06 de outubro de 2020

ESTABILIDADE DO PERCENTUAL DE INTENÇÃO DE VOTO NÃO SIGNIFICA ESTABILIDADE DOS ELEITORES!

1. Quando se lê uma pesquisa de intenção de voto, onde um candidato mantém seu percentual, não se pode imaginar o movimento dos que abandonam a candidatura e dos que entram na candidatura. Uma mesma porcentagem não significa que sejam os mesmos eleitores.

2. Para identificar esses movimentos, institutos de pesquisa nos EUA realizam uma volta ao entrevistado. O instituto GPP, no Brasil, usa essa metodologia, que chama de Grupo Controle.

3. Como é feita? Durante uma pesquisa, o entrevistador pergunta ao entrevistado se poderia dar seu telefone e ser contatado posteriormente. Numa pesquisa de 800 entrevistas, umas 150 a 200 concordam em dar seu telefone. O entrevistador marca o questionário.

4. Quinze dias depois, se telefona a estes e se pergunta em quem vai votar, numa pesquisa telefônica de intenção de voto. Se o eleitor confirma o mesmo nome que marcou antes, apenas se arquiva. Se o eleitor informa um nome diferente, o entrevistador pergunta por que fez agora essa opção. As respostas sobre saídas e entradas são anotadas.

5. Depois se agrupam -entradas e saídas- e se tem um quadro das razões, que subsidiarão a comunicação eleitoral do candidato adversário.

6. Para que serve o Grupo Controle? Primeiro para se analisar as razões de saída e de entrada de eleitores e, com isso, orientar a comunicação. Segundo, para se avaliar a efetiva estabilidade das intenções de voto. No caso citado, numa grande capital, os 20% de volatilidade do voto, mantida a mesma intenção de voto, significa que um fato novo pode desestabilizar o favorito.

7. A mera pesquisa de intenção de voto pode significar uma falsa estabilidade e a surpresa para muitos de mudança no final da campanha, já era perfeitamente previsível antes. E reforçada e acelerada pelo uso, por outro candidato, das razões de saída do voto do líder das pesquisas.

05 de outubro de 2020

RECADOS AOS NOSSOS POLÍTICOS!

1. Felipe Gonzalez (2002): Os partidos são projetos de ideias e não aglomerado de interesses. São também sentimentos compartidos internamente, e com a sociedade.

2. Charles De Gaulle (1932): Não pode haver prestígio sem mistério. Ninguém é herói de seu companheiro de quarto. \ O preço que um líder tem que pagar pela liderança é a incessante e obsessiva auto-disciplina, a
disposição constante de correr riscos, e uma perpétua luta interior.

3. Friedrich Nietzche (1890): Substituir o homem que tenta conservar-se pelo criador, pelo inovador.

4. Paulo Coelho (2003): É assim que se sustenta uma história: através do inesperado. Sempre através do inesperado.

5. David Walker (2001): A medida da qualidade de um político está em levar os eleitores e correligionários a agirem contra seus juízos anteriores. Nesse sentido, Disraeli e Robert Peel foram maiores que Churchill.

6. Groucho Marx (1930): Estes são meus princípios. Mas, se você não gostar…, tenho outros.

7. W. Shakespeare (1604): Não existe virtude que a calúnia não saiba atingir.

8. Marcel Ragner: Culpados? Melhor escolhê-los do que procurá-los.

9. François Mitterand (1990): A política é sempre frágil.

10. J. Goebells (1937): A diversão (entretenimento, distração) é a base da propaganda. \ Ironia é para intelectuais; o homem simples não a entende. \ As grandes mentiras acabam aparecendo.

01 de outubro de 2020

ILUSÃO DE INTIMIDADE!

Numa consulta em 1992, Glorinha Beuttenmüller disse que a TV produzia uma intimidade entre espectador e “ator”. E que isso valia para os políticos. Portanto, estes, no contato pessoal, deveriam retribuir esta intimidade.

Nestes cinco anos, o impacto da TV na política diminuiu: menos TVs ligadas, zapeamento, troca com a internet, pela sensação de uma novela já vista várias vezes. No Brasil, isso foi sentido em 2004; nos EUA, demonstrado na eleição de 2008. O uso crescente da internet na política é causa e efeito disso. Vale a pena retornar ao auge da TV na política e a seus pesquisadores, comparando aos dias atuais.

Destaco aqui um clássico dessa época: “The Reasoning Voter” (1991), de Samuel Popkin (traduzido para circulação restrita). Popkin dizia que o eleitor usava atalhos para obter informações e, com esses, decidia. Hoje há uma excitação do fator emocional em campanhas. A questão dos “atalhos” de Popkin pode ajudar a entender melhor o processo de formação de voto, sem abusar da emoção.

Popkin dizia que o crescimento na audiência dos noticiários da TV produziu uma guinada histórica em direção a uma política centrada no candidato. Esse jornalismo político mostrou-se mais nacional e mais centrado nos políticos individualmente do que nas instituições. As questões regionais foram perdendo força. A intensidade maior é na pessoa do presidente, mesmo quando se trata de assunto econômico, o que faz os eleitores relacionarem a maior parte dos fatos ao próprio presidente. A TV ressalta o presidente como um politico sempre em eleição.

O uso da TV pelos candidatos  reforça essa regra: na hora do voto, quanto mais dinheiro se gasta em mídia, mais os fatores pessoais predominam sobre os fatores partidários. As considerações políticas são mero pano de fundo sob o qual se desenrolam as questões pessoais.

O noticiário na TV retrata a política como conflitos entre pessoas, e não entre instituições ou princípios. Os debates tornaram-se uma espécie de seriado universal. E conclui com Scott Keeler (texto do mesmo nome, 1987) afirmando: a TV cria uma “Ilusão de Intimidade”.

Desse ponto, voltemos à percepção recente de que a TV perdeu impacto sobre a política. É verdade, muito menos pela comunicação em si e muito mais pelas novas interveniências. O texto de Popkin continua atual. Só que hoje o mesmo impacto da TV na política sofre interferências de outros meios, seja por alternativa, seja por espalhamento, seja por interação.

A mesma TV, com os mesmos elementos, só produzirá o mesmo impacto se usar bem essas relações.