08 de janeiro de 2019

ARGENTINA, URUGUAI E BOLÍVIA: PRINCIPAIS ELEIÇÕES NA AMÉRICA LATINA EM 2019!

(Sylvia Colombo – Buenos Aires – Folha de S.Paulo, 06) As três principais eleições da América Latina no ano de 2019 colocam em xeque projetos de continuidade, alguns mais, outros menos exitosos em países importantes da região.

A segunda maior economia da América do Sul, a Argentina, tem seu primeiro turno em 27 de outubro, e é o pleito mais incerto dos três, uma vez que o país acaba de cair num processo de recessão, começa o ano com uma inflação beirando os 50%, um pacotaço de aumentos de tarifas e de ajustes em orçamentos públicos programados para os primeiros três meses e uma dívida de US$ 57 bilhões com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Caso consiga manter ilesa ou não tão dilapidada sua aprovação popular (por ora de 30%) até o meio do ano, o candidato governista deve ser o atual mandatário, Mauricio Macri, que já anunciou que quer a reeleição.

No caso da tensão social se elevar, segundo fontes da Casa Rosada, o governo pode optar por escolher um sucessor mais afastado da área econômica e com maior carisma, como a governadora da província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, ou o chefe de governo da capital, Horacio Rodríguez Larreta, que é bem avaliado pelos portenhos.

Pelo menos dois candidatos enfrentarão Macri, atacando justamente pelo flanco da crise econômica e da recessão, que devem afetar principalmente os mais pobres.

São aqueles que, na tradição argentina, mais se identificam com as causas populares e a justiça social: os peronistas. Como já ficou demonstrado em outras eleições, porém, há muitas divisões internas e dificilmente eles jogarão com uma só candidatura.

Neste momento, é possível afirmar que haverá ao menos duas. Um nome sairá do chamado “peronismo moderado ou alternativo”, mais de direita, que tem muita força nas províncias, já que o grupo governa muitas delas.

Disputam estar à frente dessa candidatura Sergio Massa; o líder do Senado, Miguel Ángel Pichetto; e o governador de Salta, Juan Manuel Urtubey. Os três disputarão as primárias, em agosto.

A segunda força de oposição será o kirchnerismo e aliados, liderados pela senadora, ex-presidente e pré-candidata Cristina Kirchner. Se ela confirmar seu interesse, e se nenhuma das ações que enfrenta na Justiça a impedir, não haverá primárias dentro da força, porque as organizações sociais e os integrantes de seu partido, o também peronista Unidade Cidadã, defendem a sua candidatura.

Com os pré-candidatos que já se apresentaram, estão sendo feitas pesquisas. A do Instituto Isonomía, um dos mais confiáveis do país, aponta que a disputa de um segundo turno entre Macri e Cristina é o que a maioria dos argentinos quer ver, uma espécie de Boca x River que nunca aconteceu.

Os números do Isonomía mostram que Mauricio Macri e Cristina Kirchner passariam a um segundo turno, mas que, por ora, o atual presidente ganharia por sete pontos percentuais de vantagem.

Outro cenário, de que Macri não gosta muito, é o de um segundo turno entre María Eugenia Vidal e Cristina. Neste, os números da pesquisa dão vitória mais folgada, de Vidal ante Cristina, com 14 pontos percentuais de diferença.

Do outro lado do rio da Prata, e no mesmo 27 de outubro, disputa-se o primeiro turno da eleição uruguaia, país governado pela centro-esquerdista Frente Ampla nos últimos 15 anos e um dos únicos da região a ter mantido crescimento econômico constante no período.

Neste cenário, não seria difícil imaginar uma fácil reeleição da Frente Ampla, que está no poder desde 2005. No entanto, o partido se encontra numa encruzilhada.

Trata-se de uma coalizão de forças de esquerda e de centro-esquerda em que os jovens têm pouca projeção. As figuras mais conhecidas estão em idade avançada, como ambos os presidentes do período e o homem-chave do bom desempenho na economia, Danilo Astori, 78. Ele tem ainda aspirações de ser presidente, mas a idade avançada pode complicar sua escolha.

As opções mais mencionadas por ora são o atual prefeito de Montevidéu, Daniel Martínez, 61, que já se anunciou pré-candidato e é de centro-esquerda, e a preferida de Mujica, Carolina Cosse, 57, da ala “tupamara” —guerrilha urbana a que pertenceu o ex-presidente— da Frente Ampla.

Pelo lado do Partido Nacional, deve voltar a concorrer o liberal Luis Lacalle Pou, 45, filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle. Já o Partido Colorado, que se posicionava mais à esquerda no passado, passou por uma fase direitista e agora está se renovando completamente.

Por ora, com tantas peças faltando, não há pesquisas de intenção de voto no Uruguai.

O terceiro país importante a ir às urnas é a Bolívia, outro caso de sucesso na área econômica da região. Há mais de uma década, este que sempre esteve entre os países mais pobres das Américas vê seu PIB (Produto Interno Bruto) crescer a uma média anual de 5%.

Mesmo com o fim do boom das commodities registrado na década passada, a Bolívia conseguiu se manter como provedor de gás natural a distintos países, diversificou sua produção e abriu-se para investimentos estrangeiros, principalmente da China e dos EUA, com grande ênfase na mineração.

“Tínhamos sempre essa ideia de que na economia íamos ser pragmáticos, e na política, ideológicos. Para garantir que o boliviano soubesse que sua ascensão social é para valer e que não havia possibilidade de retorno a uma situação de pobreza”, disse o atual vice-presidente Álvaro García Linera.

O sucesso econômico é elogiado pela comunidade internacional. Por outro lado, o país vem sendo alvo de críticas internas e externas com relação à manobra que tenta fazer o presidente Evo Morales, no poder desde 2006.
Morales quis mudar o artigo da Constituição para permitir que se candidatasse a um quarto mandato. A proposta foi derrotada em referendo, em fevereiro de 2016.

Como última cartada, o presidente evocou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, segundo a qual não se pode impedir um cidadão de se candidatar.

O Tribunal Constitucional da Bolívia aceitou o argumento, e a chapa Evo Morales-García Linera voltará a se apresentar, também em outubro de 2019 —a data exata da votação não está definida.