Segurança de classe

Publicado em 23/01/2010 em Folha de São Paulo

A PREOCUPAÇÃO dos governos com sua imagem em relação à segurança pública tem a ver com a forma com que a classe média-alta reage à insegurança. O Rio é um exemplo.

Os segmentos de renda superior estão concentrados na zona sul, região das praias mais conhecidas. É essa concentração que define as prioridades de segurança em relação à alocação de pessoal, recursos e equipamentos. O indicador de insegurança e criminalidade adotado é sempre o índice resultante dos homicídios dolosos por cem mil habitantes (IHD-100).
Na cidade do Rio, o IHD-100 é de 35. Isso exclui outros tipos de mortes violentas (confrontos, ossadas e corpos achados…) e os homicídios culposos (mortes no trânsito…). A zona sul do Rio tem 600 mil habitantes e três batalhões da Polícia Militar com efetivo definido de 400 policiais por batalhão -1.200 policiais.
É subdividida pela Secretaria de Segurança em três áreas de segurança: Aisp 2, 19 e 23. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), na primeira área, o IHD-100 em 2008 foi de 8,6.
Na segunda, de 2,1. Na terceira, de 11. Em toda a zona sul, houve em 2008 49 homicídios dolosos -um IHD-100 de 8,1. A introdução das unidades pacificadoras (UPP), ocupando totalmente favelas, foi uma medida positiva, em tese, e iniciada em quatro pequenas favelas da zona sul que somam 20 mil habitantes. Em cada UPP, são 150 PMs deslocados, ou 600 PMs no total, ou seja, um batalhão e meio da PM para 20 mil habitantes.
Do outro lado, uma grande região da zona norte, com 850 mil habitantes, classificada pela Secretaria de Segurança como área de segurança número 9 (Aisp 9), tem apenas um batalhão da Polícia Militar, portanto, um efetivo desejado de 400 policiais.
Tem 94 comunidades pobres dominadas por traficantes, segundo informou à imprensa o relações públicas da PM após quatro mortes por balas perdidas três semanas atrás. Aqui, segundo o ISP, em 2008 o IHD-100 foi de 52,5, ou 50% maior que a média da cidade e 6,5 vezes maior que na zona sul. Na Aisp 9, em 2008, ocorreram 446 homicídios dolosos, ou quase dez vezes mais que na zona sul (49).
As quatro UPPs da zona sul têm, para 20 mil pessoas, um efetivo de PMs 50% maior que a Aisp 9, com 850 mil pessoas. Em 2009, segundo o ISP, o número de homicídios dolosos nessa região cresceu 15%, e nenhuma medida adicional foi adotada.
Em 2007, por quatro meses, a Secretaria de Segurança e a Força Nacional ocuparam o Complexo do Alemão (Aisp 22) até com barricadas. Foram 40 mortos informados. Em 2008, alegando obras, saiu e nunca mais voltou. Em 2009, os homicídios dolosos nessa região cresceram 31% em relação a 2008.

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