Sem Perder a Majestade

Jornal O Dia

Cesar Maia se prepara para atazanar a vida de Paes na Câmara de Vereadores

POR AZIZ FILHO

Rio – O amor eterno entre o prefeito do Rio e os vereadores tem dias contados. Os planos para infernizar o PMDB são diariamente costurados em um casarão na íngreme e bucólica Estrada das Canoas, em São Conrado. Foi nele que Cesar Maia gravou seu programa de candidato a vereador na TV, interrompido pelas cantorias fora de hora de um galo e por macacos dando as caras na varanda de madeira e concreto cru. É neste bunker, um amplo escritório decorado com bom gosto pela ex-primeira dama Mariangeles, que o ex-prefeito lambe feridas da derrota do filho Rodrigo Maia, cria teses de política internacional e prevê dias amargos para os governos federal, estadual e municipal.

Foto: Fernando Souza / Agência O Dia

O democrata Barack Obama, na visão do republicano Cesar, perderá para Mitt Romney porque “o mundo precisa de um líder forte”. Por aqui, Cabral e Paes “vão afundar no Titanic do PMDB”. Quem vai furar o casco? “A incompetência.” E a presidenta Dilma Rousseff pode esquecer a reeleição: será derrotada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG). “Ela perdeu o controle do Congresso e a intimidade dos empresários, dois trunfos de Lula”, diz o profeta de São Conrado, pondo-se já à disposição de Aécio para qualquer missão. “Ele vai definir o perfil do candidato a governador do Rio em 2014. Vamos só executar.” Aécio ainda não manifestou, ao menos publicamente, interesse em tê-lo na campanha.

A sorte de Obama, Dilma, Cabral e Paes é que a bola de cristal do ex-prefeito tem falhado muito. A última previsão foi a de que ele próprio receberia uns 100 mil votos em 7 de outubro. Mas o homem da ordem urbana, do Rio Cidade, do Favela Bairro e da Linha Amarela, que venceu quatro eleições seguidas, só conseguiu convencer 40 mil eleitores. Ele explica, é claro: os indecisos se espalharam de última hora entre os candidatos dos bairros, e não entre os políticos de opinião. E a derrota de Rodrigo? “A oposição foi com Marcelo Freixo (Psol), o que jogou o eleitorado evangélico no Eduardo.”

A última de Cesar é explorar metáforas da bola.“Quem se lembra que o Botafogo perdeu para o Bahia? Foi só um jogo. Importa é olhar para o Brasileirão.” O “Brasileirão”, no caso, é a eleição geral de 2014 para presidente, governadores, deputados e senadores, quando não será repetida a dobradinha esquisita entre seu DEM e o PR de Anthony Garotinho, cuja filha Clarissa foi candidata a vice de Rodrigo Maia. Cesar chegou a identificar, com base em pesquisas, potencial de 20% de votos para a jovem dupla. Mas a rejeição mútua entre cesaristas e garotinistas acabou em soma abaixo de 3% dos votos. Uma derrota a mais e um aliado a menos.

“Não tenho com Garotinho compromisso para 2014. Não tenho e-mail nem telefone dele”, distancia-se. O PR do ex-governador, segundo Cesar, será cooptado para apoiar Dilma, ficando em campo oposto ao do DEM.

Se o sonho nacional é eleger Aécio, no chão da fábrica a ideia é montar trincheira contra Paes e seus projetos, contrários às ideias de um político “conservador na moral e social-democrata no programa”, como se define. Cesar ergue o dedo acusatório para dizer que Eduardo Paes privatiza o poder público ao entregar hospitais e escolas a organizações sociais e usa a Olimpíada e o Porto Maravilha para mudar regras e submeter a cidade aos especuladores imobiliários. “Vou denunciar essa privatização.”

Cesar tem dito que adoraria se eleger deputado do Mercosul em 2014. Como a sede do parlamento fica em Montevidéu, Paes deveria torcer para que o adversário se eleja e que o Parlasul faça sessões diárias a 2.500 quilômetros daqui. A julgar pela gana que destila ao criticar o ex-pupilo (Paes foi seu subprefeito e secretário de Meio Ambiente), Cesar Maia não será um tímido vereador de oposição.

O ex-rei do Rio não perdeu a majestade e quer se meter até nas articulações da Olimpíada para garantir o sucesso do event o e consertar os “inúmeros erros de Paes, que nem sabe calcular porcentagem” e não passa de “um vereador que só gosta de fazer pracinha”. O ex-prefeito reivindica autoridade sobre os Jogos Olímpicos por ter lançado a primeira candidatura do Rio e feito o PanAmericano. E se Paes não quiser ajuda? “Não preciso pedir licença a ele.” Por essas é que a política carioca promete emoções fortes nos próximos anos.