30 de outubro de 2014

PARA ONDE VÃO MARINA E A “REDE”? PARA BAIXO, PROVAVELMENTE!

1. Marina saiu da eleição presidencial de 2010 fortalecida e em ascensão. Tornou-se um destaque nacional e internacional, sinalizando que, em 2014, seria uma alternativa de poder.  Em função da “plasticidade” do PV, Marina rompeu com o partido e se declarou independente.

2. Agrupou em torno dela um grupo com ideias afins, sendo que muito poucos com mandato, talvez uns 3 deputados federais. Em função da afirmação de princípios e redação de documentos, atrasou a criação de seu partido ao qual denominaram Rede – rede de sustentabilidade.

3. Por esse atraso, no limite do prazo para criação de partidos, as assinaturas de apoio apresentadas não foram suficientes. Havia a expectativa de uma adesão significativa de parlamentares. Desnorteados, reúnem-se nessa mesma noite/madrugada e após um telefonema de Marina ao governador Eduardo Campos, decide ingressar no PSB, apontando a hipótese de vir a ser vice de Campos, coisa que acabou ocorrendo.

4. Logo em seguida, o Congresso aprova uma lei terminando com o direito de que novos partidos criados tenham direito ao fundo partidário e ao tempo de TV proporcional aos deputados federais que atraíssem. A lei termina assim com a portabilidade dos deputados federais que, ao trocarem de partido nas condições permitidas pela lei, levariam consigo o tempo de TV e a parte do Fundo Partidário proporcionais a eles.

5. Campos e Marina realizam reuniões públicas e afirmam uma parceria. Marina lembra que é provisória até criar a sua Rede. As pesquisas indicam para Campos intenções de voto quase a metade do que indicavam para Marina.

6. Com a morte de Eduardo Campos, Marina assume a candidatura a presidente e imediatamente as pesquisas a projetam para uma posição de liderança, derrubando Aécio Neves para um terceiro lugar afastado. Marina passa a ser alvo de seus adversários e vacila. No final do primeiro turno já estava em empate técnico com Aécio e em processo de desgaste.

7. Já na entrada ao PSB não houve consenso na Rede. Alguns preferiam que entrasse para o PPS e imediatamente assumisse a candidatura presidencial.

8. Com sua imagem afetada, segue para o segundo turno e, com o reforço da família de Eduardo Campos, adere a Aécio Neves em três momentos: declaração à imprensa; depois o encontro dos dois com Marina sem coque e de rabo de cavalo (Freud explica); e, finalmente, na TV com um bom pronunciamento de apoio a Aécio.

9. Outra vez a Rede racha. Boa parte, talvez a maioria, preferia a neutralidade. O apoio de Marina a Aécio não altera a disputa no segundo turno. A eleição termina quase empatada e Marina como uma outsider nesse processo.

10. Hoje, o quadro é totalmente diferente do momento da tentativa de criação da Rede no TSE. Marina enfraquecida, seu grupo dividido e fragilizado, nenhuma expectativa de atrair parlamentares quando a Rede for legalizada.

11. O mais provável é que Marina não recupere mais o brilho de antes e que seu partido, uma vez criado, se torne inviável ou mais um micropartido pela quase nenhuma adesão de parlamentares, o que mesmo ocorrendo marginalmente, não trará mais os recursos e o tempo de TV que trazia antes.

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ENTREVISTA DANIEL COHN-BENDIT!

1. Daniel Cohn-Bendit (69 anos), um dos líderes da Revolução estudantil de 1968 na França. Mudou-se para Frankfurt, onde vive até hoje. Ex-Deputado do Parlamento Europeu, primeiro pelos verdes alemães e, depois, pelos franceses, quando pôde regressar ao país natal. Respostas a Sirkis – Folha de SP (19).

2. Vivemos um movimento de ruptura e de reorientação histórica. A soberania nacional está sendo varrida pela globalização. A globalização e as crises dela resultantes angustiam no âmbito econômico, financeiro e ecológico. Nessa situação, ou bem vamos rumo a soluções que transcendam o quadro nacional ou a nossa angústia nos fará retroceder para tentar nos proteger no espaço nacional contra a globalização. Estou convencido de que esse recuo seria um erro.

3. Há uma dificuldade na construção do espaço democrático europeu, mas não nos esqueçamos de que a construção da democracia, no âmbito nacional, foi um processo muito longo. Entre a Revolução Francesa e a consolidação da democracia na França, com o direito de voto das mulheres, foram longos 150 anos. Hoje, com altos e baixos, estamos no período de uma construção democrática no espaço europeu.

4. O projeto de Putin de decepar a Ucrânia parece estar tendo sucesso. É a mesma estratégia que ele utilizou na Geórgia: criar um território “tampão” sob influência russa. A curto prazo, não vejo muita coisa que a União Europeia e a Otan possam fazer. Mesmo que as sanções econômicas atinjam a Rússia, aparentemente isso não tem efeito sobre Putin, que parece disposto a sacrificar a população em nome dos interesses da “Grande Rússia”. A Rússia de Putin virou um pesadelo. Curioso: quando estive no Brasil, durante a Copa, encontrei gente reclamando da repressão no Brasil, mas torcendo para Putin. Valeria a pena irem a Moscou para o ver grau de repressão por lá, contra a oposição, as ONGs, os homossexuais.

5. Parte da esquerda latino-americana acredita que todos os que sejam contra os EUA são amigos. Se Putin é contra os americanos, então ele tem de ser bom. É patético. Naturalmente é preciso um debate muito duro com os americanos –toda essa história da NSA, de espionar o governo da Alemanha, do Brasil. Sua grandiloquência de donos do mundo é muito perigosa. Mas a sociedade norte-americana é livre. Quando confrontamos a democracia nos EUA com o regime na Rússia, não há comparação possível. Os EUA são uma sociedade muito contraditória, mas que tem uma sustança democrática.

6. A crítica que faço à extrema esquerda na Europa vale também para o Brasil. A violência black bloc evidentemente esvaziou aquele movimento. As pessoas deixam de comparecer. Na Europa também a violência isola movimentos sociais. O movimento no Brasil, no ano passado, tinha uma aura positiva, mas, a partir do momento em que uma minoria passou a agir com capacetes, máscaras, porretes, algo quase paramilitar, o restante refluiu. É preciso, porém, tomar muito cuidado e não se esquecer de que as reivindicações que suscitaram a mobilização são totalmente justas. Quando se vê a situação de mobilidade das cidades, todas engarrafadas, a impressão é de que o Brasil vai sufocar debaixo dos carros.

7. Deixei o Parlamento Europeu.  Faço todas as manhãs um programa na radio Europe 1 com um 1,3 milhão de ouvintes.

8. É preciso fazer a guerra ao califado, que é a barbárie dos dias de hoje por excelência. Chegamos a uma nova situação em que temos os Estados Unidos, o Líbano, a Turquia, Israel e o Irã com um objetivo comum: enfrentá-lo. Vai ter que ser uma coalizão, soldados iranianos, norte-americanos, turcos, jordanianos. Nesse momento, de fato não vejo tropas terrestres dos países da Otan. Mas veremos. É uma crise muito dinâmica.