09 de maio de 2017

ATOR E SCRIPT NA POLÍTICA! JÂNIO E LULA! PRESIDÊNCIA COMO FRONTEIRA!

1. Não são poucos os casos em que atores políticos, ao mudarem de script, definham. Ricardo Arnt, em sua biografia política de Jânio Quadros, demonstra isso, comparando os momentos de ascensão de Jânio –até a presidência- com todo o período pós-renúncia.

2. Sublinha que o script de Jânio até a renúncia combinava o moralismo com o protesto social e que após isso passa a ser um projeto pessoal. Jânio, segundo Arnt, antes o que tinha era inconsistência ideológica, flutuando da esquerda à direita e depois passou a ter uma consistência pragmática. Sempre viveu no reino da ambiguidade. Depois, até sua honestidade foi posta em dúvida.

3. E afirma que a performance de Jânio como ator político foi sendo aprimorada, seu estilo acentuado, desenvolvendo o carisma em sua fala e entrevistas. Mas –por outro lado- ao mudar o seu script, após abril de 1964, passando a ser um líder da direita, anticomunista e antissocialista, foi estreitando sua base política e eleitoral. Com o novo script, manteve por um tempo a confiança do empresariado de S.Paulo, mas foi se restringindo a suas bases eleitorais na periferia.

4. Lula, como ator político, da mesma forma, desenvolveu sua performance, sua retórica e comunicação no tempo. Afirmou e ampliou sua base política e eleitoral, seja geográfica, seja socialmente.

5. Mas, assim como Jânio, o exercício da presidência foi a fronteira de seu script político. Jânio afirmou seu script na presidência tentando o golpe final para consagrar seu perfil autoritário. Não deu certo e sua renúncia como tática o desmontou. Como presidente, não quis negociar uma base parlamentar e preferiu tentar uma reforma política autoritária através da renúncia. E depois mudou seu script.

6. Lula mudou seu script na presidência, mas adaptando-se ao jogo parlamentar, negociando e comprando a sua base de sustentação. Se antes afirmava-se como líder do trabalho em relação ao capital, depois –na presidência- tornou-se plástico e aproximou-se intimamente do capital. E suas flechas contra a desonestidade na política acabaram o atingindo como bumerangue.

7. Com essa aproximação íntima de Lula ao capital, buscou dar sustentabilidade a seu projeto de poder pessoal e financiar, principalmente, seu partido como eixo e seus aliados como utilitários.

8. Aprimorou-se como ator político, mas a mudança radical de script, minimizando o nacionalismo a favor de um novo pragmatismo inclusive nos patrocínios, foi um desastre no tempo. A Petrobras e as empreiteiras são exemplo disso. Somadas às suas políticas sócio-clientelistas, terminaram produzindo um caos econômico.

9. Suas performances como ator político –assim como as de Jânio- mantiveram bases eleitorais localizadas, mas seus scripts desmontaram seus projetos políticos nacionais.