Internacional democrata

Publicado em 15/08/2009 em Folha de São Paulo 

O MOVIMENTO comunista, no século 19, criou uma organização internacional de partidos políticos: a Internacional Comunista -IC. A IC ia além dos debates político-ideológicos. Atuava operacionalmente nos países de seus partidos. A Internacional Socialista -IS- se confundia com a IC no início. Mas, a partir da divisão entre comunistas e socialistas, a IS organizou-se como fórum de debates e orientações, sem ação operacional nos países de seus membros.

Os partidos do centro à direita só constituíram suas “internacionais” após a Segunda Guerra. A primeira, a Internacional Democrata-Cristã -IDC-, com expressiva presença na América Latina (Chile e Venezuela), estabeleceu-se como fórum de debates e orientações.

A Internacional Liberal atuava sem a intensidade da IS e da IDC. A desintegração da URSS desfez a IC. A IS cresceu, ampliou sua atuação na formação de quadros e se fez presente nas regiões dos partidos membros. O sistema político alemão (pós-Guerra), ao criar e financiar as “fundações” ligadas aos partidos, desdobrou sua atuação internacional, mantendo-se sempre no escopo dos debates, orientação e formação de quadros.

Esse quadro mudou para os partidos do centro à direita. O Parlamento Europeu, definindo blocos, articulou-se internacionalmente. A IDC ampliou sua base: manteve a sigla e mudou o nome para Internacional Democrata de Centro. Na Europa, se tornou majoritária com seu bloco, o Partido Popular Europeu (PPE, de Merkel, Sarkozy etc.). A Internacional Liberal -aproximando-se do centro com os conservadores britânicos, liderados por Cameron- transformou-se em União Democrata Internacional -UDI- e ampliou sua base, e seu bloco, a partir das eleições europeias de junho. Alguns partidos europeus -como o CDU de Merkel- participam de ambas -IDC e UDI.

Na América Latina, a IS não constitui uma organização regional como representação. A novidade é a Alba, “bolivariana”, que atua regionalmente e repete a prática da IC, intervindo operacionalmente nos países de seus partidos. Honduras é apenas um exemplo.

A IDC, mantendo a denominação anterior (ODCA), atua regionalmente como fórum e formação política. A novidade é a Upla -União de Partidos Latino-Americanos-, ligada à UDI. Como fórum e formação, decidiu atuar operacionalmente e fazer o contraponto à Alba. Para isso, criará no Rio (com apoio do DEM, em 10/09), a Frente Democrática da América Latina, que será um braço político também operacional.

Com isso, o panorama latino-americano verá -pela primeira vez- forças ideologicamente opostas atuarem num campo que a cada dia se torna mais conflituoso.