12 de julho de 2018

DIPLOMADO EM COMUNICAÇÃO  POLÍTICA! PRIMEIRA PARTE!

Universidade de Montevideo e Fundação Konrad Adenauer – Relatório de Antônio Mariano, presidente da Juventude Democratas – Rio de Janeiro – 25/06 a 02/07- 10 horas de aula por dia.

1. Comunicação Política e Opinião Pública (Belén Amadeo)

– 3 máximas da comunicação: 1) tudo comunica, 2) se eu não comunico, alguém o fará por mim e, 3) a mensagem é do receptor e não do emissor.

–       Opinião pública é formada pela soma de três fatores: a classe política, os cidadãos e os meios de comunicação.

–       Se você tem perfeita noção do que quer transmitir e também sabe o que o adversário quer dizer, é possível construir um consenso, caso seja necessário. Ambos os lados devem estar em sintonia para construir juntos.

–       Comunicação governamental e comunicação eleitoral são dois tipos de comunicação política completamente distintos.

–       A comunicação muda de país a país, uma campanha da Guatemala não será exitosa no Uruguai, por exemplo, dada a cultura política diferente. Para ter sucesso, é preciso entender os sistemas eleitorais, de governo e de partidos de cada país.

–       Características da opinião pública: 1) polissêmica, 2) interdisciplinária e 3) dependente do contexto histórico e cultural.

–       A primeira vez que foi cunhado o termo, foi no ano de 1750 pelo ministro de finanças do rei da França, quando disse que era preciso “prestar contas à opinião pública”.

–       Todas as definições de opinião pública são válidas, visto que é um conceito mutável, equívoco e seu estudo nos aporta múltiplas definições.

–       Quatro momentos da opinião pública: 1) Pré-moderno (quando a opinião não era pública, o povo não era um ente, não havia o conceito de nação – época de Maquiavel); 2) Moderno (criação de espaços públicos genuínos, de trocas comerciais e informações; início de pensamentos liberais; maiorias e minorias); 3) Científico (a partir do século 19, com a sociedade como objeto de análise e ente comum; até a década de 1930, prevalecia uma opinião mais qualitativa, até que as pesquisas quantitativas começaram a aparecer nesta época); 4) Midiático (a partir do final da década de 1970, com a massificação da televisão).

–       Para os jovens atuais não tem diferença entre vida real e vida virtual, para eles é tudo uma única coisa. E se queremos trabalhar com comunicação, devemos ter isso em mente e saber que essa nova geração lida com o poder de uma maneira totalmente diferente da qual estamos acostumados.

–       Os políticos atuais não vão ter sucesso com a nova geração, porque sequer sabem para que servem as redes sociais.

–       Definição de cultura política (1960): conjunto de orientações políticas de uma comunidade nacional ou subnacional; ter componentes cognitivos, afetivos e de avaliação, que incluem conhecimentos e crenças sobre a realidade política, os sentimentos políticos e os compromissos com os valores políticos.

–       O conteúdo da cultura política é o resultado da socialização primária, da educação, da exposição aos meios e das experiências adultas das atuações governamentais, sociais e econômicas.

–       A cultura política afeta a atuação governamental e a estrutura política condicionando-as, ainda que não determinando-as porque sua relação flui em ambas direções.

–       4 gerações: baby boomers, analógicos, filhos da segunda guerra mundial e nascidos entre 1946 e 1964; geração X, imigrantes digitais, juventude dos anos 1980 e nascidos entre 1965 e 1979; geração Y, nativo digital, millenials e nascido entre 1980 e 2000 e; geração Z, nativo digital, geração internet e nascidos a partir de 2001.

–       A identidade saiu das instituições e foi para os indivíduos.

–       O que acontece quando há eleições a cada dois anos? A legitimidade de origem se renova constantemente e isso altera tanto as relações de poder como a sua comunicação.

–       Elementos que devem ser considerados: marco institucional, relações de poder, história recente, cultura política e mapa de meios de comunicação de massa.

–       Definição de populismo é contestada dentro da literatura política e vai depender sempre do contexto histórico e cultural de cada país.

–       Qual é o tipo de democracia na América Latina? Segundo diversos estudos, é possível chegar a seguinte conclusão: 1) poder personalista; 2) descrença nos partidos políticos; 3) fãs e seguidores antes de interlocutores e cidadãos e; 4) é construída via meios de comunicação e pesquisas de opinião.

–       Meios de comunicação são instituições, ou seja, transcendem as pessoas – e transmitem conteúdos simbólicos.

–       Impacto da TV na política: midiatização, audiovisualização, espetacularização, personalização e marketinização.

–       Conceito de cidadão supõe uma pessoa politicamente mobilizado e/ou inquieto. Diferente de um espectador, que apenas senta e observa, esperando para ver o que vai acontecer.

–       Os meios de comunicação impõe a sua lógica de entretenimento na construção da realidade política.

–       Mujica: reality show; Cristina: novela; Chávez: talk show. Cada presidente tem seu próprio jeito de fazer política midiática.

–       Os meios de comunicação se constituem em atores, cenários e dispositivos fundamentais para a política.

–       Amplificam a comunicação política, mas tiram a profundidade, argumento e densidade. Ganham estética e impacto.

–       Os políticos ou amam, ou odeiam os meios de comunicação, mas acreditam neles e dão legitimidade.

–       Auge e consolidação dos meios de comunicação, declive do discursos racional – o debate entre iguais e tempos maiores. Governar é um ato de estar em uma cena midiática, mais do que tomar decisões frente aos grandes problemas.

–   Sistemas eleitoral, de governo e de partidos condicionam a comunicação de governo.

–       A equipe de comunicação oficial faz a gestão em tempos de constantes campanhas, ainda que não seja um sistema de campanha permanente.

–       Há uma sensação de interação, mas se conserva a lógica de comunicação unidirecional.

–  “Extimidad”, todos os protagonistas de uma comunicação governamental que cada vez se centra mais nos homens e menos na gestão – e o que buscam com histórias é aumentar a avaliação da gestão.

–       Cuidado para não ter uma história extremamente personalista. Governo é gestão, e também deve executar e comunicar. As pessoas querem ver GESTÃO. O destinatário da gestão e da comunicação devem ser os cidadãos.

–       Oposição não mostra gestão, mas apenas projetos concretos e tangíveis. Nunca algo megalomaníaco, para não iludir e confundir a sociedade.

–     A comunicação de posicionamento para um indivíduo que está dentro de um partido manchado não adianta muito. É quase certo que vá perder.

–       Seu pior inimigo está dentro do partido e nunca no outro, mas é dele que você vai precisar de apoio na hora da eleição, então é preciso saber medir o humor político do momento para ver até que ponto a briga com ele pode ir, sem perder o apoio posterior da população.

–       Tipos de comunicação: 1) eleitoral (com dinheiro, agilidade, acidez, glamour), 2) governamental (estratégica, comunicação de feitos, crescendo nos últimos 15 anos), 3) de posicionamento (ante sala da comunicação eleitoral, para apresentação do candidato, mas é preciso que seja feita com um atributo associado ao candidato, com muita pesquisa e planejamento prévio – meses e até anos) e 4) de oposição (comunicação mais reativa ao que o governo diz, de preferência estando em um cargo legislativo ou em um subnacional menor, para poder apresentar projetos mais concretos e com maior facilidade).

2. Estratégias Audiovisuais em Campanhas (Elisa Lieber)

–       A midiatização da política + a preferencia dos eleitores pelo visual em lugar do argumento, coloca a videopolítica no centro da atividade proselitista. Videopolítica é o domínio da imagem e das ferramentas da comunicação audiovisual.

–      As imagens constituem, na verdade, representações políticas simplificas e esquematizadas.

–       Quando a identificação com um partido perde importância, surge a necessidade de buscar atalhos alternativos.

–       Fatores que incidem na videopolítica: conteúdo, comunicação verbal (o que e como falamos), comunicação não verbal, diferentes tipos de emissões e jornalistas e a posição no cenário (fundo, vestimenta, detalhes, etc).

–       Os conteúdos: o resumo, o debate, prepara as respostas que devem ser dadas em público, chaves centrais da mensagem, como condensar o discurso?, responder o que é perguntado, preparar-se para lançar manchetes, media training específicos para conteúdos.

–       Comunicação verbal: valorização do uso de frases eficazes, engenhosas, provocativas, da réplica. Frequentemente damos mais valor a um tom mais leve e anedótico.

–       Frases relativamente breves para que se entenda melhor; reduzir a variedade de vocabulário para ser massivo; gesticular sem ser exagerado; enfatizar algumas palavras chave; falar devagar; dar ritmo nas respostas; trabalhar o tempo a seu favor; a importância da espontaneidade em tempos de redes.

–       Comunicação não verbal: a dificuldade de exercer um controle sobre a própria mensagem audiovisual, devido a importante papel que joga a comunicação não verbal, e que pode modificar consideravelmente a mensagem, apesar de todos os esforços feitos para balancear.

–       Ter cuidado com a postura e com os movimentos das mãos; não mover-se na cadeira; ser o mais natural possível; muitas vezes os telespectadores não lembram do conteúdo de uma entrevista, mas a firmeza, o entusiasmo e ter sido amigável.

2.1. Estratégias Audiovisuais em Campanhas (Elisa Lieber)

–       O jornalista vai sempre colocar a câmera na altura dos olhos, mas nunca deixe que te filme de cima.

–       Perguntas que devemos fazer antes de ir a um programa: qual é o programa que estou indo?, qual o horário de gravação e de exibição?, aonde será feita a entrevista?, será o único entrevistado?, quem é o jornalista entrevistador?, quais temas serão abordados?, existe algum evento extra?

–       Entrevistas ao vivo apenas se você tiver 100% de certeza de que está 100% preparado para responder.

–       Nos debates: preparar as regras e a forma – quando mais interrupção, mais divertido; quem começa?, limites de tempo?, interrupção?, onde ficam?, decoração (fundo, púlpito, etc)?, edição dos planos?

–       Story-telling: conte a história da sua forma.

–       Quem é o herói, o candidato ou o cidadão? Sempre o cidadão, o candidato é o mentor, o que ajuda, mas nunca o protagonista.

–       Quem realiza sabe o enquadre correto, a iluminação e o som. Sempre conte com um técnico especialista, se quiser um bom resultado.

–       Redes sociais são para mensagens espontâneas. Atuações ficam par a televisão.

–       Cada rede é diferente, em algumas se utilizam memes e gifs, em outras fotos, outras textos, etc. O conteúdo não pode ser homogêneo.

3.  Relações entre os Poderes Públicos (Roberto Starke)

–       A democracia de hoje.

–       A divisão de poderes está em xeque por diversos atores.

–       Acreditar na independência dos três poderes é acreditar em uma utopia.

–       A política vive da heterogeneidade social. A ordem política implica obrigações, proibições e coerções. A política discrimina e divide. Não existe conflito de ideias que não esconda um conflito de pessoas.

–       A política não é universal e vai de mãos dadas com o conflito, mas também é consenso e ambos vão se equilibrando.

–       Política é feita para políticos. São sobreviventes natos, sobrevivem todos os dias.

–    Quem consegue controlar o tempo tem uma habilidade política fora do comum. Prestígio, circunstância e tempo, quando bem combinamos, resultam na possibilidade de sobreviver e adaptar-se permanente e alcançar os objetivos.

–       A democracia é um regime que busca a distribuição de poder na sociedade; tenta um equilíbrio de poder; uma das conquistas deste regime é a distinção entre a sociedade civil e a sociedade política. É um princípio de legitimidade, é um ideal. É um sistema político para resolver problemas de exercício de poder.

–       A democracia deve ser: 1) fundamentalmente uma democracia representativa, 2) primar pelo Estado de Direito, 3) proteger os direitos e as liberdades individuais e coletivas, 4) existe e se fomenta no pluralismo político, sempre respeitando as minorias, 5) com separação e independência entre os três poderes e 6) ser praticada com o sufrágio universal através de eleições livres e respeito às leis.

–       O conceito de Estado Nação tem estado em xeque, a partir do momento que um dos seus conceitos, o território, passa a ser algo totalmente permeável (vide a imigração).

–       Atualmente não são as massas que constituem um desafio para a democracia, mas sim a sua apatia.

–       Promessas não cumpridas da democracia: 1) sociedade pluralista, 2) a revanche de interesses (particular X público), 3) persistência das oligarquias, não se pode derrotar o poder oligárquico, 4) a democracia política e a democracia social – a democracia não tem conseguido ocupar todos os espaços aonde é exercido o poder, 5) o poder invisível, 6) o cidadão não educado e 7) o voto por trocas (clientelismo).

–       Democracia no século 21: fragmentação de poder, descrédito dos partidos políticos, ressurgimento da antipolítica, poderes econômicos tem um dimensão cada vez mais global, a política não termina de criar dimensão frente a economia, local X global e a globalização dos problemas.

–       Igualdade se opõe a liberdade. Valores são contraditórios entre si, o que demonstra que não existe sistema perfeito, mas o sistema que responde as circunstâncias.

–       A democracia não é uma resposta universal, já que tem mais a ver com a cultura política de cada país.

–       Sociedade civil é todo o mundo que não está vinculado a política estatal ou partidária. É a esfera em que os cidadãos se organizam de maneira autônoma e diferenciada tanto do mercado, como do Estado.

–       Ampliar a participação é ampliar o escopo de pessoas passíveis de tomarem decisões e a partir do momento em que isso acontece, perde-se consistência nas decisões tomadas.

–       A partir do momento em que a decisão fica mais próxima da população, mais legítima ela é. Do contrário, há críticas.

–       A sociedade civil pode influenciar, mas não tomar as decisões. Há uma relação formal, mas pouco efetiva, junto a classe política.

–       A sociedade civil hoje é um ator decisivo, visto que o Estado vem perdendo capacidade de tomar decisões e cumprir promessas. Ocorre um vazio entre poder e política.

–       As redes sociais otimizam a capacidade de mobilização e desafio o controle e a vigilância do Estado. No meio disso tudo, aparecem movimentos cada vez mais complexos para a democracia.

–       O poder é a capacidade de impor ou pedir as ações atuais ou futuras de outras pessoas ou grupos. O poder se expressa de quatro formas fundamentais: pela força, pelo código, pela mensagem e pela recompensa.

–       A força é o instrumento mais contundente através da qual se exerce o poder. O código apela para a obrigação moral sem coerção, por imposição social ou costume. A mensagem é a capacidade de persuadir os outros a mudarem ou aumentarem sua percepção sobre os interesses de quem persuade. A recompensa usa benefícios materiais para induzir um comportamento.

–   Existem três tipos de poder: soft power (convencimento e sedução – Obama), hard power (força – Putin) e o sharp power (mistura de ambos, mas exige uma enorme manipulação da informação, de ideias, percepções políticas e processos eleitorais – Merkel e Macron).

–       Sharp power, o poder agudo. O exemplo mais preciso são os meios de comunicação. “O que tem, será dado. O que tem pouco, será retirado, Castells.

–      Lógica dos meios: Somente os que tem informações estão em condições de receber mais informações. Aqueles sem informação ampliam a brecha entre o indivíduo e a realidade.

–       Jornalismo: legitimar a informação e quem converte a informação em comunicação.

–       Que tipo de liderança quer o povo? Conciliadores, menos confronto e mais resolução, respondendo as demandas sociais, éticos e transparentes, menos marketing e mais emoção.

–       Líderes transformadores: surge em períodos de instabilidade, as crises liberam os líderes das correntes tradicionais e o lema é “Vamos mudar a história”.

–       Líderes transacionais: o líder que privilegia o status quo e que é muito efetivo em ambientes prescindíveis. A grande maioria dos líderes são assim.

–   Soft power: inteligência emocional, visão e comunicação. Hard power: capacidade organizacional e a capacidade de articular coalizões políticas e sociais.

–       Fenômeno do populismo: difícil de definir, sinônimo de anti establishment, reflexo do mau humor social, tende a sequestrar o aparelho estatal, se desprende dos intermediários, se respalda em simples organizações e não em partidos, assédio à sociedade civil, discurso de nós X eles é o eixo da comunicação e não responde a uma ideologia.

–       A ideologia é um conjunto de ideias que explicam a realidade a partir de uma única forma.

–    A mobilização da sociedade civil pode dar total legitimidade para um líder populista.

–       O populismo chega ao poder a partir do momento em que põem-se em dúvida as regras, procedimentos e instituições, suspendem ou são alteradas as liberdades civis, desconhece a legitimidade do rival e quando encoraja a violência.

–       A cidadania está indignada e perdeu a confiança dos políticos em geral. As instituições e os partidos tem uma capacidade tardia de resposta e dão a sensação de serem pouco transparentes. A revolução das comunicações tem feito que a população tenha à disposição uma grande quantidade de informação de forma imediata e, ademais, também se converteram em transmissoras de opiniões.

–       Há 20 anos o mundo estava dividido entre “bons” e “maus”. Hoje em dia, quem são os bons e quem são os maus?