10 de maio de 2016

BRASIL: A NOVA DIREITA!

1. Na revista INTELIGÊNCIA do primeiro trimestre de 2016, o cientista político Jorge Chaloub do IBMEC e o historiador Fernando Perlatto da Universidade Federal de Juiz de Fora apresentam os resultados de uma exaustiva pesquisa sobre a curva ascendente de uma Nova Direita no Brasil: “A Nova Direita Brasileira: ideias, retórica e prática política”. Realizam um levantamento dos fatos, um diversificado diagnóstico e uma ampla análise, usando as lentes da esquerda orgânica que, aliás, não ocultam.

2. Paradoxalmente, o estudo que realizam serve também como um guia para a própria direita ordenar a sua dinâmica e continuar se expandindo. Para isso –em vez de pensadores e políticos ditos de direita- lerem com preconceito, deveriam desadjetivar certos trechos e até desideologizá-los, e buscar entender os roteiros descritos, neste ciclo –recente- de ascensão e influência das ideia da Nova Direita.

3. Uma razão dessa ascensão –segundo os autores- é a distância do regime militar. O tempo vai diluindo a colagem entre direita e regime militar. Nesse sentido, as vocalizações do deputado Jair Bolsonaro prejudicam o crescimento da Nova Direita, na medida em que reaproximam a direita da ditadura, e mais grave, de seus setores extremados.

4. Outra razão sublinhada por Chaloub e Perlatto é a mudança no Mercado Editorial e no Perfil dos Jornais. Ou seja, na medida em que livros publicados, artigos e textos nos jornais ganham audiência, reforçam a lógica deles de dar mais espaço e publicar mais e mais as ideias da Nova Direita. Eles deveriam se perguntar por quê. Afinal, não é o mercado editorial e o perfil dos jornais que abrem voluntariamente espaços, mas –ao contrário- são esses espaços conquistados pelas ideias da Nova Direita junto à opinião pública, o que faz convergir com a lógica comercial das vendas e das audiências.

5. Outra razão levantada por eles é a forte penetração da Nova Direita nas Redes Sociais. Poder-se-ia até levantar a hipótese que essa penetração e a multiplicação dos acessos nas Redes Sociais levaram naturalmente a ampliar o interesse do Mercado Editorial e do Perfil dos Jornais para ampliar a base de seus leitores. E, claro, o interesse das pessoas. Os autores reforçam essas razões sublinhando que seus (da Nova Direita) argumentos conquistam uma enorme capilaridade em amplos segmentos da opinião pública.

6. Acentuam que essa presença e importância de intelectuais da Nova Direita ocorre porque eles entraram no vácuo político deixado pela oposição partidária, por falta de agenda afirmativa dessa. E listam a vinculação de vários deles a novos Institutos criados, construindo referências organizadas, que formam e multiplicam quadros e opinião.

7. Chaloub e Perlatto separam os pensadores da Nova Direita em Direita Teórica, com ideias e argumentos não contextualizados, e Direita Militante, que são aqueles que agitam seus argumentos e críticas através da imprensa, das redes sociais e de palestras, quase sempre referenciados à conjuntura. O ciclo atual –dos últimos cinco anos- é um exemplo claro disso.

8. Finalmente, destacam o que se poderia se entender como a dialética fundamental que distingue filosoficamente a Nova Direita, da Esquerda: a Superioridade da Moral sobre a Política.

9. Uma leitura imprescindível para ser lida sem paixões pelos que se aproximam da direita e pelos que se aproximam da esquerda, e que –sem paixões- é também imprescindível às Faculdades de Ciências Política e Social, Filosofia, aos editores e a própria imprensa. E, evidentemente, aos políticos.

10. Especialmente neste momento que o Brasil atravessa.

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RIO PRECISA DE UM CHOQUE DE AUTORIDADE NA SEGURANÇA PÚBLICA!

(Editorial – Globo, 10) 1. A curva de violência tem crescido, no Rio, numa dimensão preocupante. Os indicadores apresentados pelos organismos ligados à segurança mostram um crescendo de maus números.

2. O mais recente levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP), relativo a março, mostra um nefasto perfil da criminalidade. Em relação ao mesmo período de 2015, houve um aumento de 15,4% de registros de homicídios dolosos.

3. Mais: no mesmo período, os casos de letalidade violenta (homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte, homicídio decorrente de oposição à intervenção policial) cresceram no mesmo percentual. Roubos de rua aumentaram quase 30%.

4. São números que praticamente repetem as estatísticas do mês anterior, evidência de que a criminalidade não está contida. No âmbito da segurança, o Rio precisa de um choque de autoridade, e de forma urgente.

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100 ANOS DE JANE JACOBS, QUE LIDEROU A DEFESA DO CENTRO HISTÓRICO DE NOVA YORK!

(Raul Juste Lores – Ilustríssima – Folha de SP, 08) 1. No centenário de seu nascimento, a norte-americana Jane Jacobs permanece como uma referência do ativismo urbano. Ela ganhou projeção em suas batalhas contra a descaracterização do Village, em Nova York, quando impediu a construção de vias expressas e defendeu a convivência de moradia e comércio no bairro.  Terminou em tumulto uma audiência pública sobre um megaviaduto que cortaria o sul da ilha de Manhattan. Naquele abril de 1968, Nova York estava prestes a ganhar seu primeiro “minhocão”, com 10 pistas para carros, que destruiria cerca de 450 prédios nos então decadentes bairros de Soho, Village, Little Italy e Lower East Side.

2. Mas um punhado de moradores se opunha ao elevado. Entre eles, Jane Jacobs, uma profissional de rebeliões urbanas. Ela e outros manifestantes arrancaram as atas da audiência com funcionários da prefeitura e do governo estadual foram das mãos da taquígrafa que registrava tudo e fizeram papel picado. “Não houve audiência, não há provas, acabamos com esta farsa”, disse Jacobs ao microfone. “Sem audiência pública, não há via expressa.” As autoridades foram surpreendidas. Elas tratavam como mera formalidade a sessão para ouvir os moradores.

3. Raro caso de mulher a colocar de cabeça para baixo as pranchetas dos planejadores nos anos 1950 e 1960, Jacobs (1916-2006) foi a mais influente urbanista norte-americana do século passado –mesmo sem ter estudado arquitetura e urbanismo (ela, aliás, recusaria títulos “honoris causa”). As comemorações de seu centenário, que ocorrem neste mês em diversas cidades pelo mundo, com palestras e caminhadas por centros históricos, celebram sua defesa do pedestre contra o poder do carro, de calçadas e térreos vibrantes, de bairros de população densa, que misturem usos residenciais e comerciais, e da importância da participação da comunidade.