23 de fevereiro de 2022

ONLINE PODE SER BOM, MAS NÃO SUBSTITUI PRESENCIAL!

(Simon Schwartzman, sociólogo e membro da Academia Brasileira de Ciência – O Estado de S. Paulo, 19) Pela 1.ª vez, o total de ingressantes na educação a distância superou o de ingressantes nos presenciais, por causa, sobretudo, da alta de matrículas a distância no setor público, que antes praticamente não existiam. Claro que isso foi acentuado pela pandemia, mas é uma tendência que já ocorria. O aluno típico do presencial é jovem, recém-saído do ensino médio, não precisa trabalhar. Com recursos da família, cursou uma boa escola de ensino médio que permitiu que entrasse em uma instituição pública pelo Enem ou Fuvest, ou paga curso presencial em boa instituição privada. O aluno da educação a distância terminou o médio anos atrás, precisa trabalhar, e possivelmente não teve boa qualificação no Enem ou na Fuvest, se é que tentou.

Até a crise de 2015, os mais velhos normalmente entravam em cursos noturnos privados, com bolsa do Prouni (uma pequena parte), e sobretudo com o financiamento estudantil, que acabava muitas vezes não pagando. O Fies encolheu e grandes empresas do setor privado transferiram alunos dos noturnos para o EAD.

Com a educação a distância, o custo por aluno cai, porque poucos professores atendem a muitos alunos com aulas padronizadas, distribuídas por meios eletrônicos, o que dispensa manter muitas instalações. Para o aluno, o baixo custo torna o curso acessível; se bem dado, pode ser melhor do que os antigos noturnos.

O EAD existe há décadas e não é necessariamente de má qualidade. A economia de escala permite materiais de qualidade, sistemas sofisticados de distribuição, acompanhamento e avaliação, fora do alcance de instituições menores e dos noturnos tradicionais. Um problema é a grande taxa de evasão – que ocorre também no presencial (na ordem de 50%).

Mas o EAD não substitui o presencial. Proximidade com colegas, professores, biblioteca e áreas de convivência, o conhecimento tácito que não está em livros e computadores e se adquire no contato pessoal, as redes criadas: isso não se reproduz a distância. Para jovens, o presencial, enriquecido com recursos das novas tecnologias, é indispensável. Aos mais velhos, o EAD de qualidade, se mais orientado para cursos mais curtos e práticos, e não bacharelados e licenciaturas tradicionais, pode ser a melhor opção.