Jornal O Globo entrevista Cesar Maia

Cesar Maia no plenário da Câmara de Vereadores

De O Globo (28/05)

Como o senhor vê o atual cenário e as chances de Temer se manter na presidência?

Pela questão do tempo, você pode descartar duas possibilidades: impeachment e eleições diretas. Estamos a 13 meses das convenções partidárias da eleição de 2018. Se fosse tudo feito, impeachment ou diretas, numa velocidade consensual, nada disso aconteceria em menos de oito. Mas nada será consensual, levaria pelo menos dez meses. Estas duas não acontecerão. Nas outras duas hipóteses, o inquérito no STF e o julgamento no TSE, o presidente, com sua grande e experiente equipe jurídica, tem grande capacidade de postergação dos fatos. E o tempo joga a favor dele.

A cassação pelo TSE é apontada por muitos como o desfecho mais provável para o presidente…

Não é simples. Há 15 dias, ninguém discutia que o TSE não condenaria Temer. Hoje o quadro mudou. Mas será que, faltando 10 ou 12 dias para o pleno do Supremo decidir (sobre continuação do inquérito que investiga Temer), o TSE, que tem uma natureza eleitoral, ele vai mergulhar na boca do vulcão? É possível que a defesa apresente argumentos novos, o que pode ensejar pedidos de vista que podem suspender a sessão. Os argumentos não vão ser simples. A probabilidade do TSE decidir plenamente em 6 de junho, na minha cabeça, é de 5%, 10%…

Rodrigo Maia está pronto para conduzir uma eleição indireta?

Claro que está. Mas olha sua pergunta. Se você me perguntasse se ele está preparado para assumir (a presidência) depois dessa eleição indireta, não posso responder. Até porque ele não admite essa conversa.

Ele aparece em todas as especulações como um dos candidatos naturais a suceder Temer, é previsível que esteja se articulando…

Rodrigo não admite que se trate desse assunto: “Sou presidente da Câmara. Estou empenhado nas reformas, essa é minha cabeça”, é o que ele tem dito. Fora disso, nem em apartamento de senador e deputado, ele trata (de possível candidatura). Se alguém fala, ele fica com cara de paisagem. Mas, provavelmente, se a Câmara tiver esse sucesso, aprovar a previdência, o destaque dele vai ser grande. No Senado, onde seria muito mais fácil de resolver, está esse imbróglio, de Renan, etc…

Quem seria mais forte numa eleição indireta?

Se chegar a esse ponto daqui a seis, oito meses, lá vão surgir os nomes. Pergunte a quem conhece o Congresso: o PSDB tem chance de eleger um presidente numa eleição indireta? O PSDB tem essa dificuldade, (os deputados) acham que são petulantes, donos do mundo… “como vou bater na porta de um cara do PSDB, pedir meu carguinho?”… Há certa inibição, para o bem ou para o mal.

Há notícias de que políticos ultra-experientes, como Fernando Henrique Cardoso e José Sarney estão articulando um desfecho menos traumático para a crise, o que passaria pela saída de Temer e candidatos para a eleição indireta…

Não adianta ficar só na teoria. Tem que conversar com os políticos relevantes, de qualquer clero, ver o que é possível, não é. Fernando Henrique tem seu instituto, um intelectual brilhante, boas declarações na imprensa… Tem que pegar um avião a Brasília e conversar com as pessoas. O voto de boa parte dos deputados não é um voto de opinião pública, é distrital. Os deputados hoje estão de olho em quê? Em 2018. Como você leva para um deputado uma tranquilidade em relação ao futuro dele? Não estou falando de dar dinheiro. Mas (chamar o deputado e dizer) “o presidente Temer saiu… Nós vamos dar, basicamente, continuidade ao governo do presidente Temer. Pode ficar tranquilo, o trabalho que você conseguiu com sua representação em Aracaju, Marajó… Vai ter continuidade”. Alguém tem que dizer isso pro deputado. Não vai ser entrevista do FH em programa de TV que vai resolver (uma eleição no Congresso). E tem que conversar com o plenário mapeado. Chama fulano, 20 minutos, depois vem outro, cafézinho. Na TV, não vai conseguir maioria absoluta. Cada eleitor é muito importante, é 1 em 500…

A cassação da chapa no TSE seria “saída honrosa” para Temer, lhe daria um discurso? Há negociações para sua saída?

Discurso não é problema. Algumas coisas já foram discutidas. Uma era fazer uma lei que diria: no caso de renúncia, o presidente da República mantém o foro especial até o fim do mandato. Isso se discutiu, mas foi superado, porque deputados e senadores que colocassem a cabeça de fora (propondo a lei) ficariam mal. Quem vai apresentar? Isso garantiria um lastro legal para o presidente levar o foro por um ano e meio. Por avaliação da repercussão, não foi adiante.

O DEM e o PSDB deveriam sair do governo?

No sábado passado (dia 20), havia uma posição das principais lideranças dos principais partidos que dão sustentaçao, fora o PMDB, de que na terça-feira (dia 23) os ministros (de PSDB e DEM) sairiam. Até argumentei: por quê de afogadilho? Definiu-se que na terça-feira sairiam. Na segunda-feira (dia 22), decidiram aguardar a deliberação do plenário do STF (sobre suspensão do inquérito que investiga Temer), que seria na quarta-feira. A presidente do Supremo adiou a decisão (para depois da perícia nas gravações), (os partidos) decidiram aguardar decisão do TSE.

Nesta semana, seu filho desmentiu o ministro da Defesa, que afirmou que partiu dele a sugestão de convocar o Exército às ruas. Rodrigo Maia ficou chateado com o governo, houve danos na relação?

Ele provou que não havia pedido o Exército… O (ministro da Defesa Raul) Jungmann não se elegeu deputado… É suplente. É uma pessoa com uma postura, palavra forte, aquele jeito de pernambucano.. Mas, num momento desse, a experiência acumulada a quem está no jogo legislativo, levaria ele a matar no peito e não atribuir a terceiros. Foi um erro crasso. Não pode jogar a peteca para o outro lado num caso desse, é um erro primário. A relação dele com o presidente é de lealdade.

O acirramento dos protestos, como visto neste dia, não enfraquece o presidente Temer?

Isso de tacar pedra em ministério é de uma burrice que não tem tamanho. O tempo corria para adensar o movimento (contra Temer). Eles (a oposição) estão desmobilizando as ruas com o uso de violência. Joga a favor do presidente. Em 2013, não tinha liderança partidária nem sindical. Agora, estão as bandeiras, CUT, PT, PCdoB… O outro lado, a movimentação de classe média, olha e diz “esse não é meu time, aí eu não vou”. Aí, você não vai ter um milhão como em 2013. Mas eles (partidos de esquerda) não querem abrir mão da liderança do processo. Eles estão dispostos a reformularem o processo? São muito vaidosos… Do lado de cá, redes sociais, a classe média difusa, a tese das Diretas cabe. Mas precisa ter volume para isso.

Pesa contra Rodrigo Maia numa eventual eleição indireta a citação em depoimentos de delatores da ODebrecht. O de Benedicto Júnior cita inclusive que ele pediu dinheiro para a campanha do senhor ao Senado em 2010.

Nunca contactei empresário para financiar minha campanha, por dentro ou por fora. O Rodrigo, como presidente do partido, pediu. Pede como? Pede pro partido aplicar na minha campanha. Não pedi. O recurso veio. Tive um ruptura violentíssima com a ODB em 2012. Por isso me chamam de déspota. A ODB compra um parecer para tirar o contrato do Engenhão, obrigando Fla, Flu e Botafogo a acertar com o Maracanã. Foi uma canalhice que não tem tamanho. Mas foi tudo caixa 1. Pede, vai para o partido, e o partido aplica na minha campanha. Não vi nenhuma acusação a mim ou ao Rodrigo que entrasse caixa 2. Entra, e o partido aloca na minha campanha, registrado.