09 de janeiro de 2019

“GUIA PARA ENTENDER CRISTÃOS ORTODOXOS, COOPTAS, ARMÊNIOS, SIRÍACOS E ETÍOPES”! 

(Guga Chacra – Globo-On, 07) Não é comum se falar no Brasil do cristianismo oriental. Muitos brasileiros não sabem que existem igrejas cristãs antigas e pensam que há apenas o catolicismo e as denominações protestantes e evangélicas. Mas centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo seguem o cristianismo ortodoxo, igrejas autocéfalas orientais e algumas igrejas em comunhão com o catolicismo, mas de rito distinto. Neste dia 7, algumas destas vertentes antigas do cristianismo celebram o Natal.

Primeiro, no entanto, vale dividir as igrejas orientais em três blocos. Primeiro, há as autocéfalas, sem comunhão com outras. São os coptas, os armênios, os siríacos e os etíopes. Todas igrejas antigas. Os primeiros se concentram no Egito, onde representam 10% da população. Os armênios, por sua vez, historicamente são da região onde se localiza hoje a Turquia e o país Armênia, mas com diáspora por países áreas do Oriente Médio como a Síria, Líbano, Israel e Palestina, além de países como EUA, Argentina, França e Brasil. Os siríacos se concentram na Síria e no Iraque, embora sejam minoritários mesmo entre os cristãos em ambos países. E os etíopes, claro, são da Etiópia e de algumas nações limítrofes. Eles ficaram independentes da Igreja Copta.

O segundo grupo seria o cristianismo Ortodoxo, que muitas vezes chamamos de grego-ortodoxo. Há diferentes patriarcados ortodoxos que são independentes entre si, mas estão em comunhão e consideram o patriarca de Constantinopla (Istambul) o primeiro entre os iguais. Alguns dos patriarcados ortodoxos ficam no Oriente Médio, como o de Alexandria (Egito), Jerusalém e o Antioquino, atualmente com sede em Damasco, na Síria. A Igreja Russa Ortodoxa, que é a maior de todas em número de fiéis, não sente mais que o patriarca de Constantinopla seria o primeiro entre os iguais e coloca o de Moscou em um patamar superior. A relação entre os dois se deteriorou ainda mais nesta semana quando Constantinopla reconheceu a Igreja Ortodoxa Ucraniana como um patriarcado independente em Kiev. Os russos não aceitaram a decisão e consideram a Igreja Ucraniana como parte da russa.

O terceiro grupo é composto por igrejas do Oriente em comunhão com o catolicismo, como a Caldeia (Iraque), Maronita (Líbano), além daquelas que seguiam as religiões do primeiro grupo, mas passaram a respeitar a autoridade papal, como os coptas e os armênios católicos, assim como os que mantém o rito ortodoxo, mas seguem o Vaticano, como os grego-católicos, também conhecidos como melquitas.

As Igrejas Armênia, Siríaca, Copta, Etíope e algumas ortodoxas, como a Russa e a de Jerusalém, celebram o Natal pelo calendário Juliano, em 7 de janeiro. Há algumas ortodoxas como a Antioquina, a de Alexandria e a de Constantinopla que adotaram o calendário Gregoriano para o Natal e celebram em 25 de dezembro. As em comunhão com o Vaticano seguem obviamente marcam a data no mesmo dia. Na Páscoa, porém, as Igrejas Ortodoxas de Constantinopla, Alexandria e Antioquina seguem o calendário juliano.

Em Jerusalém, onde há múltiplas igrejas, embora os grego-ortodoxos e os armênios oficialmente marquem o Natal no 7 de janeiro, eles concordaram em celebrar com os católicas e denominações em comunhão com o catolicismo no 25 de dezembro em Belém, uma cidade palestina cristã. Já os católicos cedem na Páscoa e esta é celebrada no calendário Juliano, seguindo a tradição armênia e a grego-ortodoxa e evitam assim que haja o risco de a data cair na mesma época da Páscoa judaica. Em Beirute, onde há o maior número de cristãos de diferentes denominações antigas, todos os Natais e Páscoa são feriados nacionais, inclusive para os muçulmanos – muitos sunitas e xiitas celebram de forma laica o Natal com ceia, árvores e até Papai Noel.

No Brasil, há muitos armênios e grego-ortodoxos. Os primeiros oficialmente têm o Natal no 7 de janeiro. Já os ortodoxos, por serem majoritariamente da Síria e do Líbano e portanto de rito antioquino, celebram no 25 de dezembro. Na cidade de São Paulo, há igrejas ortodoxas, armênias, armênia-católicas, siríacas e melquitas. Por ser neto de libanês cristãos grego-ortodoxo com uma cristã grego-católica (melquita), no meu direito à cidadania libanesa estou registrado como grego-ortodoxo, porque pela lei do Líbano deve sempre ser seguida a linhagem paternal – o país, por dividir o poder entre as diferentes religiões, coloca no documento à qual pertence o cidadão, ainda que este não seja religioso.