20 de outubro de 2017

XADREZ DEMOCRÁTICO!

(Revista Piauí, 18.10.2017) 1. Cesar Maia foi assertivo na última frase antes de encerrar a entrevista: “Não acredito que Rodrigo Maia assuma a Presidência da República, e torço para que isso não aconteça.”

2. Minutos antes, reprovara, com a mesma veemência, uma eventual candidatura do prefeito tucano de São Paulo, João Doria, à Presidência da República pelo seu partido. “Se ele se filiar, está bom, é prefeito de São Paulo. Agora, se lançar candidato a presidente pelo DEM, um partido que tem tradição de políticos seniores, essa hipótese, por parte do partido, nunca existiu.” Entre os apresentadores de televisão aventados como candidatos ao Planalto em 2018, ele já tem um preferido: Luciano Huck, um “nome mais forte” do que o do prefeito paulistano.

3. Eram quatro da tarde de terça-feira, 17 de outubro. Pela manhã, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, definiu que o Senado adotasse o voto aberto para decidir se manteria o afastamento de Aécio Neves A sessão que selaria o destino imediato do senador tucano estava marcada para o fim do dia.“Vamos ver como termina o dia”, disse-me Cesar Maia.

4. Aconteceu a Cesar Maia o que ocorre quando um filho de figura pública se torna também protagonista. Hoje, Cesar é o pai de Rodrigo. “Somos pessoas completamente diferentes. Eu sou um tecnocrata, ele é um diplomata, um homem com capacidade de liderança e de mediação”, afirmou. São por essas características que, segundo o pai, Rodrigo Maia não deve “queimar etapas” e se tornar presidente agora. “A trajetória do Rodrigo gera para ele uma responsabilidade institucional de disputar novamente a eleição para deputado federal em 2018 e continuar comandando a Câmara dos Deputados. Não sei como será a Câmara depois da próxima eleição, mas com o perfil de hoje, poucos terão condições de comandá-la como o Rodrigo”, disse Cesar.

5. “Vou falar um negócio para você”, disse-me Cesar Maia, quando lhe perguntei sobre a crise entre Rodrigo Maia e Michel Temer. “Acredite se quiser: não há crise alguma. O que houve foi uma resposta do Rodrigo ao que esse advogado falou. Eu lhe garanto que, se fosse o advogado anterior [Antônio Cláudio Mariz, responsável pela defesa de Temer na primeira denúncia], não teria falado isso em hipótese alguma”, justificou Cesar. Às rusgas por causa da divulgação das acusações de Funaro soma-se uma batalha partidária para atrair parlamentares. Rodrigo Maia acusa o PMDB de cooptar deputados e senadores do PSB que negociavam filiação ao DEM.

6. “Não há chance de a segunda denúncia ser aceita pelo plenário da Câmara dos Deputados. O que pode acontecer é, devido ao desgaste cumulativo do governo, a votação ser um pouco mais apertada. Mas não a ponto de afastá-lo do cargo. Isso pode, sim, ter consequências em votações importantes para o governo, como a reforma da Previdência.”

7. “Não tenho dúvidas de que Huck é mais forte do que o Doria como candidato a presidente. Doria tem lustro, mas Huck é um apresentador de programa popular. A penetração de seu nome é mais forte do que a de Doria.” Cesar Maia diz desconhecer que tenha havido convite formal a Huck – mas não descarta que isso possa acontecer. “Houve encontro dele com lideranças, porém nada definido. Mas pode ser que, neste exato momento, as coisas mudem. Estamos no Brasil.”

8. Falando antes de o Senado rejeitar o afastamento de Aécio Neves de seu mandato, Cesar Maia disse que havia sido criado um “problema sério” para a imagem da Casa e do senador mineiro. Para o ex-prefeito, Aécio deveria ter “pedido afastamento” logo que as primeiras denúncias surgiram. “Houve falta de decoro parlamentar nos diálogos de Aécio com Joesley Batista.” “Agora como vai ficar para o Senado, não sei. O que sei é que o PSDB está dividido, estraçalhado.”