07 de novembro de 2018

BOLSONARO E MORO! 

(Lucas Mafaldo, filósofo, professor e pesquisador no Canadá) 1. Uma coisa importante sobre essa nomeação de Moro é que ela revela uma qualidade enorme do próprio Bolsonaro que está passando desapercebida.

2. Cesar Maia alertou para o risco de indicar alguém que você não possa demitir — uma observação tão certeira quanto reveladora de uma cultura problemática. Cesar Maia está certo no seguinte sentido: Moro, tanto por sua história como por vir de fora da política, tem uma reputação ainda mais forte do que o próprio Bolsonaro em termos de respeito às instituições e luta contra a corrupção.

3. Portanto, embora Bolsonaro seja o chefe, Moro tem tanto capital social que não pode ser demitido facilmente. Por isso, ao nomeá-lo, Bolsonaro diminuiu o próprio poder: ele colocou deliberadamente no governo alguém que ele não pode controlar.

4. Em termos de pura estratégia pessoal, seria uma decisão equivocada. Porém, em termos do que é melhor para o país, é algo certíssimo: é como se Bolsonaro estivesse amarrando o próprio governo ao combate a corrução. Ele está se diminuindo para que sua equipe possa subir mais alto.

5. E aí volto ao problema da cultura brasileira que, infelizmente, incentiva exatamente o contrário: o rapaz estudioso é objetivo de piada, a moça competente não é contratada porque a vaga vai para um puxa-saco. Como se comentou mais cedo, há uma dose imensa de pose na cultura brasileira: as pessoas “importantes” mostram sua importância no modo de se vestir, na linguagem utilizada, na repetição das opiniões chiques e nas frases de efeito — e raramente por meio de alguma competência específica.

6. Essa falta de competência gera líderes fracos, inseguros, que precisam sempre recrutar pessoas que estejam abaixo de si próprios. Elas não percebem que o bom líder é justamente quem sabe escolher e motivar pessoas com talentos complementares: o bom líder é o centro de aglutinação de pessoas de alto nível, capazes de superar o próprio líder nos seus respectivos campos de atuação.

7. E é exatamente isso que estou começando a enxergar em Bolsonaro. Ele fez algo muito parecido ao convidar o General Heleno e Paulo Guedes. O primeiro tem muito mais experiência militar e administrativa do que ele, enquanto o segundo tem muito mais conhecimento de economia. Em vez de ficar intimidado, ele adicionou outro peso-pesado à sua equipe: um cara com uma excelente reputação e ampla experiência no combate à corrupção.

8. Se esse padrão continuar, o país irá recuperar muito do terreno que foi perdido nos últimos anos.”