15 de fevereiro de 2018

ÓPERA POPULAR CARIOCA!

(Artigos de Mauricio Mattos, Jorge Castanheira e Cesar Maia – Revista Rio Samba e Carnaval 2018)

Mauricio de Araújo Mattos,

Rio Samba e Carnaval

O Carnaval da Cidade do Rio de Janeiro é a maior festa popular do mundo. Ano a ano, faço uma reverência à história desta festa alegórica que brota nas ruas da cidade do Rio. O desfile das escolas de samba é a festa da exaltação e celebração da vida. A magia, cultura e arte se fundem em um espetáculo único, genuinamente brasileiro.

Aos 23 anos, iniciei minha vida no mundo da folia, um sonho que se realizava. Desde então, as portas desse mundo se abriram. Aprendi, me emocionei, empreendi, plantei e colhi os frutos da folia.

As escolas de samba são craques em superar adversidades. Não há chuva, vento, falta de dinheiro ou desânimo. O sonho estará novamente na avenida. As cores e luzes brilham no palco nobre do carnaval carioca.

A cidade é a porta de entrada dos turistas em nosso país e o carnaval é a festa que simboliza a união de todas as raças e credos. O mundo se rende à magia do desfile. Dos quatro cantos, chegam turistas ávidos por ver o chamado maior espetáculo da Terra.

Vejam esta maravilha de cenário / é um episódio relicário / que o artista num sonho genial / escolheu pra este carnaval / e o asfalto como passarela / será a tela do Brasil em forma de aquarela

Os versos de Silas de Oliveira eternizaram o simbolismo do carnaval. É no asfalto da passarela que o artista genuíno mostra a capacidade de criar o sonho da imaginação, dançando e cantando a alegria do povo brasileiro.

A Rio, Samba e Carnaval celebra a nossa maior festa. A herança cultural de um povo cantada em versos de alegria e magia. São 47 anos de beleza, luxo, inovação e dedicação. Acima de tudo, eu ainda posso viver a alegria de ser um folião.

Que venha a alegria! Que venha o sonho!

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O SAMBISTA

Jorge Castanheira,

Presidente da Liesa, Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro

O sambista é, antes de tudo, um forte. Já superou de tudo para ser reconhecido como expoente de nossa cultura popular. Passou por perseguições políticas; enfrentou censura; trocas sucessivas da localização de seu palco de apresentação… Nada, porém, foi capaz de diminuir seu otimismo e sua alegria. Crises? Foram tantas que nem dá para enumerar.

Todas, absolutamente todas, porém, foram superadas.

E o desfile das Escolas de Samba acabou se transformando na maior manifestação cultural do país. Um exemplo de organização e beleza. As agremiações, sejam elas do Grupo Especial ou dos grupos de acesso, são grandes geradoras de riqueza. Nas quadras e nos barracões milhares de pessoas ganham a vida. Trabalham. Produzem. Geram riqueza – para o município, para o estado, para o país.

O poder público precisa ter a consciência de que o Carnaval, mais do que uma simples festa, é a maior manifestação cultural do Brasil. É necessário que fique claro que as Escolas de Samba ajudam a promover a inclusão social, trazendo para o mercado de trabalho pessoas que estavam afastadas.

Nos dias de Carnaval o Brasil, efetivamente, se aproxima daquele país que gostaríamos estivesse presente no nosso cotidiano, com turistas nos visitando, com nossos habitantes felizes, com a cultura valorizada e com grande destaque para seus artistas.

Mas, repetindo, o sambista é antes de tudo um forte. E esta força se fará presente, viva e pulsante, mais uma vez, este ano, nos desfiles. As dificuldades serão superadas com amor, criatividade, empenho. Quem acompanhar os desfiles, no Sambódromo ou pela televisão, verá, de novo, toda a beleza que a energia criativa de nossos sambistas é capaz de produzir.

Bom Carnaval a todos!

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ÓPERA POPULAR

Cesar Maia

Ex-prefeito da Cidade do Rio de Janeiro; Criador da Cidade do Samba (2006); Vereador carioca

Ô abre alas, ô abre alas que eu quero passar!, cantava a marchinha composta por Chiquinha Gonzaga em 1899.

Desde então os que querem também passar abrindo alas são muitos! Sem preconceito, o Rio recebe de braços abertos os interessados em se divertir. Os nascidos aqui estão prontos para receber, encantar e emprestar a ‘carioquice’ a todos.

Inegável dizer que fomos e somos influenciados pela cultura africana, como veremos durante o desfile na Passarela do Samba.

Razões de sobra para investir na nossa Ópera Popular com proporção de indústria. O samba não pode ser silenciado. Ele é a essência dessa explosão de sentimentos a orados, esteja você desfilando ou assistindo. Muito já se ouviu, discutiu, decretou ou tentou-se proibir aqui e em alhures. Difícil é encontrar ressonância que pretenda domar o samba, endurecer o seu rebolado, o seu balanço de quadril, a sua batucada, o vai e vem cadenciado de corpos suados.

O Carnaval chegou! O desfile vai começar!

Homenagens não faltam. Chacrinha, o velho guerreiro. Miguel, o Falabella. A China pra lá de milenar, a Índia, os mu- seus de Belas Artes e o Nacional. E corra que o futuro já está aí. Mexa e remexa temperos entre reis, rainhas e as senhoras do ventre do mundo. Quem são os nossos monstros? Ah… não há mais escravo de nenhum senhor. Com ou sem dinheiro, vamos todos brincar. E ‘no abraço dessa terra só não  fica quem não quer’.

Aproveitemos o espírito carioca em potência máxima, a malemolência do ritmo que brota assim, como quem não quer nada e faz com que a dança, as fantasias, a alegria permitam a cada um ser o que se quer ser.

Ô abre alas, ô abre alas que eu quero passar!