31 de março de 2016

O NOVO MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES!

1. A hipótese do impeachment de Dilma é cada dia mais concreta. A crise econômica profunda se mostra em todas as latitudes com a queda do PIB que passa a ser depressão, taxa de desemprego recorde, quebra de milhares de empresas, taxas de juros extravagantes, perda do grau de investimento por todas as agências de risco, a indústria definhando, inflação roçando os dois dígitos, Estados quebrados…

2. É natural que os debates, as análises, as colunas, as entrevistas, e o noticiário se concentrem na questão econômica. E especulem sobre medidas a serem adotadas pelo novo governo e nomes para o Ministério da Fazenda e Banco Central. Claro que tudo isso é muito importante.

3. Mas há um elemento consensual que precisa ser devidamente equacionado: a taxa de confiança, a credibilidade no novo governo. Afirma-se que só a saída de Dilma e sua substituição por Temer vai gerar uma reversão de expectativas. No prazo imediato é verdade. Os mais experientes sugerem que o novo presidente se afaste da ilusão de um plano de governo. O fundamental é aprovar de imediato 2 ou 3 medidas de forte impacto que sinalizem a nova dinâmica fiscal e econômica.

4. Mas a questão de fundo da taxa de confiança não estará resolvida, pois nem o presidente, nem o nome do ministro da fazenda são suficientes, embora necessários. O presidente terá uma semana para ir ao Congresso e propor duas ou três medidas. Um bom início.

5. Mas o ponto chave da taxa de confiança no caso brasileiro é a expectativa de governos, e investidores externos sobre a sustentabilidade do que disser o governo. A desintegração mais profunda da credibilidade do atual governo se deu no setor externo. O desmanche da imagem do Brasil ocorreu com velocidade surpreendente, estimulado pela coreografia externa do governo se abraçando com os populismos mais coloridos bolivarianos, africanos e no médio oriente.

6. A prioridade maior no momento do impedimento de Dilma é a escolha do Novo Ministro das Relações Exteriores. Esse deve ter um currículo carregado de conhecimento e experiência na diplomacia presidencial, geopolítica internacional, na diplomacia econômica…

7. Desde a América do Sul, desentravando o Mercosul na direção da União Europeia, afirmando uma coordenação com a Aliança do Pacífico, estabelecendo um diálogo sério e prático com os EUA, reinserindo-se na ONU como uma potência ocidental e cristã, que é, voltando a ter uma voz de prudência nos conflitos de média intensidade, sem tergiversar sobre o terrorismo, afirmando a segurança jurídica internacional…

8. O Novo Ministro das Relações Exteriores, tendo esta dimensão, alavanca a confiança no novo governo, constrói imediatamente as pontes necessárias para integrar o país, rompendo o isolamento e a desconfiança, política, diplomática, econômica… O Novo Ministro das Relações Exteriores tem uma enorme vantagem operacional: conta com uma máquina diplomática de enorme eficiência, tradição e respeitabilidade, garantidora imediata da nova política externa a ser executada.    

* * *

MAIS UM VEXAME PARA A IMAGEM EXTERNA DO BRASIL!

(Ex-Embaixador Roberto Abdenur – Globo, 30) 1.Passou algo despercebido, nos últimos dias, o sentido mais amplo de insólita iniciativa tomada pela presidente da República. Refiro-me à convocação do Corpo Diplomático em Brasília para assistir ao evento denominado “Encontro com Juristas pela Legalidade da Democracia”. Na ocasião, a presidente expôs sua visão dos presentes acontecimentos e alinhavou argumentos contra o que considera ser um “golpe” e séria “ameaça à democracia”, capaz de “deixar profundas cicatrizes na vida política brasileira”. Compareceram ao evento, ao que consta, cerca de três dezenas de embaixadores e encarregados de negócios.

2. Embora em outro nível hierárquico — e certamente agindo à revelia do próprio governo —, dias antes um diplomata tomara a iniciativa de enviar aos postos no exterior reiteradas instruções no sentido de que fizessem ampla divulgação, junto à sociedade civil local, de denúncias sobre a “tentativa de golpe” que supostamente estaria a ocorrer no Brasil. Esse anedótico episódio não mereceria menção se não fosse sintomático do afã do governo e seus simpatizantes em projetar para fora do país a visão conspiratória que armou em sua defesa contra o impeachment.

3. Ambas as iniciativas vieram evidenciar como a linha de defesa contra o impeachment adotada pela presidente e pelas forças políticas que a apoiam extrapola significativamente os limites do cabível no que diz respeito à preservação da imagem do país aos olhos da comunidade internacional, acarretando prejuízos para nossos interesses tanto em questões de política externa quanto nos campos econômico e financeiro. E isto no momento em que o processo de devastação de nossa economia ora em curso, ao impacto dos erros cometidos pelo governo, já abala fortemente a credibilidade do país.