04 de junho de 2018

ITÁLIA FORMA GOVERNO E DÁ EXEMPLO DE FLEXIBILIDADE POLÍTICA!

(Editorial Folha de S.Paulo, 01/06) 1.A queda de um primeiro-ministro e divergências para formar um governo não constituem propriamente novidade na Itália, habituada à volatilidade política e à rotatividade dos ocupantes do cargo. A solução encontrada para o impasse da vez, embora longe de garantir estabilidade, ao menos desfaz temores de que viesse a emergir um governo abertamente disposto a retirar o país da União Europeia.

2. O imbróglio começou quando o presidente italiano, Sergio Mattarella, rejeitou a indicação de Paolo Savona como ministro da Economia, justamente por seu euroceticismo —ele já classificara como “erro histórico” o país ter adotado a moeda única do bloco e falara da necessidade de um “plano B”.

3. O gesto do chefe de Estado deixou patente a desconfiança com a coalizão formada após as eleições de março, na qual nenhum partido obteve maioria parlamentar.

4. Mais votados no pleito, a Liga, de direita nacionalista, e o Movimento 5 Estrelas, autoproclamado antissistema, se uniram e decidiram bancar como premiê o professor de direito Giuseppe Conte, um neófito na vida pública.Este, porém, no intervalo de apenas quatro dias, renunciou à tarefa de montar seu ministério, em razão do veto a Savona.

5. Pois foram necessários outros quatro dias, somente, para Conte voltar a ser indicado para governar a Itália. Nesta quinta-feira (31), o presidente avalizou o gabinete, agora com outro nome para a economia: Giovanni Tria, cujas críticas ao europeísmo não despertam tanta preocupação nos mercados.
O acerto traz certo alívio por evitar a realização de novas eleições, em que as legendas com plataforma anti-UE poderiam ter um desempenho ainda mais expressivo.

6. Entretanto há razões para se recomendar cautela, dada a extravagância da aliança entre Liga e 5 Estrelas, na qual coabitam propostas como cortes de bilhões de euros em impostos e aumento de gastos com programas sociais.

7. Tudo isso, ressalte-se, num país cuja dívida pública chegou a 132% do Produto Interno Bruto em 2017, percentual que só ficou abaixo da convalescente Grécia (179%) entre as 28 nações do bloco europeu.

8. Compreende-se a insatisfação popular com a UE, em especial por causa da ajuda insuficiente ao governo italiano para lidar com o recente fluxo migratório oriundo do Oriente Médio e do Norte da África.

9. No tocante à economia, porém, cabe dizer que boa parte dos problemas italianos não nasceu por diretrizes de Bruxelas. Reconhecer esse fato e conduzir uma gestão que não se renda à faceta populista de seus fiadores estão entre os desafios do premiê Conte.