Obama: um “outsider”

Publicado em 21.02.2009 em Folha de São Paulo

O EXERCÍCIO do poder executivo nacional exige como principal patrimônio político a experiência parlamentar intensa. É ela que permite entender a dinâmica do processo legislativo, seus caminhos e seu campo de negociações. Permite, nesse processo, acumular experiência junto ao Judiciário, pelos conflitos de interpretação legal nos quais se envolve.

E interagir com a sociedade e a opinião pública, traduzindo seus humores, não se iludindo com qualquer ruído. Construir uma equipe técnica no Executivo não é tão difícil. Mas nenhuma equipe substituirá o talento político incorporado na atividade parlamentar.

Quando um político chega à chefia de governo sem essa experiência acumulada, diz ser um “outsider”. E a probabilidade de fracassar é muito grande dentro de um regime democrático. Bachelet -socialista-, com grande popularidade e simbologia, chegou à Presidência do Chile como uma “outsider”, sem experiência parlamentar. Seu governo fracassou politicamente. Agora, o PS e o PPD recuaram e o PDC voltou a lançar, neste ano, o ex-presidente Eduardo Frei, representando a coligação.

Fracasso previsível. Uma pesquisa realizada nos EUA em 1996 por uma professora francesa com casais de negros em ascensão social entrevistou o casal Michelle e Barack Obama.

O jornal “Le Monde” de 11/12 de janeiro de 2009 publicou as entrevistas. Michelle, quando questionada sobre qual visão o casal tinha do futuro, respondeu relutante: “É… bem, há fortes chances de que Barack persiga uma carreira política, embora isso ainda não esteja claro. Seria um teste interessante o Senado estadual de Illinois”.

Assim aconteceu e foi com um mandato estadual que, em 2004, ele foi eleito senador federal em uma eleição que o projetou nacionalmente por suas -hoje- conhecidas qualidades. Com dois anos de mandato federal, afastou-se da rotina parlamentar para lançar seu nome à Presidência da República, provavelmente pensando num outro tempo em que teria esse mesmo mandato como escada. Doze anos depois da entrevista, ele se tornou presidente dos EUA, com apenas dois anos de experiência parlamentar federal de fato.

Sem nenhuma dúvida, Obama é um “outsider”, que entusiasma a todos por sua simbologia e talento. Mas, se valer a regra, não a exceção, a probabilidade de ser bem-sucedido é muito pequena, quase nula. Mas pode ser a exceção. Que Deus nos ajude!