23 de março de 2016

INVISIBILDADE DAS REDES SOCIAIS E DAS MANIFESTAÇÕES –DE RUA E VIRTUAIS- PRÓ-IMPEACHMENT! A VOLTA DA PEC-37 POR LULA, DILMA E PT!

1. Como este Ex-Blog já comentou, a ausência de partidos e líderes puxadores das manifestações cria um desconforto político para o PT, CUT, Lula e Dilma. Numa política de personalidades, é simples escolher o alvo. Mas as Redes Sociais, nas ruas, não têm personalidades, não têm líderes, são horizontais e desverticalizadas, não têm partidos.

2. Então, PT, Lula, CUT, Dilma fizeram ajustes. Passaram a chamar as manifestações de fascistas. Fascistas, sem líder e sem organização política? Bastava olharem para os anos 20 e 30 e para os populismos de direita e veriam que a categoria usada é absurda. Já tentaram isso em 2013, inclusive com artigos escritos por professores e politólogos. Caiu no vazio. O Ex-Blog, na época (2013), focalizou esses artigos e demonstrou que as manifestações poderiam ser o que quisessem, menos fascistas.

3. Na crise de 1954 e 1963 e mesmo nas de 1989 e 1992, os alvos recíprocos eram fáceis de nominar: Getúlio, Jango, Lacerda, Comunistas, Imperialismo norte-americano, Sarney, Collor, UDN, PTB, PCB… Os tiros vinham com os endereços abertos com nome e sobrenome.

4. No caderno Aliás, do Estado de S. Paulo de domingo, o brasilianista britânico Anthony Pereira, diretor do King’s Brazil Institute do Kings College of London, analisou essa fixação da política brasileira nos líderes. “Vejo um investimento muito forte na figura do líder, do presidente – e isso para o bem ou para o mal. Em uma democracia, elevar ou negar o líder é perigoso. Em um artigo de Joshua Rothman para a revista The New Yorker, o autor cita um livro de Elizabeth Samet que menciona uma carta escrita por John Adams, presidente dos Estados Unidos no século 18: ‘(Adams) sugeriu, numa carta a um amigo, que havia algo antidemocrático e imprudente na idolatria da liderança’.” “Vejo no Brasil ciclos de ‘salvadores da pátria’ e ‘inimigos número 1’. Vi isso muito claramente com José Sarney, Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso. Talvez a única diferença em relação a Lula é que está acontecendo após o seu período na presidência.”

5. As Redes Sociais não são personalizáveis. Nesse sentido, são invisíveis. O que se debate e se multiplica são palavras de ordem. Sem ter alvo para atirar, buscam desesperadamente algo que se enquadre na lógica do século 20. E encontraram o Judiciário, Ministro Mendes –e o Juiz Moro- e o Ministério Público e o Procurador Geral Janot. E recolocaram sem desfaçatez alguma a PEC 37 em cima da mesa, apesar de ter sido demolida por milhões de manifestantes em junho de 2013.

6. E a pesquisa nacional do Datafolha divulgada domingo mostra que as tendências pró-impeachment e de rejeição a Dilma e a Lula só fizeram crescer em um mês, de fevereiro para cá. As manifestações de rua a partir e através das Redes Sociais colocaram suas teses, suas palavras de ordem, seus alvos num patamar de apoio de 70% da população. O patamar de rejeição a Collor e pró-impeachment na véspera da votação de seu impeachment era de 75%. Na margem de erro é o mesmo patamar de Dilma e seu impeachment hoje.

* * *

DE GRAMPOS, PRESIDENTES E JURISTAS!

(Sonia Racy – Estado de S. Paulo, 23) 1. Memória seletiva. Por duas vezes FHC teve conversas grampeadas na Presidência. Uma delas foi quando um seu assessor, o diplomata Julio César Gomes, teve o telefone incluído em investigação sobre drogas. A outra, em conversa com André Lara Resende, durante leilão da Telemar. “A ninguém ocorreu, na época, dizer que se tratava de um problema de segurança ou de soberania nacional”, compara hoje o ex-presidente.

2. Memória 2. E mais. Cinco juristas pediram, em 2001, o impeachment de FHC, acusando-o de ter oferecido “vantagens patrimoniais” a 20 deputados. Um deles, Goffredo da Silva Telles Jr., morreu em 2009. Os outros – Celso Bandeira de Mello, Dalmo Dallari, Fábio Comparato e Paulo Bonavides – estavam ontem no Planalto, no evento contra o impeachment de Dilma.

* * *

“AMÉRICA LATINA: HOLOCAUSTO MOVIDO PELA COCAÍNA”!

(Folha de S. Paulo, 19) 1. “Por que as Américas se encontram afundadas em sangue no amanhecer do século 21?”, pergunta o jornalista britânico Ioan Grillo em “Gangster Warlords”.  Radicado no México, o autor de El Narco, viajou pela América Latina em busca de respostas. Investigou quatro grupos criminosos do continente, voltados ao narcotráfico: Mara Salvatrucha (El Salvador, Guatemala e Honduras), Shower Posse (Jamaica), Comando Vermelho (Brasil) e Cavaleiros Templários (México).

2. Grillo mostra como a atuação dessas gangues e seu enfrentamento com polícia e Forças Armadas foram responsáveis pelo assassinato de mais de um milhão de pessoas, desde o começo do milênio até 2010.  Como esse número só faz crescer, Grillo rotula o que a América Latina está vivendo hoje como um Holocausto movido pela cocaína.

3. Outros números estarrecedores são mostrados, como o aumento de 11% das taxas de homicídio no continente entre 2000 e 2011, enquanto no resto do mundo esse número vem caindo. Já o montante de dinheiro que o narcotráfico movimenta por ano é de US$ 300 bilhões, tornando a atividade irresistível para empresários e políticos corruptos sem medo de molhar as mãos em sangue.

4. Ainda que existam particularidades em cada caso, Grillo mostra que há muitos paralelos. Das entrevistas com sicários e chefões do tráfico, obtidas a muito custo e com risco para sua integridade física, Grillo conclui que as semelhanças estão na formação das hierarquias de poder, na tomada e manutenção de territórios, no modo como se realizam julgamentos e justiçamentos e na aparente generosidade na relação entre traficantes e as comunidades em que vivem.

5. Chama, ainda, a atenção para o efeito limitador que existe ao rotular os chefes de cartéis como líderes narco. Na verdade, há muito que essas figuras se transformaram em um “híbrido de empresários do crime, rockstars, gângsteres e generais paramilitares”. Por consequência, os cartéis latino-americanos, hoje, fazem mais do que “apenas” vender drogas. Muito de sua renda vem de extorsões, sequestros, roubo de petróleo, tráfico de pessoas e o comando da mineração em algumas zonas.