Publicado em 25.01.2007 em Jornal O Globo
Uma tabela em série de delitos desde o início dos anos 50, elaborada pela Polícia Civil, oferece preciosas informações sobre criminalidade na cidade do Rio de Janeiro. Em alguns períodos, o crescimento é notório. Os homicídios dolosos, por exemplo, que nos anos 50 tiveram uma média anual de 7 por 100 mil habitantes, fecharam os anos 70 e abriram os 80 em 25 por 100 mil. Na Baixada Fluminense, os números superavam 40 por 100 mil e já eram alarmantes. Na primeira metade dos anos 80, na capital, este índice que passamos a acompanhar sobe para 33. Na segunda metade, foi para 56. O teto é atingido em 1994, com 65, mas a partir dessa data começa a cair e abre a década de 2000 com 36 por 100 mil.
As tentativas de homicídio não mudam tanto.
Nos anos 50, apresentavam média próxima a 7 por 100 mil, índice que não muda até o final dos anos 80. Nos anos 90, sobem para 11 e abrem os anos 2000 com 14. Os homicídios culposos, nos anos 50, tinham a média de 10 por 100 mil habitantes e terminam os anos 70 com 16. Não há números para os anos 80, mas nos anos 90 sobem para 20, caindo no início dos 2000 para 15.
Lesão corporal dolosa oferece um quadro de estabilidade desde os anos 50, quando oscilou entre os índices de 300 e 350 por 100 mil habitantes.
Estes índices caem nos anos 70 para 220, mas sobem nos anos 80 para 300. Nos anos 90 voltam a cair para a média de 280, que se mantém no início dos anos 2000.
As ameaças de agressão terminaram os anos 50 com um índice de 70 por 100 mil habitantes.
Os dados dos anos 70 e 80 são incompletos, mas a partir da segunda metade dosanos 90 disparam e abrem os anos 2000 com um índice de 220 por 100 mil habitantes. A ocorrência de estupros, nos anos 50, manteve-se na média de 7 por 100 mil, que continua nos anos 70, aumenta para 10 nos anos 80, cai para 6 nos anos 90 e diminui ainda mais, para 4, no início dos anos 2000. Os furtos nos anos 50 oscilavam em torno de 350 por 100 mil habitantes. Na segunda metade dos anos 70, subiram para 500 por 100 mil. Nos anos 80, aumentaram para mais de 1.000 por 100 mil, declinando depois para 800 e abrindo os anos 2000 com 880. Os roubos terminaram os anos 50 com a média de 40 por 100 mil. Nos anos 70, cresceram a taxas extravagantes, chegando a 450 no final da década, índice que se manteve nos anos 80. Na primeira metade dos anos 90, subiram para 600, chegando a 800 no final da década e mantiveram a curva ascendente no início dos 2000, indo para o patamar de 1.000 registros.
Os casos de estelionato oscilam muito nos anos 50. A média é de 20 casos por cada 100 mil habitantes, mas, no fim da década, chegam a mais de 30. Nos anos 70 já são 103 e continuam subindo na década de 80 para uma média de 160. Nos anos 90, este índice cai para um patamar de 75, que se mantém até o início dos anos 2000. A posse ou tráfico de entorpecentes fecha os anos 50 com a média de 7. No final dos anos 70 a média é de 18 e ela se mantém até a primeira metade dos anos 90. Na segunda metade, apresenta a média de 50 e novamente se mantém ao começar o milênio.
Porte e posse ilegal de armas já era um número alto nos anos 50, oscilando entre 30 e 40 por 100 mil habitantes. Nos anos 70, cai para cerca de 20, diminuindo ainda mais, para 15, nos anos 90. Mas volta a subir para 20 na entrada do milênio. Autos de vadiagem têm um nível de quase 20 nos anos 50, fecham a década de 80 com mais de 60 por 100 mil habitantes e praticamente desaparecem por decisão dos governos, que eliminaram este item. Apreensão de armas fecha os anos 50 em 10 e mantém este índice nos anos 70, vindo a subir no final dos 90 para 15 e iniciando os anos 2000 em 26 e 42.
O total geral de todos os registros nos anos 50 era de cerca de 1.600 por 100 mil. Aumentou para 2.000 nos anos 70, com exceção de 1979, quando passou de 4 mil. Nos anos 80, oscilou entre 2.500 e 3.000, passando para pouco mais de 3 mil daí por diante. A série em longo prazo permite uma avaliação da eficácia policial. E mais: permite avaliar que delitos capilares produzem mais desconforto proporcional à população, por décadas e décadas. São séries sobre as quais se pode priorizar o trabalho da polícia, diminuindo o estresse diário relativo aos delitos de maior visibilidade.