29 de dezembro de 2016

E O SECRETARIADO DO CRIVELLA? EX-BLOG ENTREVISTA CESAR MAIA!

1. Ex-Blog- Qual sua avaliação do secretariado do prefeito Crivella? CM- Uma avaliação -de fato- só pode ser feita depois de alguns meses de atuação dos secretários e do governo em conjunto. O máximo que se pode fazer é trabalhar com probabilidades, em função da característica do prefeito, do perfil dos secretários, da primeira organização do governo e das promessas eleitorais.

2. Ex-Blog-  Então vamos tratar de probabilidades. Primeiro quanto ao prefeito Crivella. CM- O compromisso básico de Crivella durante toda a campanha foi “cuidar das pessoas”. É um compromisso cômodo na medida em que as cobranças ficam diluídas. Mas, ao mesmo tempo, esta diluição multiplica as cobranças a cada caso nas praças, nas ruas, nos postos de saúde, nas escolas, etc. Vai se ouvir muito a cada caso e na mídia: ele não disse que ia cuidar das pessoas? Do ponto de vista político ajuda sua reeleição em 2020 ao fazer um governo de proximidade. Mas não deixa marca para uma avaliação no futuro. E a redução do número de secretarias não significa necessariamente reduzir custos nem aumentar a eficiência. A centralização torna a máquina mais pesada em sua cabeça e, por isso, mais burocrática.

3. Ex-Blog- Olhando o secretariado o que você sentiu estar faltando. CM- Tenho que ler o Diário Oficial do dia 2 de janeiro. Quando me perguntam quais as três maiores prioridades de um governo eu respondo de bate-pronto: Controle, Controle e Controle. Por enquanto é um time sem os dois zagueiros centrais. Faltam os nomes do Controlador Geral e do Procurador Geral. Por isso espero o DO do dia 2 de janeiro. E da mesma forma a função Administração que perde seu status, vindo para o segundo escalão. Estranho. Também gostaria de saber quem será o presidente do Previ-Rio/Funprevi, pois este é o calcanhar de Aquiles financeiro da prefeitura –uma herança amarga e desnecessária se esse sistema tivesse sido bem gerenciado nos últimos anos.

4. Ex-Blog- E as secretarias caso a caso? Por exemplo, a agregação de urbanismo, obras e habitação?  CM- A aglomeração das funções Urbanismo, Obras e Habitação numa mesma secretaria trará problemas. A secretaria de Urbanismo é antes de tudo uma secretaria de fiscalização e controle dos parâmetros urbanísticos legais. Sua aproximação maior deveria ser com o Instituto Pereira Passos –IPP- que teria que recuperar suas funções clássicas de desenvolvimento urbano, que perdeu. E a função habitação deve ser escrita com H maiúsculo, Habitação, no caso da prefeitura do Rio, de desenvolvimento urbano das comunidades de menor renda, como favelas –verticais e horizontais. E bem articulada com o IPP.

5. Ex-Blog- E as grandes secretarias de Educação e Saúde? CM- O perfil do secretário de educação – e até mesmo as suas virtudes- não permitem projetar suas motivações administrativas. Isso é fundamental na secretaria com o maior espalhamento físico –umas 1.200 escolas e creches- e um quadro de pessoal de 50 mil matrículas de servidores. Talvez por sua formação política e ideológica tenha dificuldades no jogo de cintura com o pessoal, em alguns momentos, abrindo espaço para conflitos. A inclusão da ex-secretaria de esportes na secretaria de educação permitirá produzir uma interação prioritária das escolas com as Vilas Olímpicas.

6. Ex-Blog- E a secretaria de Saúde. CM- Talvez, mais que a secretaria de educação, o perfil do secretário de saúde tende a potencializar conflitos. Primeiro exacerbando um conflito interno entre os servidores concursados e os terceirizados das OSs. A escolha de seu nome trouxe grande alívio as OSs. Em segundo lugar, o secretário como Vereador assinou em 2 anos seguidos –inclusive agora para 2017- emenda ao orçamento para que venha o Plano de Cargos e Salários. Isso será cobrado.

7. Ex-Blog- Então vamos em frente. E a secretaria de transportes? CM- O secretário –um quadro técnico de reconhecida qualificação- no momento em que foi designado se comprometeu em reduzir as tarifas de ônibus. O atual prefeito –espertamente- não publicou o reajuste que deveria ter sido feito em dezembro. E agora? O secretário se referiu a redução das atuais tarifas, mas terá que discutir o reajuste já agora em janeiro. É verdade que o Índice de Passageiros por KM aumentou.  Melhor seria conhecer o sistema por dentro antes de fazer promessas. Também naquele momento da entrevista prometeu aumentar o número de passageiros do metrô em 30% se não me engano. Como? A curva de uso do metrô, alta nos dois picos caindo na metade do dia, depende muito mais dos hábitos das pessoas em direção ao trabalho, às escolas, às compras. O sistema geral atual foi alterado com os BRTs em corredores, e com pouca integração (ao contrário de Curitiba). Assim, as estações são tão bonitas quanto passivas. O sistema perdeu capilaridade nas periferias, reduzindo o transporte complementar. E ainda há o conflito Taxi-Uber que não dará mais para “lavar as mãos”.

8. Ex-Blog- E a ordem urbana? CM- A experiência anterior do secretário na Guarda Municipal, e da Superintendente designada nos permite ser otimista. Espera-se que a GM retorne a suas funções de antes com as Inspetorias descentralizadas com a presença –preventiva- dos GMs nos espaços públicos. E aproveite a experiência da Superintendente na interação com as escolas.

9. Ex-Blog- E as relações do prefeito com a Câmara de Vereadores? CM- A maioria do prefeito nas circunstâncias em que seu partido fez apenas 6% dos vereadores, somando as naturais adesões para formar maioria, sinaliza um plenário mais ativo e mais alegre. Quando eu fui prefeito minha opção foi legislar pouco e usar ao máximo a legislação existente. Fora disso –especialmente no primeiro ano- terá muitos e desnecessários problemas. Mas vamos ficar por aqui. Preferia não ter tratado disso até maio ou junto. Mas nossa amizade e seu gravador aberto acabaram produzindo essa conversa.