01 de julho de 2014

O VOTO E “OS IDIOTAS DA OBJETIVIDADE”!

1. Nelson Rodrigues cunhou a expressão “idiotas da objetividade” para aqueles que acreditam que a racionalidade prevalece sempre. Uma frase sua expressava essa afirmativa: “Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.” Ou parafraseando: Em política, o pior cego é o que se vê as obras, os fatos.

2. Os eleitores decidem seu voto em base à imagem que têm dos candidatos, mais do que o que fizeram ou o que prometem fazer. Nesse sentido, a propaganda política deve partir da imagem que têm os candidatos e saber que essa pode ser melhorada, recuperada, ampliada, suavizada, etc., mas nunca reconstruída. E coerente com o que promete.

3. Jacques Séguéla, publicitário francês que trabalhou com François Mitterand, aconselhou os políticos em “A palavra de Deus” a não tentarem reconstruir as suas imagens. Diz assim: “A cena política é muito parecida com a cena teatral. Mas há uma diferença fundamental. O ator muda de personagem e continua a produzir emoções. O político não!”

4. Dessa forma, há uma armadilha nas propagandas dos governos. Como a lei proíbe divulgar o nome ou a imagem do governante, cabe à publicidade divulgar o que o governo fez, ou diz que fez. Se gasta um dinheirão dos governos para pouco. Quando os governos pensam que a publicidade resultou, na verdade qualquer publicidade resultaria, pois a imagem do governo já estava preliminarmente fixada.

5. Claro, em campanha eleitoral, quando a imagem do candidato é apresentada com total liberdade, as possibilidades são muito maiores. Porém, sempre lembrando Séguéla: sem mudar o personagem.

6. Dilma é escrava do personagem que criou, de blindada e chefona. Seu personagem pode ser suavizado, mas nunca reconstruído. As testemunhas principais são seus interlocutores que contaram fatos que ratificam a imagem de quem ouve pouco e decide verticalmente.

7. A alternativa seria a propaganda provar ao eleitor que o Brasil precisa de um presidente com este perfil. Nesse caso, os fatos e a conjuntura teriam que ajudar, o que não ocorre. Aécio não pode trocar a roupa esporte pela casaca. Por ser um personagem antípoda ao de Dilma, tem conseguido atrair tantos políticos da base de Dilma. Não se trata de programa de governo, realizações ou fatos, mas de imagem naturalmente suave e agregadora.

8. Campos, que veste um personagem distinto de Marina, terá que explicar por que personagens tão diferentes são complementares e não conflitivos. Se o eleitor não se convencer, a transferência de votos de Marina será nula.

9. Há muito tempo se sabe disso. Não se trata de ideias geniais de comunicadores, publicitários ou estudiosos pós-modernos.

10. “Não penses que o castelo do governo consiste de fortalezas, muralhas e trincheiras: ele se encontra no interior das consciências. A grandeza dos Estados não pode ser medida pelas extensões territoriais e latifúndios, mas pela lealdade, benevolência e respeito dos habitantes.” Conde Maurício de Nassau, discurso de despedida do Brasil em 1644.

11. “A tolerância fortalece o Estado, porque um estado só é seguro quando os seus cidadãos sentem-se contentes, e isto somente acontece onde a consciência, a pesquisa e as ideias são livres e desentravadas.” Simon Episcopus -1628.

12. Citados em “Holandeses em Pernambuco” de Leonardo Dantas Silva, página 115.

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BRASIL: O DEBILITAMENTO DA FEDERAÇÃO E A CENTRALIZAÇÃO DO PODER!

(Ilimar Franco – Panorama Político, 28) 1. Os candidatos a presidente fazem discursos genéricos pela reforma tributária. Mas não assumem compromissos reais. Eles (do PT, do PSDB e do PSB), dizem especialistas, não querem de fato reduzir as receitas da União. Sua arrecadação tributária pulou de 66% do PIB, em 1995, para 68,3%, em 2006. A dos Estados caiu de 28,6% para 26%. Os governos FH e Lula jogaram na mesma direção.

2. O histórico da concentração das receitas pela União, desde a Constituição de 1988, consta de estudos acadêmicos do senador Francisco Dornelles (O Sistema Tributário da Constituição de 1988) e do advogado Flávio Tonelli Vaz (O ajuste fiscal efetivado no decorrer do Plano Real e suas repercussões na autonomia federativa). Não há inocentes. Ela foi praticada por Collor, Itamar, FH, Lula (com aval do PSB) e Dilma. Enquanto governadores e prefeitos se omitiram. Em texto do final do governo Lula, Dornelles foi taxativo: “União, Estados e Municípios atuam de forma concorrente em diversas áreas. A presença de órgãos federais e estaduais se chocam e, até, se anulam. A União se mantém habituada à antiga realidade, continua incapaz de absorver a alteração ocorrida (na Constituição de 1988) e voltou a aumentar seu campo de ação”.

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CRESCE O MEDO DE PERDER O EMPREGO!

(agência Estado, 30) 1. O “Índice de Medo do Desemprego” de junho atingiu 76,1 pontos, ante 73,6 pontos em março, representando alta de 3,4%. O dado está presente na mais recente edição da pesquisa trimestral “Termômetros da Sociedade Brasileira”, divulgada na tarde desta segunda-feira, 30, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Foi a quinta alta consecutiva do indicador.  O sentimento de perder o emprego apresentou a maior alta porcentual (5,76%) entre as pessoas que estudaram até a quarta série do ensino fundamental, atingindo 73,4 pontos em junho, contra 69,4 pontos de março. Entre as pessoas com curso superior, o receio de ficar desempregado ficou em 80,9 pontos em junho, ante 78,0 pontos, em março, ou seja, crescimento de 3,72%.

2.  O Sul do País foi a região onde o indicador mais cresceu porcentualmente (7,85%) entre março e junho, passando de 71,3 pontos para 76,9 pontos no período. No Norte e no Centro-Oeste, o medo do desemprego atingiu o maior valor entre as regiões, com 82,4 pontos, em junho; frente 77,0 pontos, em março, alta de 7,01%.

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ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA EM RECIFE GERA REAÇÃO NAS REDES!

(María Martín – El País, 30) 1. É a primeira vez que um movimento social organizado, e que utiliza como arma as redes sociais, gritou “basta” contra o modelo de crescimento urbano que prevalece na primeira capital cultural do Brasil, admirada por sua riqueza patrimonial. De um lado do conflito, o movimento social Direitos Urbanos, ativo desde 2012 e insatisfeito com a falta de participação dos cidadãos no debate sobre o desenvolvimento da cidade, atraindo um variado grupo de classe média sem hierarquias que pretende discutir, a partir do zero, o projeto, cuja legalidade é discutida desde que o terreno foi comprado em 2008.

2. No outro canto, um poderoso consórcio imobiliário que detém os macro projetos da cidade e que ajudou financeiramente a campanha eleitoral do governo municipal e estadual, nas mãos do Partido Socialista Brasileiro (PSB) desde 2013.

3. “O planejamento urbano de Recife tem sido feito a partir de megaprojetos”, lamenta Virgínia Pontual, urbanista e professora da Universidade Federal de Pernambuco. “O Novo Recife está em uma lógica onde a iniciativa privada, com o apoio do poder público, faz intervenções através de grandes empreendimentos imobiliários que nunca pensam a cidade como um todo e, menos ainda, em uma perspectiva social.

4. Isso entristece Frederico Faria, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de Pernambuco há 11 anos. “Eu gostaria que as pessoas tomassem consciência do valor do nosso patrimônio, que continua a ser a identidade de cada um de nós. Infelizmente, o Brasil não tem esse apego”, lamenta.