita guiada pelo Palácio La Moneda, fomos saudados pelo presidente Piñera.

RELATÓRIO : Evento de abertura do ano da Rede Latino-Americana de Jovens pela Democracia
Chile, 23 a 25 de Janeiro

1º dia (23/1)

– Abertura com boas-vindas da diretoria da Rede no auditório da Fundação Libertad y Desarrollo.

– Palestra do Prof. Roberto Sánchez:

Em parceria com a Rede e a Universidade San Sebastián, a Fundação Libertad y Desarrollo criou a Academia de Líderes Jovens, focada em jovens venezuelanos que possam ser preparados para a futura transição democrática do país, que em algum momento virá

Jovens entre 18 e 35 anos receberam aulas de Democracia, Direitos Humanos, Economia, Instituições Internacionais, Sistemas Eleitorais, etc.

Alunos eram todos da oposição a Maduro, mas havia entre eles divergências doutrinárias claras. A oposição abrange diversas correntes.

Alguns alunos eram venezuelanos exilados em outros países da região. Esse tipo de curso oferece a eles não só o conteúdo mas um lugar de encontro social, de novas amizades, em momento onde estão deslocados da sua realidade.

– Apresentação de cueca, dança típica chilena

– Painel com jovens que hoje ocupam funções de governo em seus países (Frank Alley, Honduras e Yadive Ascimani, Bolívia)

— Frank Alley
assistente do Ministro da Secretaria Geral da Presidência de Honduras oriundo da juventude do Partido Nacional. É complicado sair do partido, da juventude e ir para o governo, pois na gestão se precisa aprender a ter posições sempre sensatas, modestas, falar o que sabe com dados e não o que se acha ou sente.

O governante é de todos, não só dos seus. Até dos que insultam. Temos que deixar de lado a militância.

Quando o governo assume passa dois anos só decidindo o que irá manter e o que irá encerrar do governo anterior. Quer implementar as medidas de sua agenda ao mesmo tempo. E a burocracia na América Latina é enorme e atrapalha mais ainda.

Ser jovem e atuar na gestão é difícil. O tempo todo temos que provar que somos capazes e vencer a desconfiança dos mais velhos, tanto no governo como no próprio partido.

Entrar na política hoje, para os honestos, é uma luta. Pagamento ruim, muitas horas de trabalho, descrédito social constante, família contra. Além de julgamentos públicos sem prova alguma, muitas vezes injustos.

A população não se sacia com um político na cadeia. Quer todos. Sobrará quem?

— Yadive Ascimani oriunda do movimento estudantil e atualmente Porta-Voz da plataforma cidadã “Bolívia Disse Não”, do Partido Democratas, que reforça que Evo Morales perdeu o referendo e não deveria poder ser candidato novamente. Atua no governo regional de Santa Cruz de la Sierra. Temos candidato a presidente, Oscar Ortiz.

Criamos em Santa Cruz o estatuto e o conselho da juventude que não existiam antes. Jovens são 40% dos eleitores na Bolívia. Foi graças aos jovens que o Não ganhou no referendo.

Os líderes jovens enfrentam desconfiança e falta de incentivo dentro do partido e na sociedade.

Será necessária maturidade dos líderes na Bolívia. Eles precisam abrir espaço aos jovens e precisam entender que nem todos poderão ser cabeças de chapa. A população não quer ver os mesmos de sempre.

– Jantar com presença do deputado Miguel Angel Calisto (DC, Chile) e de jovens que estão exilados por perseguição na Venezuela e na Nicarágua.

— Dep Calisto

O autoritarismo pode estar na esquerda ou na direita. Está principalmente no populismo. Autoritarismo e populismo atacam a essência do ser humano.

A democracia cristã não é materialista e nem liberal. Somos comunitaristas, somos o centro humanista.

Fui preso em Cuba por viajar ao país e tentar me reunir com líderes da oposição. Vivi na pele o que ocorre. “Me tiraram do quarto de hotel e me interrogaram. Passei por coisas que prefiro não falar. No avião voltando pro Chile chorei de raiva, de medo e de indignação. Nasci praticamente na democracia chilena, sou jovem, não vivi isso em meu país, não sabia como era o que os nossos vizinhos vivem”.

— Victor Cuadras, Nicarágua

Há 9 meses atrás era um simples trabalhador na indústria química. Por questões políticas, pela oposição dos cidadãos contra medidas do governo Ortega, me envolvi em passeatas e junto com amigos criei grupo de universitários. Fiquei preso 4 meses.

Para muitos a Nicarágua não importa. Somos apenas 7 milhões de habitantes entre os países mais pobres da região.

Fomos apáticos com relação a Cuba e Venezuela. Achamos que não chegaria aqui. Chegou. A democracia precisa ser protegida diariamente.

— Lorent Saleh, Venezuela

“É miserável existir sem liberdade. É mais que uma condição jurídica. É uma condição espiritual. A luta por ela é a coisa mais importante que alguém pode fazer. Traz sacrifícios. É difícil. Mas nada que vale a pena é fácil. Enquanto durmo cômodo hoje ainda há irmãos que dormem em celas em Cuba, na Venezuela, na Síria, na Criméia, na Arábia”

Lutei contra a ditadura de Chávez e Maduro e liderei manifestações. Denunciei nas redes sociais e na imprensa. Fui preso algumas vezes, mas consegui ser libertado. Me exilei na Colômbia mas o governo colombiano me devolveu. A partir do dia de minha entrega ao governo venezuelano fiquei 4 anos preso.

A ajuda de países irmãos é fundamental pois sem solidariedade não há liberdade.

A Venezuela tinha uma democracia antes de Chávez. Não podemos achar que está garantido.

2º dia (24/1)

– Viagem a Valparaíso

– Visita ao Parlamento chileno com boas-vindas da deputada Catalina Del Real (RN), da comissão de relações exteriores

– Visita ao plenário

– Debate na biblioteca do parlamento.

Jatzel Román, secretário geral da Rede, fala sobre o trabalho da instituição, que reúne jovens da América Latina que vão do centro à centro direita, lutam contra o bolivarianismo e defendem a democracia. A Rede tem patrocínio da Fundação Adenauer e de órgãos americanos, realizando eventos, observações eleitorais e participações em encontros da OEA.

Victor Cuadras, Nicarágua, conta sobre mortes de jovens em seu país e aprofundamento do autoritarismo.

Lorent Saleh apresenta vídeo contando sua história e mostrando a luta de sua mãe por sua libertação.

– Almoço em Valparaíso

– Debate sobre cenário político da América Latina no auditório do museu Baburizza

Bruno Kazuhiro, do Brasil, fala sobre cenário de seu país, com antipolítica forte nas eleições, protagonismo da operação lava jato, moderação do discurso de Bolsonaro após a vitória e expectativa positiva com relação a Guedes e Moro

Julieta Altieri, Argentina, ressalta que o país terá eleições gerais em 2019. Macri retirou a maquiagem da economia mas a recessão foi a consequência. Sergio Massa busca o apoio de parte do Partido Justicialista e Cristina Kirchner poderia sair candidata por uma sublegenda mais personalista, Unidad Ciudadana.

Yadive Ascimani, Bolívia, afirma que a oposição está fragmentada e isso ajuda Evo Morales. Há suspeita de que Carlos Mesa pode estar mantendo sua candidatura a pedido de Evo, para dividir a oposição, tendo um acordo nos bastidores com o presidente.

– Retorno a Santiago

– Visita à sede da Fundação para o Progresso (FPP) com palestra do Diretor de Conteúdo, Jorge Gómez

— Jorge Gómez, Diretor de Conteúdo da FPP Chile

A FPP surge em 2012 quando jovens vão às ruas para exigir novo modelo de educação e mais participação política. Defendemos a liberdade e promovemos a conscientização política. Formamos jovens sobre instituições, democracia, debate público, opinião pública. Temos cursos de formação ao redor do país e 4 escritórios.

Existe uma pobreza intelectual na direita, sejamos francos. A agenda foi tomada pela esquerda, estabelecendo paradigmas na sociedade. A direita precisa propor e mostrar que não é uma só. Há liberais, conservadores, nacionalistas, sociais cristãos, etc.

A sociedade chilena avançou muito a partir dos anos 70 com grandes momentos de estabilidade política e com a liberdade econômica, embora um período tenha sido com autoritarismo.

O jovem hoje quer sua identidade e seus direitos individuais. Quer bens e serviços. São valores de direita. Temos que mostrar isso. Ao mesmo tempo as pessoas hoje não querer as incertezas do futuro que só aumentam e a esquerda culpa o capitalismo. O debate precisa ser traduzido à sociedade e com nossas ideias sendo colocadas.

A defesa que a esquerda faz de Maduro, por exemplo, permite mostrar à sociedade quem defende o quê. A sociedade é contra Maduro por uma questão simples: A miséria.

A condição mental natural do chileno é pensar no seu país apenas. Estamos longe dos vizinhos, isolados por cordilheira, mar, deserto e geleira.

Os países que estão bem não podem cair na opulência. Precisamos da ética do trabalho. Com a arrogância caiu Roma. Com a ostentação a elite venezuelana gerou Chávez. O populismo e assistencialismo destroem a ética do trabalho. Os privilégios do neto que herda a empresa do avô sem esforço e dos rentistas revoltam. E o clientelismo gera sensação de direito adquirido. Como uma sociedade com esses vícios prospera?

Só há autonomia real com autonomia financeira. Hoje filhos precisam ser expulsos das casas dos pais aos 40 anos. Preferem o conforto do que a independência.

Quem está errado? O populista que oferece ou o cidadão que aceita?

Quando duas vontades se enfrentam sem regras, vence o mais forte. Ao mais fraco resta o risco da morte ou submeter-se, como diria Hegel. Quando um governo alimenta, ele mata de fome os seus adversários políticos. Esse tipo de sistema precisa da ética do cidadão para ser rompido, da vontade de ser dono de si mesmo. Por outro lado, é verdade que fazer o certo quando todos erram é muito custoso. Transmitir os valores que acreditamos serem os melhores para a sociedade é a missão da FPP.

Os líderes da América Latina das décadas anteriores estabeleceram a paz social da forma que puderam, com os vícios que conhecemos. Era o que se podia fazer. Eles sucederam os regimes autoritários. Agora precisamos de novos líderes, com novos valores, para avançar. Onde estão estes líderes novos?

3º dia (25/1)

– Visita guiada no Palácio La Moneda

– Encontro rápido com presidente Sebastián Piñera e ministros, no pátio do Palácio

– Almoço

– Debate sobre cenário político da América Latina no auditório do hotel

Anibal Samaoya, Guatemala, diz que o país vive hoje casos de corrupção constantes. Presidente Morales traiu a confiança do povo que o elegeu justamente para combater isso e o via como honesto. Há atualmente 36 partidos registrados. 12 pré-candidatos a presidente. Falta institucionalidade no país.

Ricardo MK, México, afirma que Obrador saiu das urnas muito forte, legitimado. Seu foco é na política interna, não gosta de política externa. Não acredita que o México possa caminhar para se tornar Venezuela, mas será governo simpático ao bolivarianismo. PAN tem problemas internos. Calderón e sua esposa estão criando movimento novo chamado Libre.

Neftali Zamora, Panamá, fala que seu país não tem Banco Central ou Forças Armadas, o que limita o possível uso autoritário da moeda e da força, embora já tenha havido regime autoritário no país. O Poder Judiciário é extremamente submisso à elite.

Lucia Macchi, Uruguai, o país não tem tantos problemas como os vizinhos. Está em 15º do mundo em nível democrático. Mas a polêmica do momento no país é a “Ley de Medios”. Esquerda tenta aprovar lei de imprensa com certos contornos de censura. Uma vergonha o Uruguai não ter se posicionado contra Maduro.

– Almoço com presença de Mariana Aylwin, ex-deputada, ex-ministra da educação do Chile e filha do ex-presidente Patricio Aylwin.

— Mariana Aylwin

Somos todos irmãos na América Latina. E sofremos com o mesmo problema: a desigualdade.

Nossa história é de fragilidade institucional e econômica. Nosso maior desafio é fortalecer nossa institucionalidade.

Nosso problema não é esquerda ou direita. É democracia x populismo. É diálogo x trincheira.

Como ministra estive em evento em Santa Cruz de la Sierra. O hotel estava cheio de venezuelanos. Perguntei o que faziam lá e me disseram que iam assistir a posse de Evo Morales. Eles se ajudam. E nós?

Me dói hoje ver jovens mais totalitários do que seus pais. Precisamos conscientizar dos valores democráticos.

Na Venezuela hoje apenas a Assembleia é democrática. As outras instituições são fantoches do ditador. Ao final do século XX a Venezuela tinha trajetória democrática e bons índices econômicos. Hoje tem uma catástrofe. Já o Chile, que era sempre intermediário nos rankings, trocou as trincheiras pelo diálogo e tem hoje os melhores indicadores, graças a políticas públicas e democracia.

O mundo teve onda de otimismo após queda do muro de Berlim. Havia espírito de união e progresso. Agora há uma onda inversa, de pessimismo, de isolamento, de radicalização.

Não creio que o Exército venezuelano seguirá de costas para seu povo. Em algum momento irão deixar o apoio total a Maduro.

– Presença de ex-magistrados venezuelanos exilados em Santiago

“A Assembleia Constituinte atual de Maduro, que rivaliza com a Assembleia, é totalmente ilegal. A constituição atual prevê plebiscito para que ela possa ser instalada. Ele tinha direito de convocar o plebiscito mas não de instalar a constituinte sem ele. Além disso, o oficialismo escolheu os membros, eles não foram eleitos”

– Encerramento com mesas de trabalho que dividiram os participantes para debate dos seguintes temas: Combate à corrupção, Pressão pela liberdade de presos políticos, Observação Eleitoral, Comunicação e Novas Ideias para a própria Rede.

29 de janeiro de 2019

COMUNICADO DA INTERNACIONAL DEMOCRATA DE CENTRO (IDC-CDI) SOBRE OS FATOS QUE OCORREM ATUALMENTE NA VENEZUELA.

A Internacional Democrata de Centro, em vista dos acontecimentos que estão ocorrendo na Venezuela, e em cumprimento de seu dever estatutário de defender a liberdade, a democracia e os direitos humanos no mundo, expressa seu apoio irrestrito ao deputado JUAN GUAIDÓ que, como determinado pela Constituição em vigor no seu país, a Venezuela, e ante a vacância na Presidência da República produzida por um governo espúrio e ilegítimo, tomou posse como presidente interino da República da Venezuela.

O IDC-CDI apoia e parabeniza os governos democráticos que reconheceram o deputado GUAIDÓ como o presidente legítimo da Venezuela e convida os países que ainda não o fizeram, bem como a União Europeia, a expressar seu apoio à formação de um governo que exige eleições livres e conduza essa grande nação no caminho da democracia.

Bruxelas, 24 de janeiro de 2019

APOIO IRRESTRITO DA IDC-CDI A JUAN GUAIDÓ COMO LEGÍTIMO PRESIDENTE DA VENEZUELA

Bruxelas, 24 de janeiro de 2019. Diante dos últimos acontecimentos na Venezuela, a Internacional Democrata de Centro (IDC-CDI) expressa seu apoio irrestrito a Juan Guaidó como Presidente da República da Venezuela e apela a todos os governos democráticos, bem como a União Europeia, para apoiar a formação de um governo de transição que convoque eleições livres.

O presidente do IDC-CDI e ex-presidente da Colômbia, Andrés Pastrana, declarou que “A IDC-CDI apoia unanimemente Juan Guaidó como Presidente da República da Venezuela. Agora, mais do que nunca, temos que estar com o povo da Venezuela em sua luta para restaurar a democracia e a liberdade. O regime de Maduro só trouxe fome, violência, perseguição e miséria”.

Por sua vez, o Secretário Geral do IDC-CDI, Antonio López-Istúriz, insistiu que o apoio de governos, instituições e organizações internacionais a Juan Guaidó como Presidente da Venezuela é essencial para acabar com anos de tirania e ditadura no país. Os venezuelanos merecem viver em paz, com liberdade e prosperidade. Trabalhamos para que a União Europeia oficialize seu respaldo e reconhecimento a Juan Guaidó. O povo da Venezuela tem o nosso apoio incondicional”.

28 de janeiro de 2019

“O ESPECTRO DE TROTSKY!”

(Cristovão Tezza, crítico literário – Ilustríssima – Folha de S.Paulo, 27) 1. Assisti ao seriado russo “Trótski” (Netflix), sobre o líder que teve uma participação crucial na Revolução de 1917. Em oito capítulos, a série sintetiza a vida de Leon Trótski (1879-1940), numa moldura narrativa que dá a Ramón Mercader (o assassino que, a mando de Stálin, aproximou-se dele no exílio no México para matá-lo) o peso ficcional de uma “voz da consciência”. Estimulado pela discussão imaginária entre eles, e já reduzido a uma sombra do que foi, Trótski revê seus fantasmas e nêmesis existenciais em flashbacks.

2. Filho de um judeu iletrado que enriqueceu como fazendeiro, ele surgiu no panorama russo como um livre atirador da abundante e explosiva esquerda revolucionária que proliferou na virada do século 20. Retórico irresistível, e maior orador da Rússia no seu tempo, quando escrever panfletos e convocar diretamente as massas tinha o poder eletrizante que lembra nossas redes de internet, Trótski só se tornou bolchevista de fato na reta de chegada do movimento liderado por Lênin.

3. Em seguida, comandante do Exército Vermelho, tornou-se o chefe militar implacável que conseguiu derrotar os “brancos” na brutal guerra civil que se seguiu. Quando Lênin morreu, em 1924, Trótski assomava como a mais popular liderança dos soviéticos, mas Stálin já controlava os cordões do poder. Em poucos anos, Trótski entra em desgraça e é exilado; no seu martírio político, passa pela Turquia, França, Noruega e finalmente México, quando é assassinado por Mercader.

4. Adaptações da vida real são recriações de risco; o realismo implícito da imagem cinematográfica é quase sempre empático, rápido e seletivo demais para permitir uma margem de reflexão enquanto nos envolvemos, mas isso está no DNA da linguagem do cinema. Eu gostei do seriado; tirante algumas figuras que me pareceram demasiado esquemáticas, e principalmente o onirismo fulgurante da conversa com Mercader (na realidade, uma figura anódina e intelectualmente medíocre), os fatos estão ali, mas em estado bruto e sintético, por assim dizer.

5. Para separar o joio dos fatos do trigo da ficção, mergulhei num calhamaço maravilhoso: “Trótski – uma biografia”, de Robert Service (Editora Record; tradução de Vera Ribeiro), um fino historiador britânico, também autor de uma biografia de Lênin e uma história do comunismo.

6. A complexa figura que emerge da obra coincide em boa medida com o retrato quase sempre frio (ou “mefistofélico”, como às vezes se dizia dele) que transparece no seriado. É surpreendente que o intelectual sofisticado e estilista de gênio (no seu tempo, diz Service, “apenas Churchill se equiparava a ele”) tenha sido também o militar que não hesitava em ordenar fuzilamentos sumários.

7. Dono de uma coragem pessoal que beirava a loucura, ao mesmo tempo tinha uma incrível vaidade aristocrática; era um posudo de pince-nez, sempre bem vestido em meio ao povo, que gostava de manter distância do mínimo traço de afeto. Perdia o amigo mas não o sarcasmo; polemista obsessivo, movia-se com um sentimento invencível de superioridade em meio aos grupos sectários de teóricos, brancaleones, líderes sérios e delinquentes políticos.

8. Por uma sequência caótica de acasos (a estupidez carola de Nicolau 2º, o massacre da Primeira Guerra, a incompetência de Kerenski, a eclosão de revoltas populares, o espírito do tempo e mais as pulsões da inefável alma russa afogada em seus demônios), súbito venceram-se as indecisões, deu-se um golpe no frágil Parlamento e tomou-se o poder, contrariando todas as teses clássicas do milenarismo marxista.

9. Naquele instante, o poder na mão era apenas um fio roto — e o improvável Trótski, que fazia inimigos por onde passava, teve um papel fundamental para torná-lo definitivo e consolidar a URSS.

10. O curioso é que o comando supremo da Revolução passou encilhado diante dele, duas ou três vezes, e ele recusou-o, já satisfeito com a grandeza ingênua de seu verbo infalível. Vendo daqui, é fácil dizer que Trótski morreu em 1940 sem entender nada; em meio à barbárie nazista de Hitler e o Terror de Stálin, ainda sonhava com uma revolução totalitária, permanente e sem fronteiras.

11. Morria o último herói político do século 19, tornando-se ídolo de uma pletora rebelde, difusa e fragmentada de esquerda. O “espectro” que rondava a Europa, que abre o célebre manifesto de Marx e Engels, talvez não fosse exatamente o comunismo, mas o Romantismo, esta hipnótica caixa de Pandora que formatou o mundo moderno. O que é outra longa história.

25 de janeiro de 2019

QUEM É JUAN GUAIDÓ, QUE SE AUTODECLAROU PRESIDENTE INTERINO DA VENEZUELA

(G1, 24) A oposição na Venezuela retoma seus protestos em 2019 impulsionada por uma nova figura. Jovem, determinada e conciliadora, com as reivindicações já conhecidas: transição democrática e eleições livres.

Em menos de um mês, Juan Guaidó passou de um rosto pouco conhecido do público à maior ameaça para o regime de Nicolás Maduro. Foi empossado presidente da Assembleia Nacional e, nesta quarta, ganhou o respaldo internacional de países como os EUA e o Brasil, depois de se autodeclarar o presidente interino do país.

Guaidó vem de uma família de pouco dinheiro. “Sei o que é passar fome”, afirma. Hoje, aos 35 anos, é formado em engenharia e tem mestrado em administração pública. É casado e tem uma filha de pouco mais de um ano.

Em 1999, quando tinha 15 anos e Hugo Chávez cimentava a sua revolução depois de somente 10 meses na presidência, Guaidó sobreviveu a uma das piores tragédias naturais da Venezuela. Inundações e enormes deslizamentos de terra no estado costeiro de Vargas mataram milhares de pessoas. Na época, Guaidó vivia com sua mãe e seus cinco irmãos mais novos.

Em 2009, Guaidó foi membro fundador do partido Vontade Popular (VP), do líder opositor Leopoldo López.

O jovem foi eleito deputado suplente em 2010 e legislador titular em 2015 pelo estado de Vargas, depois de participar de uma greve de fome para exigir que se fixasse a data das eleições parlamentares.

Assentou seu caminho com denúncias de corrupção na estatal petroleira Pdvsa, enquanto a produção de petróleo colapsava e a crise no país se agravava, com a hiperinflação e escassez de alimentos básicos e remédios.

Não era um homem de grandes discursos, mas resolveu assumir a liderança de uma oposição dividida, com seus principais dirigentes presos, exilados ou inabilitados.

“Guaidó é uma cara nova, considerado um homem de consenso pelos moderados e respeitado também pelos radicais”, disse à agência France Presse (AFP) o analista Diego Moya-Ocampos.

É um “jogo complicado”, disse Mejía. A Venezuela, acrescenta, “é um país acostumado com o personalismo e o caudilhismo, e estão colocando uma carga pesada sobre Juan. A mudança não depende só dele, depende de todos”.

Depois do triunfo eleitoral da oposição nas eleições parlamentares de 2015, que lhe permitiu ter a maioria da Assembleia Nacional, os principais partidos opositores decidiram se revezar na presidência da Casa a cada ano.
2019 era a vez do VP, mas seus principais líderes não podiam assumir o cargo: López está em prisão domiciliar pelos protestos contra Maduro em 2014; Carlos Vecchio, o número 2 do partido, está exilado nos EUA; e Freddy Guevara se refugiou na embaixada do Chile em Caracas, acusado pelas violentas manifestações de 2017.

Em 5 de janeiro, Guaidó foi empossado presidente da Assembleia Nacional, se comprometendo a liderar um governo de transição que convoque eleições. Em diversas declarações, convida os militares a romper com Maduro, a quem chama de “ditador” e cuja reeleição diz ser uma fraude.

Maduro, por sua vez, define Guaidó como “um menino brincando com a política” no Legislativo.

Apenas uma semana depois, foi detido durante uma hora por agentes do serviço de inteligência bolivariano, o que foi condenado pelo próprio governo chavista. A ação teria acontecido por uma interpretação de que Guaidó teria se autoproclamado presidente da Venezuela em um discurso confuso.

Sob sua direção, o Congresso declarou Maduro um ‘usurpador’ da presidência da Venezuela e aprovou uma “anistia” a militares que não reconheçam o chavista.

A oposição política venezuelana e diversos países – entre eles, os EUA, o Canadá e os membros do Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte – não reconheceram a legitimidade do novo mandato que Maduro assumiu no dia 10 de janeiro. Ele foi reeleito com quase 70% dos votos, uma eleição fortemente boicotada pela oposição e acusada de irregularidades.

Guaidó admite, entretanto, que desafiar um governo que controla a Força Armada lhe trará problemas. “Isso vai ter consequências”, admitiu. Contudo, todas as decisões do Legislativo são consideradas nulas pela Justiça, de linha governista.

24 de janeiro de 2019

ARQUITETURA: OS ESPAÇOS CONSTRUÍDOS INFLUENCIAM A VIDA SOCIAL!

(Sergio Magalhães – Globo, 19) 1. Os espaços construídos influenciam a vida social ou são irrelevantes? A noção de Cidade Maravilhosa tem relação com as obras de Pereira Passos? Terá o ambiente de Copacabana algo a ver com a bossa nova? As civilizações têm seus marcos intangíveis, como os acordos sociais, que as qualificam, e suas expressões materiais, como a arquitetura, que conformam a identidade coletiva. Assim, a França, por exemplo, por valorar o papel da arquitetura na construção de sua identidade cultural, rejeitou o regime comum de obras públicas proposto pela União Europeia.

2. A arquitetura é o abrigo e o espaço coletivo, a casa e a cidade, a produção autoral e a anônima, a complexa obra de arte e a simples construção. É expressão da cultura e agente em seu processo evolutivo. Nessa compreensão, pelo rico patrimônio produzido em séculos bem como pelos enormes desafios da cidade contemporânea, é que o Rio será sede do 27º Congresso Mundial de Arquitetos, em 2020. E “Capital Mundial da Arquitetura”, designada pela Unesco. A primeira cidade no mundo a receber este título.

3. Congresso Mundial e Capital Mundial são eventos entrelaçados com potência para valorizar, ainda mais, nosso patrimônio arquitetônico, urbano e paisagístico. Em especial, para promover uma reflexão ampla sobre o espaço que temos e como desejamos acolher a vida social em nosso futuro. O Congresso Mundial é promovido sob chancela da União Internacional de Arquitetos (UIA) e organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil em sintonia com todas as instituições nacionais da arquitetura, do urbanismo e da pesquisa nesse campo. A programação da Capital Mundial, sob chancela da Unesco e da UIA, cabe à prefeitura da cidade do Rio de Janeiro em cogestão com o IAB.

4. Sendo eventos mundiais, seu horizonte ultrapassa o país. Serão lugares de interesse para os muitos milhares de arquitetos e urbanistas, acadêmicos, estudiosos, produtores de cultura que virão ao Brasil em 2020. Serão também importantes para colocarem as questões urbanas com visibilidade para a sociedade e os governos, e, igualmente, para ajudarem a produzir uma agenda positiva para as nossas cidades.

5. Quais as boas experiências mundiais quanto à construção, à mobilidade, à tecnologia, ao planejamento e à gestão de cidades e metrópoles? Como urbanizar e integrar as áreas populares? Como reduzir a desigualdade intraurbana? Como superar a segregação urbana? Quais os compromissos da cidade com o ambiente e o clima? Como as diversas expressões da cultura constroem o espaço social?

6. A arquitetura e a boa cidade são essenciais para o bem-estar e para o desenvolvimento nacional; não são só decorrentes, são também produtoras de progresso. A economia nacional se desenvolve não apenas com grandes negócios, mas também com micros e médios empreendimentos que prosperam quando as condições urbanas são favoráveis, e minguam quando são degradadas. Vale recordar.

7. As obras do Rio, ao tempo de Pereira Passos, reformaram o Centro e fizeram a praia acessível e pública; é quando se cunha a expressão Cidade Maravilhosa. Décadas depois, Copacabana emerge cosmopolita, à beira-mar, densa; são os Anos Dourados da bossa nova. Que o Rio possa compartilhar sua rica experiência com todos os brasileiros e estrangeiros que aqui vierem para celebrar a vida, expressa na arte de construir.

8. Que o Brasil saiba corresponder à confiança que as instituições internacionais da cultura lhe conferem e possa realizar o mais participativo Congresso Mundial; que tenha o ano de 2020 como a Capital Mundial que sabe reconhecer suas vitórias, seus desafios e consiga propor horizontes mais belos, mais iluminados, mais inclusivos, mais solidários para as cidades.

9. Justamente por seu caráter eminentemente social, a arquitetura não é afeta somente aos arquitetos. Arte e técnica são necessariamente de todos. Arquitetura é pedra sobre pedra, mas sobretudo alma, amor, aconchego, memória e esperança.

23 de janeiro de 2019

“URBANIZAÇÃO DÁ FÔLEGO PARA A CHINA CRESCER POR 30 ANOS”!

(Folha de S.Paulo, 20) 1. O início de 2019 promete ser turbulento para a economia chinesa. Mas a grande esperança é que 2016 não se repita. Nesse ano, a preocupação com o colapso da segunda maior economia do mundo levou as Bolsas mundiais a desabar, o petróleo a cair a menos de US$ 30 e à desvalorização cambial na maioria dos países emergentes.

2. Um fato é inegável: a economia chinesa está desacelerando, embora ainda cresça muito acima da média mundial.  O alvo do governo é para que cresça 6% em 2019, abaixo dos 6,5% esperados para 2018. O PIB (Produto Interno Bruto) do ano passado será divulgado nesta segunda (21). Analistas temem que o crescimento seja na casa dos 5%
—taxa que pode parecer muito alta para nós, já que a economia brasileira tem crescido a menos de 3% ao ano desde o início do Plano Real, mas é a menor desde 1990.

3. A economia chinesa é dezenas de vezes maior do que na última vez em que o crescimento foi abaixo de 6%, mas 560 milhões do 1,4 bilhão de chineses vivem no campo, e o crescimento é básico para que a renda dos mais pobres cresça. No momento em que um chinês migra da área rural para a cidade, sua produtividade triplica. Isso, por si só, garante um crescimento econômico de 2% a 3% ao ano. Cerca de 250 milhões de pessoas —mais que a população do Brasil— devem deixar o campo nos próximos 15 a 20 anos.

4. A economia chinesa já cresceu muito, mas ainda tem muito espaço para avançar. Hoje, o PIB por pessoa empregada na China é de menos de US$ 30 mil, enquanto nos EUA é de US$ 115 mil. Isso significa que um trabalhador chinês é, grosso modo, 25% tão produtivo quanto um americano. Com todos os avanços tecnológicos na China, podemos imaginar que um trabalhador chinês possa ter 60% da produtividade americana antes de o país bater nos limites de produtividade.

5. Se fizermos hipóteses conservadoras, com a economia chinesa crescendo a 5,5% ao ano e a americana a 2,5%, a produtividade chinesa chegará à barreira de 60% em 2048.  Ou seja, a economia chinesa pode crescer 30 anos sem crises —e não será estranho. Mas o fato de a economia ainda estar longe de bater no limite de produtividade não quer dizer que não haja riscos. Em dezembro de 2018, pela primeira vez desde o susto de 2016, indicadores de confiança de investimentos da indústria foram abaixo de 50 —o que indica possível contração.

6. O único índice que se mantém acima desse nível é o de produção esperada e atividade de negócios. Ou seja, as empresas esperam aumentar a produção, mas pode ser que não aumentem o investimento —um sinal de cautela.  Embora a indústria possa desacelerar, o país passa por uma grande transformação, deixando de ser somente a grande fábrica do mundo para se tornar cada vez mais uma economia de serviços.

7. Em 2016, pela primeira vez desde o início do processo de industrialização, o setor de serviços passou a responder por mais da metade do PIB do país (além de 40% do emprego e 80% dos lucros corporativos). Com o aumento da urbanização, algo visto com bons olhos por políticos chineses, a tendência deve continuar.  A título de comparação, serviços respondem por 63% do PIB no Brasil, 66% na União Europeia e 77% nos EUA.

8. As vendas ao consumidor crescem por volta de 8% ao ano, acima do crescimento do PIB (embora a venda de carros caia). Ademais, a queda dos indicadores de confiança da indústria é, em parte, contrabalançada pelo setor de serviços, que continua a mostrar robusta expansão. Os imóveis, não obstante a incerteza da economia, dão sinais de recuperação, com preços nas cidades de porte médio crescendo acima dos das maiores cidades, onde os valores já são bem altos. O preço por metro quadrado em Xangai é comparável ao de Nova York.  No ano passado, os imóveis ficaram mais caros em 63 das 70 maiores cidades e em 11 das 15 principais capitais.

9. No campo das finanças públicas, o déficit público chinês está sob controle e foi de cerca de 2,5% do PIB em 2018. Como há um medo de desaceleração, o governo deve aumentar seus gastos, com o déficit primário subindo para algo entre 2,6% e 3% em 2019. Mas a dívida pública é de menos de 50% do PIB e o país tem US$ 3 trilhões em reservas internacionais.

10. O país conta com controles de capitais para conter a volatilidade cambial. No passado, o país tinha câmbio fixo, mas hoje o regime é de bandas cambiais, com a entrada líquida de moeda estrangeira afetando a taxa de câmbio. As autoridades monetárias, em 2015, tiveram que ceder a um ataque especulativo. Chegaram a vender quase US$ 1 trilhão em reservas antes de ceder, desvalorizando o câmbio. Hoje, mesmo com a guerra comercial, ainda mantém elevados saldos comerciais, embora no primeiro trimestre de 2018 o saldo tenha ficado negativo pela primeira vez desde 2013 —efeito, em parte, do Ano-Novo Chinês, quando as fábricas fecham e dão férias.

11. O fato é que, nos últimos 40 anos, desde o início das reformas, a China saltou de um país pobre, com 88% da população em extrema pobreza, para classe média alta. Há obstáculos, como o endividamento das empresas estatais, a guerra comercial com os EUA, a queda nas expectativas da indústria e outros. Mas nunca na história da humanidade uma sociedade conseguiu tanto em tão pouco tempo, tirando da pobreza mais de 1 bilhão de pessoas (e contando).

12. O lema de Deng Xiaoping, pai das reformas de mercado e que morreu em 1997, ainda é o grande motor da economia: “Enriquecer é glorioso”. Ainda temos na cabeça a ideia do trabalhador chinês ganhando muito pouco, quase como um escravo que trabalharia até a exaustão por salários minúsculos. Essa visão está errada, por dois motivos. Em primeiro lugar, o país atingiu o pico do número de trabalhadores. A população chinesa não deve passar muito de 1,4 bilhão de pessoas. Em 20 anos, deve ser menor do que hoje.

13. O importante: a população, já com idade mediana de 37 anos (ou seja, 700 milhões de pessoas têm mais idade que isso), vai envelhecer sobremaneira. A idade mediana deve ir para 47, com redução de 90 milhões de trabalhadores nas próximas duas décadas, segundo o Banco Mundial. Em segundo lugar, o salário mínimo tem aumentado bem acima da inflação —que é bem baixa, de cerca de 2% ao ano.  Na China não há salário mínimo nacional, e em 2018 mais da metade das 31 províncias aumentou o salário.

14. A variação regional é grande. Em Pequim, o salário mínimo é de 2.120 yuans (cerca de R$ 1.100), enquanto em Anhui, uma província pobre, ele é de 1.150 yuans (R$ 632).  Em Xangai, vi de perto o processo de melhoria de vida ao longo dos dez anos que vou ao país. Em 2009, um corte de cabelos custava 15 yuans (R$ 8). Hoje, não sai por menos de 42 yuans (R$ 23).  Grande parte do aumento foi direto para a conta dos trabalhadores —assim como no Brasil, é comum que patrões chineses reclamem dos aumentos constantes de salário.

15. Claro que ganhar salário mínimo, como em qualquer lugar, não faz de ninguém na China classe média, e quem ganha pouco corta um dobrado, mas também não dá para dizer que as pessoas são semiescravas. Em outra frente, o país tem avançado tecnologicamente. O processo de industrialização é como uma escada, na qual cada degrau significa produzir menos produtos pouco sofisticados e mais bens tecnologicamente superiores.

16. A China já investe quase 50% do montante investido nos EUA em pesquisa e desenvolvimento. O plano do governo é de aumentar esse investimento dos atuais 2,2% do PIB para mais de 2,5% já em 2020. O país já é colíder mundial em inteligência artificial e no chamado machine learning —aprendizado de máquinas, uma forma de aplicar a inteligência artificial. Muito da produção de bens de baixa qualidade já se mudou para Bangladesh, Camboja e outros países.

17. Outra característica importante: o trabalhador chinês é bastante sofisticado, tendo acesso a uma gama de produtos com os quais a maioria dos brasileiros nem sonharia. O Taobao, da Alibaba, por exemplo, tem cerca de 800 milhões de produtos a venda. A Alibaba, em 2018, vendeu produtos para mais de 600 milhões de chineses. As vendas são de mais de US$ 1 trilhão por ano e cresceram 20% em 2018. A cada 10 compras online no mundo, 4 são na China. Isso permite que muitas pessoas se tornem microempreendedoras e consumidores busquem o melhor preço em qualquer lugar do país. Assim, o salário vai mais longe.

22 de janeiro de 2019

“A POLARIZAÇÃO É GLOBAL”!

(Moisés Naim) 1. O governo da superpotência está parado. O de uma antiga superpotência, o Reino Unido, também está paralisado, depois de sofrer uma série de gols contra. Angela Merkel, que até pouco tempo era a líder europeia mais influente, se aposenta. Seu colega francês enfrenta uma convulsão social protagonizada pelos agora famosos “coletes amarelos”.

2. A Itália, sétima maior economia do mundo, é governada por uma coalizão cujos líderes têm ideologias diametralmente opostos e cujas declarações nos deixam perplexos e sem saber se rimos ou choramos. Os italianos decidiram provar como se vive quando o desgoverno é levado aos seus limites mais extremos.

3. O chefe do governo espanhol ocupa o cargo não porque seu partido desfruta de uma maioria parlamentar, mas chegou ali graças a um tortuoso procedimento legislativo. O primeiro-ministro de Israel, a única democracia do Oriente Médio, é acusado de corrupção, fraude e outros crimes. Nos próximos meses Binyamin Netanyahu poderá ou ser reeleito ou ir para a cadeia.

4. Em todos esses países, a sociedade sofre de uma enfermidade política autoimune – uma parte do seu ser está em guerra contra o resto do corpo social. A polarização da sociedade, e por consequência da política, é um fator comum e um sinal destes tempos. Isto não quer dizer que antes não havia polarização. Mas agora as situações excepcionais de paralisia e caos governamental que ela provoca se tornaram norma. A paralisação do governo dos EUA é apenas o mais recente e mais revelador exemplo desta tendência.

5. Antes, os governos democráticos conseguiam chegar a acordos com seus oponentes ou armar coalizões que permitiam a tomada de decisões. Agora, os rivais políticos com frequência se tornam inimigos irreconciliáveis, impossibilitando qualquer acordo, compromisso ou coalizões com seus adversários. A polarização é uma pandemia que se globalizou: suas manifestações são evidentes na maioria das democracias do mundo.

6. A que se deve a tendência de fragmentação das sociedades em partes que não se toleram? O aumento da desigualdade, a precariedade econômica e a sensação de injustiça social são, sem dúvida, algumas das causas da polarização política. A propagação das redes sociais e a crise do jornalismo e dos meios de comunicação tradicionais também contribuem para estimulá-la.

7. Redes sociais como o Twitter ou Instagram só permitem mensagens curtas. Essa brevidade privilegia o extremismo, uma vez que, quanto mais curta a mensagem, mais radical ela deve ser para circular bastante. Nas redes sociais não há espaço, tempo e nem paciência para meios termos, ambivalências, sutilezas ou a possibilidade de visões contrárias encontrarem pontos em comum. Tudo é ou muito branco ou muito negro. E, naturalmente, isto favorece os sectários e dificulta a realização de acordos.

8. Mas há mais. A polarização não resulta somente dos ressentimentos causados pela desigualdade ou a beligerância estimulada pelas redes sociais. A antipolítica, o repúdio total à política e aos políticos tradicionais é outra fonte importante de polarização. Os partidos políticos têm hoje de enfrentar uma profusão de novos concorrentes (movimentos, coletivos, marés cidadãs, facções, ONGs) que os forçam a adotar posições mais radicais e intransigentes. Ironicamente, para manter seus seguidores e serem competitivos nas urnas, os partidos políticos tradicionais também precisam adotar posições moldadas pela antipolítica.

9. Muitos dos novos concorrentes agrupam seguidores atraídos pela ideia de pertencer a organizações políticas em que militam pessoas com as quais compartilham uma determinada identidade. Esta identidade pode ser de natureza religiosa, étnica, regional, linguística, sexual, geracional, urbana, rural. A suposição é a de que a identidade que une os participantes de um grupo político cria interesses e preferências similares.

10. Como a identidade com frequência é mais permanente e menos fluida que as posições políticas “normais”, isto torna mais difícil para este tipo de grupo político fazer concessões em assuntos que dizem respeito à identidade de seus membros. O que naturalmente faz com que esses agrupamentos se tornem mais inflexíveis. Como sabemos, a rigidez e a polarização andam juntas.

11. A polarização política não vai abrandar tão cedo. Muitas de suas causas são poderosas e incontroláveis. A esperança é que, da mesma maneira que a polarização causa a paralisia dos governos ou um clima político tóxico, ela também pode produzir mudanças e rupturas em países com sistemas políticos corruptos, medíocres ou inoperantes. Como o colesterol, que comporta o bom e o ruim, há casos nos quais a polarização política pode ter efeitos positivos. Tomara que sejam muitos.

21 de janeiro de 2019

120 ANOS DA REPÚBLICA! “A LAICIDADE DO ESTADO”! 

(Celso Lafer – Estado de S. Paulo, 20) 1. A Re­pú­bli­ca em nos­so país da­ta de 1889. As­si­na­lou-se por re­pre­sen­tar uma con­tra­po­si­ção às ins­ti­tui­ções do Bra­sil im­pé­rio. Nes­te ano, que mar­ca os 120 anos da exis­tên­cia e vi­gên­cia das ins­ti­tui­ções re­pu­bli­ca­nas, re­to­mo, pa­ra des­ta­car, uma mu­dan­ça de mai­or sig­ni­fi­ca­do e du­ra­dou­ra im­por­tân­cia pa­ra o País, que já dis­cu­ti em mais de uma opor­tu­ni­da­de nes­te es­pa­ço – em 20/5/2007 e 15/7/2016.

2. Re­firo-­me à im­plan­ta­ção da lai­ci­da­de do Es­ta­do, que tem co­mo uma de su­as ca­rac­te­rís­ti­cas es­sen­ci­ais a se­pa­ra­ção da Igre­ja e do Es­ta­do, va­le di­zer, uma ní­ti­da dis­tin­ção en­tre, de um la­do, ins­ti­tui­ções, mo­ti­va­ções e au­to­ri­da­des re­li­gi­o­sas e, de ou­tro, ins­ti­tui­ções es­ta­tais e au­to­ri­da­des po­lí­ti­cas, de tal for­ma que não ha­ja pre­do­mí­nio da re­li­gião so­bre a po­lí­ti­ca.

3. Um Es­ta­do lai­co di­fe­ren­ci­a­-se de um Es­ta­do te­o­crá­ti­co, no âm­bi­to do qual o po­der re­li­gi­o­so e o po­lí­ti­co se fun­dem. É o ca­so da Ará­bia Sau­di­ta e do Irã. Di­fe­ren­cia-se igual­men­te de um Es­ta­do con­fes­si­o­nal, no âm­bi­to do qual exis­tem vín­cu­los en­tre o po­der po­lí­ti­co e uma re­li­gião. Foi o ca­so do Bra­sil im­pé­rio, que afir­mou o ca­to­li­cis­mo co­mo a re­li­gião ofi­ci­al, mas as­se­gu­rou a li­ber­da­de de opi­nião e de cul­to de ou­tras re­li­giões.

4. A lai­ci­da­de não se cir­cuns­cre­ve ao re­co­nhe­ci­men­to da li­ber­da­de de cons­ci­ên­cia, re­li­gião e cul­to, que con­fe­re à li­vre e autô­no­ma cons­ci­ên­cia do in­di­ví­duo a ade­são, ou não, a uma re­li­gião. Sig­ni­fi­ca que o Es­ta­do se des­so­li­da­ri­za e se afas­ta de to­da e qual­quer re­li­gião, em fun­ção de um mu­ro de se­pa­ra­ção en­tre Es­ta­do e Igre­ja, co­mo ins­ti­tu­ci­o­nal­men­te con­subs­tan­ci­a­do pe­la Pri­mei­ra Emen­da da Cons­ti­tui­ção nor­te-ame­ri­ca­na, na lei­tu­ra de Tho­mas Jef­fer­son.

5. Ruy Bar­bo­sa as­si­mi­lou a vi­são nor­te-ame­ri­ca­na. Nes­sa li­nha é de sua au­to­ria, ain­da na vi­gên­cia do go­ver­no pro­vi­só­rio de De­o­do­ro, o De­cre­to n.º 119A, que im­plan­tou a se­pa­ra­ção da Igre­ja e do Es­ta­do em nos­so país. Es­sa se­pa­ra­ção ad­qui­riu sua ins­ti­tu­ci­o­na­li­da­de pró­pria no ar­ti­go 72 da Cons­ti­tui­ção de 1891, a pri­mei­ra Cons­ti­tui­ção re­pu­bli­ca­na do Bra­sil.

6. Nos ter­mos do ar­ti­go 72, passaram a in­te­grar a mol­du­ra da lai­ci­da­de no Bra­sil: 1) a se­cu­la­ri­za­ção do re­gis­tro ci­vil, do ca­sa­men­to, da ad­mi­nis­tra­ção dos ce­mi­té­ri­os, des­vin­cu­lan­do do âm­bi­to da Igre­ja o re­co­nhe­ci­men­to ju­rí­di­co dos mo­men­tos de vi­da do ci­da­dão – do seu nas­ci­men­to à sua mor­te; 2) a obri­ga­ção de ser lei­go o en­si­no mi­nis­tra­do nos es­ta­be­le­ci­men­tos pú­bli­cos; e 3) a de­ter­mi­na­ção de que “ne­nhum cul­to ou igre­ja go­za­rá de sub­ven­ção ofi­ci­al, nem te­rá re­la­ções de de­pen­dên­cia ou ali­an­ça com o go­ver­no da União ou dos Es­ta­dos”.

7. O ar­ti­go 72 in­te­gra a De­cla­ra­ção de Di­rei­tos da Cons­ti­tui­ção de 1891. Daí o vín­cu­lo en­tre lai­ci­da­de e di­rei­tos hu­ma­nos. Es­tes tu­te­lam, sem in­ter­fe­rên­cia es­ta­tal, a ple­ni­tu­de da li­ber­da­de in­di­vi­du­al de cren­ças, opi­niões e re­li­giões, no âm­bi­to de uma so­ci­e­da­de con­ce­bi­da co­mo plu­ra­lis­ta.

8. Na ex­pe­ri­ên­cia cons­ti­tu­ci­o­nal bra­si­lei­ra, que re­to­ma a li­nha inau­gu­ra­da pe­la Cons­ti­tui­ção de 1891, a lai­ci­da­de diz res­pei­to ao Es­ta­do, que é neu­tro em ma­té­ria de re­li­gião e não exer­ce ati­vi­da­des re­li­gi­o­sas. Es­se é o sig­ni­fi­ca­do da in­ser­ção do ar­ti­go 19, que dis­põe so­bre a lai­ci­da­de na Cons­ti­tui­ção de 1988, no âm­bi­to do seu Tí­tu­lo III, que tra­ta da or­ga­ni­za­ção do Es­ta­do.

9. Um Es­ta­do lai­co não im­pli­ca a lai­ci­da­de da so­ci­e­da­de ci­vil. Es­ta se ca­rac­te­ri­za co­mo uma es­fe­ra autô­no­ma e pró­pria pa­ra o exer­cí­cio, sem in­ter­fe­rên­cia do Es­ta­do, da li­ber­da­de re­li­gi­o­sa e de cons­ci­ên­cia, tu­te­la­da pe­las ga­ran­ti­as in­di­vi­du­ais dos di­rei­tos hu­ma­nos. Tra­ta-se de ex­pres­são da sabedoria li­be­ral da ar­te da se­pa­ra­ção de es­fe­ras, que en­con­tra uma pri­mei­ra for­mu­la­ção na li­ção evan­gé­li­ca “a Cé­sar o que é de Cé­sar, a Deus o que é de Deus”.

10. A lai­ci­da­de vin­cu­la-se à des­con­cen­tra­ção do po­der ide­o­ló­gi­co num mun­do mais se­cu­la­ri­za­do. Po­li­ti­ca­men­te é uma for­ma de res­pon­der aos ím­pe­tos in­tran­si­ti­vos da in­to­le­rân­cia, cri­an­do no es­pa­ço pú­bli­co uma lin­gua­gem com­par­ti­lhá­vel. É nes­se con­tex­to que Ra­wls su­ge­re sub­trair da agen­da pú­bli­ca as ver­da­des da re­li­gião. A lai­ci­da­de con­tri­bui pa­ra con­ter a in­to­le­rân­cia ao pro­pi­ci­ar a con­vi­vên­cia de­mo­crá­ti­ca de ver­da­des con­tra­pos­tas, re­li­gi­o­sas e po­lí­ti­cas.

11. En­se­ja a acei­ta­ção do “di­fe­ren­te”, di­luin­do os pre­con­cei­tos que ge­ra. Fa­vo­re­ce a di­men­são éti­ca do res­pei­to pe­la dig­ni­da­de do Ou­tro. Es­cla­re­ce a di­men­são epis­te­mo­ló­gi­ca de que a ver­da­de não é, on­to­lo­gi­ca­men­te, una, mas múl­ti­pla, e tem vá­ri­as fa­ces.

12. Des­ta­co es­ses as­pec­tos pa­ra ob­ser­var que na vi­da da so­ci­e­da­de bra­si­lei­ra exis­tem mui­tas ma­té­ri­as em que tan­to o Es­ta­do quan­to as re­li­giões têm nor­mas e prin­cí­pi­os pró­pri­os. São exem­plos des­sas res mix­tae as po­lí­ti­cas de vi­da, o di­vór­cio, o abor­to, a na­tu­re­za e o pa­pel do en­si­no, o con­tro­le da na­ta­li­da­de, o sig­ni­fi­ca­do da fa­mí­lia, a abran­gên­cia do es­co­po da pes­qui­sa ci­en­tí­fi­ca.

13. Num Es­ta­do lai­co não ca­be, por obra de de­pen­dên­cia ou ali­an­ça com qual­quer re­li­gião, im­por e san­ci­o­nar ju­ri­di­ca­men­te nor­mas éti­co-re­li­gi­o­sas pró­pri­as à fé de uma con­fis­são. Com efei­to, num Es­ta­do lai­co, as nor­mas re­li­gi­o­sas das di­ver­sas con­fis­sões são con­se­lhos e ori­en­ta­ções di­ri­gi­dos aos fiéis, e não co­man­dos pa­ra to­da a so­ci­e­da­de.

14. A li­ção de lai­ci­da­de po­si­ti­va­da em nos­so país pe­la Re­pú­bli­ca tem co­mo fi­na­li­da­de ga­ran­tir ao ci­da­dão, co­mo in­di­ví­duo, no âm­bi­to da so­ci­e­da­de ci­vil, a li­ber­da­de de re­li­gião e de pen­sa­men­to, pos­si­bi­li­tan­do a di­fe­ren­ci­a­ção em ma­té­ria de ide­o­lo­gi­as re­li­gi­o­sas e cul­tu­rais. Tra­ta-se do cam­po das li­ber­da­des in­di­vi­du­ais a se­rem tu­te­la­das, sem ar­bí­tri­os e dis­cri­mi­na­ções, de acor­do com as dis­po­si­ções do or­de­na­men­to ju­rí­di­co. A fi­na­li­da­de pú­bli­ca da lai­ci­da­de é cri­ar pa­ra to­dos os ci­da­dãos, não obs­tan­te sua di­ver­si­da­de e os con­fli­tos po­lí­ti­coi­de­o­ló­gi­cos, uma pla­ta­for­ma co­mum na qual pos­sam en­con­tear-se en­quan­to in­te­gran­tes de uma co­mu­ni­da­de po­lí­ti­ca de­mo­crá­ti­ca.

15. É es­sa fi­na­li­da­de que ca­be res­guar­dar em nos­so país pa­ra con­ter o in­de­vi­do ris­co de trans­bor­da­men­to da re­li­gião pa­ra o es­pa­ço pú­bli­co.

18 de janeiro de 2019

VEM AÍ O FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL DE DAVOS!

(Tássia Kastner – Folha de S.Paulo, 17) Disputas econômicas e políticas entre países e mudanças em regras de acordos comerciais são citadas como os principais riscos globais para 2019, em relatório divulgado pelo Fórum Econômico Mundial nesta quarta-feira.

Não à toa, investidores seguem preocupados com o andamento de um acordo que possa colocar fim à guerra comercial travada entre Estados Unidos e China há quase um ano, ao mesmo tempo em que o Reino Unido luta para chegar uma solução para o Brexit –a saída da União Europeia.

Segundo o relatório, o multilateralismo está em risco, com líderes políticos priorizando o discurso nacionalista. “O multilateralismo pode ser enfraquecido de inúmeras maneiras. Estados podem se retirar de acordos e instituições, eles podem intervir para evitar consensos e podem criar regras seletivas para futuras normas e regras”, escreveu o órgão.

Sobre a deterioração das relações comerciais, o documento lembra como a disputa entre Estados Unidos e China se deteriorou rapidamente ao longo de 2018 e destacou como a piora na tensão entre os dois países levou a revisões para o PIB global.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) reduziu em outubro do ano passado a projeção de crescimento do Estados Unidos de 2,9%, em 2018, para 2,4% em 2019. Já a economia chinesa deve perder força de 6,6% para 6,2%.

“Qualquer desaceleração global irá adicionar turbulência para países em desenvolvimento, que já estão enfrentando altas em taxas de juros e, em alguns casos, estresses na política doméstica”, destaca o documento.

O relatório destacou ainda riscos para o investimento direto estrangeiro nos países, com barreiras à compra de empresas na Europa e nos Estados Unidos, especialmente por parte de grupos chineses.

17 de janeiro de 2019

INSTITUIÇÃO TOTAL! 

1. Jornal Nacional de 15/01/2019: O ministro da secretaria de governo general Carlos Alberto dos Santos Cruz disse que a incorporação de militares na gestão federal é um aumento de responsabilidade. O militar tem uma característica, ele faz parte de uma das instituições chamada “Instituição Total. Quando ele faz uma coisa errada, ele não faz só para ele, ele denigre toda a instituição. Então, nossa responsabilidade é muito grande. Só isso”, disse.

2. Frank D. McCann, em seu consagrado livro “SOLDADOS DA PÁTRIA: História do Exército Brasileiro 1889-1947”, desenvolve o conceito de Instituição Total aplicada ao Exército Brasileiro, a partir das páginas 16 e 17. Segue o texto transcrito:

3. “Por sua própria natureza, um Exército é diferente de outras instituições sociais. Como principal agente da violência do Estado, destaca-se e possui características especiais como organização social. Um Exército é uma INSTITUIÇÃO TOTAL, no sentido do termo empregado por Erving Goffman: seus membros distinguem-se de outros que seguem estilos de vida diferentes. Uma “característica central das instituições totais” é a ruptura das barreiras que separam as três esferas da vida – sono, lazer e trabalho – por meio do controle de onde, quando e como elas ocorrem.

As INSTITUIÇÕES TOTAIS tendem a separar seus membros da sociedade circundante e empurrá-los para uma rotina rigorosamente controlada segundo um “único plano racional pretensamente formulado para atender aos objetivos oficiais da instituição”. Instituições desse tipo compõem-se de pessoas divididas em um numeroso grupo de indivíduos dirigidos e um pequeno grupo de supervisores, com pouca mobilidade social entre eles e modos específicos de lidar uns com os outros.

As INSTITUIÇÕES TOTAIS socializam seus membros de maneiras específicas que moldam seu pensamento, autoimagem e comportamento. Obviamente seria de esperar que uma instituição total no Brasil reflita aspectos da cultura brasileira que a distinguem de instituições semelhantes em outros países.

16 de janeiro de 2019

OS JORNAIS COMO PLATAFORMA PARA AS REDES SOCIAIS!

Ex-Blog de 16 de março de 2017.

1. Décadas atrás, uma matéria num jornal ou revista que interessava a um político ou um grupo político, tinha que ser recortada e mostrada ou, na melhor hipótese, o interessado comprava vários jornais. Os políticos tinham seus jornais de forma a tratar uma matéria –críticas, denúncias, elogios…- multiplicando pela própria distribuição da edição de seu jornal ou comprando espaços nesse ou naquele jornal. Esse caminho –muito usado- era e é de baixa credibilidade.

2. Antes, os grandes jornais não precisavam se preocupar com o uso que seria feito das matérias publicadas. Afinal, o multiplicador era a própria edição e tiragem do jornal. O multiplicador –uso ou abuso- externo era de pequeno ou nenhum impacto. Depois, o multiplicador aumentou com o uso da xerox ou a transformação de uma certa matéria de jornal em panfleto. Aumentou, mas a edição original e a sua tiragem continuavam sendo, de longe, o principal multiplicador.

3. Antes, uma matéria de jornal ou revista lida ou vista pelos leitores era ampliada pelos leitores múltiplos. Quantas pessoas liam o que interessava dos jornais e revistas comprados por outros? Revistas na sala de espera dos escritórios e consultórios são outro exemplo. A leitura dos jornais pendurados nas bancas de jornais multiplicavam apenas o que saía na capa, e para um público localizado.

4. A internet e as redes sociais mudaram radicalmente essa proporção entre matérias publicadas em jornais ou revistas e a sua multiplicação. Uma matéria de interesse político, uma vez reproduzida nas redes sociais, passa a ter um alcance muito maior que a tiragem do jornal ou revista que lhe deu origem.

5. Uma pequena notícia em página interna sem destaque, desde que seja de interesse político, pode gerar uma quantidade de leitores maior que a tiragem da edição original, através do multiplicador das redes sociais. Nesse sentido, os multiplicadores das matérias nas redes sociais são editores –reeditores- dos próprios jornais.

6. Os blogs de jornalistas são exemplos disso. Multiplicam, fora da edição formal do jornal, notícias que podem circular mais que a tiragem de origem.

7. O famoso editor do Nouvel Observateur dizia, anos atrás, que os Editoriais dos jornais eram a consciência de culpa dos noticiários dos próprios jornais. Se antes era assim, hoje o multiplicador das notícias pelas redes sociais tiraram do controle dos editores o que, do conteúdo publicado, terá maior ou menor impacto de opinião pública.

8. Se é assim, o controle interno de conteúdo nos jornais tende a ser crescentemente maior. Quando se diz que os jornais devem cada vez mais ter matérias de opinião, na prática isso significa não pulverizar o noticiário com a independência dos repórteres, porque perderiam o controle do multiplicador e até antagonizando com a linha editorial.

9. Num seminário recente, um debatedor dizia que os jornais estão se transformando em plataformas para as redes sociais. Será?

15 de janeiro de 2019

“A EXTENSÃO DA CRISE”! E OS RISCOS!

(Editorial Estado de S.Paulo, 14) 1. Espera-se que a pequena melhora da arrecadação pelos governos estaduais não estimule nova onda de gastança. O fato de que nem neste ano a maioria dos Estados, em particular os mais desenvolvidos, terá conseguido recuperar o que perdeu com a crise iniciada em 2014 dá uma boa noção da gravidade dos problemas econômicos que o País enfrentou a partir do ano da reeleição da presidente cassada Dilma Rousseff.

2. A desorganização da economia causada pelas políticas implementadas no primeiro mandato de Dilma produziram seus efeitos mais danosos durante o início de seu segundo mandato, em boa hora interrompido pelo impeachment aprovado pelo Congresso Nacional em agosto de 2016. Mas o País ainda paga pelo desastre dilmista.

3. Como mostrou reportagem do Estado, apenas 6 das 27 unidades da Federação conseguirão alcançar no fim deste ano o nível de produção que tinham no fim de 2014. Só no ano que vem, ou no seguinte, São Paulo e outras unidades que concentram o maior número de indústrias superarão os efeitos da recessão provocada pela gestão lulopetista.

4. Com base em levantamento realizado pela Tendências Consultoria Integrada, a reportagem mostrou que, graças ao desempenho do setor privado, as economias do Pará, Roraima, Mato Grosso, Santa Catarina, Rondônia e Mato Grosso do Sul alcançarão ou superarão, no final deste ano, o nível de 2014. Com exceção de Santa Catarina, são Estados cujas economias são fortemente marcadas pela produção agropecuária ou pela mineração.

5.  A consultoria responsável pelo levantamento observa que, no caso de Roraima, a entrada de venezuelanos que fogem do colapso econômico de seu país terá efeito importante na atividade econômica estadual, a despeito dos imensos problemas sociais e humanitários que eles trazem consigo.

6. A recuperação dos níveis de produção de cinco anos atrás é um fato positivo para as populações desses Estados. Mas ainda é insuficiente para livrar a maioria dos governos dessas unidades federativas dos graves problemas fiscais que lhes tolhem as iniciativas e criam riscos reais de descumprimento de exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Nem o aumento da arrecadação decorrente do crescimento das economias estaduais permitirá, na maioria dos casos, que as despesas com a folha de pessoal se enquadrem nos limites da LRF.

7. Dos seis Estados com melhor desempenho econômico, quatro já gastam com o funcionalismo mais do que o teto de 60% da receita corrente líquida fixado pela LRF. Um deles, Roraima, deve terminar 2019 com o Produto Interno Bruto (PIB) 5% maior do que o de 2014, mas está sob intervenção federal por causa do descontrole das finanças estaduais e da crise na segurança pública.

8. Entre os governos das 21 unidades da Federação que nem neste ano conseguirão superar as perdas impostas pela recessão, também há vários com sérios problemas fiscais e com gastos com pessoal perto do limite fixado pela legislação ou acima dele. O Nordeste, por exemplo, abriga os Estados cuja recuperação tem sido mais lenta. Em geral, as economias desses Estados dependem mais pesadamente de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, que sofreram os efeitos da profunda crise financeira enfrentada pelo governo federal.

9. Segundo a Tendências, 26% da renda familiar do Nordeste vem do Bolsa Família e das aposentadorias pelo regime do INSS. “Com a crise do setor público, o que era impulso positivo virou negativo”, observou o economista da Tendências Adriano Pitoli.

10. Estados mais industrializados, com os da Região Sudeste, foram mais afetados pela recessão e estão se recuperando em ritmo mais lento. O levantamento da Tendências indica que a economia paulista, que responde por cerca de um terço do PIB nacional, só voltará ao nível de antes da crise em 2020 ou 2021. Os gastos do governo paulista com o funcionalismo estão abaixo do teto de 60% da receita líquida, mas já superaram o limite de alerta de 54%.

11. O que se espera é que a pequena melhora da arrecadação alcançada pelos governos estaduais não estimule nova onda de gastança.

14 de janeiro de 2019

PRÉ-SAL: O “SHALE” BRASILEIRO!

(Adriano Pires – Estado de S. Paulo, 12) 1. Estamos diante de um momento ímpar e inédito para o setor de óleo e gás (O&G) brasileiro. A consolidação da exploração e da produção no pré-sal pode colocar o País diante de uma oportunidade histórica para a redenção da economia brasileira.

2. Nos últimos anos os EUA, a partir da descoberta e da viabilização das reservas de shale, mudaram não só o cenário econômico do país, mas também a geopolítica global do mercado de óleo e gás. A disparada do preço do petróleo, em 2011, foi determinante para impulsionar o shale gas/oil americano, que tinha um alto custo para exploração. O resultado foi um aumento de mais de 60% na produção de petróleo dos EUA em apenas cinco anos, entre 2009 e 2014, quando o país superou Rússia e Arábia Saudita e passou a ser o maior produtor do mundo.

3. Com a queda brusca no preço do petróleo, entre 2014 e 2016, muitas empresas faliram por não conseguir reduzir os custos de exploração, levando a uma consolidação do mercado. Nesse período, investimentos em pesquisa e desenvolvimento foram feitos e a indústria americana precisou se adaptar para sobreviver, reduzindo o custo de exploração/produção do shale.

4. O protagonismo assumido pelos EUA influenciou todo o mercado, pois sua produção passou a ser capaz de compensar parcialmente as reduções acordadas entre os países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), muitas vezes com participação da Rússia, que visam ao aumento da cotação internacional do petróleo. Com isso, a influência da organização ficou limitada e os EUA passaram a ser uma ameaça ao já consolidado market share dos principais exportadores.

5. Além de mudar a dinâmica do mercado de petróleo, o shale americano transformou o país no maior produtor mundial de gás natural em 2011. Por ter uma malha de gasodutos altamente desenvolvida, com quase 5 milhões de km de extensão, o setor foi capaz de expandir o mercado nacional e dar vazão à crescente oferta.

6. O gás natural substituiu o carvão, na geração elétrica, no setor industrial e no setor de transportes, este sob forma de Gás Natural Liquefeito (GNL), como combustível para caminhões, ônibus, navios e trens. A maior disponibilidade de gás natural também trouxe de volta o crescimento do setor petroquímico americano, que passou a ter competitividade e segurança no abastecimento. O crescimento do setor de O&G atraiu grandes investimentos, como os US$ 20 bilhões divulgados pela Exxon em 2018, destinados a instalações no Golfo do México.

7. O montante, que será distribuído pelos próximos dez anos, envolve a expansão de diversas indústrias, desde refinarias até fábricas de lubrificantes e plantas de GNL. A empresa estima mais de 45 mil novos postos de emprego. Se aprendermos com a experiência americana, o pré-sal no Brasil pode ser uma grande oportunidade para a sociedade brasileira sair da crise econômica e social enfrentada nos últimos anos e entrar num ciclo virtuoso.

8. Para isso, é preciso ter senso de urgência e acelerar mudanças regulatórias e jurídicas que incentivem investimentos na exploração, produção e infraestrutura de óleo e gás. Ao mesmo tempo, criar mercados capazes de absorver o aumento da produção, como investimentos em refino e novos mercados consumidores de gás natural. Os investimentos privados vão mudar o perfil das refinarias brasileiras. Isso porque o óleo do pré-sal e as exigências ambientais levarão a uma maior produção de nafta, trazendo maior competitividade para a indústria petroquímica.

9. Por sua vez, o gás natural vai ser mais consumido na geração de eletricidade; na indústria, no comércio e nas residências; e como combustível para o setor de transportes. Estima-se que a produção brasileira possa atingir um patamar superior a 5 milhões de barris/dia nos próximos dez anos, quase o dobro do registrado em 2018. Deste total, o pré-sal poderá representar mais de 80%. Não vejo no horizonte dos próximos 20 anos nenhum setor da economia que possa aumentar arrecadação, gerar empregos e atrair investimentos como o de óleo e gás. Não podemos nem devemos perder essa oportunidade.

11 de janeiro de 2019

OS GRANDES ECONOMISTAS! 

(BBC, 06) 1. No livro The Great Economists (Os grandes economistas, em tradução livre para português) a economista e jornalista britânica-americana Linda Yueh explica os pensamentos-chave que distinguiram esses e outros nove economistas, e o que eles podem nos ensinar sobre o mundo atual.

2. Em entrevista para a revista BBC History, Yueh destacou que, ainda que os 12 especialistas tenham pensamentos muito distintos – e em alguns casos opostos – todos têm algo em comum. “Todos eles observaram os desafios econômicos mais importantes de sua época, os examinaram, analisaram e encontraram formas de nos ajudar a entender melhor o que estava ocorrendo. E o mais importante ainda, nos explicaram o que podia ser feito a esse respeito”, afirma a autora.

3. Assim, por exemplo, Adam Smith se preocupou como a Revolução Industrial afetava a motivação das pessoas e seu sustento econômico. John Maynard Keynes focou a busca pelo fim da Grande Depressão.

4. A obra também cita contribuições de David Ricardo, Alfred Marshall, Irving Fisher, Joseph Schumpeter, Friedrich Hayek, Joan Robinson, Milton Friedman, Douglass North e Robert Solow.

5. Todos esses economistas também abordaram certos temas em comum, principalmente o crescimento econômico. “Não apenas como crescer economicamente mas também a qualidade do crescimento econômico, a fim de que melhore a vida de todos”, diz a autora da obra.

6. O livro de Yueh surpreende ao revelar como alguns problemas econômicos que parecem modernos são, na realidade, históricos. Por exemplo, a desigualdade. Em finais do século 19, esse era um tema que despertava o britânico Alfred Marshall, professor da Universidade de Cambridge, que se dedicou a refletir sobre como eliminar a disparidade salarial sem afetar a prosperidade econômica.

7. Em sua grande obra, Princípios de Economia, de 1890, Marshall enfatizou que as diferenças de renda são um fator-chave que condicionam o desenvolvimento econômico. E para entender como melhorar a distribuição da riqueza, tentou transformar a economia em uma ciência prática, buscando formas de influir nos movimentos do mercado para que melhorasse o rendimento do capital e o bem-estar social geral concomitantemente.

8. O problema dos baixos salários também vem sendo abordado há quase um século. Uma das primeiras pessoas que analisou o fenômeno foi a economista britânica Joan Robinson, a única mulher que faz parte da lista de Linda Yueh. “Mulheres são apenas um quinto dos economistas do mundo “, diz Yueh. Analisando o que ocorreu depois da Grande Depressão, Robinson criou o modelo de “competência imperfeita”, que ajuda a explicar por que o mercado de trabalho funciona de forma defeituosa, gerando baixos salários e desemprego.

9. Afastando-se das teorias de economia clássica, que sustentam que os mercados funcionam perfeitamente, baseados na oferta e demanda, Robinson mostrou que quando há monopólios, as empresas podem explorar seus trabalhadores, reduzindo seus salários. Como solução, propôs introduzir concorrência, para que qualquer empresa que explore um trabalhador corra o risco de perdê-lo para outra empresa.

10. O primeiro economista citado no livro é Adam Smith, considerado o “pai do capitalismo”. “O que fez Adam Smith com sua obra seminal A Riqueza das Nações (1776) foi melhorar o entendimento de como funciona uma economia industrial”, algo que estava recém surgindo à época. O escocês foi o primeiro a explicar conceitos econômicos como preço, produção, distribuição, finanças públicas, comércio internacional e crescimento econômico. “Por isso, se converteu na base da economia desde então”, afirma a pesquisadora Yueh. Smith não apenas explicou como funcionava a nova economia industrial mas também como ela afetava os trabalhadores. Assim como outros economistas incluídos no seu livro, seus pensamentos seguem sendo relevantes ainda hoje. “Suas teorias continuam servindo para entender como funciona o mercado e o papel do Estado. E nos ajuda a entender quando devemos estar preocupados e como devemos entender a balança comercial e os déficits comerciais, coisas que ainda são debatidas hoje”, defende a autora de The Great Economists.

11. O livro também aborda outro economista muito famoso: o alemão Karl Marx, que completou 200 anos de nascimento em 2018. A BBC History questionou Yueh sobre o que pensaria o ideólogo do comunismo sobre a China, o país comunista que mais teve êxito na história. “Não tenha certeza de que Marx reconheceria que a economia chinesa de hoje adere a seus princípios”, responde. O Partido Comunista chinês seguiu o marxismo por um tempo, antes da ruptura com a União Soviética, depois da Segunda Guerra Mundial, mas tudo mudou com “a introdução das reformas de mercado em 1978”, afirma Yueh.

12. A autora avalia que Marx poderia ter considerado “curioso” o que ocorre quando se introduz o capitalismo em um país com um sistema político comunista, “mas, segundo seus conceitos, não podia coexistir o capitalismo com o comunismo”.

13. Segundo a autora de The Great Economists, o último economista em sua lista, o americano Robert Solow, poderia nos ajudar a resolver um dos principais problemas econômicos atuais, que afeta nosso futuro próximo: a estagnação econômica.

14. O crescimento econômico diminuiu desde a crise financeira de 2008 e, nesse contexto, explicou, muitos temem converter-se em um Japão – um país rico que pode nunca se recuperar por completa de sua própria crise financeira, nos anos 1990.

15. O “modelo de crescimento” de Solow, que analisa a relação entre a produtividade, a capacitação do trabalhador e o investimento, “poderia nos dar as respostas para sair do problema”, defende Yueh.

10 de janeiro de 2019

PREGAÇÃO, SERMÃO, DISCURSO! PADRE ANTÔNIO VIEIRA! A SEXAGÉSIMA!

Ex-Blog de 10/04/2012.

1. O Islã afirma que a maior virtude de um mulçumano é ensinar o Alcorão aos demais. Os apóstolos de Cristo só pregavam aos Judeus, até que Paulo questionou e Pedro ouviu uma voz que lhe dizia o mesmo: pregue a todos. São Paulo e Santo Agostinho diziam que a salvação vem da fé, mais que da doutrina ou dos livros.

2. Só crescem as organizações que pregam, que saem de si para fora, para outros. Essa é a razão do crescimento do Islamismo e foi a do Cristianismo por séculos. Hoje, dentro do Cristianismo, crescem mais as Igrejas de pregação externa, como os Evangélicos, e menos as de pregação interna como -em geral- os Protestantes e Católicos.

3. O mais importante pregador da Igreja Católica em língua portuguesa foi Padre Antônio Vieira, com seus Sermões, ouvidos, dentro e no entorno das Igrejas. Em seu famoso Sermão – SEXAGÉSIMA – Padre Antônio Vieira dá uma aula de como Pregar. Diz ele:

4. ‘Um Sermão é constituído pela Pessoa (o pregador), a Ciência (doutrina), a Matéria (sobre o que se vai pregar), o Estilo de quem prega e a Voz (suas nuances). O fundamental num pregador é sua vida, seu exemplo. O que realmente semeia ao pregar é a ação. Para falar ao coração, são necessárias Obras.

5. As palavras entram pelos ouvidos e as obras entram pelos olhos. Devemos pregar aos olhos com obras. O estilo há de ser muito fácil e natural. Por isto, Cristo comparou o pregar ao semear. Que diferente é o estilo violento e tirânico que hoje se usa ao falar.

6. A queda é para as coisas, a cadência é para as palavras. As palavras são as estrelas; os sermões são a composição, a ordem, a harmonia e o curso delas. O estilo da pregação deve se mostrar distinto, e muito claro.

7. O sermão há de ter um só assunto e uma só matéria.  Se se semeia muita variedade não se pode colher coisa certa. No sermão a variedade nos discursos deve nascer da mesma matéria. Como uma árvore que tem tronco, ramos, folhas, frutos, mas a matéria é uma só. Se tudo são troncos não é sermão, é madeira, se tudo são flores não é sermão, são ramalhetes…

8. O pregador há de pregar o seu e não o alheio. O alheio é bom para comer, mas não para semear.  Com armas alheias ninguém pode vencer. Não servem todas as línguas a todos, senão cada um a sua.

9. As palavras de Deus pregadas no sentido que Deus lhas deu, são palavras de Deus. Mas pregadas no sentido que queremos dar, não são.

10. Há sermões que são comédia e há os que são farsa (voz muito afetada, muito polida, requintar finezas, lisonjear precipícios…).

11. Sermões para gostarem ou não gostarem os ouvintes. Que médico repara no gosto do cliente?’

09 de janeiro de 2019

“GUIA PARA ENTENDER CRISTÃOS ORTODOXOS, COOPTAS, ARMÊNIOS, SIRÍACOS E ETÍOPES”! 

(Guga Chacra – Globo-On, 07) Não é comum se falar no Brasil do cristianismo oriental. Muitos brasileiros não sabem que existem igrejas cristãs antigas e pensam que há apenas o catolicismo e as denominações protestantes e evangélicas. Mas centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo seguem o cristianismo ortodoxo, igrejas autocéfalas orientais e algumas igrejas em comunhão com o catolicismo, mas de rito distinto. Neste dia 7, algumas destas vertentes antigas do cristianismo celebram o Natal.

Primeiro, no entanto, vale dividir as igrejas orientais em três blocos. Primeiro, há as autocéfalas, sem comunhão com outras. São os coptas, os armênios, os siríacos e os etíopes. Todas igrejas antigas. Os primeiros se concentram no Egito, onde representam 10% da população. Os armênios, por sua vez, historicamente são da região onde se localiza hoje a Turquia e o país Armênia, mas com diáspora por países áreas do Oriente Médio como a Síria, Líbano, Israel e Palestina, além de países como EUA, Argentina, França e Brasil. Os siríacos se concentram na Síria e no Iraque, embora sejam minoritários mesmo entre os cristãos em ambos países. E os etíopes, claro, são da Etiópia e de algumas nações limítrofes. Eles ficaram independentes da Igreja Copta.

O segundo grupo seria o cristianismo Ortodoxo, que muitas vezes chamamos de grego-ortodoxo. Há diferentes patriarcados ortodoxos que são independentes entre si, mas estão em comunhão e consideram o patriarca de Constantinopla (Istambul) o primeiro entre os iguais. Alguns dos patriarcados ortodoxos ficam no Oriente Médio, como o de Alexandria (Egito), Jerusalém e o Antioquino, atualmente com sede em Damasco, na Síria. A Igreja Russa Ortodoxa, que é a maior de todas em número de fiéis, não sente mais que o patriarca de Constantinopla seria o primeiro entre os iguais e coloca o de Moscou em um patamar superior. A relação entre os dois se deteriorou ainda mais nesta semana quando Constantinopla reconheceu a Igreja Ortodoxa Ucraniana como um patriarcado independente em Kiev. Os russos não aceitaram a decisão e consideram a Igreja Ucraniana como parte da russa.

O terceiro grupo é composto por igrejas do Oriente em comunhão com o catolicismo, como a Caldeia (Iraque), Maronita (Líbano), além daquelas que seguiam as religiões do primeiro grupo, mas passaram a respeitar a autoridade papal, como os coptas e os armênios católicos, assim como os que mantém o rito ortodoxo, mas seguem o Vaticano, como os grego-católicos, também conhecidos como melquitas.

As Igrejas Armênia, Siríaca, Copta, Etíope e algumas ortodoxas, como a Russa e a de Jerusalém, celebram o Natal pelo calendário Juliano, em 7 de janeiro. Há algumas ortodoxas como a Antioquina, a de Alexandria e a de Constantinopla que adotaram o calendário Gregoriano para o Natal e celebram em 25 de dezembro. As em comunhão com o Vaticano seguem obviamente marcam a data no mesmo dia. Na Páscoa, porém, as Igrejas Ortodoxas de Constantinopla, Alexandria e Antioquina seguem o calendário juliano.

Em Jerusalém, onde há múltiplas igrejas, embora os grego-ortodoxos e os armênios oficialmente marquem o Natal no 7 de janeiro, eles concordaram em celebrar com os católicas e denominações em comunhão com o catolicismo no 25 de dezembro em Belém, uma cidade palestina cristã. Já os católicos cedem na Páscoa e esta é celebrada no calendário Juliano, seguindo a tradição armênia e a grego-ortodoxa e evitam assim que haja o risco de a data cair na mesma época da Páscoa judaica. Em Beirute, onde há o maior número de cristãos de diferentes denominações antigas, todos os Natais e Páscoa são feriados nacionais, inclusive para os muçulmanos – muitos sunitas e xiitas celebram de forma laica o Natal com ceia, árvores e até Papai Noel.

No Brasil, há muitos armênios e grego-ortodoxos. Os primeiros oficialmente têm o Natal no 7 de janeiro. Já os ortodoxos, por serem majoritariamente da Síria e do Líbano e portanto de rito antioquino, celebram no 25 de dezembro. Na cidade de São Paulo, há igrejas ortodoxas, armênias, armênia-católicas, siríacas e melquitas. Por ser neto de libanês cristãos grego-ortodoxo com uma cristã grego-católica (melquita), no meu direito à cidadania libanesa estou registrado como grego-ortodoxo, porque pela lei do Líbano deve sempre ser seguida a linhagem paternal – o país, por dividir o poder entre as diferentes religiões, coloca no documento à qual pertence o cidadão, ainda que este não seja religioso.

08 de janeiro de 2019

ARGENTINA, URUGUAI E BOLÍVIA: PRINCIPAIS ELEIÇÕES NA AMÉRICA LATINA EM 2019!

(Sylvia Colombo – Buenos Aires – Folha de S.Paulo, 06) As três principais eleições da América Latina no ano de 2019 colocam em xeque projetos de continuidade, alguns mais, outros menos exitosos em países importantes da região.

A segunda maior economia da América do Sul, a Argentina, tem seu primeiro turno em 27 de outubro, e é o pleito mais incerto dos três, uma vez que o país acaba de cair num processo de recessão, começa o ano com uma inflação beirando os 50%, um pacotaço de aumentos de tarifas e de ajustes em orçamentos públicos programados para os primeiros três meses e uma dívida de US$ 57 bilhões com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Caso consiga manter ilesa ou não tão dilapidada sua aprovação popular (por ora de 30%) até o meio do ano, o candidato governista deve ser o atual mandatário, Mauricio Macri, que já anunciou que quer a reeleição.

No caso da tensão social se elevar, segundo fontes da Casa Rosada, o governo pode optar por escolher um sucessor mais afastado da área econômica e com maior carisma, como a governadora da província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, ou o chefe de governo da capital, Horacio Rodríguez Larreta, que é bem avaliado pelos portenhos.

Pelo menos dois candidatos enfrentarão Macri, atacando justamente pelo flanco da crise econômica e da recessão, que devem afetar principalmente os mais pobres.

São aqueles que, na tradição argentina, mais se identificam com as causas populares e a justiça social: os peronistas. Como já ficou demonstrado em outras eleições, porém, há muitas divisões internas e dificilmente eles jogarão com uma só candidatura.

Neste momento, é possível afirmar que haverá ao menos duas. Um nome sairá do chamado “peronismo moderado ou alternativo”, mais de direita, que tem muita força nas províncias, já que o grupo governa muitas delas.

Disputam estar à frente dessa candidatura Sergio Massa; o líder do Senado, Miguel Ángel Pichetto; e o governador de Salta, Juan Manuel Urtubey. Os três disputarão as primárias, em agosto.

A segunda força de oposição será o kirchnerismo e aliados, liderados pela senadora, ex-presidente e pré-candidata Cristina Kirchner. Se ela confirmar seu interesse, e se nenhuma das ações que enfrenta na Justiça a impedir, não haverá primárias dentro da força, porque as organizações sociais e os integrantes de seu partido, o também peronista Unidade Cidadã, defendem a sua candidatura.

Com os pré-candidatos que já se apresentaram, estão sendo feitas pesquisas. A do Instituto Isonomía, um dos mais confiáveis do país, aponta que a disputa de um segundo turno entre Macri e Cristina é o que a maioria dos argentinos quer ver, uma espécie de Boca x River que nunca aconteceu.

Os números do Isonomía mostram que Mauricio Macri e Cristina Kirchner passariam a um segundo turno, mas que, por ora, o atual presidente ganharia por sete pontos percentuais de vantagem.

Outro cenário, de que Macri não gosta muito, é o de um segundo turno entre María Eugenia Vidal e Cristina. Neste, os números da pesquisa dão vitória mais folgada, de Vidal ante Cristina, com 14 pontos percentuais de diferença.

Do outro lado do rio da Prata, e no mesmo 27 de outubro, disputa-se o primeiro turno da eleição uruguaia, país governado pela centro-esquerdista Frente Ampla nos últimos 15 anos e um dos únicos da região a ter mantido crescimento econômico constante no período.

Neste cenário, não seria difícil imaginar uma fácil reeleição da Frente Ampla, que está no poder desde 2005. No entanto, o partido se encontra numa encruzilhada.

Trata-se de uma coalizão de forças de esquerda e de centro-esquerda em que os jovens têm pouca projeção. As figuras mais conhecidas estão em idade avançada, como ambos os presidentes do período e o homem-chave do bom desempenho na economia, Danilo Astori, 78. Ele tem ainda aspirações de ser presidente, mas a idade avançada pode complicar sua escolha.

As opções mais mencionadas por ora são o atual prefeito de Montevidéu, Daniel Martínez, 61, que já se anunciou pré-candidato e é de centro-esquerda, e a preferida de Mujica, Carolina Cosse, 57, da ala “tupamara” —guerrilha urbana a que pertenceu o ex-presidente— da Frente Ampla.

Pelo lado do Partido Nacional, deve voltar a concorrer o liberal Luis Lacalle Pou, 45, filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle. Já o Partido Colorado, que se posicionava mais à esquerda no passado, passou por uma fase direitista e agora está se renovando completamente.

Por ora, com tantas peças faltando, não há pesquisas de intenção de voto no Uruguai.

O terceiro país importante a ir às urnas é a Bolívia, outro caso de sucesso na área econômica da região. Há mais de uma década, este que sempre esteve entre os países mais pobres das Américas vê seu PIB (Produto Interno Bruto) crescer a uma média anual de 5%.

Mesmo com o fim do boom das commodities registrado na década passada, a Bolívia conseguiu se manter como provedor de gás natural a distintos países, diversificou sua produção e abriu-se para investimentos estrangeiros, principalmente da China e dos EUA, com grande ênfase na mineração.

“Tínhamos sempre essa ideia de que na economia íamos ser pragmáticos, e na política, ideológicos. Para garantir que o boliviano soubesse que sua ascensão social é para valer e que não havia possibilidade de retorno a uma situação de pobreza”, disse o atual vice-presidente Álvaro García Linera.

O sucesso econômico é elogiado pela comunidade internacional. Por outro lado, o país vem sendo alvo de críticas internas e externas com relação à manobra que tenta fazer o presidente Evo Morales, no poder desde 2006.
Morales quis mudar o artigo da Constituição para permitir que se candidatasse a um quarto mandato. A proposta foi derrotada em referendo, em fevereiro de 2016.

Como última cartada, o presidente evocou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, segundo a qual não se pode impedir um cidadão de se candidatar.

O Tribunal Constitucional da Bolívia aceitou o argumento, e a chapa Evo Morales-García Linera voltará a se apresentar, também em outubro de 2019 —a data exata da votação não está definida.

07 de janeiro de 2019

2019!

(Fernando Henrique Cardoso – Estado de S.Paulo, 06) 1. Ao iniciar o ano, as pessoas estão cheias de esperança, querendo o melhor para si e para o País. É também o que eu desejo para os leitores e para todos os brasileiros. Contudo os desejos não substituem os fatos, e estes podem impedir que aqueles se realizem em 2019. Certamente torço para que o Brasil encontre um rumo melhor. Mas um olhar realista se impõe.

2. Comecemos olhando para o mundo. Desde o fim da guerra fria e, especificamente, desde que, no início da década de 1970, Henry Kissinger convenceu o então presidente Richard Nixon a visitar a China e a normalizar as relações com aquele país, vivemos um período de relativa tranquilidade no sistema internacional. O entendimento sino-americano visou de início a isolar a União Soviética, rival da China no mundo comunista. À medida que aquela foi declinando, dissolvendo-se em 1991, o mundo assistiu à crescente complementaridade econômica entre a maior potência mundial, os Estados Unidos, e a potência em ascensão, a China.

3. Com a Pax americana, coadjuvada pela China, os conflitos se tornaram localizados. A ambição que motivou a formação das Nações Unidas, a de pôr um ponto final nas grandes guerras mundiais, ficou ainda mais próxima da realidade com o colapso do mundo soviético, iniciado com a simbólica queda do Muro de Berlim, em 1989.

4. Sob a liderança de Deng Xiaoping, ao final dos anos 1970, os chineses compreenderam que seu país precisaria reformar-se e abrir-se ao mundo para prosperar. De Deng Xiaoping até o atual líder chinês, Xi Jinping, todos sustentaram uma política externa orientada para evitar a chamada “armadilha de Tucídides”: a colisão e ao final a guerra entre a potência hegemônica e a emergente. As lideranças chinesas falavam de uma ascensão pacífica e de um “socialismo harmonioso”, juntando o regime de partido único e o Estado socialista com a integração financeira e produtiva ao mundo capitalista. A China abriu-se às multinacionais que quisessem disputar seu mercado ou exportar, desde que aceitassem as regras do poder. E mais: tornouse a maior detentora de papéis do Tesouro americano.

5. Há sinais, contudo, de que a Pax global começa a ser ameaçada não propriamente pela guerra convencional ou atômica, permanecendo um cenário remoto, mas por uma crescente disputa pela liderança tecnológica, da qual a guerra comercial ora em fase de escaramuças é o aspecto mais visível. A disposição de Trump de desmantelar a ordem liberal vigente visa a impedir que a China assuma a dianteira na corrida tecnológica nas áreas de inteligência artificial e computação quântica. Sob Xi Jinping os chineses já não escondem suas ambições na corrida tecnológica, mesmo no campo militar disputam o controle de parte do Pacífico.

6. Mais do que na interferência online nos processos políticos dos Estados Unidos e da Europa, como os russos, a China aposta na sua capacidade no terreno tecnológico para o sucesso econômico e bélico. Ainda não conhecemos os desdobramentos dessa disputa, mas parece que a ordem liberal pós-guerra fria está ficando para trás, com riscos para a paz mundial.

7. O Brasil tem um novo governo. Fala-se muito que o País, na esteira da onda conservadora no mundo, virou à direita. Será esse o sinal enviado pelo eleitorado, que em sua maioria votou por repúdio ao PT, à falta de segurança pública e à podridão política, sem, entretanto, algum conteúdo ideológico definido? Se o novo governo deslizar para a direita, será menos porque o eleitorado assim decidiu e mais porque os vencedores assim pensam.

8. Pensam? Depende: na economia o governo é liberal, nos costumes, reacionário e, quanto à visão do mundo, basicamente anacrônico, a julgar pelo que disseram alguns de seus membros. Dos militares pouco ou nada se ouviu a respeito. Subscreverão as teses do futuro chanceler? Ou a norma de que sem objetivos e sem preparação não há guerra a ser ganha?

9. Para concluir, diante do quadro internacional, quais devem ser os objetivos básicos de um país como o Brasil, grande, populoso, diverso e excêntrico, isto é, distante dos polos do conflito? Acelerar o crescimento da economia, em bases socioambientais sustentáveis, para dar melhores condições de vida ao povo, preservar o acervo de boas relações que o País construiu ao longo do tempo, afirmar (e praticar internamente) valores que nos são caros, a começar pela democracia.

10. Para isso, por que tomar partido diante de um eventual choque de interesses entre a China e os Estados Unidos ou de quem quer que seja? Por que tomar partido nas disputas que dividem os Estados Unidos e a Europa? Melhor será, penso, cuidar de manter nossa influência na América do Sul, região a que pertencemos, e, sem entrar em briga graúda, participar mais amplamente dos fluxos globais de comércio, informação, criatividade e desenvolvimento, para obter a melhor inserção possível no mundo.

11. É, no mínimo, anacrônico pensar que a disputa por poder e influência no sistema internacional se dê entre gladiadores comunistas e capitalistas, cruzados da fé cristã contra cosmopolitas sem fé e sem pátria. A luta real é por mais ciência e tecnologia, para melhorar a qualidade dos empregos e da vida em sociedades que não devem nem podem mais se encerrar em si mesmas nem se agarrar dogmaticamente a identidades étnicas, religiosas, etc., fechadas e excludentes. A ideologia que se insinua é tão distante dos interesses permanentes de um país como o Brasil quanto o foi a que ela pretende substituir.

12. Por isso espero que o novo governo encontre rumos melhores do que os que, com estridência, apontam alguns de seus membros. À oposição cabe criticar impulsos ideológicos, alertar para os riscos de alinhamentos automáticos e contribuir para que os interesses reais do Brasil e de sua gente prevaleçam na definição e implementação das políticas, externa e interna.

04 de janeiro de 2019

BRASIL NO IMPÉRIO!

(M. Braga) Para quem gosta de história do Brasil.

Quando D. Pedro II do Brasil subiu ao trono, em 1840, 92% da população brasileira era analfabeta.

Em seu último ano de reinado, em 1889, essa porcentagem era de 56%, devido ao seu grande incentivo à educação, à construção de faculdades e, principalmente, de inúmeras escolas, que tinham como modelo o excelente Colégio Pedro II.

A Imperatriz Teresa Cristina cozinhava as próprias refeições diárias da família imperial apenas com a ajuda de uma empregada (paga com o salário de Pedro II).

(1880) O Brasil era a 4º economia do Mundo e o 9º maior Império da história.

(1860-1889) A média do crescimento econômico foi de 8,81% ao ano.

(1880) Eram 14 impostos, atualmente são 98.

(1850-1889) A média da inflação foi de 1,08% ao ano.

(1880) A moeda brasileira tinha o mesmo valor do dólar e da libra esterlina.

(1880) O Brasil tinha a segunda maior e melhor marinha do Mundo, perdendo apenas para a da Inglaterra.

(1860-1889) O Brasil foi o primeiro país da América Latina e o segundo no Mundo a ter ensino especial para deficientes auditivos e deficientes visuais.

(1880) O Brasil foi o maior construtor de estradas de ferro do Mundo, com mais de 26 mil km.

A imprensa era livre tanto para pregar o ideal republicano, quanto para falar mal do nosso Imperador.

“Diplomatas europeus e outros observadores estranhavam a liberdade dos jornais brasileiros”, conta o historiador José Murilo de Carvalho.

Mesmo diante desses ataques, D. Pedro II se colocava contra a censura. “Imprensa se combate com imprensa”, dizia.

O Maestro e Compositor Carlos Gomes, de “O Guarani” foi sustentado por Pedro II até atingir grande sucesso mundial.

Pedro II mandou acabar com a guarda chamada Dragões da Independência por achar desperdício de dinheiro público. Com a república a guarda voltou a existir.

Em 1887, Pedro II recebeu os diplomas honorários de Botânica e Astronomia pela Universidade de Cambridge.

D. Pedro II falava 23 idiomas, sendo que 17 era fluente.

A primeira tradução do clássico árabe “Mil e uma noites” foi feita por D. Pedro II, do árabe arcaico para o português do Brasil.

D. Pedro II doava 50% de sua dotação anual para instituições de caridade e incentivos para educação com ênfase nas ciências e artes.

Pedro II fez um empréstimo pessoal a um banco europeu para comprar a fazenda que abrange hoje o Parque Nacional da Tijuca. Em uma época que ninguém pensava em ecologia ou desmatamento, Pedro II mandou reflorestar toda a grande fazenda de café com mata atlântica nativa.

A mídia ridicularizava a figura de Pedro II por usar roupas extremamente simples, e o descaso no cuidado e manutenção dos palácios da Quinta da Boa Vista e Petrópolis. Pedro II não admitia tirar dinheiro do governo para tais futilidades. Alvo de charges quase diárias nos jornais, mantinha a total liberdade de expressão e nenhuma censura.

D. Pedro II era um Grande Templário amigo pessoal de Don Antonio de Sousa Fontes 50º Grão Mestre da OSMTH Magnum Magisterium.

D. Pedro II andava pelas ruas de Paris em seu exílio sempre com um saco de veludo ao bolso com um pouco de areia da praia de Copacabana. Foi enterrado com ele. Foi o que “roubou” do Brasil!

Fonte: Biblioteca Nacional RJ, IMS RJ, Diário de Pedro II, Acervo Museu Imperial de Petrópolis RJ, IHGB, FGV, Museu Nacional RJ, Bibliografia de José Murilo de Carvalho