08 de março de 2016

SITUAÇÃO FISCAL TENDE A PIORAR! AS CRISES POLÍTICA, ECONÔMICA E SOCIAL SE AGRAVAM! O RETARDAMENTO DO IMPEACHMENT SAIU PELA CULATRA!

1. Em 2008, a resposta que o governo Lula deu a crise financeira internacional foi relaxar a política fiscal e entrar em um descontrolado keynesianismo de consumo, cujos consequências conhecemos. Esse relaxamento fiscal levou o déficit público às alturas e a dívida pública ascendente desqualificou o Brasil pelas agências reguladoras. A inflação atingiu 2 dígitos. No ano eleitoral de 2014 valeu tudo.

2. Na tentativa de recuperar confiança dos investidores, foram dados sinais de ortodoxia com a designação do ministro Levy e medidas e promessas de medidas de austeridade. Os resultados econômicos de 2015 – PIB, déficit fiscal, endividamento, perda dos graus de investimento, etc., lançaram as expectativas de reversão para um prazo muito maior.

3. A crise política, sublinhada pelo conflito entre os poderes políticos, foi lançada ao espaço com a operação Lava Jato. Quando as baterias pareciam apontar para a Câmara de Deputados, e a dinâmica do impeachment se tornou letárgica, dando à presidente Dilma a sensação de calma, a prisão do líder do governo no Senado, íntimo do poder político, gerou uma expectativa de instabilidade. Duas semanas depois parecia ter passado.

4. As delações premiadas -tipo serial killer político- a partir das delcíadas, e as que virão e os detalhes das que já foram feitas e não vazadas, terminaram com a ilusão de calmaria. A percepção de metralhadora giratória investigativa foi superada quando ela parou de girar e apontou para o ex-presidente Lula e a atual presidente Dilma. O câmbio e a bolsa reagiram positivamente, mostrando que a queda da presidente é o único elemento de estabilização nesse momento.

5. Lula é levado para depor e a sensação de instabilidade política e social volta simultaneamente.  Lula, imaginando que ainda tem força para mobilizar as massas, dá sua palavra de ordem: Vamos resolver isso nas ruas. Ou seja, na marra. Não podia haver um sinal mais claro de insegurança jurídica e desmonte político e social.

6. Quem Lula vai mobilizar nas ruas? As massas? Provavelmente não. Mas parte delas, como a CUT, os movimentos sociais mais ideologizados, MST, políticos de retórica de esquerda, etc. O ex-ministro Gilberto Carvalho não perdeu tempo e afirmou que o que aconteceu com Lula dá unidade e mobiliza a base -digamos- orgânica do Lulismo.

7. Mas as principais medidas de ajuste fiscal e estabilidade monetária que estão em discussão, colocadas pela presidente Dilma e pelo governo, pelo empresariado e setores políticos moderados da esquerda são exatamente aquelas que prejudicam a unidade e a mobilização daqueles segmentos. Reforma da Previdência, abertura do pré-sal ao setor privado, aumento de impostos a partir da CPMF, e por aí vai.

8. Mas a unidade e mobilização nas ruas de que fala Lula e a esquerda só ocorrerá se essas medidas de ortodoxia fiscal e de moderação do estatismo forem lançadas na lata de lixo. O retardamento do processo de impeachment foi um tiro que saiu pela culatra, pois o tempo colocou outra vez na ordem do dia e com mais intensidade, o impeachment. E com Lula e Dilma como foco. Isso tudo num ano de eleições nacionais municipais com maior pressão sobre as torneiras.

9. Sendo assim, a tendência é que a crise vai se agravar, a política, a econômica e a social. E que não tangencie as instituições, como tenta Lula após seu depoimento.

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AS PRIMÁRIAS MOSTRAM A CRISE E FRAGMENTAÇÃO DOS DOIS GRANDES PARTIDOS NOS EUA!

(THE ECONOMIST/ESTADO DE S. PAULO, 05) 1.  Os partidos políticos nunca são monolíticos. Como seus integrantes estão cansados de saber, reinam em seu interior as rivalidades e a fragmentação. Apesar disso, especialmente em democracias bipartidárias, eles resistem. Suportam as pressões centrífugas atendendo às reivindicações de seus eleitores, dividindo os frutos do butim entre as facções internas e adaptando-se a mudanças externas. Conseguem mesmo, no mais das vezes, parecer relativamente coesos ao fazer isso.

2. Durante a maior parte do século 20, a maioria dos americanos sabia mais ou menos quais eram as bandeiras de seus dois partidos. O momento atual, porém, é de anormalidade. Embora os cientistas políticos tenham demorado um pouco para se dar conta do fenômeno, o fato é que os partidos políticos americanos parecem mais fragmentados que de costume. A situação dos republicanos é particularmente delicada. Mas as divisões internas dos democratas, ainda que menos evidentes, também são profundas.

3. Durante o governo Obama, os democratas perderam 900 cadeiras em Legislativos estaduais, 11 governadores, 69 cadeiras na Câmara dos Deputados e 13 no Senado. Isso ajuda a explicar por que Hillary não teve de enfrentar um pretendente mais jovem, que encarnasse a oposição a ela no interior do partido. Promessa. Nas duas corridas presidenciais que disputou, Obama fez uso de um aparato próprio, que não se confundia com a estrutura partidária. Hillary assumiu o compromisso de reconstruir o partido se vencer a eleição.

4. Não há nada de imutável no atual alinhamento partidário americano.  As eleições de 2016 podem marcar um novo realinhamento partidário.  Mas também pode ter consequências deletérias se os únicos posicionamentos dos quais eles resolverem se aproximar forem os brutalmente populistas. Os partidos políticos existem para processar conjuntos complexos de questões e transformá-los em escolhas binárias. É impossível imaginar uma grande democracia que se mantenha saudável sem contar com eles. No entanto, em 2020, lembrando-se da campanha de Trump, os candidatos mais fortes talvez partam do princípio de que, no fim das contas, não precisam tanto assim de seus partidos.