16 de dezembro de 2016

ARRUMANDO OS ARQUIVOS NESSE FINAL DE 2016! QUATRO NOTAS DESTACADAS!

1. ANTICRISTO de Ernest Renan 1878
Origens do Cristianismo. Livro IV –página 123.
Lello e Irmãos Editores. Porto.

Um secreto instinto leva-nos a estar com os perseguidos. Aquele que imagina deter um movimento religioso ou social com medidas coercitivas dá prova de uma completa ignorância do coração humano e de que não conhece os verdadeiros meios da ação politica. A solidez de uma construção está em proporção com a soma de virtude, de sacrificios, e de devotamento que se lhe depôs na base. Só os fanáticos fundam alguma coisa. O judaísmo dura ainda, por causa do extraordinário entusiasmo dos seus profetas e zeladores. O cristianismo por causa da coragem dos primeiro cristãos. Roma com Nero, passa a ser a cidade dos mártires e por isso a segunda cidade Santa. O odioso mentecapto que governava o mundo,(Nero), não se apercebeu de que era o fundador de uma ordem nova  cujos efeitos seriam reivindicados ao cabo desses 1800 anos.  Havia se espalhado com a vinda do Cristo verdadeiro que seria precedida por uma espécie de Cristo infernal que seria completamente o contrario de Jesus. Já não podia duvidar-se : o Anticristo, o Cristo do mal tinha já aparecido. O Anticristo era esse monstro de face humana um misto de ferocidade, de hipocrisia, de impudicia, de orgulho que corria o mundo como herói ridículo iluminando os seus caminhos com fachos de carne humana.

2.  A EMENDA CONSTITUCIONAL NÚMERO 1, À CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS –1791!

“O congresso não deverá fazer qualquer lei a respeito de um estabelecimento de religião, ou proibir o seu livre exercício; ou restringindo a liberdade de expressão, ou da imprensa; ou o direito das pessoas de se reunirem pacificamente, e de fazerem pedidos ao governo para que sejam feitas reparações de queixas”.

Em resumo:
O Congresso passa a ser impedido de:
Estabelecer uma religião oficial ou dar preferência a uma dada religião (a “Establishment Clause” da primeira emenda, que institui a separação entre a Igreja e o Estado)
Proibir o livre exercício da religião;
Limitar a liberdade de expressão;
Limitar a liberdade de imprensa;
Limitar o direito de livre associação pacífica;
Limitar o direito de fazer petições ao governo com o intuito de reparar agravos;
A Primeira Emenda apenas desautoriza explicitamente o Congresso a respeito destes pontos.

3.  VIDA E MORTE DE M.J. GONZAGA DE SÁ 1918!

Edição da Revista do Brasil 1919 –  Pagina 91 – Livro deixado por meu avo Manoel Ribeiro de Almeida amigo desde a escola de Lima Barreto (citado na biografia de Lima Barreto por Assis Barbosa).

Quais são os meios de publicidade? O jornal e a revista…, e o livro. Um jornal dos grandes é uma empresa de gente poderosa, que se quer adulada e só tem certeza naquelas inteligências já firmadas, registradas, carimbadas, etc. Demais, o ponto de vista limitado e restrito dessas empresas, não permite, senão publicações para leitores medianos que querem politica e assassinatos.

Os seus proprietários fazem muito bem: dão o que lhes pede o público. Se não consultam as médias, tem que lisonjear os potentados, os graúdos, porem-se a serviço deles -gente em geral-, perfeitamente estranha ao tênue espirito brasileiro e que não quer saber de coisas do pensamento desinteressado. Além disso são necessárias mil curvaturas para chegar até eles, os grandes jornais, e quando se chega, para não escandalizar a média e a grande burguesia onde eles têm a sua clientela, é preciso atirar fora o que se tem de melhor na cachola. As revistas são a mesma coisa, tendo a mais…, as fotografias.

4. ERASMO DE ROTTERDAM (1466-1536) de Stefan Zweig
Paidós – Barcelona.

(Pág-97) Em Erasmo há uma diferença decisiva. Europa lhe parece uma ideia moral, uma demanda espiritual isenta de egoísmos. É o primeiro a propor um estados unidos da Europa sob o signo de uma cultura e civilização comuns. O pré-requisito evidente para Erasmo, precursor de esta e todas as ideias que propugnem o entendimento mútuo, é o abandono de toda forma de violência e em particular a abolição da guerra, esse “naufrágio do bem”. Há que se considerar Erasmo o primeiro teórico do pacifismo. Divulgou pelo menos cinco escritos sobre -contra a guerra- em uma época de guerra constante: em 1504 uma exortação a Felipe O Belo; em 1514 o requerimento ao Bispo de Cambrai que como “príncipe cristão, aceite por Jesus Cristo a paz; em 1515 nos “Adagia”, o célebre escrito que leva um título eternamente verdadeiro: “Dulce bellum inexpertum”, ( só aqueles que não a viveram. lhes parece a guerra bela”; em 1516 faz uma admoestação ao jovem Imperador Carlos V em seu aprendizado para ser um príncipe piedoso e cristão”; finalmente em 1517 aparece difundida em todas as línguas mas esquecida depois por todos os povos, a “Querelo Pacis”: “ a queixa da paz, que tem sido abandonada, expulsada, relegada pelas nações e povos da Europa”.

(Pág. 101/102) Pois uma quadrilha só se converte em partido se tem uma consigna, se organiza militarmente e passa a ter um dogma. Todos os grandes conflitos violentos da humanidade se devem menos ao afán genético de violência, que a existência de alguma ideologia que a desata contra outra parte da humanidade. É o fanatismo –este bastardo de espírito e violência- o que quer impor ao universo inteiro a ditadura, de uma maneira –a própria- de pensar, como a única fé e a única forma de vida permitidas, com o que divide a comunidade humana em inimigos e amigos, partidários e adversários, heróis e criminosos, crentes e hereges. Ao reconhecer só o seu sistema, e admitir só a sua verdade, o fanatismo tem que fazer uso da violência para reprimir qualquer manifestação  de diversidade, uma diversidade fruto da vontade de Deus.  …….O homem de espírito não pode ter uma culpa mais pesada que a de aportar mediante uma ideologia exclusivista o pretexto decisivo para ativar a violência das massas, pois ao faze-lo desperta força primitivas que desbordam em ferocidade seu pensamento original e destroem qualquer intenção mais pura. Um só indivíduo pode fazer que a massa se deixe levar por suas paixões, mas quase nunca –depois- aplacar a paixão desencadeada. Quem incita ao fanatismo declarando unicamente válido determinado sistema de existência, de pensamento, de fé, tem que reconhecer a responsabilidade de estar chamando à desunião do mundo, à guerra –espiritual ou real- contra outras maneiras de pensar ou viver.