16 de julho de 2021

BIDEN SE VÊ FORÇADO A VOLTAR A ATENÇÃO PARA A AMÉRICA LATINA!

(The New York Times/O Estado de S. Paulo, 15) O presidente Joe Biden assumiu o cargo com avisos ousados para a Rússia e para a China em relação aos direitos humanos, enquanto pressionava as democracias em todo o mundo a se oporem publicamente à autocracia. Mas, nesta semana, ele está enfrentando uma série de desafios semelhantes na vizinhança dos EUA.

Na segunda-feira, um dia após os gigantescos protestos em Cuba, Biden acusou as autoridades no país de “enriquecerem a si mesmos” em vez de proteger as pessoas da pandemia de covid-19, da repressão e do sofrimento econômico.

Uma hora depois, o Departamento de Estado anunciou que estava revogando os vistos que permitiam que cem políticos, juízes e seus parentes da Nicarágua viajassem para os EUA, como uma punição pelo país comprometer a democracia ao reprimir os protestos pacíficos ou não respeitar os direitos humanos.

No início da tarde, Biden focou novamente no Haiti, encorajando as lideranças políticas locais a “se unirem pelo bem de seu país”, menos de uma semana após o presidente Jovenel Moise ser assassinado.

A turbulência apresenta uma crise em potencial mais perto de casa, com um possível êxodo de haitianos enquanto o governo Biden luta com uma onda de migrantes na fronteira sudoeste. Isso também está forçando a Casa Branca a se concentrar na região de forma mais ampla, depois de anos de indiferença – ou atenção limitada. A influência dos EUA começou a minguar na região na última década, à medida que o país se voltava para o combate ao terrorismo no Oriente Médio e conforme a Rússia e, sobretudo, a China passaram a financiar projetos e oferecer apoio político e outros incentivos.

Ryan C. Berg, membro sênior do programa das Américas no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington, disse que, atualmente, a China é o principal parceiro comercial de pelo menos 8 países latinoamericanos e 19 países da região estavam participando do extenso projeto de infraestrutura e investimento de Pequim, conhecido como Nova Rota da Seda.

Os EUA “consideraram a América Latina como uma fonte garantida de estabilidade e força durante décadas”, disse Berg.

Há uma década, os EUA não viam nenhuma “questão urgente” se espalhando pela América Latina e pelo Caribe, de acordo com uma análise do Instituto Brookings.

Mas o governo Biden está extremamente ciente da natureza delicada da democracia na região. “Sejamos honestos: democracias são coisas frágeis”, disse Samantha Power, chefe da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, em um discurso no mês passado em San Salvador. Ataques a juízes, jornalistas e outras instituições nos EUA ressaltaram que atentados às liberdades e liberdades civis podem ocorrer em qualquer lugar, disse. “Por isso é importante se opor publicamente à corrupção e ao comportamento autocrático onde quer que ele ocorra”.