26 de agosto de 2016

“ATLETAS DEVEM TER MUITO CUIDADO COM A SÍNDROME-2014”!

Ex-Blog entrevista fisioterapeuta de uma das equipes olímpicas. A pedido, as letras LL o designarão.

1. Ex-Blog: O que você está chamando de Síndrome-2014?
LL: Passei a usar esta expressão após a Copa do Mundo de 2014. Nela, vários jogadores do Brasil, e talvez o atleta David Luiz tenha sido o maior exemplo, se excitavam de tal maneira que eram ao mesmo tempo jogadores e torcedores. O entusiasmo os levava às lágrimas antes mesmo do jogo começar. Durante os jogos, a qualquer jogada, desde a mais simples, ao chutar uma bola para a lateral, vibravam como se tivesse sido um gol.  

2. Ex-Blog: E como isso afetava o rendimento deles?
LL: De duas formas. Fisicamente, com perda adicional de peso desde a entrada em campo ao ouvir o hino nacional. Se um jogador de futebol perde, por exemplo, três kg num jogo, a excitação adicional, a Síndrome-2014, pode ocasionar a perda de até mais um kg. E emocionalmente, perdendo o foco, se integrando à torcida e transformando erros e gols do adversário em uma sensação de perda terminal e até de traição à pátria.

3. Ex-Blog: A Síndrome-2014 ocorre apenas em disputas coletivas como futebol, basquete e vôlei ou também em provas individuais?
LL: Depende da interação com a torcida. Em geral, mais nas disputas coletivas pelo entorno de torcedores nos estádios e arenas. Mas também nas individuais. Nas individuais o efeito é mais emocional. Dizer que um atleta individual (ginasta, tenista, nadador, lutador, corredor, saltador…) desenvolve um foco que se descola do barulho da torcida não é verdade. Ele é treinado mentalmente, além de fisicamente, o que os atletas nos esportes coletivos em geral não são. Mas ele ouve o entorno, mesmo durante a prova. Exemplo maior são os tenistas, que se desconcentram se no seu raio de visão ocorrer qualquer movimento. Eles exigem um silêncio completo para jogarem e um a imobilização da torcida. Nas Olimpíadas, o tenista Del Potro não sacava se não tivesse essa garantia. Caminhava para trás e esperava a disciplina da torcida. Bolt, na preparação para as partidas das provas, fazia um sinal da cruz para se concentrar e pedia absoluto silêncio nas saídas.

4. Ex-Blog: Poderia citar, na Olimpíada do Rio, exemplos de derrotas brasileiras em função da Síndrome-2014?
LL: Não gostaria de fazê-lo. Mas um exemplo foi tão flagrante que deveria ser usado na pedagogia de preparação dos atletas: o vôlei feminino de quadra. A TV fazia questão de dar closes bem fechados nas jogadoras brasileiras. Às vezes até quase só na boca aberta de um grito. Nesse exemplo fica claro que a perda de peso e o descontrole ocorreram progressivamente. A equipe, no primeiro set, era uma, muito superior às adversárias. A excitação as afetou fisicamente e com os sets seguintes, emocionalmente, na medida em que vinha a pré-expectativa de derrota.

5. Ex-Blog: É o caso do atleta de salto com vara francês que alegou ter perdido a medalha de ouro pelo barulho da torcida.
LL: Eu li no dia seguinte nos jornais e pedi para ver várias vezes o salto dele, desde a concentração para o antes da corrida para o salto. Vi e revi as feições dele. O que ele alegou (que o barulho, as vaias da torcida o prejudicaram) não foi verdade. Até poderiam ter sido. De fato, no salto do atleta brasileiro houve silêncio, mas muito mais pela expectativa da torcida. É um salto que mal chega a 3 segundos. Olhando as feições faciais do atleta francês, o que se vê, ao contrário da excitação, é uma espécie de desprezo pelo adversário e a certeza da vitória. Realmente houve um fator emocional, mas não o que ele afirmou e sim um certo relaxamento pela certeza da vitória. O atleta brasileiro, desde os primeiros saltos, vinha com seu técnico se exigindo mais, pedindo alturas maiores, ao contrário do francês que se sentia pré-ganhador. Quando no pódio, na entrega das medalhas, o francês chorou, isso ficou claro.

6. Ex-Blog. Que ensinamentos se pode tirar da Síndrome-2014?
LL: Nos esportes coletivos, nossos técnicos, de todos os esportes, deveriam fazer um estágio na liga americana de basquete, a NBA, especialmente no que eles chamam de playoffs. Nos EUA, numa cidade, em geral, só está presente e torcida da equipe dessa cidade. Até o telão em cima da quadra excita os seus e desestimula os adversários com imagens e sons. Os atletas vibram, o banco vibra, mas não há nenhuma superexcitação. Após uma cesta espetacular a favor ou uma reclamação aos juízes, o retorno ao estado de tranquilidade inicial é instantâneo. É só olhar na TV. Os pedidos de tempo pelos treinadores têm também este objetivo. Eles não excitam os jogadores. Mostram táticas num prancheta que cumpre a função de tranquilizar.

7. Ex-Blog: Ou seja, em função da Síndrome-2014 as equipes técnicas devem incluir o treinamento relativo ao autocontrole mostrando pedagogicamente as consequências físicas e mentais?
LL: Sim exatamente isso.