20 de junho de 2017

VIDA PARLAMENTAR DE MACRON NÃO SERÁ FÁCIL!

1. Macron emergiu para a presidência da França como uma vertente da antipolítica, na medida em que seu partido foi criado menos de um ano antes das eleições presidenciais.

2. O candidato favorito para um segundo turno contra Marine Le Pen, candidata da extrema direita, era François Fillon, dos Republicanos de Sarkozy. No início da campanha, eles apareciam empatados e com o dobro das intenções de voto de Macron, ex-ministro dissidente liberal do governo socialista de Hollande.

3. Fillon foi surpreendido por furos da imprensa, que mostravam que sua esposa era funcionária fantasma de seu gabinete. Com isso, Fillon começou a perder a batalha da ética. E mesmo sendo candidato do partido mais sólido da França naquele momento -Os Republicanos do ex-primeiro ministro Sarkozy- em poucas semanas deslizou para o terceiro posto.

4. A diferença a favor de Macron abriu e, com isso, as pesquisas, já próximas às eleições, apontavam um segundo turno entre Macron e Le Pen, o que implicava em uma fácil vitória para Macron, como aliás aconteceu.

5. As eleições parlamentares que decidiriam a composição do parlamento viriam um mês depois, como aconteceu nos dois últimos domingos. As pesquisas e a imprensa mostraram uma ampla vitória dos candidatos a deputado da base de Macron.

6. Abertas as urnas no domingo passado, a base de Macron obteve 62% das cadeiras. Uma ampla vitória como se prognosticava. Mas muito menos ampla do que o que as pesquisas que falavam: 80% dos deputados.

7. Mesmo assim, esses 62% devem ser melhor avaliados. 55% foram dos candidatos do En Marche, partido criado um ano atrás por Macron. E 7% do MoDem, de François Bayrou, um partido de centro, que participou de eleições anteriores. Bayrou renunciou à sua candidatura que andava pelos mesmos 7% que seu partido teve. Passou a apoiar Macron.

8. Os 55% obtidos pelos deputados do En Marche serão progressivamente mais e mais heterogêneos. Uma boa parte deles estreou em eleições sem experiência partidária e muito menos parlamentar.

9. Reunidos sob a bandeira da renovação e de um liberalismo difuso, eleitos pelo voto distrital uninominal em 577 circunscrições, a primeira e grande tarefa da equipe de Macron será construir unidade programática.

10. O arrastão da vitória de Macron e, em seguida, de “seus” parlamentares, produz, de partida, uma unidade na vitória, desdobrando as linhas gerais dos discursos de Macron.

11. Mas num quadro de crise econômica na França, de crise na União Europeia, com a emergência de movimentos nacionalistas anti-imigrantes, anti-muçulmanos, a unidade na vitória terá que ser reconstruída no cotidiano do debate político e das polêmicas medidas de corte liberal num quadro de forte sindicalismo e tradição dos movimentos universitários -estudantes e professores.

12. A costura político-parlamentar de Macron não será simples, especialmente porque o maestro entra sem experiência nessas coisas da política. Acompanhemos os desdobramentos. Com muita atenção.