13 de junho de 2022

NÃO IMPORTA DE ONDE VEM A COMIDA EM MEIO À FOME!

(Ishaan Tharoor – O Estado de S. Paulo, 10) Pense nisso como a guerra além da guerra. A invasão da Ucrânia e a ofensiva militar russa causaram destruição e deixaram dezenas de milhares de mortos. Mas a crise também teve efeitos dramáticos em todo o mundo. O efeito cumulativo dos ataques russos à Ucrânia e o bloqueio de seus portos no Mar Negro, assim como as sanções ocidentais às exportações russas, levaram à disparada dos preços em lugares distantes da zona de conflito. Nos países mais pobres da Ásia e da África, o custo de produtos básicos, como trigo e óleo de cozinha, disparou e criou tensões para as sociedades que menos podem comprá-los. Somente no Chifre da África, até 20 milhões de pessoas podem passar fome este ano em meio à escassez de alimentos e seca prolongada.

Agora, governos estrangeiros estão lutando por opções para liberar a imensa oferta de produtos agrícolas da Ucrânia, principalmente trigo. Autoridades ucranianas dizem que 20 milhões de toneladas de grãos estão presas no país.

ACORDO. Por meio de canais diplomáticos, autoridades ucranianas exploram a possibilidade de transferir o carregamento de grãos por trem para portos no Mar Báltico e para a vizinha Romênia. Mas há problemas logísticos, incluindo se esses portos têm capacidade para acomodar os encargos crescentes.

As construções da época da Guerra Fria também são um obstáculo. “Ucrânia, Rússia, Lituânia e outros ex-membros da União Soviética usam o padrão russo de bitola ferroviária (estreita)”, explica o Wall Street Journal.

Para piorar, autoridades dos EUA citam evidências de navios russos transportando grãos ucranianos “roubados” de portos sob seu controle e destruindo produtos alimentícios na Ucrânia, exacerbando a insegurança alimentar global.

Entre 2018 e 2020, a África importou 44% de seu trigo de Rússia e Ucrânia. Desde as recentes interrupções, os preços do trigo subiram 45%, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento. A maioria dos países do continente na Assembleia Geral da ONU votou para condenar a invasão da Ucrânia.

Mas, em tempos de crise econômica, importa menos para os países distantes do conflito como eles recebem seus alimentos e quem os está enviando.