14 de novembro de 2017

BRASIL: ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2018 SERÁ O PALCO PARA A ENCENAÇÃO DA ANTIPOLÍTICA E DO POPULISMO!
1. Independente de concordâncias ou discordâncias, o fato é que a política na Europa e Estados Unidos –especialmente nesse ciclo de crises- confronta ideias. A antipolítica cresceu, mas só é representativa na Itália com o ‘Movimento 5 Estrelas’, que tem representado 25% do eleitorado. Na América do Sul, em grande medida, as eleições vêm opondo ideias.
2. Será assim agora em novembro, na eleição presidencial no Chile (entre centro direita e centro-esquerda) e foi na Argentina na eleição parlamentar, dias atrás. Da mesma forma, as ideias políticas opõem governo e oposição, especialmente nos países onde os presidentes chavistas constroem a oposição, até por provocação. Na Colômbia e no Uruguai, com tradição orgânica na política, da mesma forma.
3. Na América do Sul, o Brasil é uma exceção. De certa forma, as reformas liberais propostas pelo governo afirmam ideias orgânicas políticas. Mas o governo não terá candidato a presidente. A oposição sapateia na negativa e na coreografia do contra, do “fora Temer”, “golpistas” e coisas no estilo. E se limita a ser do contra em tudo o que o governo Temer propõe. E a crise deveria estimular o confronto de ideias proativas.
4. Os partidos mudam de nome para simbolizar a renovação e nada mais. Até o partido do governo volta a se denominar MDB, numa referência ao passado democratizador. E os nomes que se apresentam são personagens que basicamente representam a antipolítica – com personagens conhecidos, especialmente através da mídia, ou populistas tradicionais. As ideias orgânicas, até aqui, estão fora da disputa presidencial. E é isso que caracterizaria a maturidade e a representatividade políticas.
5. Nos 80 anos da morte de Gramsci, matérias na imprensa exploraram pouco o que foi a maior contribuição dele à ciência política. Uma exceção foi o artigo de Otavio Frias Filho no caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo (05/11). A seguir se reproduz um resumo.
5.1. “A dimensão coercitiva concerne ao Estado, mas a “sociedade civil” (economia e instituições privadas) é o palco onde se disputa em épocas de crise a “hegemonia” (direção mental da sociedade), exercida habitualmente pelo “bloco histórico” (aliança de classes e grupos antagônicos acoplados a um mesmo modo de produção) por meio de uma ideologia elaborada pela camada de “intelectuais”.
5.2. Estes podem ser “tradicionais” (quando resquício de modos de produção extintos, que por isso aparentam autonomia social; por exemplo, o clero católico) ou “orgânicos” (quando surgem em resposta a demandas de uma classe ascendente, como técnicos, cientistas, gerentes e publicitários, no caso da burguesia). Quanto ao proletariado, seus intelectuais haveriam de se formar no partido, que assim aparece como príncipe moderno, numa releitura do precursor da ciência política, Maquiavel.
5.3. As percepções de Gramsci vão do específico (“a escola é uma luta contra o folclore”, no sentido de conhecimento irrefletido) ao mais geral, como a noção de “revolução passiva”. Trata-se das modernizações econômicas promovidas não por uma sublevação social, mas pelo próprio partido da ordem, com pouca mudança na estrutura social (“revoluções sem revolução” que o leitor da história brasileira conhece de cor e salteado).
5.4. Quando insistia que os comunistas italianos deveriam obter a hegemonia, esse intelectual cedo convertido em dirigente partidário estava oficialmente falando de uma sociedade civil superdesenvolvida, como a italiana. Mas ficava subjacente a ideia de que os revolucionários russos, vitoriosos no surpreendente assalto ao poder, teriam de se manter nele por meios cada vez mais coercitivos, porque não tiveram tempo nem interesse em conquistar consentimento.”