10 de janeiro de 2014

A COMPLEXA SEGURANÇA DAS SELEÇÕES NACIONAIS NA COPA DO MUNDO!

1. Nos Jogos Pan-americanos do Rio, em 2007, os governos foram contatados oficialmente pelos agentes do FBI, explicando que a delegação dos EUA teria que ter sua segurança garantida pelos próprios agentes. Isso incluía não apenas a segurança individual dos atletas, mas o controle dos veículos usados, da alimentação, cobertura dos deslocamentos, acessos… Para isso, o local de hospedagem deveria ser isolado e totalmente controlado pelos agentes.

2. No PAN-07, havia a facilidade de ser numa cidade apenas e com a programação pré-conhecida, independente da colocação dos atletas.

3. Agora, na Copa do Mundo, as seleções se movimentam de um jogo para outro, o que incluirá o transporte aéreo, as varreduras nos hotéis de hospedagem, mobilidade nas cidades, alimentação, etc.

4. E a complexidade será bem maior, pois além dos EUA, países como Rússia, Inglaterra e Espanha deverão adotar procedimentos semelhantes. Naturalmente, a Embaixada dos EUA já iniciou os contatos com as autoridades brasileiras.

5. Quanto aos demais, é bom que as autoridades brasileiras tomem a iniciativa para não haver problemas e constrangimentos de última hora. Ou seja, para não se perder tempo, como comentava o presidente da Fifa dias atrás, se referindo a obras e logística.

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“A REVOLUÇÃO DAS COMUNICAÇÕES E DA INFORMÁTICA TORNOU OBSOLETA A ADMINISTRAÇÃO LINEAR QUE DEVE SER SUBSTITUÍDA POR UMA NOVA, BASEADA EM REDES ESPONTÂNEAS DE MÓDULOS AUTÔNOMOS”!

(André Lara Resende – Estado de SP, 22) 1. O sentimento em relação ao Brasil no exterior mudou em 2013. O otimismo no País já vinha em queda há algum tempo, mas a percepção externa parece ter finalmente alcançado – e até mesmo ultrapassado – o recente desalento doméstico. A evidente deterioração da situação fiscal brasileira é o fator mais preocupante para analistas e investidores estrangeiros.  Há uma dimensão especialmente grave no atual quadro brasileiro: um Estado despreparado, patrimonialista, com objetivos próprios, dissociados da sociedade.

2. As sociedades modernas se sofisticaram, tornaram-se mais complexas. O Estado foi obrigado a crescer para atender às suas novas funções. No Brasil, a rápida elevação recente da fatia da renda extraída da sociedade não foi acompanhada pelo investimento em infraestrutura. Houve séria deterioração da segurança pública e um dramático aumento da criminalidade. Não houve melhora digna de nota nem na educação, nem na saúde. O saneamento e o transporte público continuam abaixo da crítica.

3. O World Economic Forum publica anualmente um índice global de competitividade. O Brasil caiu para o 56.º lugar este ano. Ocupa o 80.º lugar em relação ao funcionamento das instituições e a 124.ª posição em relação à eficiência do governo. A educação está na 121.ª posição e a confiança nos políticos, na 136.ª. Os bolsões de excelência tecnológica e a qualidade do empresariado ocupam a 36.ª e a 39.ª posições. As estatísticas e os rankings apenas confirmam uma realidade perceptível a olho nu: o Estado brasileiro não está à altura do estágio de desenvolvimento do País.

4. O patrimonialismo do Estado brasileiro, sua incapacidade de respeitar os limites e os deveres em relação à sociedade, tem longa tradição, mas toma novos contornos com a sofisticação da economia, com a chegada do País à sociedade do espetáculo e à democracia de massas. O uso e o abuso das técnicas publicitárias, a criação de dificuldades de toda ordem para a venda de facilidades, a simbiose com cultura dos direitos especiais adquiridos e a aliança com grupos econômicos selecionados são a nova face do velho patrimonialismo.

5. A revolução das comunicações e da informática tornou obsoleta a administração linear, de comando e controle, que deve ser substituída por uma nova, baseada em redes espontâneas de módulos autônomos. O mundo contemporâneo é não linear e as empresas, assim como as demais instituições, ainda não se adaptaram a essa não linearidade. O caminho a ser seguido é reconhecer a nova ordem e não insistir na tradicional gestão de comando e controle, pois é a imposição de um estilo anacrônico de gestão que é contraproducente na complexidade contemporânea.

6. Há uma diferença fundamental entre o Brasil e a China. A China tem uma tradição milenar de autoritarismo burocrático competente. O custo do Estado é menos de 30% renda e está em queda. Já a participação do Estado no investimento, na chamada formação bruta de capital fixo, é de 21% do PIB. Ou seja, só o investimento direto do Estado chinês é uma proporção maior da renda nacional do que todo o investimento brasileiro, público, privado e estrangeiro, que não chega a 19% do PIB. Na China, o Estado é competente, custa pouco e investe muito. No Brasil, o Estado é caro e incompetente, não investe, nem cumpre suas funções básicas.

7. A partir da crise de 2008, aparelharam o Estado no Brasil. O resultado é conhecido: baixa produtividade, uma economia que não cresce e contas públicas que se deterioram. Um Estado autoritário e patrimonialista, sustentado pela demagogia, o marketing e a intimidação, onde apenas as aparências democráticas são respeitadas, é o caminho mais rápido para volta ao subdesenvolvimento. A fórmula, como demonstra sua aplicação na Argentina e em outros países vizinhos, é devastadora. Não há como bem governar com o Estado disfuncional. No lugar de insistir numa reforma de cima para baixo, de comando e controle, deveríamos experimentar a descentralização.

8. Deveríamos voltar à federação, dar autonomia aos Estados e aos municípios em todas suas esferas, desde a fiscal, até a segurança, a saúde e a educação. Tenho a impressão de que mais possibilidade da opção de “saída” em relação à “voz”, isto é, de ter a opção de se mudar ao invés de protestar, é mais importante do que nunca, num mundo complexo e interligado. Os mercados não são milagrosos, mas um pouco de competição no sistema político, sob o guarda-chuva de uma verdadeira federação, pode ser a única forma de viabilizar a complexidade contemporânea com a democracia e a existência de Estados eficientes e com mais respeito pelos contribuintes.