18 de agosto de 2015

CRISE É POLÍTICA, NÃO É PARLAMENTAR! LEMBRANDO: NA POLÍTICA NÃO HÁ VÁCUO! QUEM ESTÁ NO COMANDO?

1. Os partidos políticos no Brasil -todos e mais recentemente o PT- foram se parlamentarizando. Isso é produto de três movimentos. Um de adesão ao poder executivo de plantão para se aumentar, em muito, a probabilidade de reeleição de parlamentares. Outro, que a proximidade e a participação nos governos foi gerando acumulação de recursos – financeiros e patrimoniais. Um terceiro que é o imbricamento com o poder econômico.

2. As relações do poder econômico com os governos passaram a ter várias linhas de acesso, na medida em que precisavam de interveniência dos parlamentares dentro ou com influência no executivo nas diversas pastas. Isso passou a ser parte constituinte das próprias políticas econômicas dos governos, influenciadas pelo interesse privado articulado com os parlamentares no poder.

3. Os governos -todos- formaram amplas maiorias parlamentares e passaram a governar por “decreto”, ou seja, leis com destino certo de aprovação. As maiorias parlamentares eram garantidas pela proximidade com o poder e suas benesses. Seja este ou aquele método, todos podem ser enquadrados no “genérico” “mensalão”.

4. Essas políticas econômicas lastreadas nos negócios com os governos eram insustentáveis. E veio a crise econômica. A profundidade da mesma foi levando aos beneficiários do poder a relaxar os seus controles, imaginando que o poder do PT entrava por dentro da polícia federal, do ministério público e do judiciário. A mobilidade de Lula pelos salões e pelos aviões levou a essa ilusão.

5. Hoje, vivemos uma crise tripla: econômica, política e moral, depois de destampadas as relações do poder. Após as eleições de 2014, atravessou-se a fronteira e o castelo de cartas desmanchou. A presidente Dilma fragilizou-se e entrou num encilhamento. Lula entrou no jogo com as carta que jogou nos seus governos. O caminho é esse que vemos, atrair os parlamentares para formar maioria – uma velha maioria com os mesmos métodos e os mesmos personagens.

6. Mas o quadro hoje é estruturalmente diferente. Numa visão ingênua -ou desesperada desse processo- não conseguem entender o que está na raiz disso tudo e se confunde a crise política, que é profunda e que passa por uma crise gigantesca de representatividade mostrada pelas pesquisas, passa por maiorias políticas inorgânicas, pela ausência de lideranças pessoais ou partidárias. Uma crise assim não se resolve buscando votos no parlamento, até porque todos sabem que tomem as medidas que tomarem, a solução econômica só poderá vir em médio prazo, ou fora do atual governo.

7. O jogo da Dilma e Lula se entende: querem construir uma minoria suficiente para inviabilizar o impeachment. Nada mais que isso. O que der para passar, passou. Mas nada disso vai responder a crise econômica e muito menos a crise política que é muito maior que a crise parlamentar. Forme a maioria parlamentar que formar e a crise política vai continuar.

8. Uma máxima política nos diz: NA POLITICA NÃO HÁ VÁCUO. E quem entra nesse vácuo? Populistas de esquerda? Populistas de direita? A Antipolítica? Ou frações políticas –lúcidas, lastreadas na experiência internacional e com conhecimento das raízes brasileiras-  entendem este processo, ou…, apertem o cinto, pois Andreas Lubitz está no comando.

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DESCENSO DA POLÍTICA, ASCENSO DA RELIGIÃO!

(Régis Debray – Globo, 15) — Na década de 60, os comunistas tinham certeza que iriam colocar as religiões nos museus. Mas o que vemos nos anos 2000 é justamente o inverso: a religião colocou o comunismo nos museus. O distanciamento da política volta a trazer um sentimento de pertencimento étnico e religioso, que leva à sensação de proteção, autoestima e dignidade que antes era oferecida pelo sistema político. E quanto mais a política se corrói, mais os movimentos religiosos passam a assumir o seu papel. Os netos vão a mesquitas, templos e sinagogas. Os avós não estavam nem aí para isso. Quiseram estatizar o Islã, e agora o Islã está tomando o Estado.