15 de setembro de 2020

FIDELIZAÇÃO E INQUISIÇÃO!

1. Lá se vão mais de 2 mil anos que o uso da criminalização do contrário é um recurso usado para produzir unidade interna e apoio nos governos, igrejas, associações, seitas, ordens… Antes valia a retórica e as marcas pintadas. Com o desenvolvimento dos instrumentos de reprodução gráfica, este recurso se multiplicou. E o que dizer depois com o som e imagens. Nas religiões e na política foi usado intensamente. A inquisição contra ateus e hereges é um exemplo de vários séculos. Hitler demonizava bolcheviques e judeus e pedia apoio do povo. Stalin demonizava o imperialismo e pedia apoio do povo. Durante a guerra fria, o recurso de criminalizar comunistas era rotina. Até a democracia americana sofreu desse mal logo após a Segunda Guerra.

2. Esse recurso é usado em várias graduações, por políticos, pela imprensa, pelas religiões, associações, seitas e ordens. Recurso esse que não parou de ser usado. Na imprensa, nos últimos cem anos, adotou-se o nome de FIDELIZAÇÃO o uso e abuso da identificação de um contrário, um alvo, um foco, permanentes e sistemáticos de forma a que um perfil de leitor se mantenha atraído pelas notícias que estão ou que virão. Uma vez conhecendo sua audiência e num mercado de retração ou muito competitivo, se abusa desse recurso.

3. Nos anos 50 e 60 isso ocorria mesclado com a política e pelos dois lados. Um recurso muito comum é simplificar a sociedade num binário; ricos e pobres, honestos e corruptos, guerra e paz, agressores e agredidos, ordem e desordem, jovens e delinquentes… Nos anos 50 e 60 era um recurso intensamente usado. Agora também, mas de forma mais suave e às vezes mais sutil, na medida em que a associação entre política e imprensa não é tão orgânica quanto antes.

4. Mas é exatamente essa suavidade e essa sutileza que tornam o instrumento da criminalização do contrário muito mais perigoso, pois não é percebido pela audiência que excita. Fazer cumprir a lei é algo necessário. Mas quando o objetivo da repressão é exaltar o repressor com fotos e imagens, há um desvio “goebelliano” perigoso, pois excita o binário.  Seja por quem o faz, seja por quem divulga.

5. Num momento de crise isso tudo se torna mais agudo, pela perda ou defesa de mercado, incluindo aqui os mercados de informação, bens e serviços e da política. O risco do abuso com a fidelização é num momento futuro, a equação ser dissolvida e com isso desintegrar o emissor, seja qual for.