12 de dezembro de 2018

QUE TIPO DE DESINTERMEDIAÇÃO AS REDES SOCIAIS PRODUZEM?

Ex-Blog de 21/10/2013.

1. Em artigo (Primavera Brasileira ou Outono Democrático?) na revista “Inteligência” (terceiro trimestre-2013), o importante cientista político e professor do IESP/UERJ, Fabiano Santos, sublinha a ideia que vem circulando pelas esquerdas, que as manifestações de rua no Rio estariam perigosamente influenciadas por um fascismo militante. Ele diz:

2. “Mas se a ativação do tema da corrupção não foi surpreendente, os ensaios de aproximação das ruas com o fascismo, sim, acabaram assustando bastante… Boa parte dos manifestantes principalmente aqueles vinculados a partidos políticos, em geral de orientação esquerdista, sofreram duro revés… No dia 20 de junho, militantes de partidos políticos e sindicatos tentaram participar de manifestações. Tiveram suas bandeiras e cartazes destruídos… Percebido o problema pelo núcleo inicial de manifestantes, tratar-se-ia agora de uma questão de “disputar o significado das ruas”. A palavra de ordem dos entusiastas das manifestações tornou-se então não permitir que os fascistas dominassem a cena, não permitir que a direita política prevalecesse na tradução do sentimento difuso de insatisfação e inconformismo e canalização da nova energia societal brasileira. A equação fascista, antes apenas recôndita nas mentes de segmentos da elite, leitores de diários cariocas e paulistas, agora é clara e despudoradamente verbalizada em nossa ‘common parlance’.

3. Não se trata apenas da reflexão de um intelectual de porte, mas do que líderes de partidos de esquerda –com ou sem poder- vêm repetindo nos últimos dias. Independente de numa massa difusa se ter de tudo, além de fascistas, anarquistas, punchistas e insurreicionista utópicos de esquerda, a questão não está nesses grupos, certamente marginais, e maximizados agora por estas verbalizações desde setores da esquerda.

4. O ponto está neles terem sido formados em estruturas organizacionais –políticas e sociais- hierarquizadas, onde os líderes são vocalizadores e interlocutores. Quando entram as redes sociais, horizontais e desierarquizadas, a formação deles entra em pânico: como explicar isso? Massa sem líderes? Não há interlocutores? Os manuais leninistas onde se formaram não contém essa hipótese. Nem poderia no final do século 19 e início do 20 onde os únicos meios de comunicação eram a presença física, o papel e o grafite.

5. O que precisam entender é que está mudando o conceito de democracia direta, da associativa, sindicalista, para outra –em redes individualizadoras, onde os interlocutores são… todos. Como estamos no início desse processo, e não se pode ainda projetar de que forma a democracia direta das redes vai se cristalizar, melhor seria que mergulhassem nas pesquisas que hoje se desenvolvem, desde a leitura de Manuel Castels, até os modelos simulados de formação de opinião pública em Columbia ou nos Provedores.

6. Em vez de uma reação psicótica ao risco de “meu mundo caiu”, melhor seria ajudar a construir esse outro mundo de participação popular, dando a ele uma nova organicidade.