02 de junho de 2015

POR QUE FOI DERRUBADA A REELEIÇÃO PELA CÂMARA DE DEPUTADOS COM 95% DOS VOTOS!

1. Antes das diversas votações da “reforma política”, um assunto tinha resultado imprevisível: o término da reeleição, instituto com quase 20 anos de idade. Aberto o debate em plenário, o líder do PT pediu adiamento, pois sua bancada estava dividida. O debate prosseguiu e, minutos depois, o mesmo líder do PT encaminhava o voto pela derrubada da reeleição. Sua bancada não estava mais dividida.

2. Todos os partidos encaminharam seus votos contra a reeleição, até o PSDB, que no primeiro governo FHC aprovou a emenda constitucional da reeleição. Aberto o painel, a reeleição foi derrubada por 452 votos contra insignificantes 19 votos, mais de 95% dos presentes. No senado, em 1997, a reeleição foi aprovada com quase 80% dos votos. Por que tamanha inversão de votos em menos de 20 anos?

3. Os defensores acadêmicos da reeleição justificavam alegando que com a reeleição teríamos ciclos fiscais muito mais suaves. Terminaria a orgia fiscal no final dos mandatos de presidente, governadores e prefeitos. Afinal –justificavam- nenhum governante deixaria para si mesmo uma “herança perversa”.

4. Mas o que ocorreu foi exatamente o contrário e desde a presidência da república, isso para não falar de governadores e prefeitos. 2014 é um exemplo explícito disso. FHC, para se reeleger, usou todos os expedientes de populismo fiscal e cambial. A resultante foi a quase ingovernabilidade em seu segundo mandato e uma impopularidade que carrega até hoje, 17 anos depois. Dilma é outro exemplo. Valeu tudo para se reeleger e o país vive uma crise politica e econômica como nunca e ela bate recordes de impopularidade.

5. Quando FHC conseguiu a aprovação da reeleição, o fez num ciclo de reeleições. O mesmo fizeram Meném, Fujimori e em seguida Chávez, Morales e Corrêa. Nos casos Meném, Fujimori, Chávez, Corrêa e agora Ortega, houve uma escancarada intervenção nos STFs para garantir a reeleição e com ela o poder absoluto.

6. Essas são as duas razões básicas para que a Câmara de Deputados tenha -por praticamente a unanimidade- derrubado a reeleição. Primeira: O argumento dos acadêmicos de suavizar o ciclo fiscal, na prática, foi o inverso: o abuso do populismo fiscal para se manter no poder. Segunda: O uso da reeleição e a ocupação da máquina pública para se perpetuar no poder. A segunda razão desintegrou a democracia nos países –ditos- bolivarianos, o que assustou todas as forças politicas no Brasil, com exceção de um naco da esquerda. E quase o fez na Argentina e Brasil.

7. Um ponto positivo para atual reforma política. Na aprovação da reeleição por FHC, os grampos e denúncias e depoimentos de deputados demonstraram a corrupção com compra de votos. Investigações posteriores e livros publicados reafirmaram isso. Agora, nessas votações da reforma política (e também do ajuste fiscal), não há nem uma denúncia de corrupção ou compra de votos.

8. Foto do congraçamento de FHC com parlamentares após a aprovação da emenda constitucional 16 da reeleição em 1997.

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PERCEPÇÃO DE NÍVEL DE INFLAÇÃO NÃO MUDA COM NÍVEL DE INSTRUÇÃO E RENDA!

Exceção os segmentos de menor instrução e de renda, que não identificam o nível da inflação.

1. Pesquisa do GPP de maio, com 1.200 entrevistas, pediu que os eleitores identificassem o nível de inflação que percebem. Em geral, tanto em relação ao nível de instrução como ao nível de renda, a concentração das percepções é similar.

2. Tomando apenas a porcentagem dos que acham que a inflação está acima de 10%, em todos os níveis de instrução estão em torno de 55%. Em relação aos níveis de renda a dispersão é maior. Assim mesmo oscila entre 65% e 52%.

3. Tabelas completas.

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“RIO É UMA CIDADE CERCADA DE LIVRARIAS MORTAS POR TODOS OS LADOS”!

(Joaquim Ferreira dos Santos – Globo, 01) 1. O Rio de Janeiro é uma cidade cercada de livrarias mortas por todos os lados, um cemitério de livros que jamais serão lidos, de palavras que para sempre assim jazerão, algumas estranhas, outras peremptoriamente compridas, mas lindas, todas agora esquecidas sem qualquer olho que lhes bata em cima, sem qualquer língua que as jogue de novo no meio da rua.

2. Em mais uma pá de cal atirada pela falta de sensibilidade geral que à raça carioca grassa, a cidade sem letras sepulta a Leonardo da Vinci na caverna onde já estava moribunda, nas catacumbas insalubres do Marquês do Herval. O prédio virou cenário preto e branco da penúria municipal. Ali não se consegue vender nem livro para colorir. Os ratos de livraria sumiram.

3. As obras do VLT cercaram a área, os camelôs tomaram a calçada, os assaltantes bateram a carteira de quem ainda a tinha e o resto ficou por conta do anúncio de que a próxima atração cultural é o livro de unir os pontinhos. Parece que no mundo todo tem sido assim. Ano passado foi a Rizzoli, em Nova York. Agora chegou a vez da Da Vinci, nas fraldas do Morro do Castelo. É a ordem da nova civilização digital: fechem as portas desse perfume antiquado e abafem o mau cheiro dos cupins.