Cesar Maia é entrevistado pelo portal Terra

Terra – Por que o senhor quer ser governador do Rio?

Cesar Maia – A política não é querer ser. São as circunstâncias que levam a que as forças políticas apresentem um nome. Tanto o PSDB no Rio quanto o DEM foram enfraquecidos nos últimos anos. É necessário que se tenha uma candidatura majoritária que seja competitiva, que tenha presença para que nossas ideias sejam discutidas. A razão de fundo é essa. Estamos fazendo essa coligação com o PPS e o PSDB e isso deve se concretizar nos próximos dias.

Terra – Notícias recentes dão conta de que o senhor abriria mão da candidatura para apoiar o governador Pezão. Isso é verdade?

Cesar – Se a candidatura fosse minha poderia abrir mão ou não. Na verdade é uma coligação e nunca se falou disso e nem há razão para que a coligação abra mão da candidatura majoritária, que eventualmente sou eu, mas se não fosse as razões seriam as mesmas.

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Cesar Maia: “Rio está atrasado para as Olímpiadas de 2016”
Terra – As últimas pesquisas divulgadas para o governo do Rio trazem o seu nome abaixo do terceiro colocado, o senador Lindbergh Farias (PT) e acima do governador Pezão (PMDB). Mas com 35% de eleitores indecisos. Como é possível superar isso e vencer?

Cesar – Para começar não é a primeira vez que sou candidato. Já fui prefeito três vezes, já participei de oito eleições no Rio, ganhei seis, perdi duas. Na verdade as pesquisas no Rio caracterizam uma situação especial. (Anthony) Garotinho tem 20%, (Marcelo) Crivella tem 15% e há três candidatos entre 11 e 10%, Lindberg, eu e Pezão. E mais atrás o Miro Teixeira, caso confirme a candidatura. O que se vê é que quem chegar a 15% está disputando para ir para o segundo turno. Por isso todos têm chances e todos estão entusiasmados. Você tem notícias, envolvimento, papel na rua, prestação de contas e já houve até debates entre os pré-candidatos.

Terra – O senhor considera o Garotinho, com 20%, já no segundo turno?

Cesar – Não. É um forte candidato, como somos todos. E todos podemos ir para o segundo turno. O Ibope divulgou uma pesquisa na Bahia, onde o Paulo Souto tem 42% de intenção de votos. Aqui no Rio não tem ninguém com 42, 38, 27%. Aqui no Rio é 20. E qualquer coisa abaixo disso está fora do segundo turno. Agora, se crescer é claro que vai para o segundo turno. Mas não há favoritos.

Terra – Há tempo para se alcançar a liderança mesmo tendo uma Copa do Mundo no meio do processo eleitoral?

Cesar – Não há pouco tempo para mim. Fui candidato pela primeira vez em 86 e tenho muito trabalho nesse tempo. Na hora da eleição o eleitor tem memória: ele foi prefeito, fez isso, errou naquilo. Miro foi o deputado mais votado do Rio em 78 com 500 mil votos; Garotinho já foi governador e deputado com uma votação expressiva; Crivella já foi reeleito senador, e se completar o mandato vão ser 16 anos; o Pezão é que o mais novato. Foi um bom prefeito de Piraí, foi vice-governador do Cabral é o quem eu diria que tem menos coisa a mostrar e na campanha ele vai ter que mostrar mais para o eleitor decidir se quer votar nele.

Terra – Ser vereador é mais difícil que ser prefeito?

Cesar – Claro que não. Eu sempre digo que o prefeito acorda com os fatos na mesa dele. Não precisa ter agenda. A agenda é feita durante o dia. Chove tem uma agenda; um engarrafamento, outra agenda; problemas na escola, atraso nos fornecedores. O prefeito trata da agenda do cotidiano que é múltiplo, diversificado, se altera muito e é muito conflitivo. Quanto menos ideológico é o nível do governo, mais geral. Quanto menos ideológico é o nível de governo, geral, federal, é mais conflitivo, porque entra nas questões individuais, da família, do cotidiano, da mobilidade, dos seus filhos. Lá em cima é mais ideológico e menos conflitante. O caso da Petrobras, por exemplo, que não gera um conflito em nível das pessoas no Rio, em Aracaju ou em Porto Alegre, por exemplo. Ninguém está em casa discutindo com os amigos, em cima disso, em casa, no bar. Podem ter uma opinião, acha isso, acha aquilo, mas não afeta a vida das pessoas.

Terra – A presidente Dilma tem um cenário de apoios complicados no Rio?

Cesar – A presidente Dilma é uma candidata favorita. Quem achar que não vai estar cometendo um gravíssimo equívoco. Ela tem dois cortes muito sólidos que é a votação no Nordeste e no Norte e a votação que tem entre as pessoas de menor renda e menor instrução. Pegue uma pesquisa feita no Rio de Janeiro, por exemplo. Ela continua como candidata muito forte na Baixada Fluminense e São Gonçalo, que são áreas populares. O caso do Rio é da esfera política, porque os partidos que dão base à presidente Dilma tem quatro candidatos. Todos gostariam de ser o candidato da Dilma. Há conflitos. Sabe-se que a Dilma tem simpatia pelo Pezão, mas não gosta do Lindbergh, não gosta do Garotinho, mas gosta muito do Crivella. Só aí tem dois candidatos. Mas o presidente Lula continua sendo um eleitor muito forte e ele está com Lindbergh e vai fazer campanha para ele. Olha que confusão. O Garotinho já disse que vai fazer uma prévia para escolher o candidato a presidente, e ouvi de pessoas ligadas a ele, que poderia ser o Eduardo Campos. Mas o partido dele, o PR, apoia a Dilma. Realmente é um imbróglio. É uma coisa difícil de entender para quem entra imaginando uma coisa, com vetores definidos. Mescla muito e vai demorar um tempo, talvez na hora que entrar a campanha na televisão, para que esse quadro fique um pouco mais transparente.

Terra – O Garotinho na entrevista dada ao Terra admitiu até mesmo apoiar o Aécio. O senhor aceitaria dividir palanque com ele?

Cesar – Vamos aos fatos práticos. Acho que ele faz muito bem, como candidato ao governo, em abrir o leque da simpatia dos eleitores de outros candidatos. Mas isso não vai acontecer. Agora, ele se aproximar do Eduardo Campos, é uma possibilidade.

Terra – O Rio vem recebendo muitas críticas por atrasos de obras para os Jogos Olímpicos. Estamos atrasados?

Cesar – Estamos. Para você ter uma ideia, esses equipamentos levam dois anos para ficarem prontos e entregues. Uma coisa é construir estrutura, um ano e meio. Mas depois você tem toda a parte administrativa, parte interna, acabamentos, o que seja. Ginásio, solo do ginásio. No caso do Pan-americano de 2007, você tinha as responsabilidades totalmente definidas. Você tinha de um lado o Comitê Olímpico Brasileiro e do outro a prefeitura do Rio. Assim foi de 2002 a 2006. Em 2006, o governo federal vem e se associa, de forma positiva. A ministra Dilma, na época, me chama e se incorpora, ainda mais quando fica clara a vitória do presidente Lula. O governo federal foi um parceiro muito importante. O governo do Estado não participou disso, como não participa hoje. Você pega o orçamento do Estado e fala apenas da participação das forças de segurança, da participação da estrutura de transporte, mas não há aporte de recursos novos para a construção de equipamentos. E a prefeitura não quer usar seu dinheiro e busca as PPPs (Parcerias Público-Privadas), recursos federais e quando você não coloca o seu, você perde o comando das decisões. Você veja que a presidente da Autoridade Olímpica Municipal, a Maria Silvia Bastos, que foi minha secretária, ela recua. E por que ela recua? Uma executiva com a experiência dela, olha para frente e diz: “Opa, não vou colocar meu currículo aqui. Não tenho o comando”. Vai acabar saindo, mas vai sofrer, não tenho dúvida nenhuma. Vi uma fotografia da área de construções e dizem que tem fundações ali. Espero que tenha.

Terra – O senhor que tem experiência de um Pan em 2007 onde muitas obras foram entregues em cima da hora. Quem está de fora tem pouca tolerância com nosso ritmo de obras?

Cesar – Com nosso estilo de gestão. Joga a peteca para um, joga a peteca para outro. Ninguém assume a responsabilidade integral, ninguém bota a cara. Quando as comissões de fiscalização vinham aqui, vinham falar direto comigo, que era o prefeito. Quando o processo estava começando, dois meses antes do Pan, a Odepa, o presidente vinha aqui e tinha contato direto comigo para saber o que estava acontecendo. Você tinha a caneta na mão. Hoje em dia são muitas canetas, é um empurra-empurra e acaba gerando esse atraso. Não digo que possa comprometer as Olimpíadas, mas pode gerar ansiedade e ansiedade gera aquilo que o político não gosta: desgaste.

Terra – Se o senhor for eleito governador o Estado estaria mais compromissado com a Rio 2016?

Cesar – Não há dúvida. No último debate, li a LDO do Estado e vi que não há comprometimento com os Jogos Olímpicos. Com minha experiência acumulada, do Pan, de ter um cronograma semanal de acompanhamento dos equipamentos. Isso tem que voltar, alguém tem que fazer isso, até porque é um evento com a marca da cidade. Mas acho que vou dar a colaboração que for possível para que saia tudo o melhor possível.

Terra – Então, o senhor não teria problemas em trabalhar em conjunto com o prefeito Eduardo Paes?

Cesar – Com ninguém. Nunca tive problema nenhum de me entender com ninguém. Uma coisa é o debate político. Ninguém tem que ser um capacho, um tapete subserviente em nenhum nível de governo. Quando as questões são de ordem administrativa tem que haver colaboração. Já coloquei no papel, com todos os conflitos que eram exaltados em nível político, que o Rio de Janeiro, quando fui prefeito, recebeu organicamente muito mais do governo Federal que as atuais administrações, que recebem por convênio. Quando a negociação com o governo federal foi feita pelo Rodrigo (Maia, filho de Cesar), que na época era líder do PFL, e se consegue que o salário educação passa a ser municipalizado, vindo direto para o município, nós passamos a receber R$ 300 milhões por ano. A mesma coisa com os recursos judiciais. Quando se faz um grupo de prefeitos de capitais, São Paulo e Rio na cabeça, e se muda a lei complementar do ISS por negociação, isso leva o ISS do Rio, que vinha com crescimento tangencial que beneficia o final do meu governo e beneficia a atual administração. Agora, quando vai se medir convênios para uma obra aqui, uma obra ali, é episódico. Diferente de quando se pode projetar no futuro, acordos de receitas que vem ao município permanentemente.

Terra – O prefeito Eduardo Paes tem feito obras consideradas polêmicas na cidade, como a derrubada da Perimetral, as vias de BRTs. O senhor em sua época fez o chamado Rio-Cidade, que mexeu com a cidade como nunca antes. Qual sua opinião sobre essas intervenções?

Cesar – Acho que a demolição da Perimetral deveria ter sido decidida daqui a 15 anos, quando o Porto Maravilha fosse sendo ocupado. Você antecipar uma demolição, gerando essa confusão toda que tem seis decisões de investimento quando se pode ter mil, foi um açodamento. Agora, com o Rio-Cidade e o Favela-Bairro eu entrei no dia a dia das pessoas. Os tapumes saíram e tinham um bairro novo. Os tapumes incomodavam as comunidades. Quando saíram, tinha uma comunidade nova. O BRT, não. Ele vai de um ponto a outro, não altera a vida do cidadão, aquele que anda de transporte público pode ter algum tipo de ganh. Não sei se teve em quem vai de Santa Cruz à Barra da Tijuca, mas são investimentos que têm impacto sobre o cotidiano das pessoas completamente diferente. Você vive ali, sua vida melhorou. Você usa um meio de transporte, talvez você tenha tido um ganho de tempo e são coisas diferentes. E isso ele vai sentir na fase final do governo, quando se abrir a avaliação da população e ele vai sentir se o impacto que ele imaginava vai produzir. Elas melhoram a vida das pessoas na questão de tempo, mas afetam a vida das pessoas que moram no trajeto. Você pega Recreio e Barra da Tijuca, você produz o mesmo impacto negativo que o trem em bairros do Rio: Meier de cá e Meier de lá; Madureira de cá, Madureira de lá. E o BRT produz a mesma coisa. Tanto que muita gente não entendeu que estava sendo dividida ao meio e quantas pessoas morreram por isso? Como no trem, no começo era assim também.

Terra – O Brasil foi sacudido pelos protestos populares ano passado durante a Copa das Confederações. Qual é sua opinião sobre isso?

Cesar – Você conhece aquela história de criança sobre o Rei está nu? Onde o costureiro inventa uma roupa maravilhosa, que não existe, sai na rua as pessoas ficam maravilhadas e vem um menino e diz: o rei está nu. Durante esse período houve um impacto muito grande de publicidade. As pessoas não sentiam o que os governos estavam fazendo. Muita publicidade na televisão e num primeiro momento as pessoas reagiram bem. Veja a votação que o Cabral teve para governador e que o Eduardo teve para prefeito. Mas, o tempo passa o tempo voa e as pessoas vão sentindo que não estão numa boa. Vão sentindo que foram enganadas e começa a reação. Isso no Brasil todo. Na Bahia foi um jingle, muito bem feito, dizendo que se queria morar no governo da Bahia, onde tudo era maravilha, tudo ia bem. Esse tipo de publicidade que excede a realidade, causa um choque. E durante um tempo, governar no Brasil era através da publicidade. Projetavam o futuro, de coisas que não estavam acontecendo, que é multiplicada e potencializada pelas redes sociais. Hoje, a conversa que nós tínhamos na rua, no bar, na esquina, no jantar, agora são milhões de conversas eletrônicas, através das redes sociais, o que gera um potencial de multiplicação das opiniões imenso.

Terra – São movimentos que negam os partidos políticos. Eles têm futuro?

Cesar – É um movimento social. Há uma discussão que se deu por décadas e décadas entre a democracia representativa, que elege deputados e vereadores, e a democracia direta, de sindicatos e associações que representavam a população. Os segmentos mais à esquerda questionavam a primeira e defendiam a segunda. O que as redes entram é na democracia direta. E acho que os partidos políticos vão acabar se fortalecendo. Elas entram substituindo, em parte, a democracia direta. Isso é um avanço? É um avanço grande. Isso, os sindicatos e associações vão ter que rever seus estilos de juntar, 300, 400 pessoas em um lugar e faze ruma assembleia e achar que ela responde por todo mundo, quando ao lado tem milhares de pessoas da mesma base sindical, conversando, dialogando e tomando decisões. A greve dos garis foi feita fora do sindicato; a dos rodoviários, fora do sindicato, através do Facebook deles. Então nós temos um fato novo em matéria de democracia direta e que me parece muito positivo.

Terra – Esse grupos vão acabar tendo de se engajar politicamente em algum momento?

Cesar – Eles não negam a política. Negam os partidos políticos e as castas políticas, que não aceitam mais. Que se reproduzem com poder de máquina. À medida que para fazer aquilo que imaginam vão precisar de poder, vão ter que ter um nível de organização.

Terra – O senhor usa há muito tempo as redes sociais como forma de se comunicar. Eles vão fazer diferença na próxima campanha?

Cesar – Depende. A coluna do Noblat, no O Globo, que pede uma empresa especializada em mensurar redes, para saber o que fazem os três candidatos à presidência. E a conclusão é que eles estão fora da rede. Por quê? Porque as redes sociais não se ajustam aos turistas. Tem uma campanha e vou contratar uma empresa para fazer minha campanha na internet. Não dá. A internet é um mundo que você tem que estar. Tem importância ou não, que horizontaliza os personagens, que não tem um líder, um comando. Todos são importantes, parecidos ou iguais. O poder dele de multiplicar a opinião pode ser maior que o seu, ou menor. Então, quando o político entra pensando que vai conduzir ideias na redes sociais isso não acontece. Acontece até o contrário, há uma rejeição a esse tipo de postura. Em geral, 95% dos deputados usam a internet para postar suas newsletter, que é uma forma moderna de mala postal. Mas não interagem. A diferença dos meios de comunicação para a internet é que meios de comunicação são unilateral, ainda, mas em processo de transição. E as redes sociais exigem que as pessoas saibam que fazer parte de um grande número de pessoa e não há líder de audiência.

Terra – Sendo eleito qual seria sua posição sobre o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora. Seu governo pretende dar continuidade a esse projeto? Ou teria uma alternativa?

Cesar – Vamos entender. Você tem um nome, um slogan que como propaganda está bom. Mas se você tem policiamento ostensivo no bairro, por que não tem na favela? Se tem em Ipanema, no Leblon, no Meier, em Campo Grande, com um batalhão, por que na Rocinha não pode ter? A UPP é o policiamento ostensivo levado à comunidade, onde quem fazia o policiamento eram os traficantes. Acho um absurdo alguém ser contra as UPPs. Agora, a maneira como elas estão sendo geridas, num momento de crise, com tiroteios em várias comunidades. O que aconteceu? Quando a polícia entra o traficante sai. Quando as milícias entram o traficante sai e não volta; quanto entra a polícia, ele sai, e volta, e atira, e quer retomar o local. Porque a milícia tem um chamariz: aqui não tem mais tráfico de drogas e para o traficante interessa o tráfico. Saiu a droga não interessa a eles. Entra a polícia e não sai a droga, eles querem voltar. A ideia de simplesmente retirar o traficante e não tirar o negócio dele, ele quer tomar de volta. Qual é a solução? Em comunidades menores é fácil, mas em comunidades grandes é mais complexo. O Exército declarou gastos de R$ 1 milhão por dia para estar na Maré. Em um ano seriam R$ 365 milhões só naquela comunidade, embora eles vão sair depois da Copa. O orçamento da secretaria de segurança é de R$ 5 bilhões e quando você fala de gastar 7% do orçamento apenas em uma comunidade, para garantir tranquilidade no caminho do Galeão em direção à zona Sul, à zona Norte é um investimento muito grande. É necessário? Sim. Mas é preciso sim levar policiamento ostensivo às comunidades.

Terra – As pessoas das comunidades reclamam que depois da UPP, da chegada da polícia, não chega quase nada de concreto.

Cesar – Isso é conversa fiada. Você pega o Vidigal onde foi feito o Favela-Bairro completo, tem serviços sociais, esgoto, água. O social entrou, 98% de esgoto, água, luz, crianças na escola. É suficiente? Não. É preciso muito mais. A reação à presença da UPP nas comunidades é do tráfico de drogas, que não quer perder o negócio dele.

Terra – Os transportes públicos estiveram na berlinda dos protestos. Por que há tanto medo de mexer com os empresários de transportes públicos no Rio?

Cesar – Eles são poderosos desde as linhas de bonde puxados a burro. Temos um ciclo enorme. É um setor poderoso, que trabalha com dinheiro à vista, trabalha com milhões de pessoas e aprendem a corromper, convencer que os fiscaliza em qualquer nível de governo. Há muitas décadas. Mexer com eles é uma decisão política que tem uma reação. Quem fez isso não se arrependeu. Mas a primeira forma de atuar dos governos é submeter essa lógico aos empresários de ônibus, mas é uma questão que tem ser atingida e avaliada pela população pagando menos, tendo mais conforto. O que está acontecendo é que se procura reorganizar o transporte público, com os BRTs, por exemplo, mas a população não sente melhoria. Os custos seguem aumentando, o trânsito está um inferno. O Rio sempre teve velocidade de fluxo maior que São Paulo e agora tem menor. Pegue seu carro e vá olhando: se você encontrar um policial militar no trânsito eu dou R$ 1 mil a cada um. Nem Guarda Municipal. Tem rapazes terceirizados, de boa vontade, que não tem poder nenhum. Não existe mais policial militar no trânsito, e não existe mais controle de tráfego.

Terra – O senhor foi condenado no fim do ano passado pela 3ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça por improbidade administrativa. O senhor recorreu. Como anda esse processo?

Cesar – O prefeito recebe ações na Justiça de todos os lados. Cada vez que tem uma dúvida, o Ministério Público questiona. Tem uma que eu perdi porque prefeitura construiu uma capelinha de São Jorge em Santa Cruz e o MP entendeu que afetou a laicidade do Estado. Mas se a prefeitura não poderia construir e é responsabilidade do prefeito, ele tem que responder por isso e a isso se chama improbidade administrativa. Não é corrupção necessariamente. É também. Aí você tem um julgamento aqui no Rio, depois vai a Brasília e o processo anda. Isso faz parte do estado democrático de direito, questionar na Justiça. A Cidade da Música, no ano de 2009, ganhou repercussão, ações na Justiça. Mas o Tribunal de Contas estava lá o tempo todo e tudo foi informado. Depois surgem estádios com estruturas bem menos complexas e o juiz pensa: será que gastar R$ 500 milhões na Cidade da Música é caro quando se gastam mais R$ 1,5 bilhão em estádios, com obras bem menos complexas? Então é preciso entender que os elementos de controle do poder público, são sempre positivas.

Terra – O senhor se arrepende de ter feito a Cidade da Música?

Cesar – De jeito nenhum. Eu, por exemplo, não poderia ter feito a cidade da música no primeiro governo. Porque você ali trata das próximas gerações. No Rio de Janeiro cinco mil pessoas, apenas, frequentam ópera, concerto e balé. Deveriam ser 200 mil. Um equipamento daquele, com aquela sofisticação, o segundo ou terceiro mais importante do mundo, tem várias funções. Uma delas é formar plateias. E para isso é preciso ter continuidade. Você não frequenta, mas seus filhos vão frequentar. A primeira reação de quem não frequenta é dizer que é um desperdício de dinheiro público. Cultura é desperdício de dinheiro público? Esporte não é, concordo. Mas cultura também não é. E quem toma uma decisão dessa tem que saber que trabalha com as gerações futuras.

Terra – Por que o senhor acha que o Engenhão teve que ser fechado para obras seis anos depois de ser inaugurado. A obra foi mal feita? Onda a prefeitura falhou na fiscalização?

Cesar – Não aconteceu nada. A Odebrecht ganhou a concessão do Maracanã. Os clubes fizeram contrato com o Botafogo para usar o Engenhão e a Odebrecht precisava que os clubes fizessem o contrato com ela. Buscou-se um elemento de um leve deslocamento que aconteceu na estrutura superior e eles usaram uma consultoria alemã, que estava no Maracanã, e levaram para dizer que não poderia ter acontecido isso. Estão fazendo um reforço. Desnecessário. Tudo bem, que se faça o reforço. Quando foi isso? Em março de 2013. Já vai um ano. O Engenhão todo, para ser construído levou dois anos. Como é que um vergalhãozinho para ser colocado ali leva mais de um ano? O Engenhão vai ser usado por equipes que vem jogar a Copa, e vão construir arquibancadas para os Jogos Olímpicos. As arquibancadas não são como as dos estádios da Copa, que chegam até o campo, porque é um estádio construído para o atletismo. Vão pintar aquele vergalhãzinho para dizer que teve alguma função. Todos os engenheiros consultados, de cálculo, disseram que nada aconteceu. Mensuraram as ventanias e nada aconteceu. Isso faz parte do interesse comercial da empresa que ganhou a concessão do Maracanã e queria trazer todos os clubes para fazer contratos com eles e trouxe. Eles tinham interesse nisso.

Terra – Já tínhamos ouvido rumores sobre isso, mas o senhor afirma?

Cesar – Já falei isso na tribuna. Quem construiu o Engenhão foi a Odebrecht e a OAS. Conversei com ambas por e-mail, porque não se conseguia comprovar nada; apenas um risco infinitesimal de que um vento gigantesco iria afetar porque tem uma área com um mínimo deslocamento.

Terra – O senhor nunca teve medo de críticas e certa vez disse que não se pautava pelo que dizia a imprensa. Os políticos atuais fazem política com o que se publica ou sai na mídia?

Cesar – Dou muita importância ao que a mídia diz. A mídia cada vez mais trabalha em tempo real e não posso tomar uma decisão em função disso. Quando desloco uma equipe para uma coisa dessa, estou tirando de algum lugar. Recebo críticas como algo positivo, mas tenho que tomar a decisão no meu tempo. Se o fato é urgente, é urgente. Se não, sinto muito. A mídia gosta muito de dizer que fez a denúncia e que a decisão foi tomada. Se não é urgente espera um pouquinho pela solução.