1º de março de 2021

O IMPACTO DE UM BOM DIRETOR!

(Antônio Gois – O Globo, 22) Dentre os fatores internos à escola, somente os professores superam a importância de um bom diretor para a aprendizagem dos alunos. Esta afirmação é de um influente relatório, publicado em 2004 nos EUA, pelos pesquisadores Kenneth Leithwood, Karen Seashore Louis, Stephen Anderson e Kyla Wahlstrom. A revisão de estudos acadêmicos na época foi financiada pela organização Wallace Foundation, que na semana passada voltou a divulgar um novo documento encomendado a especialistas, sintetizando, a partir de pesquisas publicadas nos últimos 20 anos, o que sabemos sobre como diretores impactam estudantes e suas escolas.

O novo relatório – de autoria dos pesquisadores Jason Grissom, Anna Egalite e Constance Lindsay – confirma o efeito positivo que um bom diretor tem sobre os alunos, mas revela que ele é muito maior do que o estimado há 20 anos, além de não se restringir a resultados de aprendizagem em testes. As ações lideradas por gestores eficazes diminuem a indisciplina, aumentam a frequência dos estudantes, melhoram a satisfação dos professores com seu trabalho e diminui a rotatividade do corpo docente.

Uma das conclusões do relatório divulgado na semana passada é que, ainda que o impacto de um bom diretor seja menor do que o de um professor, é preciso considerar que esse efeito, no caso do gestor escolar, é sentido por todos os alunos de uma escola, e não apenas pelos que estão numa sala de aula.

Esta comparação entre diretores e professores, porém, não deve ser interpretada como se um fosse mais relevante do que o outro, já que uma das ações de maior efetividade de gestores escolares é justamente o apoio ao desenvolvimento dos docentes, ajudando a construir um bom clima para a aprendizagem e facilitando a colaboração profissional entre pares dentro da escola.

Mesmo baseado principalmente na literatura acadêmica anglo-saxã, os resultados são coerentes com achados de estudos no Brasil e na América Latina. As conclusões soam intuitivas e óbvias. Mas, se é assim, por que damos tão pouca atenção a esses profissionais no Brasil?

Dados do Censo Escolar de 2019 revelam que apenas um em cada dez diretores de escolas públicas fizeram curso de formação continuada em gestão escolar com ao menos 80 horas de duração. Na maioria das redes municipais, o critério de seleção para o cargo é a indicação política. Com raras exceções, documentos legais que orientam o que se espera dos diretores no exercício da função parecem feitos para burocratas ou síndicos, e não para lideranças com capacidade de afetar positivamente a comunidade escolar. Por fim, as políticas de apoio são insuficientes e, tal como no caso dos professores, os salários, pouco atrativos.

Um primeiro passo para alterarmos essa realidade é termos clareza do que esperar desses profissionais, de modo que as políticas de formação, seleção e apoio sejam coerentes. Países que mais avançaram nesse tema têm documentos públicos que ajudam a orientar os sistemas. Estudá-los é necessário, mas não adianta copiar, pois qualquer política pública tem que ser aderente aos valores e realidades de cada nação. Por isso é tão importante acompanhar os debates que estão ocorrendo atualmente no Conselho Nacional de Educação, sobre a construção de uma Matriz Nacional Comum de Competências do Diretor Escolar.