02 de julho de 2013

A PARLAMENTARIZAÇÃO DA CRISE E SEUS RISCOS!

1. As manifestações de rua demonstraram que o poder de mobilização das redes sociais finalmente chegou ao Brasil. A imprensa abriu espaço para pesquisadores e estudiosos do tema escreverem, serem entrevistados…, de forma a que se pudesse entender o que há de novo nesse processo.

2. Por feliz coincidência, o professor catalão Manuel Castels dava palestras em Porto Alegre e S. Paulo no início dessas manifestações e comentou o que já tinha escrito em seus últimos livros sobre o caráter de ruptura na dinâmica das redes sociais. Ele e outros afirmaram e afirmam que a democracia vive uma etapa em que a representação popular terá que mudar de caráter.

3. As redes sociais são horizontais, não hierarquizadas, redes de indivíduos empoderados pela informação multiplicada, etc. E nesse sentido o sistema parlamentar tradicional terá que ser repensado de forma a que essa transição seja previsível. No início das mobilizações a questão da dinâmica das redes sociais ocupou a preocupação política. Mas progressivamente isso mudou.

4. Intelectuais de peso passaram a tratar a questão na lógica do movimento de massas de antes, que teria tido uma erupção espontânea que as redes multiplicaram como se fossem micro-mídias. Seria um esgotamento da paciência popular. Essa visão tomou conta do Congresso. Esse passou a reagir a esse movimento de massas de forma tradicional, legislando, como resposta.

5. As palavras de ordem lançadas foram transformadas em decisões políticas, da redução de tarifas de ônibus, a derrubada da PEC 37 que reduzia o poder de investigação do MP, a lei dando caráter de crime hediondo à corrupção, a lei de aplicação dos royalties, reforma política com ou sem plebiscito… A expectativa era e é, que com isso se abasteça de satisfação o movimento de massas e esse esmoreça.

6. Com isso, o sentido das manifestações foi parlamentarizado. A imprensa foi tabulando: demanda X, resposta Y do Congresso. E todo o debate sobre as características das manifestações, origem, lógica e dinâmica, das redes sociais, foi sendo abandonado. Agora se trata de saber se a reforma política será aprovada em plebiscito ou referendo, quais serão as perguntas…, e por aí vai.

7. Essa parlamentarização, ao não tratar da dialética das redes sociais, ao deixar de lado seu caráter inovador, ou de ruptura, será a fórmula garantida de que as manifestações se tornem menos e menos administráveis. Tratar as manifestações de massa de hoje como um ciclo que volta, das  grandes manifestações de massa de décadas anteriores é um equívoco grave, que será sentido de forma cada vez mais intensa. O tempo mostrará.

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ALGUNS DADOS DA PESQUISA DATAFOLHA NO ESTADO DO RIO!

1. A avaliação do governador Cabral geral foi de 25% de ótimo+bom e 36% de ruim+péssimo. Mas na Capital Cabral teve 20% de ótimo+bom e 40% de ruim+péssimo. Nos municípios de mais de 500 mil habitantes, Cabral teve 22% de ótimo+bom e 41% de ruim+péssimo. E entre aqueles cuja renda familiar é maior que 10 salários mínimos, Cabral teve 19% de ótimo+bom e 54% de ruim+péssimo.

2. A avaliação do prefeito Eduardo Paes foi de 30% de ótimo+bom e 33% de ruim+péssimo. Entre os que têm renda familiar de mais de 10 salários mínimos teve 26% de ótimo+bom e 46% de ruim+péssimo.

3. A avaliação do comportamento de Cabral nas manifestações foi de 15% de ótimo+bom e 49% de ruim+péssimo. Já a de Eduardo Paes foi de 17% de ótimo+bom e 45% de ruim+péssimo.

4. Dilma, no Estado do Rio, teve avaliação de 26% de ótimo+bom e 39% de ruim+péssimo.

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NÃO HÁ NENHUMA PROPOSTA ANTICAPITALISTA NOS PROTESTOS!

(Carlos Peña -1959-, doutor em Filosofia e reitor da Universidade Diego Portales – El País, 29) 1.  O que acontece, em minha opinião, e isso é o que foi dito nos últimos três anos, é que essas mudanças materiais produziram profundas mudanças culturais e subjetivas, em particular, um aumento das expectativas e o desejo que as ideias que legitimam a modernização capitalista – à igualdade de oportunidades e a meritocracia – realmente sejam realizadas. Há uma mudança na subjetividade com que se vive o processo de modernização – e as expectativas que são dirigidas a ele – mas nenhum projeto de modernização alternativa. Os partidos e seus líderes estão se acomodando a essa nova subjetividade, que não foram capazes, nem por um momento, de antecipar.

2. Os protestos, mais que alterar o tabuleiro político, mostraram a fragilidade da representação parlamentar de duas maneiras: intelectual, já que os parlamentares não foram capazes de discutir racionalmente com os jovens ou mostrar onde estavam errando (em vez disso, simplesmente os elogiaram ou juntaram-se as suas demandas); e institucional, porque o sistema mostrou que não é capaz de acolher uma representação mais precisa dos interesses sociais, racionalizá-los a tempo e conduzi-los.

3. Mais importante, colocaram o tema na agenda pública e, hoje, é um assunto que todos discutem. É um sinal de que os jovens valorizam a democracia e as instituições, e começam a acreditar que a mobilização social pode, além de ser um gesto para pressionar e denunciar, ajudar na deliberação pública. No Brasil e no Chile não se vive uma revolta anticapitalista, mas o contrário: as pessoas levaram a sério o capitalismo e suas promessas de bem-estar crescente e igualdade de oportunidades!

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“O PAPA CONSIDERA PROTESTOS NO BRASIL JUSTOS E ACORDES COM O EVANGELHO”!

(El País, 02) O Papa Francisco, que chegará ao Brasil no próximo dia 22, foi informado diretamente dos protestos em curso nas ruas do país, com uma participação majoritária e ativa de jovens que se confessam sem partido. No discurso que dirigirá a mais de um milhão de jovens que se concentrarão no Rio de Janeiro com motivo das Jornadas Mundiais da Juventude, o Pontífice aludirá às manifestações, segundo informações de fonte fidedigna recebidas pelo correspondente de El País.

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NOTAS DO MERCOSUL!

1. (El Cronista, 28) Uma hora com Pepe Mujica basta para entender o quanto falta para se vencer o desafio do Mercosul. Ele observa que o Uruguai tem leite, queijo e carne, mas não tem petróleo, o insumo dourado dos venezuelanos. Ele não consegue evitar as reclamações contra a Argentina. As restrições ao comércio e o dólar “azul” são obsessões argentinas que complicam a economia uruguaia. Ele ri quando lembra que os argentinos vêm para a cidade de Colônia com pequenos cartões para fazer dos dólares moeda de compra; que vão para Carmelo comprar hectares no valor de 40.000 dólares. Mujica fica preocupado que a Argentina e o Brasil, irmãos mais velhos e muitas vezes injustos com o Uruguai, não tenham nenhum progresso na criação de políticas fiscais e tarifas convergentes. Ele fica preocupado que não aproveitem esta década de soja, trigo, petróleo e tantas vantagens comerciais para a construção da infraestrutura necessária na região. Assume de forma realista, e até mesmo tristeza, as fragilidades do Mercosul.

2. (La Nacion, 28) 2.1. Uma visita às escondidas em Buenos Aires. Declarações que não deixam espaço para negociações e respostas inflexíveis de várias embaixadas. Todo esse coquetel explosivo foi misturado nas últimas 24 horas e a integridade do Mercosul voltou a ser colocada em sério risco com a possibilidade do Paraguai de não retornar ao bloco regional se a Venezuela assumir a presidência pro tempore no próximo dia 12 de julho, presidência essa que agora está nas mãos do Uruguai. O Presidente eleito do Paraguai, Horácio Cartes, deixou clara sua posição para a próxima conferência de presidentes do Mercosul a ser feita em Montevidéu. “O Paraguai quer a presidência do Mercosul, mas não pela presidência em si; essa é a forma mais simples para o Paraguai poder se restabelecer e, em seguida, formalizar a entrada da Venezuela”, disse antes de retornar a Assunção e passar rapidamente por Buenos Aires.

2.2. Fontes importantes da diplomacia paraguaia disseram que a decisão de Cartes, que assumirá a presidência do Paraguai em 15 de Agosto, é inflexível e não pode ser mudada: afirmou que seu país não voltará para o Mercosul se a Venezuela assumir a presidência rotativa, que atualmente está nas mãos do Uruguai. Defende que Assunção teria que ter assumido a titularidade do bloco no primeiro semestre deste ano, mas não pode porque foi suspensa no ano passado após a destituição do presidente Fernando Lugo. Diante disso, Cartes exige que lhe outorguem a presidência do bloco regional para ter “respaldo político” em seu país e avançar assim com a ratificação do Senado paraguaio na incorporação da Venezuela ao bloco.