16 de outubro de 2018

A BELIGERÂNCIA DE EVO MORALES NA DERROTA EM HAIA PARA O CHILE!

(O Globo, 13) Único caminho que resta ao presidente boliviano é cumprir sentença da Corte

Evo Morales, presidente da Bolívia, parece ter perdido o rumo depois de ser derrotado pelo Chile na Corte Internacional de Justiça. No início do mês, em sentença definitiva, a Corte de Haia negou a reivindicação do governo da Bolívia para obrigar o Chile a negociar uma “saída soberana” ao Oceano Pacífico. Inconformado, Morales passou a atacar o tribunal, considerando-o “parcial” e “contraditório”. Até aí, é esperneio de perdedor. O problema é que o presidente da Bolívia foi muito além. Passou a qualificar o Chile, publicamente, como “invasor”. O tom de beligerância é absolutamente impróprio, absurdo, porque é característico daquilo que causa ou está numa guerra. “Não é possível que a Corte beneficie os invasores”, disse, referindo-se a uma tomada de território “para saquear seus recursos naturais”.

Morales é um ex-líder sindical dos plantadores de coca festejado por forças políticas da esquerda sulamericana desde o seu alinhamento político e financeiro à Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na década passada. Folclórico, é capaz de discursar sobre a natureza dos terremotos como “consequência de políticas neoliberais” .

Está no terceiro mandato e em plena campanha pelo quarto período consecutivo no poder, na eleição do ano que vem. Transformou a saída para o mar em bandeira políticoeleitoral, evocando a disputa de mais de um século com o Chile. No final do século XIX, a Bolívia tinha uma fronteira oriental que se estendia ao Pacífico, com 400 quilômetros de costa. Entre 1879 e 1884, os bolivianos, unidos aos peruanos, guerrearam contra os chilenos. A derrota militar custou à Bolívia a perda do acesso ao mar, selada em 1904 num acordo que redefiniu a fronteira boliviano-chilena. A Bolívia pediu a intervenção da Corte de Haia, em 2013. Argumentou que o Chile teria violado “a obrigação de negociar” um acordo sobre a “saída soberana” para o Pacífico. O Chile retrucou com a “legitimidade e vigência” do acordo de 1904, não admitindo qualquer compromisso de cessão territorial. Ressaltou que, se a tese boliviana fosse acolhida, nenhum tratado internacional estaria assegurado.

A sentença do tribunal internacional a favor do Chile deixou Morales sem o seu principal trunfo para a quarta eleição consecutiva.

Ele tem todo o direito de espernear pela causa perdida. Porém, sob nenhuma circunstância, deve-se aceitar que, numa alucinação de candidato, o presidente da Bolívia acene com beligerância ao país vizinho. Cumprir a sentença de Haia é o único caminho que lhe resta.