15 de junho de 2016

A ANTIPOLÍTICA DAS ELITES! UMA FALSA SOLUÇÃO!

1. A tramitação da lei que proíbe nomeações políticas nas empresas estatais trouxe de volta –e de forma tão discreta quanto sofisticada- a antiga tese que a salvação do país está num governo técnico suprapartidário.

2. A antipolítica não é só uma reação populista que alcança os setores populares e parte dos setores médios. Alcança, no Brasil, todos os andares sociais, da portaria à cobertura. A ideia que opiniões e indicações de políticos fazem mal ao país é sintoma disso.

3. A vontade da elite empresarial é que o governo fosse formado por tecnocratas imunes à política. É provável que se aprove uma lei impedindo indicações políticas para as diretorias das empresas estatais. Afirmam –e a imprensa repercute- que o governo deve buscar no “mercado” os nomes para essas posições.

4. Deveriam se perguntar: quantas pessoas no “mercado”, sem filiação partidária nem envolvimento político, estariam dispostas a aceitar um cargo? Milhares, claro. E dois meses depois estariam fazendo sem pejo –e no início com discrição- essa mesma articulação.

5. As estatais privatizadas como as telefônicas, a Vale do Rio Doce, distribuidoras de energia elétrica, rodovias, portos, aeroportos, etc., deixaram de fazer a interlocução e ter influência política? Tem, tanto nas diretorias, como –o que é mais grave- nos negócios dessas empresas, indicando fornecedores e se articulando com os governos nos três níveis.

6. O que essas elites “suprapartidárias” deveriam entender é que não há solução tecnocrática e apenas econômica para a crise. Afinal, o czar da política econômica –ministro Henrique Meirelles- havia se aposentado do Banco de Boston e conseguido uma vaga artificial, mudando seu domicílio eleitoral, para ser deputado por Goiás pelo PSDB. E recentemente se filiou ao PSD com suas ambições políticas estimuladas. Tudo bem, nenhum pecado. Mas é hipocrisia negar a política como solução.

7. Será que essa elite “suprapartidária” imagina que o governo Temer terá continuidade e que as leis que “tanto o Brasil precisa” serão concluídas a golpes de racionalidade tecnocrática? O sistema eleitoral do Brasil é proporcional aberto, estimulando a representação de corporações e das demandas capilares do país. Nesse sentido, são bem mais que 28 os partidos na Câmara de Deputados. Como se costura maiorias nesse quadro?

8. A crise política se resolve pela política. Se o sistema eleitoral atual conduz a esta situação indesejada, a prioridade “econômica” deveria ser a reforma política e não ingenuamente construindo um governo de técnicos. Se a política é uma arte, ninguém melhor que o atual presidente Michel Temer para a articulação dessa transição.

9. E nesses 30 dias mostrou que vai bem ao conduzir um navio viking de remadores –com remadas descoordenadas- oscilando, mas apontando para o norte certo, sem perder o rumo, como ocorreu com a presidentA anterior.

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ELEIÇÃO NA ÁUSTRIA ESTIMULA DIREITA NA ALEMANHA!

(Folha de S. Paulo, 12) 1. Nunca uma eleição na Áustria chacoalhou tanto os políticos da Alemanha como esta última para presidente, em maio. Se por um lado a vitória apertada do ecologista Alexander van der Bellen deixou aliviados os vizinhos alemães, por outro, o sucesso de Norbert Hofer, o candidato da extrema-direita, mostrou o forte potencial do chamado voto de protesto.

2. Isso porque também aqui os eleitores estão dando as costas para a grande coalizão que sustenta o governo Merkel e debandando para a Alternativa para a Alemanha (AfD), o novo partido populista de direita no país. Desde a crise dos refugiados, no ano passado, a AfD vem roubando votos de todas as siglas, inclusive de esquerda. Em algumas regiões, chegou a se tornar a segunda maior força política.

3. Analistas menos céticos ainda acreditam na atual política de integração e ressaltam a força do multiculturalismo na Alemanha. Destacam o fato de que, enquanto o Partido da Liberdade de Hofer (FPÖ, em alemão) é uma agremiação já estabelecida, com suas origens nos anos 1950, a AfD é ainda jovem, criada em 2013, e impulsionada apenas pela crise dos refugiados. Seu programa oferece pouca coisa além do discurso xenófobo.

4. Os mais pessimistas, por sua vez, temem as consequências de um eventual acirramento nas fronteiras da Europa ou mesmo no acordo recentemente fechado com a Turquia para conter a onda migratória. Acham que uma nova crise pode detonar uma bomba eleitoral. O pleito na Áustria certamente dará mais gás à AfD. A questão é por quanto tempo.