ENTREVISTA DE CESAR MAIA A FERNANDO RODRIGUES NA TV UOL DIA 27/03! V – IBOPE E CAMPANHA ELEITORAL!

1. (Pesquisa do IBOPE com Dilma caindo) Depende da ação da oposição. Agora, é uma chance. Os primeiros números divulgados mostram que a diferença naqueles seguimentos de renda maior, de maior instrução aumentou. A segunda informação se tem que trabalhar ela com atenção… Jovens. E quando se fala em jovens, a gente fala em três coisas: primeiro no voto evangélico, que os evangélicos cresceram excepcionalmente entre os jovens e essa é uma questão que tem que se ficar atento, e com militância, com organização, com participação, com mobilização. Segundo, redes sociais, segundo elemento. O terceiro elemento é essa antipolítica, a reação, a rejeição à corrupção, que também marca muito o jovem, e que também combina com redes sociais. Eu acho que há uma razão, uma lógica. Todo esse noticiário, enfim, de Petrobras etc., são bem compreendidos por aqueles que leem jornal todos os dias, uns 20%.

2. Isso daí pega nesse segmento, tira dela nesse segmento que ela já vinha perdendo bem para o Aécio e aumenta a diferença. Esse aumento da diferença é natural que sensibilize dois, três, quatro pontos. Essa história se caiu sete, caiu seis, eu diria, mudou de patamar. Se ela estava em um patamar acima de 40%, ela está no patamar de 40%. Se esse patamar são 38%, 36%, 42% ou 43%, isso é indiferente. Nós estamos muito longe de ter o eleitor respondendo a pesquisa afirmando uma opinião madura. Se essa pesquisa fosse feita para a eleição, nós teríamos um dado adicional, para onde foi essa queda dela. Eu não estou mais trabalhando nas pesquisas Aécio Neves e Eduardo Campos, eu trabalho a soma dos dois. Eu somo os dois e boto Dilma, os outros e não voto onde somo tudo, não sabe, branco, nulo etc., é assim que estou acompanhando. Fiquei preocupado –foi isso que eu disse para o Aécio no domingo– dos dois terem caído até 2 pontos, 1 ponto, quando se tinha a expectativa de ter crescido 2, 3, 4 pontos, que fosse, para dizer que há uma tendência. Não há nenhuma tendência do crescimento da soma.

3. Os dois estão priorizando a conversa com as elites. É um erro.  Você vê fotografia deles em vários lugares. Não vê em nenhuma favela, por exemplo. Por que não? Ele é um senador da República, um governador do Estado de Pernambuco, ele não pode subir uma favela e verificar o que está acontecendo como esse descontrole de segurança pública no Rio? Uma situação gravíssima, gravíssima. Os números estão mostrando isso há um ano, ou mais. Então vai lá, vai lá com o Exército. Quer ter uma posição? Vai lá na [Favela da] Maré, o Exército vai entrar, não tem risco nenhum. Que política é essa das UPPs? Conhecer, ver de perto, conversar com as pessoas, entrar em um barraco. A gente não vê essa marca em nenhum deles. Se vê com a Fiesp, com a Firjan, com a Associação dos Bancos, com a não sei das quanta e tal, e com o agronegócio e o empresário tal convidou o governador Eduardo Campos ou o senador Aécio Neves e ali estavam presente esse e aquele. Vamos ser pragmáticos Esse tipo de reunião obriga eles a fazer afirmações que tiram voto em campanha.

4. Aqui na nossa América Latina o pensamento liberal tira voto. O pensamento conservador dá voto. O pensamento liberal tira voto. O pensamento daqueles vão com um discurso liberal e o candidato vai fazer aquele discurso e vai perder voto. Se não fizer, “pô, devia ter feito”. Se fizer o discurso contrário, isso é claro. Aqui nós temos três vetores. Um vetor populista, que continua muito forte. Um vetor de voto conservador que é forte e não tem representação majoritária porque não foi testado ainda, mas terá 20%, uma boa representação majoritária, e tem o voto social, enfim, um discurso mais aberto socialdemocrata, ou socialista, ou centro-esquerda. O PSDB fica com uma calça justa, porque ele quer ser socialdemocrata. Essa franja está ocupada. Essa franja o PT ocupou bem porque o PT ocupou não apenas trazendo essas teses, como trazendo o populismo e o social-liberalismo através de sindicatos e multinacionais. Por onde entra o PSDB aí? Ele caminha para a direita. Por que não afirma esse caminho aonde tem voto, que é o eleitor conservador? É por aí que tem que caminhar, porque se deixar o eleitor conservador solto, ele vai caminhar para o voto do populismo evangélico.

5. Essas reuniões com as elites são prazerosas, elas são bem servidas, elas geram para o candidato uma alegria muito grande. Mas agora, precisa ter a marca em outras áreas. Precisa ir lá. Hoje a política tem, além da imprensa, que faz essa cobertura, tem também a internet. Você botar a foto ali, imagens, colocar… O site do PSDB o blog do PSDB agrega um voto?  Eu me mobilizaria em função daquelas informações que eu recebo? Zero, nada. E o partido que tem governador de Minas, do Paraná, de São Paulo, que tem grandes quadros, que tem presença nacional, como é que ele pode ficar confortável, patinando ali naquela centro-elite brasileira, do Sudeste. Sudestina. Em primeiro lugar, nós no Rio de Janeiro. Eu, pessoalmente, não sou um amigo íntimo, mas me considero amigo do Aécio Neves. Rodrigo [Maia] teve uns probleminhas com ele, enfim, depois não mais. Enfim, todos nós aqui queremos fazer a campanha. A nossa aflição é que ele ganhe a eleição, porque a gente pode estar errado. Ah não. Assim não tem maioria. Mas, enfim, o tempo vai levando a gente ter razão ou não ter razão. Se a gente não tiver razão, e ele tiver razão e ganhar, nós vamos ser os primeiros a ficar debaixo do palanque, aplaudindo. Nenhuma dificuldade quanto a isso. Agora, a ansiedade, eu tenho 68 anos vou fazer 69. Eu não tenho mais idade de entrar numa eleição achando que algumas coisas estão erradas e ficar calado, boca calada.

6. Três erros dele. Primeiro essa insistência na exposição das reuniões com as elites. Esse segundo eles estão entrando agora. Que é entrar na Dilma, derrubar a Dilma. Em terceiro eu diria, não se iludir com o PMDB. Não achar que essa dissidência do PMDB é alguma coisa que produz resultado eleitoral para o Aécio ou para quem for. É entender que essa é a natureza do PMDB. Essas dissidências fortalecem o PMDB, que é um partido confederado. A gente sente isso, principalmente no Rio, a proximidade, o Eduardo Cunha fez declarações, o Picciani, presidente do partido no Rio, fez declarações. Eu acho que é um equivoco. O PMDB no final vai fazer a campanha que fortaleça o PMDB. Com que condições o Aécio pode, ou o Eduardo Campos, pode aumentar a bancada de deputados federais do PMDB? Neste momento o Eduardo Campos acelerou o discurso, intensificou a marca do discurso. Eu ainda não tenho convicção que ele tenha fôlego para crescer. Se eu tiver razão eu acho que aí favorece a Dilma no primeiro turno.  Poderia ganhar, e por isso tem que se tomar muito cuidado.

7. Há uma probabilidade do “não voto” crescer nessa eleição. Quando eu chamo de não voto, é abstenção, branco, nulo, não sabe, não respondeu. Eu somo isso tudo. Há uma probabilidade desse não voto se aproximar de 40%. Quem perde? Quem perde?  A Dilma, que tem o voto do Nordeste, do interior, o voto que nós tínhamos antigamente isso trocou, eles têm uma máquina grande, uma máquina de gente? Eu acho que a Dilma não perde com o “não voto”. Dilma perde menos. Isso pode gerar um primeiro turno para ela. Porque o primeiro turno, em condições normais de temperatura e pressão, ela precisaria ter 47% para ganhar no primeiro turno. Mas as últimas eleições mostraram que com 43%, que ela teve, que o Lula teve, isso produz segundo turno. Então eu fico pensando, se essa massa de não voto crescer, ela pode ganhar no primeiro turno com 40%? Pode, pode. Eu estou com viés construtivo. É muito diferente. Se eu estivesse em setembro, eu diria que estou com viés pessimista. Não estou. Nós estamos no mês de março, nós estamos ainda entrando… Há, tempo total, total. Eu sou tardiano, Gabriel Tarde, então eu acredito piamente nas leis de imitação. Fiz na minha vida tudo isso. Deu certo muito tempo. Há que fazer o trabalho de proximidade.  O trabalho que o Gushiken fez foi espetacular para o PT. Esqueceu que só existe TV Globo, Folha de S.Paulo, etc., e foi botar recursos em meios de comunicação, rádio, jornal, de pequeno porte. Você anda por aí, liga a rádio e tem lá, Banco do Brasil, Caixa Econômica, e vai ver o que a rádio fala bem deles… Trabalho do Gushiken. E o presidente Fernando Henrique, que é, vamos dizer, o mentor do Aécio Neves… Eles tinham que ter coragem de meter uma pesquisa na rua para saber se a impopularidade dele continua a mesma. Se ele dá voto ou se ele tira. Porque eu nunca vi o Fernando Henrique em uma situação de exposição como hoje. Faz palestra em tudo quanto é lugar, e sempre inteligente, sempre respostas espetaculares. Isso tem que se saber, tem que se colocar. Se votaria num candidato apoiado ostensivamente pelo presidente Fernando Henrique, tem que saber, para saber se o Aécio tem que ter um mentor guardado, oculto, ou se tem que ter um mentor na linha de frente.