03 de novembro de 2020

O VOTO E “OS IDIOTAS DA OBJETIVIDADE”! 

1. Nelson Rodrigues cunhou a expressão “idiotas da objetividade” para aqueles que acreditam que a racionalidade prevalece sempre. Uma frase sua expressava essa afirmativa:  “Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.” Ou parafraseando: Em política o pior cego é o que se vê as obras, os fatos.

2. Os eleitores decidem seu voto em base a imagem que têm dos candidatos, mais do que o que fizeram ou o que prometem fazer. Nesse sentido, a propaganda política deve partir da imagem que têm os candidatos e saber que essa pode ser melhorada, recuperada, ampliada, suavizada, etc., mas nunca reconstruída. E coerente com o que promete.

3. Jacques Seguelá, publicitário francês que trabalhou com François Mitterrand, aconselhou os políticos em ” A palavra de Deus”, a não tentarem reconstruir as suas imagens. Diz assim: “A cena política é muito parecida com a cena teatral. Mas há uma diferença fundamental.  O ator muda de personagem e continua a produzir emoções. O político, não!”

4. Dessa forma, há uma armadilha nas propagandas dos governos. Como a lei proíbe divulgar o nome ou a imagem do governante, cabe a publicidade divulgar o que o governo fez, ou diz que fez. Gasta-se um dinheirão dos governos para pouco. Quando os governos pensam que a publicidade resultou, na verdade, qualquer publicidade resultaria, pois a imagem do governo já estava preliminarmente fixada.

5. Claro, em campanha eleitoral, quando a imagem do candidato é apresentada com total liberdade, as possibilidades são muito maiores. Porém, sempre lembrando Seguelá: sem mudar o personagem.

6. Há muito tempo se sabe disso. Não se trata de ideias geniais de comunicadores, publicitários ou estudiosos pós-modernos.

7. “Não penses que o castelo do governo consiste de fortalezas, muralhas e trincheiras: ele se encontra no interior das consciências. A grandeza dos Estados não pode ser medida pelas extensões territoriais e latifúndios, mas pela lealdade, benevolência e respeito dos habitantes.” Conde Maurício de Nassau, discurso de despedida do Brasil em 1644.

8. “A tolerância fortalece o Estado, porque um estado só é seguro quando os seus cidadãos sentem-se contentes, e isto somente acontece onde a consciência, a pesquisa e as ideias são livres e desentravadas.” Simon Episcopus -1628.

9. Citados em “Holandeses em Pernambuco”, de Leonardo Dantas Silva, página 115.