28 de agosto de 2018

ENTREVISTA COM O ARQUITETO E URBANISTA PAULO CASÉ, FALECIDO ONTEM, FALANDO DE SUA RELAÇÃO COM CESAR MAIA!

Revista Vitruvius

Opinião sobre arquitetos e políticos

AAB: César Maia, Ex-Prefeito do Rio.
PC: César Maia é uma das pessoas que mais me impressionou na minha vida, ele tem uma cabeça extraordinária. E agora ficou na moda meter o pau nele já que ele não está mais no poder. Ele é um homem que ficou 16 anos à frente da Prefeitura dessa cidade e ainda se encanta com a cidade. Agora, política é um suicídio, política é um suicídio, e quando você tem que confrontar a sua ideia com os outros pra se afirmar, não adianta, acaba. Eu por exemplo, eu tenho as minhas ideias, depois que eu recolhi as minhas críticas que achei mais importante eu peguei meu caminho e fui seguir o meu caminho. Eu não quero saber de discutir com ninguém. Mas o político ele tem que discutir com todo mundo e isso desgasta muito.

AAB: O senhor trabalhou muito para a Prefeitura durante as gestões dele. E então, qual a principal virtude que o senhor viu no César Maia com relação a essa questão da Cidade?
PC: O trabalho. Trabalha, trabalha, um homem interessante tem uma cabeça rica pra cacete, muito inteligente. A última vez que eu estive com ele, foi junto a um hoteleiro português que ia fazer um hotel aqui, e o projeto era meu. Então ele marcou um encontro e eu fui lá. Ele tava terminando o governo. Ele já estava há dezesseis anos, ele já deveria estar em outra, mas não, de tudo ele fazia. Eu já trabalhei muito com ele e eu sempre falava: “Cesar, vamos fazer uma coisa? Vamos terminar este seu governo e vamos abrir um gabinete de conversa”. Gênero, ele é gênero tá entendendo. Eu tenho vários amigos intelectuais, completamente diferentes dele, mas ele é um gênero diferente, um homem de uma sagacidade. Eu tenho por ele um apreço. Uma vez eu escrevi na minha coluna do Jornal do Brasil, uma das primeiras colunas foi sobre o pós modernismo. Foram dois números de pós modernismo. Então escrevi sobre a arquitetura, sobre o moderno, como é que nasceu a arquitetura moderna e etc. Aí, ouça só, eu estou em casa um dia e toca o telefone: “Alô, Paulo Casé? Aqui quem fala é o Deputado Cesar Maia”. E eu falei: “Pois não, Deputado”. E ele, que é economista, me falou: “Eu acho que a economia tem muito a ver com aquilo que você escreveu no Jornal do Brasil sobre arquitetura e pós-modernidade. Você pode vir conversar comigo?”

AAB: O senhor nunca tinha falado com ele antes?
PC: Nunca. Falar com Político? Aí fui lá depois que ele me ligou e esta conversa que tive com ele me marcou. Fui lá nove horas da noite e saí duas horas da manhã de lá. Quando saí, eu pensei, não é possível esse cara deve ser um maluco. É um cara fora do normal. Aí eu disse: “Ô Cesar, eu posso marcar outra conversa com uns amigos e você”. Então fiz um grupo, Geraldinho Carneiro, Silvio Tender, uma porrada de gente interessante, tinha também o Conde. O Conde então ele conheceu o Cesar Maia lá em minha casa. Aí eu disse, “Ô Cesar, aconteceu isso, isso e isso depois daquela nossa primeira conversa e eu reuni esses amigos aqui para você falar pra eles o que você disse para mim, porque eu estou impressionado com a sua visão da Cidade, do mundo e etc.”. E todo mundo saiu de lá também com boas impressões dele. Então é isso, pra mim o César Maia é essa história que te contei agora.

AAB: O senhor falou muito aqui do arquiteto Luiz Paulo Conde, ex-prefeito do Rio. Ele é mais ou menos um arquiteto da sua geração, não é? E vocês sempre estiveram em alguns momentos muito próximos. Como é que o senhor vê a passagem do Conde da arquitetura para a política e os caminhos que ele seguiu depois aqui na Cidade já como Prefeito e etc?
PC: Foi a primeira visão urbana de um prefeito sobre a cidade nos últimos anos. Ele pensou a Cidade, fez os Programas Rio Cidade o Favela Bairro e etc.

AAB: Foi o senhor que apresentou o Luiz Paulo Conde ao César Maia?
PC: Não apresentei exatamente, mas eu que trouxe o Conde para aquela reunião com o César Maia. Eu soube depois, que ele foi quem levou o César Maia para casa, pois o Cesar morava na Barra da Tijuca e eles foram conversando e o Conde já gostava de política. Ele foi Diretor da Escola de Arquitetura só fazendo política, fazendo política. Falando com funcionário aqui com outro funcionário ali. Eu não ia fazer isso nunca tem que ter essa tendência e esse talento. E o Conde é um cara inteligente e culto. Quando teve a chance dele de ser o Secretário de Urbanismo do César Maia ele foi embora e fez realmente o negócio andar e muito. Então ele tem essa virtude de ter trazido o debate urbano para a prática cotidiana do cidadão. Que muitos não tenham entendido o que ele queria fazer aí é diferente. Também a gente não está aqui para as pessoas sempre nos entenderem. Infelizmente.