OPERAÇÃO MÃOS LIMPAS, LAVA-JATO E AS ELEIÇÕES DE 2018 NO BRASIL!
1. As buscas de explicações e razões pela inversão eleitoral, como aconteceu no primeiro turno das eleições em 2018 no Brasil, são, em geral, simplificações que facilitam entender a equação causa e efeito.
2. Em geral, esses fenômenos simplificadores têm razões muito mais amplas. Essas razões constroem um quadro e um cenário que criam as condições para a impulsão e multiplicação quase sempre personalizadas pelos analistas, pela mídia e agora pelas redes sociais.
3. Uma análise mais cuidadosa e mais rigorosa precisa ir em direção as causas gerais, ou seja, como o cenário e o quadro eleitoral de 2018 foi construído. Os atores -conscientes ou não- são receptores desta situação e, a partir daí, capitalizadores e impulsionadores.
4. A Operação Mãos Limpas, na Itália (1992/1996), liderada pelo Procurador Di Pietro (ler “Operação Mãos Limpas” de Barraceto, Travaglio e Gomez – Ed. Saraiva, com introdução e conclusão do Juiz Sergio Moro), terminou por desconstruir o comando político do sistema parlamentar italiano, desintegrando os dois principais partidos – a Democracia Cristã e o Socialista. Surgiram, pelo menos na forma, novos partidos e novas lideranças políticas e parlamentares.
5. A Operação Lava-Jato, iniciada em 2014, com sua metodologia inspirada na Operação Mãos Limpas, teve o primeiro teste de suas consequências políticas e parlamentares no Brasil, agora em 2018. Da mesma forma, aqui, o comando político-parlamentar foi desconstruído na eleição geral de 2018.
6. Olhar apenas para os votos e a liderança do vencedor é tomar o efeito pela causa. Assim como na Operação Mãos Limpas, o impacto na opinião pública da Operação Lava-Jato e através dela a desconstrução do comando político-parlamentar abriu espaços para as mudanças ocorridas, seja pela expressão carismática de seu líder, como pelo surgimento de um partido que veio de quase nada para formar bancadas majoritárias em nível nacional e estaduais.
7. Mas há uma diferença na dinâmica e no desdobramento de uma e outra. Na Itália, o Parlamentarismo ao mesmo tempo realiza as inversões partidárias nominalmente e constrói novos governos formais, substituindo os líderes dos partidos desintegrados por novos líderes. Novos nomes, sem necessariamente alterar o conteúdo. Berlusconi é um exemplo. E alguns anos mais tarde, o Movimento 5 Estrelas – que galopa a antipolítica e galga a maioria simples na Câmara de Deputados.
8. A Operação Lava-Jato se desdobra no Brasil também 4 anos depois, mas num sistema Presidencialista vertical. Se a votação do primeiro turno se repetir no segundo, que impacto terá no governo e no parlamento brasileiro? Será mantido um presidencialismo de coalizão no conteúdo, com ajustes nos personagens de primeiro escalão? Ocorrerá impasses entre executivo e legislativo uns meses depois da posse, após o banho de legitimidade das urnas?
9. Será adotado por emenda constitucional um parlamentarismo à brasileira, o que ajudaria muito a estabilidade?
10. Há que acompanhar com olhos de ver e ouvidos de escutar. E proceder a avaliações sistemáticas e permanentes até que se possa desenhar as primeiras conclusões. E bastarão poucos meses para estas primeiras conclusões. Repetir de forma açodada a explicação pela fórmula latino-americana do populismo autoritário é, pelo menos neste início, precipitação. Aguardemos com um pouco de paciência.