21 de março de 2019

QUEM DISSEMINA A IDEOLOGIA TERRORISTA SUPREMACISTA BRANCA?

(Guga Chacra – O Globo, 15) O terrorismo supremacista branco tem crescido ao longo dos últimos anos e já é considerado mais perigoso do que o jihadista em algumas nações. O atentado contra muçulmanos em duas mesquitas da Nova Zelândia, com 49 mortos e dezenas de feridos, demonstra a dimensão deste terrorismo com uma ideologia de suposta superioridade do branco ocidental e um sentimento islamofóbico e anti-imigrante.

Estes supremacistas também atacam judeus, como vimos no ataque a uma sinagoga em Pittsburgh, em outubro. E atacam negros, como vimos no ataque contra uma igreja frequentada pela comunidade negra em Charleston, na Carolina do Sul, em 2017. Também atacam jovens, como vimos na Noruega, anos atrás. Muçulmanos já foram atacados em atos terroristas no Canadá, em Londres e agora na Nova Zelândia.

A ideologia supremacista branca não é nova. Inclusive, foi maior nos tempos do nazismo. Durante algumas décadas, se tornou algo marginal. Com o advento das redes sociais, no entanto, chegou ao mainstream. No Twitter e no Facebook, alguns formadores de opinião e seus seguidores, inclusive no Brasil, pregam o tempo todo o ódio contra os muçulmanos, contra os negros, contra imigrantes e contra o que eles chamam de “globalistas”. Algumas lideranças políticas fazem o mesmo. Distorcem informações ou mesmo mentem. A maioria absoluta, claro, fica apenas nas palavras odiosas. Mas sempre haverá um grupo menor que decidirá atacar, como observamos na Nova Zelândia. Deixam seus manifestos supremacistas e, de modo cruel, filmam ao vivo seu massacre.

Estes terroristas supremacistas brancos não são diferentes dos jihadistas, que também seguem uma ideologia odiosa para cometer seus atentados. Um escritor argelino residente na França certa vez escreveu que a disseminação da jihadismo, que ocorreu em maior escala a partir dos anos 1980, radicalizou setores da sociedade islâmica. Ele avalia que há muitas similaridades com a radicalização supremacista que observamos no Ocidente.

O complicado, para as autoridades, é combater o terrorismo supremacista branco. No caso dos jihadistas, sabemos bem qual costuma ser a resposta. São as ações militares contra países distantes como o Iraque e o Afeganistão ou os bombardeios de drones no Iêmen e na Somália. A lógica é a de que os terroristas jihadistas são ligados a grupos como a Al Qaeda e o Grupo Estado Islâmico que teriam bases nestas nações, mesmo quando não há relação alguma, como vimos na invasão ao Iraque após o 11 de Setembro – Saddam Hussein era inimigo da Al Qaeda. Terroristas eram presos e levados para Guantánamo. Mas o que fazer quando o terrorista é supremacista branco? Obviamente, não sairão bombardeando nações. A saída é utilizar ações de contra-terrorismo e combater o discurso do ódio.