23 de novembro de 2015

A CRISE JÁ ATINGE OS MAIS POBRES E COMEÇARÁ A TER REPERCUSSÕES POLÍTCAS!

1. Este Ex-Blog, numa nota, dias atrás, chamava a atenção para uma característica da crise brasileira. A crise atual começou afetando as empresas, inclusive as maiores atingidas pela lava-jato, diretamente e em seu multiplicador. Em seguida, chegou à classe média. A venda de bens duráveis, automóveis em primeiro lugar, despencou. As inadimplências bancária e comercial subiram.

2. Os setores de baixa renda eram os menos atingidos em função da rede de proteção social construída nos últimos 20 anos e intensificada nos últimos 10 anos. Essa rede de proteção social vai muito além do bolsa-família, pois abrange os sistemas sociais, previdenciário e de emprego. Na medida em que aumente a taxa de exclusão e de pobreza, a demanda de entrada na rede de proteção social aumentará. Mas as medidas adotadas contra a crise fiscal reduzem a rede de proteção social e dificultam a entrada nela dos novos pobres. E isso ocorre nos níveis federal, estadual e municipal.

3. O editorial da Folha de SP (22) é elucidativo: “Em meio à queda livre da economia brasileira que se observa desde o início do ano, o aumento do desemprego é o dado mais preocupante. Projeções de que a taxa de desocupação atingirá dois dígitos, consideradas alarmistas há poucos meses, soam agora plausíveis.   A população ocupada caiu 3,5% em outubro, em relação ao mesmo mês de 2014, um ritmo inédito na série histórica. Por sua vez, a taxa de desemprego subiu para 7,9%. Há um ano, era de 4,7%.  A alta só não é maior porque continua a encolher a parcela dos que procuram emprego que diminuiu de 56,2%, há um ano, para 55,4% em outubro.”

4. “Se o índice tivesse ficado constante, o desemprego estaria em torno de 9%. Talvez esteja em curso, por ora, o chamado “efeito desalento” –muitos indivíduos deixam de procurar emprego por acreditar que dificilmente terão sucesso em uma conjuntura tão negativa. Alguns recorrem às famílias, outros contam com seguros pagos pelo governo. Outra consequência desse quadro está na queda da massa real de salários: decréscimo de 10,3% no período. Trata-se do pior resultado desde 2003, quando caiu 12%. Não espanta que a recessão ora se aprofunde, com queda adicional das vendas e dos empregos.”

5. O Globo (20) mostra que a desintegração do mercado de trabalho ocorre principalmente nas metrópoles. Isso sempre amplia a violência pelo estresse que provoca nas famílias, nas escolas, nos locais de entretenimento e nas ruas. “825 mil pessoas perderam o emprego elevando para 1,9 milhão o número de desempregados das seis maiores regiões metropolitanas do país, 67,5% mais que um ano antes. Já a renda média real dos trabalhadores (já descontada a inflação) ficou 7% menor. — Esse salto astronômico anual da taxa é simbólico. É a deterioração de um dos índices mais importantes do mercado de trabalho. Uma calamidade. É surpreendente que você conseguiu no décimo mês do ano ter um recuo considerável em várias variáveis: na taxa de desemprego, na renda, ocupação e no trabalho com carteira — destaca o economista João Saboia, professor da UFRJ.”

6. “O rendimento médio real dos trabalhadores foi R$ 2.182,10, contra R$ 2.345,81 de outubro de 2014. A queda de 7% só é menor do que os 13,5% registrados em 2003. A massa de rendimento, ou seja, o total pago a todos os trabalhadores, ficou em R$ 49,6 bilhões em outubro. Caiu 1,7% frente a setembro e despencou 10,4% na comparação com igual mês do ano anterior.”

7. As pesquisas de opinião nos últimos dias mostram que as taxas de rejeição aos governos e aos políticos já equiparam a classe média aos mais pobres. E mais grave: cresce a taxa de desesperança em relação ao futuro e o número de empresas e de pessoas que emigram na busca de dias melhores é recorde. A crise social chegando aos mais pobres torna a crise política ainda mais complexa, as ruas mais ocupadas e dificulta a aprovação de leis de ajuste fiscal com repercussões sociais.

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CRISE IMABILIÁRIA: DEPOIS DE UM ANO, SÓ 6% DOS APARTAMENTOS DA VILA OLÍMPICA DO RIO FORAM VENDIDOS!

(Simon Romero – New York Times, 20) 1. As construtoras na segunda cidade do Brasil estão lutando para encontrar meios de desovar apartamentos, oferecendo vantagens como pagar condomínio durante anos, cortar as prestações em 50% e dar viagens para Nova York. Despencando de sua posição como um dos mercados imobiliários mais caros do mundo, o Rio hoje luta com seu maior excedente em décadas, levantando temores de uma quebra.

2. Dezenas de novos edifícios elegantes construídos para os Jogos Olímpicos de 2016 não atraem compradores, e os esqueletos de obras de hotéis abandonadas enfeiam a silhueta urbana.  As autoridades anunciaram a realização das Olimpíadas no Rio como uma maneira de levantar os ânimos e as fortunas da cidade.

3. Essas crises econômicas costumam ocorrer depois de Olimpíadas, quando os gastos em construção secam e a enxurrada de turistas diminui. Mas o Rio está acrescentando uma nova visão, pois a economia se deteriora acentuadamente nos meses antes dos jogos, com a oferta excessiva de propriedades construídas para o evento exacerbando a recessão nacional e os baixos preços do petróleo.

4. Alguns dos empreendimentos mais reluzentes se classificam entre os mais decepcionantes —como a Vila Olímpica, concebida para alojar 18 mil atletas, que será transformada em apartamentos de luxo depois dos jogos.  Os desenvolvedores do projeto, que inclui 31 torres, jardins tropicais e piscinas, começaram a vender unidades depois que o Rio abrigou a final da Copa do Mundo de futebol no ano passado. Um ano depois, somente 230 dos 3.604 apartamentos foram vendidos, segundo os empreendedores.

5. Os preços dos imóveis residenciais no Rio caíram até 12% no último ano. Com a inflação anual chegando a quase 10%, isso significa que os preços das propriedades em algumas áreas diminuíram mais de 20% em termos reais. E depois de computada a queda do real em 2015 muitos apartamentos custam cerca da metade do preço de 2014 em dólares. A crise imobiliária fervente do Rio é uma questão delicada para as autoridades que se preparam para as Olimpíadas. “Imaginávamos que esta crise só ocorreria depois das Olimpíadas em 2016”, disse Leonardo Schneider, vice-presidente da Secovi, uma associação de agências imobiliárias. “Mas está acontecendo agora, pondo em questão as apostas agressivas feitas em projetos que visavam os Jogos Olímpicos.”

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NOTAS INTERNACIONAIS!

1. Macri vence a eleição para presidente da Argentina: 51,4% x 48,6%. Diferença de 2,8 pontos foi muito menor dos 8 a 10 pontos que davam as pesquisas e boca de urna. Com país dividido e sem maioria parlamentar, o primeiro desafio será a gestão política. Posse em 15 dias.

2. (Estado de S.Paulo, 23) A Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) assina acordo de livre comercio. A organização, criada em 1967, é formada por Mianmar, Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Cingapura, Tailândia e Vietnã. A cúpula terá ainda encontros paralelos com as delegações de EUA, China, Japão, entre outros, onde deve se abordar as disputas territoriais no Mar da China Meridional entre Pequim e vários sócios do grupo.

3. (Folha de SP, 23) Na segunda metade dos anos 1990, a Argentina representava cerca de 12% do comércio internacional brasileiro. Nos últimos 5 anos, o comércio com a Argentina tem estado por volta de 7% do total do comércio internacional do Brasil.

4. (Folha de SP, 23) Os ataques de Paris, que deixaram 130 mortos, reacenderam o debate sobre o uso da criptografia nas comunicações digitais.  Defendidas por quem deseja evitar o monitoramento governamental, as mensagens cifradas podem ajudar grupos radicais a planejar ataques, vêm repetindo oficiais de órgãos de segurança. Na semana passada, começaram a surgir notícias de que integrantes da milícia radical Estado Islâmico teriam usado a tecnologia para coordenar o massacre na França. O diretor da CIA, John Brennan, veio a público criticar o fortalecimento da criptografia entre as empresas de tecnologia do Vale do Silício.