20 de julho de 2018

RIO:  MILICIANOS E TRAFICANTES! CV E PCC! 

(Luis Adorno – UOL, 09) 1. O avanço de milícias em comunidades do Rio de Janeiro enfraqueceu o Comando Vermelho, a principal facção criminosa fluminense, e já faz com que esses grupos paramilitares compostos por ex-policiais e agentes do estado sejam considerados o maior problema de violência no estado, segundo investigações do Ministério Público fluminense.

2. O promotor de Justiça Luiz Antônio Ayres, que combate há 20 anos as milícias no Rio, pontua que os milicianos estão em franca expansão no estado. A estratégia é se aliar a facções menores de traficantes e atrair ex-integrantes do CV para seus grupos, apontam as investigações. “Aqui no Rio de Janeiro, nós temos um problema maior do que o tráfico de drogas que é a milícia. Mais sério, maior, com cada vez mais poder, bélico e político”, afirmou ao UOL o promotor Ayres.

3. “Hoje, o CV não tenta retomar áreas da milícia. Essa tomada da milícia, à frente do CV, é vista de forma latente este ano, mas isso vem ocorrendo desde 2016”, complementou. Nos últimos dez anos, segundo Ayres, a milícia tomou quase todas as comunidades que eram do Comando Vermelho na área de Santa Cruz, na zona oeste carioca. Ele avalia que “o CV está incrivelmente enfraquecido”.

4. “A [facção] TCP (Terceiro Comando Puro), por exemplo, está fazendo alianças com a milícia em troca de proteção. A milícia tem uma capacidade financeira maior do que o CV. Estão arregimentando pessoas que eram do CV”, afirmou.

5. Para Ayres, é possível que CV esteja tentando se reorganizar em outros estados, mas ele diz não acreditar que a facção fluminense esteja com influência efetiva em outros países. Além de arregimentar traficantes, os milicianos –que exploram atividades como transporte irregular de vans, grilagem de terrenos e contrabando de mercadorias– não abandonam a venda de entorpecentes.

6. “Estimativa recente é de que as milícias estariam movimentando R$ 240 milhões por ano com todas as suas atividades ilícitas”, diz o promotor. Na última quinta-feira (5), a Polícia Civil do Rio realizou uma operação contra a milícia Liga da Justiça, considerada a maior do estado, acusada de faturar R$ 1,5 milhão por mês somente com a venda de cigarros contrabandeados do Paraguai.

7. Em audiência pública na Câmara dos Deputados na última quarta-feira (4), o ministro da Defesa, General Joaquim Silva e Luna, relatou preocupação com as duas maiores facções criminosas do país –o CV e o PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo. “PCC e Comando Vermelho são facções internacionais. Estão se organizando de maneira muito forte. As fronteiras são motivos de preocupação e de ações das Forças Armadas e forças de segurança pública”, afirmou a deputados.

8. Um dia depois, o comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, afirmou que as duas facções estão “cada vez mais fortes” e que teme, inclusive, que o Brasil se equipare ao México ou à Colômbia de 20 anos atrás, com cartéis de drogas bem estabelecidos.

9. A desembargadora Ivana David, que investiga o crime organizado em São Paulo há mais de 20 anos, diz acreditar que esse reconhecimento por parte do governo federal é um avanço. “Já tem prova de ligações internacionais. Nós temos líderes do PCC que moram na Bolívia, na Colômbia, no Paraguai, e que continuam praticando o tráfico, de lá. Com comandados aqui no Brasil e, inclusive, dentro do sistema prisional”, afirmou.

10. Segundo as promotorias de São Paulo e do Rio, no entanto, há diferenças entre as duas facções. O CV não tem histórico de organização internacional. O PCC, sim. “A atuação transnacional, a organização empresarial, o PCC já tem. É uma pré-máfia. O que eu acho para se estabelecer como máfia é que, ainda, o PCC não conseguiu realizar a lavagem de capitais. Ainda há apreensões de dinheiro enterrado e escondido”, afirmou o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado) de Presidente Venceslau, onde está presa a cúpula da facção.

11. A socióloga Camila Nunes Dias, professora da UFABC (Universidade Federal do ABC) e colaboradora do NEV-USP (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo), aponta outras diferenças entre as duas facções. Segundo ela, os grupos têm característica de atuação diferentes. “Tem uma confusão que geralmente envolve essas perspectivas da polícia. Uma coisa é ter membros do PCC que têm negócios próprios. O CV não aparece muito porque não atua como coletivo, isso desde o Fernandinho Beira-Mar. Ele tem o negócio dele e fornece drogas para morros do CV”, diz. “Não vejo como pré-máfia. Pertencer ao PCC ajuda esses indivíduos a tomar decisões mais importantes. Ter esses indivíduos também fortalece o PCC”, explica a pesquisadora.